sexta-feira, 31 de julho de 2009

Do infinitivo ser



Estamos, eu e todos os leitores deste blog, e mais ainda quem participa, seja comentando e sofrendo a abertura, às vezes impertinente, aos olhos do devir, que luta para não se tornar Devir/mercadoria, como mais uma marca, entre excessos, quase disperdícios, e, também, luta desesperadamente para não aceitar suas alienações, para se tornar uma esperança, um campo novo, pertinente ao destino de cada um, operante apesar do mundo em via de extinção da civilização, onde poderemos, tão logo, chamar de Nosso Devir.


Zuruck?


Eu também me assusto. O que serei ao sentir o gosto de sua saliva? Ao ver com seu corpo, sem mesmo, ainda, ter aprendido a exercer totalmente a capacidade de enxergar com apenas meus próprios olhos? Estão nossos corpos preparados e quem não consiguirá resistir a estar, jamais prisioneiro, dentro de outro corpo? Quem sabotará tal quiasma, pois esta definitiva liberdade, então sem nome, só existirá como via de salvação, antes da prática e da teoria, como ao olhar o espelho e inexoravelmente ser visto, porém não mais duplicata e sim uma resposta?


Fuck?


Eu tambem temo por qualquer um. Isto basta? Para mim, jamais. Não vou carregar comigo uma certeza ontológica, e o que mais de original no ser humano, sem aplicação na história, feito um fardo que roubaria parte substancial de meu poder. Talvez menos, talvez mais, não importa, voce vai saber o que significa o nosso devir. E o medo é o reflexo de quem me vê e se sente um animal qualquer, sem a capacidade de saber o que faz na experiência, sem a consciência, nem mesmo do seu comprometimento com o sentido da vida.


Luxo?


Eu também passo no tempo. Tanto quanto o tempo passa por mim. Se isto ocorre agora e aqui é mera coincidência que será irrelevante diante de Nosso Devir. Onde não existe planos ou consequências separáveis entre corpo e mente e nada se repete. Onde indentificação ou somente sensação de dor ou prazer definitivamente não farão diferenças, ambas serão tão somente parte do esforço para a salvação do mundo, tornando fato a fato uma sucessão exata deste sentido.

Estamos, eu e todos voces, aqui neste instante da vida... Sem saber o que fazer com o nosso dever diante da vida. Seja bem vindo a consciência, se aceita que existe tal dever, do Nosso Devir. Onde ninguém é capaz de estar dentro ou fora. Nem por ignorância, ou por sabedoria, ninguém é capaz de fazer nada, ou fazer tudo. O Nosso Devir não é um ou outro, nem são todos vistos por um ou um visto por todos. A quem não conseguir suportar serenamente a permanência em si, difinitivamente, do combate para preservar a civilização e o planeta; seja a irredutível verdade de Nosso Devir, que suas forças se ampliarão. E a quem (se) sabotar, sendo a mentira; peço perdão.



QUE SE FAÇAM MINHAS AS PALAVRAS DOS OUTROS
"Um filósofo que formou todo o seu pensamento ligando-se aos temas fundamentais da filosofia das ciências, que seguiu, o mais precisamente possível, a linha do racionalismo ativo, a linha do racionalismo crescente da ciência contemporânea, deve esquecer seu saber, romper com todos os hábitos de pesquisas filosóficas, se quiser estudar os problemas colocados pela imaginação poética.
Aqui, o passado de cultura não conta; o longo esforço para interligar e construir pensamentos, esforço feito em semanas e meses, é ineficaz.
É preciso estar presente, presente à imagem no minuto da imagem: se houver uma filosofia da poesia, essa filosofia deve nascer e renascer no momento em que surgir um verso dominante, na adesão total a uma imagem isolada, no êxtase da novidade da imagem.
A imagem poética é um súbito relevo do psiquismo, relevo mal estudado nas causalidades psicológicas secundárias.
Também não há nada de geral e coordenado que possa servir de base a uma filosofia da poesia.
A noção de princípio, a noção de "base", seria arruinante nesse caso.
Bloquearia a atualidade essencial, a essencial novidade psiquíca do poema.
Enquanto que a reflexão filosófica que se exerce sobre o pensamento científico longamente trabalhado deve fazer que a nova idéia se integre num corpo de idéias já aceitas, mesmo quando esse corpo de idéias seja forçado, pela nova idéia, a uma modificação profunda, como é o caso de todas revoluções da ciência contemporânea, a filosofia da poesia deve reconhecer que o ato poético não tem passado - pelo menos não um passado no decorrer do qual pudéssemos seguir a sua preparação e o seu advento.
Quando no decorrer de nossas observações, tivermos que mencionar a relação de uma imagem poética nova com um arquétipo adormecido no inconsciente, será necessário compreendermos que essa relação não é propriamente causal.
A imagem poética não está submetida a um impulso.
Não é um eco do passado.
É antes o inverso: pela explosão de uma imagem, o passado longínquo ressoa em ecos e não se vê mais em que profundidade esses ecos vão repercutir e cessar.
Por sua novidade, por sua atividade, a imagem poética tem um ser próprio, um dinamismo próprio.
Ela advêm de uma ontologia direta.
É com essa ontologia que desejamos trabalhar."


Introdução, do livro Poética do Espaço, de Gaston Bachelard
Tradução de Antônio da Costa Leal e Lídia do Valle Santos Leal
Editora Abril - 1978

quinta-feira, 30 de julho de 2009

Pronto para decolar



O mar pode arrebentar na sua praia
na sua pequena costa
na areia
onde agarro-me para não voar
junto ao vento
de sua paixão

Trecho do meu livro em andamento.
Meu pai saiu do seu quarto direto até a cozinha, trancou a porta - a porta da sala era proibida de abrir -, demorou um pouco, apareceu com uma folha de espada de são Jorge e bateu em todos aleatoriamente. Fui o único que não pulou a janela. Fiquei no mesmo lugar do sofá, apanhei muito, sem gritar nem chorar. Meu pai parou de bater e ficou olhando pra mim, estava cansado, mas foi discutir com a minha mãe. Ela veio, triste, e me abraçou. Quando minha mãe voltou aos seus afazeres, ali sozinho vi meu pai sair com uma pequena mala, percebi outra vez naquele dia que eu não estava entendendo nada que vinha acontecendo à minha volta, lembrei que meu presente de empréstimo do ano passado havia sumido da minha cabeça, a consciência, algo a tinha levada embora, ou mais uma vez a escondido, senti uma tristeza jamais prevista por mim, tão grande que não pude resistir, tampei os olhos com as mãos e chorei, chorei muito. Ainda lembro que minha mãe me colocou na cama, acho que quis beijar-me a testa, mas apenas passou a mão em minha cabeça. A tristeza pareceu dor, aumentou muito depois de perceber que minha mãe não me beijou, foi como se a tristeza viesse de dentro de uma ferida na alma. Talvez na fronteira entre estar dormindo ou acordado, pude repensar, então encontrar algo de positivo naquele dia. Talvez estes tipos de coisas que existem só no pensamento nem sequer existam de verdade; consciência, tristeza, dor, ferida da alma...
Gostávamos, antes de dormir, menos o Lito, de ficar conversando com a luz apagada, teve um dia que combinamos de ir nadar em um rio muito longe, fora da cidade e então íamos acordar bem cedo. Era a minha primeira vez que me afastaria para bem longe do lugar em que vivia, então poderia comprovar que existe mais mundo além de até onde meus olhos podiam ver. Claro que já naquela idade desconfiava que outros ou o meu mundo se distanciava também atravez dos meus pensamentos. E não é surpresa, eu não consegui dormir, fiquei imaginando uma série de acontecimentos e paisagens e pessoas diferentes e animais selvagens e perigos reais...
Eu estava pronto, brincando com o Veludo, quando ouvi meus irmãos acordarem. Minha mãe me chamou para tomar café com pãozinho. Lembro que, neste dia, ela fritou ovos e descascou duas laranjas para cada um, inclusive para mim. Ela fez lanches para nós levarmos, havia comprado salsichas; então voltou e melhor a minha admiração por ela.
A primeira experiência de andar muito! Repeti tal exclamação tantas vezes quanto me repeliram por isto. Eu dizia muito mais além, como devemos perceber cada variação de verde, cada perfume que existe naquela floresta, quantos seres se escondem aos nossos olhos que podemos imaginar. Esta parte a mulecada não ouvia ou fingia ou não davam importância ou porque estavam agarrados ao objetivo. A consciência passou a pesar, foi um presente, decididamente não foi um empréstimo, não podia esquecer, não podia descartá-la, não podia escondê-la como se fosse a minha mochila, enfim não podia pedir para que outro a carregasse. Percebi que realmente só podia ser um presente, na minha idade não tinha dinheiro, não podia pedir para meus pais ou ao meus irmãos mais velhos, ninguém confiaria um empréstimo à uma criança, não havia furtado de nenhum lugar, e apesar de não ver quem me presenteou com tão penosa carga; naquele ponto do caminho, estávamos a um kilômetro e meio da vila, escutei o Sílas dizer e apontar o lugar, lascando um tronco de ipê amarelo. Queria depois, até hoje, recordar somente a árvore.
Quando vi aquele pequeno rio de águas corredeiras, várias pedras para se atravessar com extremo cuidado, a consciência reapareceu. Um alegria repentina me fez gritar, acho que quis gritar tão forte que atravessasse aquela floresta e chegasse aos ouvidos de todas as pessoas, como fiquei feliz e muito arrependido de ter pensado em me desfazer da consciência. Não sei se consegui, não importava mais porque imediatamente

POEMA
"Quantas estradas deve um homem caminhar
antes que chamem-o de homem?
Quantos mares deve um veleiro navegar
antes que ele possa dormir na areia?
Quantas vezes devem voar bolas de canhão
antes que sejam eternamente banidas?
A resposta, meu amigo, esta soprando ao vento
a resposta esta soprando ao vento.
Quantos anos deve uma montanha existir
antes que seja desintegrada pelo mar?
Quantos anos devem algumas pessoas existirem
antes que possam permitir-se a liberdade?
Quantas vezes deve um homem girar sua cabeça
e acreditar que ele apenas não pode ver?
A resposta, meu amigo, esta soprando ao vento
a resposta esta soprando ao vento.
Quantas vezes deve um homem olhar para cima
antes que possa ver o céu?
Quantos anos deve um homem ter
antes que possa ouvir alguém chorar?
Quantas mortes levarão até que ele saiba
Que muitas pessoas morrerão?
A resposta, meu amigo, esta soprando ao vento
a resposta esta soprando ao vento."

quarta-feira, 29 de julho de 2009

Dos mistérios óbvios



Enquanto entendo de aquarelas antes das quimeras

Eu só lhe peço, meu amor
se quiser ficar tranquila
fique tranquila, aqui não tem biruta
eu não me importo com desmanteladas aeronaves
nem a direção dos ventos que vem do Morte

O mundo é indefinido, o planeta é redondo
portanto não é uma superfície infinita e também
deixou de ter seis faces há muito tempo

Veja nossas criança, são lindas, e há (de) quem duvide!

