Folhas vermelhas que resistem ao frio e a falta de ar enquanto houver Sol
:(
CONTRAPONTO
Seu pensamento é antes de tudo o de um paranóico: o sistema já venceu sempre o que se opõe a ele, já recuperou e integrou sempre aquilo que o contesta.
De onde a idéia de que a luta deve ser levada sobre um fundo de derrota primordial.
Luta-se, claro, mas com a idéia de que, de todo modo, o combate estará perdido antes, daí uma ironia que se queria "subversiva" com muito de melancolia.
Mas quem não vê que aquilo com que sonha todo o sistema é triunfar por antecipação sobre toda luta, toda oposição?
Que ele sonha se tornar mais real na vida das pessoas do que o próprio poder de resistência ou os próprios desejos delas?
Nós não vivemos numa sociedade do espetáculo, mas numa sociedade real, onde as ações são reais, nas almas e nos corpos.
De onde a idéia de que a luta deve ser levada sobre um fundo de derrota primordial.
Luta-se, claro, mas com a idéia de que, de todo modo, o combate estará perdido antes, daí uma ironia que se queria "subversiva" com muito de melancolia.
Mas quem não vê que aquilo com que sonha todo o sistema é triunfar por antecipação sobre toda luta, toda oposição?
Que ele sonha se tornar mais real na vida das pessoas do que o próprio poder de resistência ou os próprios desejos delas?
Nós não vivemos numa sociedade do espetáculo, mas numa sociedade real, onde as ações são reais, nas almas e nos corpos.
:)"ELE FOI MEU MESTRE"
Tristeza das gerações sem « mestres ».
Nossos mestres não são apenas os professores públicos, ainda que tenhamos uma grande necessidade de professores.
No momento em que atingimos a idade adulta, nossos mestres são aqueles que nos tocam com uma novidade radical, aqueles que sabem inventar uma técnica artística ou literária e encontrar as maneiras de pensar que correspondem à nossa modernidade, quer dizer, tanto às nossas dificuldades como aos nossos entusiasmos difusos.
Sabemos que existe apenas um valor de arte e até mesmo de verdade : a « primeira mão », a novidade autêntica daquilo que se diz, a « musiquinha » com a qual aquilo é dito.
Sartre foi isso,
para nós.
Quem, na época, soube dizer algo de novo além de Sartre ?
Quem nos ensinou novas maneiras de pensar ?
(Sartre assimilava de bom grado a existência do homem ao não-ser de um "buraco" no mundo : pequenos lagos de nada, dizia.)
para nós.
Quem, na época, soube dizer algo de novo além de Sartre ?
Quem nos ensinou novas maneiras de pensar ?
(Sartre assimilava de bom grado a existência do homem ao não-ser de um "buraco" no mundo : pequenos lagos de nada, dizia.)
Tudo passava por Sartre, não apenas porque, sendo um filósofo, possuía um gênio da totalização, mas porque sabia inventar o novo.
As primeiras representações de As Moscas, a aparição de O Ser e o nada, a conferência O Existencialismo é um humanismo foram acontecimentos : aprendia-se aí, depois de longas noites, a identidade do pensamento e da liberdade.
Até mesmo a Sorbonne precisa de uma anti-Sorbonne, e os estudantes só escutam bem seus professores quando têm também outros mestres.
Os pensadores privados têm duas características: uma espécie de solidão que permanece como propriamente sua em qualquer circunstância; mas também uma certa agitação, uma certa desordem do mundo, na qual eles surgem e falam.
Além do mais, só falam em seu próprio nome, sem « representar » nada; e solicitam presenças brutas no mundo, potências nuas que de modo algum são « representáveis ».
Sartre traçava o ideal do escritor : « O escritor retomará o mundo tal e qual, todo nu, todo suado, todo fedido, todo cotidiano, para apresentá-lo às liberdades fundado sobre uma liberdade…
Não é suficiente conceder ao escritor a liberdade de dizer tudo !
É preciso que ele escreva a um público que tenha a liberdade de mudar tudo, o que significa – além da supressão das classes – a abolição de toda ditadura, a renovação perpétua dos cargos, a derrubada contínua da ordem – a partir do momento em que ameaça se fixar.
Em uma só palavra, a literatura é essencialmente a subjetividade de uma sociedade em revolução permanente"
Em uma só palavra, a literatura é essencialmente a subjetividade de uma sociedade em revolução permanente"
Desde o início Sartre concebeu o escritor sob a forma de um homem como os outros, dirigindo-se aos outros do ponto de vista único de sua liberdade.
Sartre acaba de recusar o prêmio Nobel.
Continuação prática da mesma atitude, horror à idéia de representar algo praticamente, ainda que seja dos valores espirituais ou, como ele, diz, de ser institucionalizado.
O pensador privado precisa de um mundo que comporte um mínimo de desordem, mesmo que seja apenas uma esperança revolucionária, um grão de revolução permanente.
Em Sartre, há uma espécie de fixação na Liberação, nas esperanças desiludidas desse momento.
Ah ! juventude.
Porém, maior ainda do que a solidão do pensador privado, há a solidão dos que buscam um mestre, dos que gostariam de um mestre e que só poderiam encontrá-lo num mundo agitado.
Falamos de Sartre como se ele pertencesse a