Onde voce vê talento, eu vejo poder
e aonde vêem facilidade, eu estarei
disposto a matar, ou morrer antes delas

E é disso que melhor podíamos conversar...
Sobre as crianças que somos e temos!

E não precisamos de vergonha ou medo
porque, eu não estou brincando de vidinha
a única vergonha ou medo que me arrisco
é não conseguir ser amável para elas

Quando insípdo ou agressivo, que seja
apenas os juros mafiados nas praias alheias
Se ontem apenas disse tudo que merece, foi
os juros da mafiada insipdêz e visível vilania

Porque não amamos os sensacionais, estes
apenas nos contentam por alguns instantes
Amamos sim quem pode estar por nós, onipresente
sem se autopreservar em Deus, Pai, Irmão, Amigo...

Entre nós, não vamos mais confundir idéia e fato...

A idéia de um coração explodindo de amor é bela
mas nunca deu prova, porque amar não quer provar nada
O meu amor por voce, o seu amor por mim, são o mesmo
não quer que façámos tudo pelo outro
ou cada um por si, tampouco contra si ou
sequer remotamente contra outros;
só quer estar... Amor e(m) ser

E(m) paz, para todos, não precisamos glorificar a verdade, jamais
elevá-las a situações rarefeitas, quase sem expressões
adorná-las com mentirinhas benignas do senso comum
e ou nem passar a vida jogando bosta no ventilador...

Então, se não para os "concorrentes", que seja pelas crianças
joguem flores ou seus corações quando explodindo
(rss)(ven)(de)(s)(tila)(dor)
de amor quando se sabem seus
ensinem-nas com suas experiências, se as viveram suas e
sejam feliz.

segunda-feira, 27 de julho de 2009

Sobre manias e virtudes



Em coma profundo

Todos atentos:
- Eu nunca mais subi em uma moto, depois do acidente. Era para não ter sobrado nada, nem eu nem a moto, e nem a mina; ainda em coma, já faz mais de dois meses, mas está viva. E Júlia vai acordar, eu sei, porque ela me deve uma resposta, só ela pode, só ela estava lá e viu o que aconteceu. Estávamos a milhão, na rodovia Raposo Tavares, na madrugada, mais ninguém, quando apareceu a luz, de repente, percebi pelo retrovisor, pensei que fosse outra moto, quando emparelhou não era, assustou-nos, quiz diminuir, freiar ou acelerar, a moto não obedecia, então a Júlia se soltou de mim e eu entrei direto na mata.
- E o que era?
- Não vou dizer, antes da confirmação dela, vão pensar que estou maluco, ou escondendo a verdade.
- Mas voce está escondendo a verdade.
- Veja bem, estou escondendo a verdade do que aconteceu, não a verdade suposta pelos pais dela, que convenceu todo mundo, inclusive a televisão.

Conversas paralelas:
- Mas se voce não contar toda a sua história, podemos continuar contando a nossa história. A técnica não apontou nada além do normal, que voce a jogou do garupa a mais de 150km/hora e forjou sua queda no mato.
- O senhor acha que poderia forjar tres costelas quebradas, a crávicula, o calcanhar? Eu tomei 2 litros de sangue, quase perdi esta perna, e ainda corro o risco de perdê-la.

Sussurros:
- É verdade, voce se deu mal, desta vez. Se voce não conseguir convencer o juiz, vai ficar prêso até que a Júlia lhe convença a nos contar a verdade. E isso pode demorar, pode não acontecer, voce sabe, já conversamos semana passada sobre isso.
- Olha, doutor, eu preciso sair daqui. Eu quero voltar ao local do acidente, quero ficar lá, dia e noite, quero esperar aquela aparição. Quero ficar lá até ver aquilo novamente, vou ficar lá, nem que seja o resto da minha vida.
- Fale para o juiz, quem sabe... Diga que voce está disposto a tanto, que vai comprar um terreno á margem da rodovia, contruirá um posto de gasolina, com restaurante e área de lazer, que vai dar emprego para muita gente, que vai morar em uma casa modesta, com piscina, churrasqueira, vários quartos para hospedar os amigos. Conte seus planos para o juiz, quem sabe?
- E eu vou contar mesmo; estou desesperado doutor.
- E a Júlia, se ele perguntar, o que vai dizer?

Conversa impostada:
- Cacete, ainda não tinha pensado.
- Vai dizer que a levará para morar com voce?
- Não, isso jamais. E se ela morre lá, vão pensar que eu a matei. Negativo, se eu disser isso, estarei ferrado.

Sussurros:
- Calma. Talvez ela não acorda até estar tudo pronto, e do jeito que está agora, não recebe alta do hospital. Não existe sequer um caso onde uma pessoa em coma profundo, esperou a morte em casa; não existe equipamentos e é contra a lei. Eu sou advogado, o seu advogado, portanto se acalme, voce só precisa convencer o juiz.

Aos brados:
- Ele é homem, isso me coloca na dianteira. E se ele der uma pequena abertura, ofereço até uma sociedade nesse negócio.

Esta é uma história verídica. Eu a ouvi ontem, tomando cerveja, ao lado da piscina, comendo churrasco; na única vez que, eles!, conseguiram!, arrastar-me para fora dos livros; a biblioteca do cara era riquíssima em Sociologia, Psicologia e Filosofia. Estávamos em oito homens, e muitas mulheres; segundo o anfitrião, muito bem pagas.

Sem muito esforço pode-se compreender porque o mundo virtual, onde a sinceridade realmente não machuca, é bem mais atraente. Onde é mais fácil manter as relações sociais, quando não há contas emocionais a dividir, porque a verdade e os compromissos com ela são escolhas livres. E a mentira não se faz iluminada, nem aborta sonhos.

Onde a fragmentação do Eu em Outros, em cada identidade, não é sintoma patológico, é quase uma meta a ser conquistada. Por exemplo, que resume toda a diferença na satisfação de viver, via virtual, ser famoso por 15 minutos não é uma dádiva, é somente rotina. E esta, exatamente por isso, é bem menos exasperante, porque ninguem precisa barganhar tudo, às vezes até a própria alma, para merecer tal dádiva duvidável.

Eu sabia que Isabela era apenas mais uma das garotas de programa, quando nua, ainda mantinha seu chaveiro amarrado ao pulso...
Quando perguntei porque se sentia tão insegura, ela me olhou com ódio e aquele olhar foi como me castrar. Voltamos para a sala, para a pequena orgia que se formava. Ela se atracou ao grupo sobre o sofá. Eu fui à cozinha preparar uma bebida com frutas, mastigar qualquer coisa pronta que compramos no caminho.
Isabela apareceu e me perguntou na chapa:
- Voce é viado?
- Não, sou homem.
- Claro, isso se vê, mas eu quiz dizer, eu quero saber se voce gosta de mulher? Voce transou comigo, diga-se logo que foi muito bom, mas depois, por que aquela pergunta?
- Até hoje só transei com mulheres, talvez isso responda. Por que voce se zangou agora a pouco?
- É que, no momento que me perguntou, parece que voce me via como uma maníaca sexual e eu não sou isso. Sou profissional, tenho dois filhos, preciso...
- Está bem, já entendi, se eu deixar voce continuar, alguém vai acabar chorando.
- Por que voce me perguntou aquilo, naquele momento, e porque aquele olhar tão profundo como se um simples chaveiro me vestisse ainda?
- Voce é diferente das outras. Voce é inteligente, sabe observar, percebi isso enquanto vestia a roupa. Então fiquei curioso, voce amarrou o chaveiro...
- Por que, as outras não tem manias? Todo mundo tem manias, e esta sua curiosidade, vai ver também é uma mania sua, é?
- Talvez. Voce não solta nunca seu chaveiro porque se sente insegura, as chaves de seu carro e de sua casa são como um amuleto da sorte?
- Acho que sim, são para que eu jamais esqueça de meus filhos. Está satisfeito?
- Tudo bem, mas tire o chaveiro do pulso, amarre-o na canela e não fique com mais ninguém até amanhã, combinado?

É possível perceber inúmeros julgamentos sumários morais escamoteados nas relações reais. Uma pergunta se faz urgente, se podemos viver, ou simular perfeitamente uma Realidade inquestionável à priori, por que não fazer disso, não uma simulação para assegurar a liberdade de julgar, mas a Vida mesmo, com plena liberdade porém sem pré julgamentos morais?

domingo, 26 de julho de 2009

Para recuperar o atraso(?)


"Sim, quero ver a tua vida em detalhes, minuto a minuto, e ouvir as palavras que jorram de tua boca, rir o teu riso e enraivecer-me com o teu rancor, assistir à tua paquera, ao teu namoro, ao teu gesto de carinho, à tua transa, espelhando tua beleza em minha indigência.
Quero deixar de lado amizades, trabalhos, livros e lazer e, de olhos pregados em tua magia, absorver a tua arte de movimentar-se no labirinto da quimera, livre de dores e afazeres, mergulhado na fama e na fortuna.
Venerarei o teu ócio na vitrine, exibindo-te sem pudor a milhões de olhos, despido por infinitas imaginações, liberto das grades odiosas dessa existência de penúria anônima, escrava da rotina atroz de quem jamais aprendeu a voar, nem foi aquinhoado pela sorte.

Abrirei em meu monitor a porta da tua casa mágica e, sob o peso de minhas carências, ingressarei virtualmente em tua liberdade, no teu gozo, no teu charme, no teu riso, na tua sensualidade, como quem toca com os olhos os veneráveis ícones que nos fazem transcender da mediocridade cotidiana.

Minha fidelidade ao teu exibicionismo será a chancela que sacramentará a tua vida como real e, do lado de cá, buscarei a alforria de minha indigência em tuas loucuras, em teus jogos e em tuas danças.

Quero decifrar em ti a minha própria intimidade, rasgar a minha alma em tuas mãos e deixar a minha mente impregnar-se dessa ilusão que faz de mim teu pequeno irmão.

Recobrirei a minha realidade com a tua fantasia e farei de teu espetáculo o brilho de meus olhos vazados, nessa permuta hipnótica de quem busca a complacência com seus próprios limites para tentar encobrir a mesquinhez que me corrói.

Ficarei atento ao teu banho, ao teu sexo, à tua ira e às tuas refeições, fiel à exposição perene deste teu ser desprovido de preocupações e conteúdos, entregue a esta liberdade que faz de ti o que não sou, e me permite projetar em teu vigor as minhas fraquezas e em teu esplendor o sabor amargo de meu anonimato.

Verei em tua janela, que se abre para a minha casa, a subversão de todos os valores, como se nos cômodos que te abrigam findassem todos os princípios, escorrendo pelo ralo tudo aquilo que num lar soava como sinônimo de família.

Ampliados pela eletrônica, meus olhos contemplarão as tuas intimidades mais ousadas.

Sentirei os teus odores e beberei o teu suor.

Esticarei o meu olhar até os limites proibitivos do escárnio e, quem sabe, verei o teu rancor extirpar toda a inveja que jaz em meu peito e a tua voracidade explodir em taras que haverão de suprir os meus desejos mais ignóbeis e saciar as minhas pulsões mais abjetas.

Deste lado da tela, sentirei os teus sentimentos e comungarei as tuas emoções, vendo-te virar pelo avesso nesse zoológico de luxo, exposto à multidão como carne no açougue, a engordar no balcão do voyeurismo a gorda soma dos teus patrocinadores.

Em ti livrar-me-ei de todo ideal que não seja fazer da vida um jogo de entretenimentos, a sedução epidérmica como sucedâneo de quem não atinge as profundezas do amor, vendo-te representar a ti mesmo sob os aplausos invejosos de meu olhar sequioso, preso ao teu desempenho huit-clos.

Aprisionarei a tua vida em meu olhar, tornar-me-ei teu carcereiro eletrônico, decidindo o teu presente e o teu futuro, absolvendo-te ou condenando-te, juiz supremo que se ignora refém do próprio equívoco.

Inebriado com as tuas loucuras, te elegerei objeto supremo de minha admiração, deixando-me devorar pelo teu sucesso, do qual farei tema de todas as minhas conversas.
À espera de que os corvos venham devorar o meu coração, e agora que a nossa história foi para os quintos dos infernos, quero ser consumido e consumado por ti, arrancando de meus olhos todas as escamas, até que eu possa ver também ao vivo, na busca desenfreada de audiência, o marido espancar a mulher; o filho estuprar a mãe; o pai assassinar a filha; enfim, o horror, pois sei que o show não pode parar e que o seu limite é não ter limites.
31 de janeiro de 2002Reality ShowFrei Betto

SEMPRE É BOM LEMBRAR
3 comentários:
Ca:mila disse...
é um texto muito bonito. claro.
18 de Fevereiro de 2009 14:55
Adriana disse...
belo texto!
18 de Fevereiro de 2009 18:28
Devir disse...
Uhm, que legal, ambas!
Não tenho qualquer informação pessoal, somente as fotos e por preferência, dado ao sinal que isto representa(exceto em casos de simulacro, cópia da cópia), a gestação de uma grande evolução(?) da História.
Enquanto a mídia(?) papagagueia que esta é a era da comunicação, rss.
O que humanos entendemos sobre comunicação?
E como somos chatos se quisermos saber o que acontece, ou quando, e qual pode ser o acontecimento realmente pertinente ao Tempo que vivemos, aqueles passos que serão lembrados, as sementes...
(jamais o Ovo da Serpente, de Bergman, que está tão temido e chocado, simultaneamente)
...que serão a única razão de futuras sementes!
Escuto um barulho diariamente: "blá blá blá. Que tolice!" Haja paciência.
A casa é sua, Adriana, em foto mais poderosa, e sua, Ca:, em foto que resume minhas inquietações pertinentes a este comentário.
Aqueles abraços.
19 de Fevereiro de 2009 15:52

Misericórdia, pedir ou oferecer?


Respondo por mim: ambos, a todo instante, em todo lugar e para todo ser humano.


"Mas eis que me deixo levar a falar disso, do livre-arbítrio, que eu queria deixar de lado.
Digamos antes o seguinte.
Pode ser que haja duas maneiras de perdoar, conforme acreditemos ou não no livre-arbítrio do culpado: pura graça, como diria Jankélévitch, se o acreditarmos, ou conhecimento verdadeiro, como diria Spinoza, se não o acreditarmos.
Mas as duas coincidem no fato – que é a própria misericórdia – de que o ódio desaparece e de que a falta, sem ser esquecida nem justificada, é aceita pelo que é: um horror a combater, uma infelicidade a lamentar, uma realidade a suportar, um homem, enfim, a amar – se pudermos.
Os que leram meus livros precedentes sabem que, pessoalmente, nunca pude acreditar no livre-arbítrio, mas não cabe aqui eu me explicar.
Que me baste evocar a grande idéia de Spinoza, com a qual cada um fará o que quiser: os homens se detestam tanto mais quando se imaginam livres, e tanto menos quando se sabem necessários ou determinados.
É com isso que a razão se aplaca, com isso que o conhecimento é misericordioso.
“Julgar”, dizia Malraux, “é evidentemente não compreender, pois, se compreendêssemos, já não poderíamos julgar.”
Digamos antes que não poderíamos mais odiar, e é tudo o que a misericórdia pede – ou antes, tudo o que ela propõe.
É esse o sentido de uma das mais famosas fórmulas de Spinoza: “Não zombar, não chorar, não detestar, mas compreender.”
É a própria misericórdia, sem outra graça, aqui, senão a da verdade.

Ainda é um perdão?
Não exatamente, pois quando se compreende já não há verdadeiramente o que perdoar (o conhecimento, como o amor, torna o perdão a um só tempo necessário e supérfluo).
Desculpa? Não vou discutir por causa de palavras.
Tudo se desculpa, se quiserem, pois tudo tem suas causas.
Mas não basta sabê-lo: o perdão realiza essa idéia, que sem ele não passaria de uma abstração.
Não queremos mal à chuva que cai ou ao raio que fulmina, dizia eu, e por conseguinte nada temos a lhes perdoar.
O mesmo não vale para o mau, finalmente, e não é esse o verdadeiro milagre – que não é milagre – da misericórdia?
Que o perdão se abole no mesmo instante em que se dá?
Que o ódio se dissolve na verdade?
O homem não é um império num império: tudo é real, tudo é verdadeiro, o mal como o bem, e é por isso que não há nem bem nem mal fora do amor ou do ódio que introduzimos.
É nisso que a misericórdia de Deus, como diria Spinoza, é verdadeiramente infinita, porque ela é a própria verdade, que não julga.
Nessas regiões de que se aproximam os sábios, os místicos e os santos, ninguém pode habitar em permanência.

Mas a misericórdia tende a elas; mas a misericórdia leva a elas.
É o ponto de vista de Deus, se quisermos, no coração do homem: grande paz da verdade, grande doçura do amor e do perdão!
Mas o amor prevalece sobre o perdão, ou o perdão arrebata a si mesmo nesse dom do amor.
Perdoar é cessar de odiar, é portanto cessar também de poder perdoar: quando o perdão é consumado, quando é completo, quando não há nada mais além da verdade e do amor, não há mais ódio a fazer cessar, e o perdão se abole na misericórdia.
Por isso eu dizia no início que a misericórdia era menos a virtude do perdão do que sua verdade: ela o realiza, mas suprimindo seu objeto (não a falta: o ódio); ela o consuma, mas abolindo-o.
O sábio spinozista, em certo sentido, nada tem a perdoar: não porque não pode ser vítima de injustiça ou de agressão, mas porque nunca é conduzido pelo pensamento do mal nem enganado pela ilusão do livre-arbítrio.

Sua sabedoria nem por isso é menos misericordiosa, e é até mais: pois o ódio desaparece de todo, levando consigo toda e qualquer idéia de culpa absoluta (que seria responsabilidade não pelo ato, mas pelo ser), pois o próprio amor torna a ser possível.
É por isso que, em outro sentido, ele perdoa tudo.
Todos inocentes?
Todos amáveis?
Não, é claro, pela mesma razão!

Embora as obras das pessoas de bem e as dos maus façam igualmente parte da natureza e decorram de suas leis, explica Spinoza, nem por isso elas deixam de diferir “umas das outras, não apenas em grau, mas por sua essência: de fato, embora tanto um rato quanto um anjo, tanto a tristeza quanto a alegria dependam de Deus (isto é, da natureza), um rato não pode ser uma espécie de anjo, nem a tristeza uma espécie de alegria”.

A misericórdia não acarreta nem a abolição da falta, que permanece, nem as diferenças de valor, que ela supõe e manifesta, nem, é preciso lembrar, as necessidades do combate.


Mas suprimindo o ódio, ela dispensa que lhe busquemos justificativas.

Aplacando a cólera e o desejo de vingança, ela permite a justiça e, se necessário, o castigo sereno.

Enfim ela torna concebível que os maus, fazendo parte do real, também sejam oferecidos a nosso conhecimento, à nossa compreensão e – pelo menos é esse o horizonte que a misericórdia deixa entrever – a nosso amor.

Nem tudo se equivale, claro, mas tudo é verdadeiro, e o canalha tanto quanto o homem de bem.

Misericórdia para todos, paz para todos – e no próprio combate!"


FRAGMENTO DE TEXTO DO LIVRO:
Pequeno Tratado das Grandes Virtudes
De André Comte-Sponville
Ed. Martins Fontes, São Paulo, 1999
Tradução de Eduardo Brandão

sábado, 25 de julho de 2009

Orelhas de burro


No post anterior encontrei nomes melhores, com aparências de difinitivos para tentar entender, sensações semelhantes e divergentes, e absolutas, como Bem e Mal, Força e Fraqueza, Belo e Feio, Amor e Ódio, Claro e Escuro, Objeto e Sombra, etc., etc., etc., em um Descer e Subir AD FINITUM; talvez tudo leve a crer que descobri a América. E tenho consciência desta tolice, ao contrário da Maioria e da Minoria, que descobrem quase todo dia, a mesma ad finitum.

Neste post, queria encontrar nomes melhores para Simetria e Dissemetria, queria nomes, já que não se pode mais, as cavernas ficaram para o passado, nomes mais livres e em expansão permanente, nomes apropriados para simultaneamente agradar rios, esta tão cara imagem emprestada aos filósofos antigos, águas que ignoram qualidade, águas inocentes, e morrendo.

Queria, porque estou ficando repetitivo; não existe um meio humano em que se possa viver sem às vezes pensar que os dias se repetem, que o sol 'ainda' é o mesmo, que nasce(!) no leste...

Outra; é óbvio que é muito chato, saber de correlações entre nomes, entre nomes e números, entre nomes e sensações, nomes e imaginação, nomes e existências, etc., etc., etc.

Mais outra; a quem mais interessa o saber se não ao utilitarismo? Por exemplo, este nome horrível, se correlaciona com Militarismo, mas não apenas no som de terror; incapaz de divertir uma criança.

Por essas, e por outras, que afirmo meu propósito, repetido à exaustão, até que me entendam:

Nessa porra, pelo menos, podemos escolher as palavras, podemos deixar de ser tão submisso aos costumes e intintos dissimulados, que se fazem passar por naturais!!!

SÉTIMA ARTE
A Sociedade dos Poetas Mortos - Pude vislumbrar o 2 a questionar a linguagem digital.

LITERATURA
Como surgiu o livro O homem e sua sombra?
Um dia, de repente, veio uma frase estranha na cabeça: "era um homem com sombra de cachorro, que sonhava ter sombra de cavalo". Fui anotando aquilo com curiosidade, sem saber no que ia dar. Quando fechei o processo, me dei conta de que esse é um tema que existe no folclore do mundo inteiro, e que nem a psicanálise esgota. Pois trata da duplicidade, da ambiguidade que circula na cabeça das pessoas, sobretudo na sociedade esquizofrênica em que vivemos.

Esteticamente, o senhor se considera vinculado a alguma tendência ou escola?
Ao longo da vida, participei de vários movimentos sem ter assinado nenhum manifesto ou cartilha, mas sim, dialogando e criticando, pois essas organizações acabam tendo um cunho religioso. Seria muito fácil se eu entrasse em um partido político, em um grupinho literário, se pertencesse a uma tribo. Isso tem um preço muito caro. Você entra para um partido e acaba virando sacerdote. Entra para um movimento estético e termina messiânico. Sempre fuimuito vacinado contra isso. E hoje continuo nessa batalha, fazendo a crítica de uma certa arte que se chama contemporânea. Sou contemporâneo, por isso critico o meu tempo.

A arte que o senhor critica seria uma fuga do aqui-agora?
A coisa é complexa. Contemporâneo é uma palavra ardilosa, imprópria, que é utilizada de forma equivocada e maquiavélica. Como quem diz: "eu estou salvo e você está condenado. Eu estou do lado do futuro e você, do passado. Eu sei fazer arte e você não sabe". Um dos equivocos está no adjetivo: a arte contemporânea está tão preocupada em ser contemporânea que esquece de ser arte.
http://quadro-magico.blogspot.com/2009/05/entrevista-affonso-romano-de-santanna.html

FRASE DOS OUTROS
"Talvez tenha sido esse o momento mais difícil da humanidade frente aos seus excrementos, o clímax entre o Homem e sua sombra animal.
Tivemos que trazer a bosta para dentro de nosso próprio lar.

Para que isso fosse possível, bastava que jamais assumíssemos o verdadeiro fim do aposento que covardemente, eufemisticamente, chamamos de banheiro.

Sim, meus caros, para não dar nas vistas, inventamos o chuveiro, a banheira, a higiene bucal, o secador de cabelo, o rímel, o blush e o batom, a acne e os tratamentos antiacne e todas as outras coisas para se fazer ali.

Além disso, criou-se um arsenal para se disfarçar o cocô: sprays com odor de rosas, sachês que deixam a água da privada azul, verde ou rosa, exaustores, bidês e papeis higiênicos perfumados.

Ali, naquele ambiente cientificamente controlado, podemos aliviar as nossas necessidades com o máximo distanciamento possível.

Após dar a descarga, nosso cocô é mandado para esgotos submersos, que desembocam em rios que vão dar lá longe no oceano.

Sanamos o problema por enquanto, mas é só uma questão de tempo.

Todo esse cocô está se unindo, formando o maior movimento underground do mundo.

Nossas cidades, nossos países estão boiando sobre rios de merda.

Fala-se muito no fim do petróleo e no fim da água, mas não será assim que nós morreremos. Numa incerta manhã um cidadão dará a descarga e, como na piada, ouvirá o estrondo: o subsolo, entupido, explodirá.

A verdade, reprimida por séculos e séculos, emergirá.

Só nesse dia todos perceberão o tamanho da cagada em que nos metemos desde o dia em que resolvemos sair da floresta.

E não haverá sachê nem bom ar que dê jeito.
Como se sabe, só as baratas sobreviverão.
Leia mais: http://www.releituras.com/antonioprata_privada.asp

§

Inseparabilidade radical de teoria e prática
"Trago os exemplos acima para mostrar o entrelaçamento dos três elementos inseparáveis da proposta de investigação - o discurso da mídia, o depoimento de um grupo em situação de recepção e o tratamento de questões relativas aos "murmúrios" e perigos de nosso tempo.
Como escrevi em outro texto, trata-se de assumir, sempre, a radical inseparabilidade entre teoria e prática, entre o conceitual e o empírico.
Penso, a partir de Foucault, que os discursos e todas as normas e regras institucionais - nos mais diferentes campos de poder e saber - são sempre e por definição "práticos"; sendo assim, o trabalho investigativo, a própria tarefa da filosofia, a responsabilidade do pensamento crítico é justamente "analisar as práticas em que aquelas normas realmente figuram e que determinam espécies particulares de experiência".
Dessa forma, assumir a posição de quem apenas descreve, mostra ou aponta um modo de existência "x", um acontecimento "y" - como muitas vezes fazemos questão de afirmar, com tanta cautela, em nossos projetos -, a meu ver, não nos exime per se do compromisso nem da crítica.
Obviamente, o modo pelo qual entendemos tanto o compromisso como a crítica precisa ser bem explicitado.
Se não estamos usando o ponto de partida da hipótese repressiva
6 - de que as coisas sucedem do jeito que sucedem porque alguém ou algo não nos permite fazer determinado gesto ou ato, porque algo nos tolhe e reprime, e assim o único modo de enfrentar a ordem repressiva é negá-la, destruí-la, tomar posse dela -, então é preciso tornar claro para nós mesmos que não se trata de denunciar a alienação e a mistificação, nem de, como nos ensina em grande parte a teoria crítica, teorizar apontando sempre para uma intencionalidade prática.
Mas, então, de que se trata quando defendemos que a teoria não se desvincula da prática?"

quinta-feira, 23 de julho de 2009

Simuladores e realizadores



Por vezes, os alienistas atuais, não tão exacerbados quanto aquele de Machado de Assis, ao detectar uma falência de superfície, quando a palavra perde completamente o sentido para o mundo, assumem uma postura presunçosa. Encerram o problema dentro de suas pastas e, trancam a porta com esmero, menos preocupados com quem possa entrar, do que com seus "trabalhos" fugirem do seus controles.
Em casos individuais, pode-se pensar um esquizofrênico, porem em casos coletivos, ou até mesmo o mundo deles, com maior facilidade, com esta fronteira "profissional", tratam o paciente como se fosse qualquer categoria de pecador, e eles, os "escolhidos", detentores de uma procuração de Deus.
Imagine o que pode acontecer a um pertubado com a força de Deus.
A menor ou a maior expressão desta realidade, precisa ser ocultada, condição severa, também ocultada dos pacientes, para a "eficiência do tratamento" e para garantir o prosseguimento de sua carreira liberal; porque ninguém é Deus.
Seria cômico se não fosse trágico. Esse ditado foi um divisor de águas na minha juventude.
Em algum momento que consegui estar solitário - talvez possa realmente ter ocorrido na Praça do Por do Sol, na Villa - percebi tal falência.
Logo conclui que se tratava de um pressentimento comum para a fase. Mas, aquilo ficou martelando meu cérebro.
No outro dia, acordei com a certeza que eu deveria, cedo ou tarde, escolher como me posicionar diante do mundo, deveria escolher a postura cômica ou trágica. Questionei porque me sentia impelido a apenas duas opções. Sabia que havia infinitas posturas para escolher. E esse assunto, aguardo pelos comentários.
Passei a usar uma surrada jaqueta jeans em todo lugar, o tempo todo, duas canetas no bolso esquerdo e um bloco de notas nas mãos. Consegui estar solitário quando quisesse. Meus relacionamentos com o mundo se tornaram cada vez mais breves.
Colecionei namoradas, para jamais esquecer seus nomes, fazia poemas que sintetizavam suas personalidades. Conforme uma ou outra ascendiam em importância para meu prazer sexual, eu compunha textos pensativos.
Assim conquistava cada vez mais o interesse delas, e das amigas e amigos triviais; assim podia ter opiniões diferentes para carear com a minha.
Iniciei uma investigação minuciosa sobre todas as posturas, exceto aquelas, o trágico e o cômico, para conhecer toda mínima alteração no equilíbrio da relação indivíduo/sociedade.
Com o passar do tempo, casei, descasei, meu filho cresceu, veio morar comigo, foi morar com uma companheira, o gato, o Michê, sumiu a seis mêses, ontem a cobra, a Corn, desapareceu, deve estar ainda na casa, e eu ainda não sei por que me preservo de experimentar uma postura cômica ou trágica. Eu sei que tem algo a ver com o meu batismo católico, mas também sei que isso não conseguiria ser tudo.
Questiono o tempo todo, por que todas demais posturas possíveis devem, cedo ou tarde, confluir para uma relação cômica ou trágica junto ao mundo. Existem duas conclusões divergentes.
Traço uma linha divisória entre elas, uma é o eu, a outra é o mundo.
Mas não é como se fosse uma fronteira de dois territórios, como os animais irracionais fazem, para se proteger e aos seus semelhantes do meio em que vivem, contra predadores ou pertubadores de sua paz bestial.
Essa linha se parece mais com os matizes da luz, em todas as cores. Ao excesso de luminosidade gosto de pensar que, ao fim, tudo se tornará cômico, e à falta total de luz, o trágico.
Eu preciso estar muito atento às nuances de cada dia, ou de cada relacionamento, para perceber uma minúscula alteração de equilíbrio; prefiro tudo, menos a total falta de sentido.
De todos os lados escuto vozes a dizer que isto, minha investigação recalcitrante, é uma enfermidade mental; que isto provoca enfermidade física; que meus últimos instantes passarei solitário em um hospital ou em uma cadeia; que se me livrar, o que é impossível, dizem, levando em consideração que não se sabe de ninguem que conseguiu, vou terminar meus dias embaixo de uma ponte; que isto vai transformar meu gênero sexual; que isto estraga a minha beleza; que isto vai queimar todos os meus neurônios, um a um; que isto é pior que a morte em vida, que é pior que a própria morte; que isso; que aquilo; etc.
Por essas, e outras, às vezes penso em morrer também, de alguma maneira, para uma, duas, três pessoas ou para todo mundo, ou para mim, não importa, eu não acredito, mas vejo tantas pessoas morrendo por qualquer motivo, que deve haver nestes morreres algum bálsamo revigorante, qualquer gostinho especial de salvação para um alienado, que vê mas não queria ver, o trágico ou cômico no final do túneo.
Ou em quase tudo, excessão apenas aos eus espelhos, seja em graça ou em desgraça.
Este é meu calvário, circular entre meus semelhantes, recusar o quanto puder meus reflexos entre eles, atuar sincera e espontaneamente com graça aonde houver graça, e, aonde houver des-graça, atuar contra esta forma, porem; e porisso ser excluido do convívio, por não conseguir igualmente simular graça absorvida das mensagens ao varejo,
dos diálogos intimistas/intimadores constantes na maioria dos veículos de comunicação;
por fim, segundo o pensamento de Gilles Deleuse (tem frase dele aqui no post),
sofrer as sutilezas da exclusão,
quando toda designação é apreendida como vasia,
toda manifestação como indiferença e toda significação como falsa.
A esquisofrenia é uma doença de mão dupla; exatamente como o sofrimento do esquisofrenico. Ela se torna notável tanto quando a pessoa doente se relaciona com um grupo sadio, tanto quando a pessoa sadia se relaciona com o grupo doente.
Em toda terapia da mente, os alienistas de sempre adotam como primeiro critério para decidir quem está ou não doente, as suas próprias, e ocultas, interpretações.
Para que suas ocultações tenham êxito, emprestam ao senso comum certas "verdades incontestáveis"; p. ex., toda pessoa que afirmar não possuir nenhuma psicopatologia é um psicopata latente.
Desta maneira, basta estar conforme as régras de um grupo ou sociedade, porque jamais um pensamento coletivo vai se expressar nestes termos, para ficar a salvo dos pecados desta enfermidade tão complexa.
MÚSICA
Glory Box - De duas formas, sem roupa, só, olhe bem para o que lhe define biologicamente sexual, e esqueça. Numa forma sem órgão sexual, noutra com ambos órgãos. Procure movimentar todas as partes do corpo, inclusive as involúntarias, e viage na letra.
SÉTIMA ARTE
The Jane Austen Book Club - O Amor e sua maior essência: radicalmente, não ser civil. Estou com Jane Austen: "O amor é uma insanidade". Teima, se preciso, morre para nos dizer que não é o mesmo, mata para provar que até pode ser semelhante e sofre diante das simulações; nunca é qualquer coisa. Sua força é sua fraqueza; jamais escolhe e ignora qualquer limite. Dá sentido e se recusa a receber. Vem e desaparece sem aviso, sem sinais. O que se disser, qualquer nome ou sensação, não será o amor.
FRASE DOS OUTROS
"Por mais longa que seja sua história, o platonismo não ocorre senão uma só vez e Sócrates cai sob o cutelo.
Pois o Mesmo e o Semelhante tornam-se simples ilusões, precisamente a partir do momento em que deixam de ser simulados.
Definismo a modernidade pela potência do simulacro.
Cabe à filosofia não ser moderna a qualquer preço, muito menos intemporal, mas destacar da modernidade algo que Nietzsche designava como intempestivo, que pertence à modernidade, mas também que seja voltada contra ela - "em favor, eu o espero, de um tempo por vir".
Não é nos grandes bosques nem nas veredas que a filosofia se elabora, mas nas cidades e nas ruas, inclusive no que há de mais factício nelas.
O intempestivo se estabelece com relação ao mais longínquo passado, na reversão do platonismo, com relação ao presente, no simulacro concebido como o ponto dessa modernidade crítica, com relação ao futuro no fantasma do eterno retorno como crença do futuro.
O factício e o simulacro não são a mesma coisa. Até mesmo se opõem.
O factício é sempre uma cópia da cópia, que deve ser levada até ao ponto em que muda de natureza e se reverte em simulacro (momento da Pop' Art).
O factício e o simulacro se opõem no coração da modernidade, no ponto onde esta acerta todos as contas, assim como se opões dois modos de destruição: os dois niilismos.
Pois há uma grande diferença entre destruir para conservar e perpetuar a ordem restabelicida das representações, dos modelos e das cópias, e destruir os modelos e as cópias para instaurar o caos que cria, que faz marchar os simulacros e levantar um fantasma - a mais inocente de todas as destruições, a do platonismos."
Apêndices, 1. Platão e o Simulacro, do livro Lógica do Sentido, de Gilles Deleuze.
Tradução de Luiz Roberto Salinas Fortes. Editora Perspectiva.

terça-feira, 21 de julho de 2009

Simulacros e realidades



Aprendo, como bem canta o Paulo Tavares, primo da minha ex-espôsa, "sofrendo" a composição das realidades, das crenças particulares e coletivas, na vida e, portanto também, em uma determinada parcela ou grupo; aqui, de blogueiros.
Para tanto, colho informações aleatórias, contando com o máximo que uma intuição pode ser ordenada.
Invisto na "realidade" dos blogs com 3 portas de acesso, cada uma com seu projeto definido; por exemplo, esta que voce está vivendo, neste instante, pretende(ia) estudar o "sentido" do devir. Assim como um naturalista se recusa ao laboratório artificial, tambem evito quanto posso, recriar os mesmos padrões de convivência vigentes fora do ambiente virtual, tomado até o limite da internet!, onde as palavras não atuam como parte de um Ser, mas tão somente como alegorias; como faz o artista, sua obra, por mais genial que seja, jamais será o tudo que propõe.
As palavras não seriam naturais se proferidas por qualquer outro animal além do humano.

Para que eu jamais precise desculpar-me, se acaso apareça um reclamante, cuja intenção não seja relevante, configurando um argumento de que o faço (ou o fiz) de cobaia, peço o favor que releia novamente o primeiro parágrafo com mais atenção, e quero expor um exemplo:
Na academia de polícia se ensina que a natureza do ser humano é tão quanto ou mais engenhosa quanto a cultura recebida.

Para quem quiser ingressar na polícia, seja qual for o trabalho que contenha tal conceito, o aluno aprende que o ser humano precisa diminuir o máximo possível sua natureza (indomesticável, p. ex.), para melhor praticar o sentido de sociedade humana.
Depois, se o soldado quiser se tornar um delegado, ensina-se que todo ser humano segue vários padrões, que sua natureza não difere de outros animais, jamais almenta ou diminui e (não me recordo um termo específico para algo que se dissolva em outro, sem se alterar em nada, que altera em todo o outro, e, neste, porque deste, ignore completamente qualquer juizo de valor).

Um delegado (ideal, em teoria, pelo menos) precisa saber que não existe, sequer, em qualquer ser humano!, um gesto natural indissociado de sua cultura.
Por exemplo: todo movimento das mãos transporta um sentido além do meramente objetivo, a cada ponto do corpo, principalmente, e mais relevante à polícia, na região da cabeça, o gesto de coçar, tocar ou ajeitar, repousar ou escorar, etc.

São inúmeros exemplos, na área do conhecimento policial e em qualquer que seja o conhecimento. Escolhi determinada área de conhecimento porque se me referisse simplesmente ao conceito de investigação, ao mitigar o efeito da minha, talvez ninguém, o mínimo sequer, terminaria de ler.
Eis uma grande questão da literatura e da vida atual(?)!

Uma pessoa, escritora, com muitos livros que se tornaram campeões de venda, talvez com idéia préconcebida da realidade, via email, perguntou-me se eu sabia exatamente o que quer dizer Devir; assim mesmo, com letra maiúscula.
Eu respondi, claro, com outra pergunta: qual, o meu ou o seu?
E ela retornou, preste atenção; é uma senhora riquíssima em cultura, riquíssima, sem a menor dúvida, em experiências, viajou por quase o mundo inteiro, depois de demonstrar óbvio interesse (em vários emails anteriores) "nos pilares que sustentam tão rica fonte de questões saudosas", travou um relacionamento virtual de (+/-) 10 meses.
Seu último email dizia tudo isso: (...).
Não estou de "sacanagem", isto aí foi todo o conteúdo, literalmente.
Eu arquivei tudo, a pasta tem o título: vidas inacabadas.
"O que é - e, oh, tão perfumadamente! - é a revelação de quão intensamente singular é o cheiro pessoal de alguma criatura humana." William James. (veja frase dele neste post)


POEMA
Amor natural

Voce me chama pelo nome
Eu lhe chamo pelo nome
Somos depois dos nomes

Eu não lhe chamo, voce aparece
Voce não me chama, eu apareço
Somos antes dos nomes

Voce diz uma coisa sobre mim
Eu digo uma coisa sobre voce
Somos sinais dos desejos

Eu lhe desejo. Voce me deseja.
Somos a sensação de vida
Antes das percepções


MÚSICA
Adágio for Strings - de Samuel Barber. Diante de qualquer que seja Vida, principalmente da civilização, em seus últimos instantes. Feche os olhos e não chore.
SÉTIMA ARTE
Cães de Aluguel - Não procure os limites da realidade, tampouco os limites da simulação. Esta, e tantas outras diferenças, que um tal de senso comum, acha fundamental, são apenas diamantes. Quem os tem, sabe o valor. Quem pode tê-los, sem consequências desatrosas, não enxerga e nem pára de procurar ou sofrer a confusão entre imagem e reflexo, até os obter. Quem os quer, mas não pode obtê-los, sabe ou não sabe disso, até morrerá por sua imagem. No quadro, aonde partiu pela primeira vez a idéia, o personagem estranha: "Não conheço nenhum passador de diamantes".


FRASE DOS OUTROS
"Agora, que espécies de filosofia encontra voce atualmente oferecidas, capazes de atender às suas necessidades?
Encontra-se uma filosofia empírica que não é bastante religiosa, e uma filosofia religiosa que não é bastante empírica para os seus propósitos.
Se olhar para o sítio onde os fatos são mais considerados, encontra o programa todo dos espiritos duros em operação, e o "conflito entre ciência e relegião" em plena efervescência. Ou é aquele bruto roceiro de Haeckel com seu monismo materialista, seu deus etéreo e sua gozação ao seu Deus como um "vertebrado gasoso"; ou é Spencer tratando a história do mundo como uma redistribuição somente de matéria e de movimento, e despedindo a religiâo polidamente para fora pela porta de frente - pode, na verdade, continuar a existir, mas nunca mais deve mostrar sua face dentro do templo.
Por cento e cinquenta anos passados, o progresso da ciência pareceu significar o alargamento do universo material e a diminuição da importância do Homem. O resultado é o que se pode chamar o crescimento do naturalismo ou positivista.
O Homem não é o legislador para a natureza, é um absorvente.
A natureza é que permanece firme; o Homem é que se deve acomodar.
Que registre a verdade, embora seja desumana, e se submeta!
A espontaneidade e a coragem românticas foram-se, a visão é materialista e deprimente.
Os ideais aparecem como subprodutos inertes da fisiologia; o que é mais alto é explicado pelo que é mais baixo, e tratado para sempre como um caso de "nada, a não ser" - nada, a não ser qualquer coisa outra de uma espécie inferior.
Tem-se, em suma, um universo materialista, no qual somente o espirito duro se encontra verdadeiramente em casa."
Primeira conferência, do livro Pragmatismo, de William James.
Tradução de Jorge Caetano da Silva. Editora Nova Cultura.

domingo, 19 de julho de 2009

Da rotina conceitual



Quando as sombras estão no comando, a gente até se esforça, grita e faz muito barulho, mas ninguem ouve.

POEMA
O Homem e Sua Sombra

Óbvio, na calada... da noite conceitual
Se encerra, o visível se faz, se desfaz...
Ficamos sós, nem mesmo a imaginação
Produz os fantasmas das sombras atuais

Que se sofre a violência do quotidiano
é dizer metade, ou mais do que se devia
e quanto menos se explica, menos se crê
na diferença do banal insignificante ao nada

Enquanto o original significante, a tudo
contempla um firmamento brêu, vida aparente
só se encontra em expressões automáticas ou
em estados sólidos sem esperança nos outros

FRASE DOS OUTROS
"O mundo, abandonado a si mesmo, obedece a leis fatais. Em condições determinadas, a matéria se comporta de maneira determindada, nada do que faz é imprevisível: se nossa ciência fosse completa e nosso poder de calcular infinito, saberíamos antecipadamente tudo o que se passará no universo material inorganizado, em sua massa e em seus elementos, como prevemos um eclipse do sol ou da lua. Em suma, a matéria é inércia, geometria, necessidade. Mas com a vida aparece o movimento imprevisível e livre. O ser vivo escolhe ou tende a escolher. Sua função é criar. Num mundo em que todo o restante é determindado, uma zona de indeterminação rodeia todo o ser vivo. Como para criar o futuro, é preciso que algo dele seja preparado no presente, como a preparação do que será só poderá ser efetuada utilizando o que já foi, a vida se empenha desde o começo em conservar o passado e antecipar o futuro numa duração em que passado, presente e futuro penetram um no outro e formam uma continuidade indivisa: esta memória e esta antecipação são, como vimos, a própria consciência. E esta é a razão, de direito, se não de fato, de que a consciência seja coextensiva à vida.
A matéria é necessidade, a consciência é liberdade; mas, por mais que elas se oponham uma à outra, a vida encontrra meio de reconciá-las. É que a vida consiste precisamente na liberdade inserindo-se na necessidade e utilizando-se em seu benefício. Ela seria impossível se o determinismo ao qual a matéria obedece não pudesse relaxar seu rigor. Mas suponhamos que em certos momentos, sobre certos pontos, a matéria ofereça uma certa elasticidade: aí se instalará a consciência. Ela aí se instalará fazendo-se extramente pequena; depois, uma vez neste lugar, ela se dilatará, ela se expandirá e acabará por obter tudo, porque ela dispõe de tempo e porque a mais ligeira quantidade de indeterminação, acrescentando-se indefinidamente a si mesma, resultará em tanta liberdade quanto se queira."
A consciência e a vida, L'Énergie Spirituelle, 1919, Henry Bergson.
Editora Nova Cultura. Coleção Os Pensadores. Tradução de Franklin Leopoldo e Silva.

SÉTIMA ARTE
Matrix - O parto, visto de fora, é mais uma situação trivial; como assistir este filme para quem não está vivendo sua eterna sensação de nascer. Visto atravéz do feto, e em um segundo plano, indireto e 'quase' no âmbito do fenômeno, atravez da mãe, o real e o virtual não são separados. Oracúlos e agentes não são fantasias.

MÚSICA
King Crimson

I Talk To The Wind

Said the straight man to the late man
Where have you been
I've been here and I've been there
And I've been in between.
I talk to the wind
My words are all carried away
I talk to the wind
The wind does not hear
The wind cannot hear.
I'm on the outside looking inside
What do I see
Much confusion, disillusion
All around me.
You don't possess me
Don't impress me
Just upset my mind
Can't instruct me or conduct me
Just use up my time
I talk to the wind
My words are all carried away
I talk to the wind
The wind does not hear
The wind cannot hear.

SEMPRE É BOM LEMBRAR
Quando deixei de ser criança, transfomei-me em algo quase inominável
- todo nome, logo se torna decisão precipitada, quando o objeto de conhecimento é o ser
- e deixei também de se apaixonar por professoras lindas e gostosas.
Eu precisava de algo mais,
então percebi que as psicólogas lindas e gostosas seria uma boa evolução.
Trai várias, principalmente com filósofas lindas e gostosas.
Muito tempo depois, logo antes, deste algo em que sou
- pássaro em viveiros de aves domésticas que só se agrada se for um pifel (irrecusável!!?)
em pratinho de plástico servido à beira de estrada no meio da sua viagem
- e prefiro, mesmo sem qualquer valor para pagar pela preferência,
as mulheres incaracterisáveis, sublimes e gostosas.
Devido à experiência, este adjetivo se tornou raro e caro.
Se antes não refletia sobre tal qualidade, agora tenho todo o tempo do mundo,
e todas as mulheres
porque não existe nehuma igual à outra,
quanto mais escapam de seu estado natural. Estas,
maldita naturalidade trivial,
deixar-me-iam já no início, portanto, não existe preço,
quando voce dispõe oferecer a própria vida por quem só me deixará no último instante de sua lucidêz.
Só o que fode a minha felicidade é não arrumar alguem que "patrocine"; o que basta
que não me lembre o tempo todo, em silêncio ou em gestos inexpugnáveis,
que posso morrer, solitário, a qualquer momento.
É pelo menos o mínimo que uma mulher gostosa precisa conter na cabeça
para encerrar minha busca renitente.

sexta-feira, 17 de julho de 2009

OU DEUSES OU ASTRONAUTAS?

http://www.ceticismoaberto.com/referencias/pilarferro.htm
Diante de uma reportagem, que fui obrigado a ver quatro veses hoje, no café, no almoço na 7 de Abril, quando voltei do trabalho e agora a pouco. Toneladas de lixo foram importadas da Inglaterra. Foram canais diferentes. E nada a discutir?
Tomemos como exemplo, portanto, questão de História: Séculos do julgo portugues. Cento e poucos anos de república dos estados unidos do Brasil.
Atualmente, o que somos?

§

FRASE DOS OUTROS
"Se há uma idealidade em mim, um pensamento que possui em mim um futuro, que até mesmo perfura meu espaço de consciencia e possui um futuro entre os outros e, por fim, transformada em escrita, possui um futuro em todo leitor possível, só pode ser este pensamento que não sacia nem a mim nem a eles, indicando uma deformação geral de minha paisagem, abrindo-a para o universal, precisamente porque antes de tudo é um impensado." O visível e o invisível, Merleau-Ponty. Editora Perspectiva.

POEMA
Um mergulho no tempo
(desatento em sala de aula, 2006)
É foda, se percebemos
"o tempo não pára"
e leva a vida junto

Um dia a menos
até parece sem importância
alguns minutos ouvindo música
e pedindo perdão
cantando mais mulheres
um beijo a menos

"Me perdoa
a vida é doce
e depressa demais"

Só para amar alguém a menos
(...)
Não havia pecado
não sei por que me esfolava
por ser inocente? ou burro?

Quando não se tem dinheiro
é bom ter músculos
e ódio
e amor
(...)

- Aonde voce vai agora?
- Vou andar um pouco.
- Quer ir ao cinema?
- Eu gosto de filme real.
- Voce está brincando.
- Quer que eu brinque de boneca?
- Voce quer ser minha barbie?
- Vamos ao cinema.
- Depois jantamos?
- Passamos a noite em um motel.
- Com certeza só falarei inverdades.
- Não vou mentir.
- Vou apreciar.
- Há tempos favoráveis.
- O sentimento não escolhe.
- O certo e o errado.
- É basilar para nossa vida.
- Fundamental para minha razão.
- Sou sua boneca de charme.
- E não me interessa... as grandes questões.
- Eu urro urro urro urro... feito um urso.
- A natureza seja louvada.
(...)
"Sexo verbal
não faz meu estilo
palavras são erros
e não quero lembrar
que eu erro também"
(...)
- Tim tim fique lúcida Sofia.
- Acho que vou morrer.
- E eu vou derreter sua péle de plástico.
- E eu vou estilhaçar a rotina de seus espelhos.
- Eu vou quebrar esse gêlo de seus olhos.
- Eu vou fincar bandeira em sua arma.
- Eu vou espalhar sua alma ao vento.
- Eu... Eu...
SÉTIMA ARTE
Banquete do Amor - Ao final, voce se pergunta, ao pensar que tudo vai se repetir, pior ou melhor, de uma forma ou de outra para todos, vale a pena? Se alguém souber a resposta que sopre no seu ouvido. Eu não sei a resposta, se soubesse jamais diria, preciso desapontá-lo(a); ganho fama de mau, e não dissimulo. Procure nos livros, procure na bola, procure na boneca, nada vai dizer, então procure deixar de lado sua pergunta, volte a viver, desta vez de olhos abertos. Deus não morreu, muito menos nos despreza. Deus também não está rindo de nós. Ele nos inveja, mesmo que depois sinta pena da nossa insignificância.

DURA CASCA DE NÓS
Que a Terra há de comer, assim seja, amém.
Lançado no mercado, a poucos dias, o modelo portátil, já vendeu um milhão de cópias. Cientistas escondem a fórmula de todas as maneiras. O Times já declarou que enfim chegamos à era do aquário. A juventude, depois desta transformação, inicia-se aos 5 anos, e a mais nova criança a ganhar um Prêmio Nobel da Paz, em cerimônia que reuniu os presidentes efetivos de áreas conjuntivas, declarou "Sou à favor da Natalidade Atual". Aos adultos que se cuidem, disse Marilena, minha secretária eletrõnica de 6 anos, sem nunca dar defeito, exceto lançar palpites infames. Poderia verificar por dentro, mas não tenho diploma, a garantia se estende até seus 9 anos. Eu a ganhei da amiga da amiga da espôsa de meu irmão. Eu gosto desta pirralha. Já tenho 10 anos. Não teria coragem de desligá-la e a deixar esquecida em um canto da casa.

MÚSICA
Collide, White Rabbit, se segure, feche os olhos.

LITERATURA
A Sabedoria dos Modernos, Luc Ferry, "Que nos dizia o mestre da política moderna? mais ou menos o seguinte, que não tem muito a ver com o cinismo geralmente associado a seu nome: para assentar seu poder de maneira forte e duradoura, o príncipe não deverá se apoiar na forma das instituições repressivas, nem tampouco na ajuda de seus pares, mas sim nas paixões mais comuns e mais populares. Com o que Maquiavel aparece, pelo menos em certo sentido, como o primeiro "democrata", como aquele que sujere ao príncipe não apenas levar em conta as paixões do povo, mas fundar nelas a autoridade dos governantes. Maneira, já, de dizer que a política deve arraigar-se nas interrogações da sociedade civil. O problema, claro, como Hobbes não deixou de ressaltar, é que as paixões mais comuns são as mais baixas: o ódio e, sobretudo, o medo, aliás inseparáveis um do outro."

SEMPRE É BOM LEMBRAR
"Às vezes a vida até parece uma festa, porque em certas horas, é só o que nos resta. Ficar cego feito uma criança, só por medo ou insegurança. Ficar mal ou bem acompanhado. Não importa se der tudo errado."
Exatamente porque se Van Gog tivesse em mãos tecnologia e retórica, ao invéz de uma navalha, não cortaria a própria orelha.
Não é uma diversão, para mim, contar, seja qualquer coisa, sobre a vida. Quando acontece, na certa fui levado pela atração da convivência.
O meu, o nosso, e os blogs, não são espaço para a retórica, contudo precisamos conviver e, se possível, sem nenhuma técnica. Ao contrário, portanto, do sentido e conteúdo de cada post e, rss, se possível, de cada comentário. Se preciso, sem orgulho, peça uma licença ao Tempo.
Existe um bem maior do que, no mínimo, romper as grades de uma prisão? Sabemos que somente as vítimas não retornam.
E tão somente os estóicos aproveitam o lugar para dar aula.
O exímio artista costuma derramar seu talento sobre objetos práticos.
Dalí, tanto quanto aquele automutilador, foi um artista execrável para quem a modéstia não lava sequer os próprios pés. Seus quadros jamais serviriam para calçar um caminhão de bobagens.
A indiferença aos Outros, e a diferença a poucos outros, dormem com as prostitutas.
Talvez o único defeito da convivência automática, porque o resto é maravilhoso como enxergar.
Nem toda confusão é sitoma de doença, assim como inúmeras formas de febre, apesar de oferecerem os mesmos riscos.
Prevenção nem sempre significa medo e insegurança.
Às vezes nem podemos ter qualquer direito, muitas delas por prazer, até sabendo, e se repetindo, que pode dar tudo errado.

segunda-feira, 13 de julho de 2009

Duelo de Gigantes; indivíduo x sociedade


Preciso Me Encontrar
Cartola

Deixe-me ir preciso andar,
Vou por aí a procurar,
Rir pra nao chorar.

Deixe-me ir preciso andar,
Vou por aí a procurar,
Rir pra nao chorar.

Quero assistir o sol nascer,
Ver as águas dos rios correr,
Ouvir os pássaros cantar,
Eu quero nascer quero viver...

Deixe-me ir preciso andar,
Vou por aí a procurar,
Rir pra não chorar.

Se alguem por mim perguntar,
Diga que eu só vou voltar,
Depois que eu me encontrar...

Quero assistir o sol nascer,
Ver as águas dos rios correr,
Ouvir os pássaros cantar,
Eu quero nascer quero viver...

Deixe-me ir preciso andar,
Vou por aí a procurar,
Rir pra nao chorar.

Deixe-me ir preciso andar,
Vou por aí a procurar,
Rir pra nao chorar.

§

SÉTIMA ARTE
A Vida Dos Outros - Quando voce descobre a vida de alguém, se não quiser ser visto tambem, se permita o preço à pagar, tenha paciência para esperar, a alegria pode demorar.

Analise esta frase: se lhe chamou a atenção as rimas, o filme de hoje, tanto quanto se se fizesse um filme de sua vida, voce vai assistir neutro, como se faz a maior parte do tempo, qualquer pessoa. Voce pode contar que assistiu apenas para todos saberem que tem assunto, no momento. Claro, apesar da neutralidade, voce pode incursonar por vários tipos de Arte, inclusive a própria sétima arte como oitava maravílha, e tornar seu ato de contar o que assistiu uma simpatia inquestionável e um prazer com estilo original. Tudo isso pela melhor hipótese do que qualquer ser humano é capaz; não ter ônus algum por viver sem suas próprias escolhas. Mas, voce pode também ser contra ou à favor, reler a minha frase, entendê-la um pouco mais, pagar imediatamente o preço de sua escolha, com a sensação que vier. Fazer nossas próprias escolhas ainda não merece o sentido de Liberdade. Como jamais seja Amor, escolhendo, esperando, determinado resultado.


§


SEMPRE É BOM LEMBRAR:
Cegueira (punctum caecum) da "consciência"
Notas - Maio de 1960 - O visível e o invisível - Maurice Merleau-Ponty
Editora Perspectiva

"Aquilo que ela não vê, é por razões de princípio que ela não o vê, é por ser consciência que ela não o vê.
Aquilo que ela não vê, é aquilo que nela prepara a visão do resto (como a retina é cega no ponto de onde se irradiam as fibras que permitirão a visão).
Aquilo que ela não vê, é aquilo que faz com que ela veja, adesão ao Ser, sua corporeidade, são os existenciais pelos quais o mundo se torna visível, é a carne onde nasce o objeto.
É inevitável que a consciência seja mistificada, invertida, indireta; por princípio; ela vê as coisas pelo outro lado, por princípio ignora o Ser e prefere o objeto, isto é, um Ser com o qual rompeu, e que coloca para além dessa negação, negando essa negação - Ignora nela a não-dissimulação do ser, a Unverborgenheit, a presença não mediatizada que não é positivo, que é ser dos confins "


§

Ao Devir
A oposição original aconteceu entre Matéria e Radiação, antes dos nomes.
Evolução é partida ao infinito, que alguns crêem, outros não. Voce acredita.
Voce e Outros sequer se revesam, quando identificados, e sequer se confundem,
quando compõem uma força. Ainda assim, ressentimos a verdade:
Ninguém criou o mundo. O porvir é outro devir. A compreensão da estética
parte do estado nervoso de cada pessoa. Isto é música, poesia, cultura, moral, descobertas, etc.


À Camila
No céu não existe corpo. No inferno não existe virtual.
Viemos do céu e depois voltaremos, quando o corpo se desfazer.
Aqui estamos, o céu e o inferno, em acordo, mediadores
de rivais, em um jogo eterno. No final, só saberemos
que o céu é vencedor e perdedor, porque a experência
do corpo, marcou, para o bem e para o mal, o virtual.


À Anita
Troque os sentidos Céu e Inferno por Sanidade e Patologia.
O jogo toma formas obscuras. Às vezes de forma violenta
na origem das guerras, onde um cancer produz a aflição do soldado
que se viu sem armas, todo seu pelotão dizimado e o inimigo
às gargalhadas ao olhar de preocupação, aos suspiros abafados,
às expressôes sempre com um fundo de frustrações das marionetes.


À Mirse
Olhamos demais para dentro. Sobra pouca coragem de olhar para fora.
Não podemos comparar. Troque novamente, por Homem e Mulher.
Ele até suporta, sempre a princípio. Ela promete morrer primeiro.
Mas só depende do tempo do jogo. Ele sabe, ressente sua virtualidade.
Ela precisa do amor dele para existir mas se lixa para a sabedoria.
Ambos se cospem, invisíveis para o mundo, quando estão distantes.


À Adriana Godoy
Agora é Paz e Guerra em tres períodos da vida. Primeiro,
o flerte interminável entre conforto e desconforto, mesmo depois, segundo,
que seja decretada a supremacia do primeiro, a se preparar, terceiro,
para suportar a supremacia do outro. O outro não tem o corpo. O eu
exprime o melhor para o conforto, desfaz expectativas, não se movimenta.
O jogo jamais se interrompe, mas aparece nossa sensação de vasio.


À Cristiane
Vida e Morte em comunhão de bons e maus a formar uma unidade:
a Humanidade. A vida deixa de ser bela. Ela se enaltece na poesia.
Esta não pode existir sem alusões à tristeza de uma suspeita:
O mundo não nos pertence. Virtualidade e invisibilidade se confundem.
Pensamentos são tão somente virtuais ecos de vida inexistente.
Só sensações determinam a inexistência da morte. Enganos refletidos.


À Zana
A Teoria e a Prática de mão dadas em sentidos opostos, prontas,
sempre a um passo de solucionar o jogo. Cada peça, cada ser humano,
cada atitude convoca seus adversários à altura. Não vale trapaciar.
O erro não é humano, é soberba, luta contra si, se preciso. O certo
não se mete em confusão, não se discute sequer o ser e o nada.
Ser atolado no nada é o mesmo que o nada atolado no ser.


À Márcia
Só é possível conviver com Verdade e Mentira na neutralidade. Sonhar
acordado desde que não importe fechar ou abrir os olhos. Diferenças
são impactos físicos como a luz é a razão das cores na superfície.
A luz do Sol portanto é a mesma da luz Artificial. Nada para discutir.
Tudo se soma, se subtrai. Dividir ou multiplicar são subordinações
de circuntâncias que dependem dos paradgmas sonhados de sempre.


Ao Luciano
Um gigante não cai. Relaxa
porque seu adversário não sabe.
Relaxados ambos se olham. Sabem
que o apocalipse é papo de fresco.

O adversário permanece no jogo, joga
e boceja, enquanto gigante divaga.


Aos outros(as)
Coragem.
Felicidade.
São possíveis e
não são a morte.

sábado, 11 de julho de 2009

Na hora das reclamações



Hoje é domingo. Tenho que esconder a todo instante este aparelho. Hoje estou meio louco, vendi minha janta por quatro cigarros. Ainda não os fumei. Vou acender um agora. Quero muito mostrar quem sou, sem frescura, o que sou impossível mostrar para todos aqui, é coisa de intimidade, tem muitos trogloditas dividindo este lar e pode ter certeza que não são elfemismos ou ficção evasiva. Invasiva, talvez, mas isso é algo relativo, depende muito da fragilidade de quem ler.
Aqui dentro não existem dúvidas. Imagine como é difícil não perceber o fracasso da civilização, aqui, com outros vinte e seis homens no espaço para quatro, isto por celas, e são quatorze, algumas bem mais lotadas. Na hora das refeições, somos divididos, mas no pátio externo, somos todos; falamos assim: depois do comprimido de liberdade. Imagine. Não pense, ninguem vai querer sentir isso aqui. Opa, vou colar algo, enquanto passa a guarda da noite.

"And all I can taste is this moment
And all I can breathe is your life
Cause sooner or later it's over
I just don't want to miss you tonight

And I don't want the world to see me
Cause I don't think that they'd understand
When everything's made to be broken
I just want you to know who I am"

Desculpa por ontem.
Todas luzes se apagaram, alguns minutos antes do normal, e a luz do aparelho é vista com facilidade. Por pouco, não sei quando voltaria. Hoje já é segunda. Não sei se é so imaginação, mas acho que depois que fui lá no seu blog - voce deve ser uma menina fotógrafa linda - não me interprete mal, nesta situação, posso apreciar a beleza sem invejá-la - e deixei um comentário, para aquela pergunta fundamental: Quem é voce?

Há alguns meses tenho este computador para me comunicar com o mundo de fora.
Sou um presidiário, minha pena é perpétua; tenho 49 anos, vai ser moleza, na certa bem menos tempo do que já passei aqui. Eu consigo alguns livros, lei-os várias vezes e depois passo para o próximo da fila.
Então quero dizer que seu blog é muito bonito. Mas não é comum se estender demais em um comentário; odeio quando toca a campanhia para dormir. Antes do apagar das luzes, sempre vai sobrar um tempinho para voce.
Depressa vou escrever sobre a foto: Eu a quereria aqui na minha parede, para mim - não so um egoísta, posso explicar - jamais para os outros, uma espécie cuja única igualdade é estar todos encarcerados a sofrer suas verdadeiras penas - para quando sonhar com a liberdade, não a que perdi; se quiser posso contar como decidi perdê-la.

... percebi, como antes estava escrevendo, depois que voltei do seu blog, hoje durante o dia, que meus companheiros me olhavam diferente. Até neste momento, eles estão fingindo, mas eu sei que me olham de outra forma. Já não encaram mais. Nâo sei se isso é bom. Mas pode ser bom, estão apenas curiosos e em processo de letargia, quando e como acordar, perceberei facilmente.
Desculpa, esta escrita veloz, voce consegue imaginar, tenho certeza que tem estudo, que veio de família funcional, seu pai e sua mãe nunca brigaram na sua frente, nunca foi traida por ninguém.

E eu um marginal radical da sociedade.
Quando estava livre, nenhuma porta de facilidade gratuita ou barata entrava, eu gostava de estudar, nunca parei de trabalhar com carteira assinada. Duas derrotas não posso evitar de sofrer: Não terminar minha faculdade de Direito e não entrar para a Polícia Civil. Nada mais dói, sério.

Vamos combinar o seguinte, para facilitar nossa comunicação, tudo que não entender, voce me pergunta no espaço dos comentários. Não importa se aquele espaço vier parecer sala de bate papo. Existe um detalhe que impedirá disto acontecer.

Hoje, antes de voltarmos para o quarto, depois do pátio depois da janta, um rapaz jovem, veio para cá a pouco tempo, disse-me tem um plano de fuga. Estou pensando no risco, à tôa, porque não tenho mais nada para fazer do lado de fora. Aqui não pago nada, posso trabalhar se quiser, posso ajudar minha família, mas aonde estão, nem sequer sei mais. Eu decidi esquecer.

E já esta chegando a hora de apagarem as luzes. Então, outro dia, vamos torcer que logo amanhã pela manhã, eu consiga um tempinho para entrar aqui e lhe escrever. Quando ler e puder, pergunte o que não entendeu. Um abraço para voce, que não é qualquer uma. Me escreva.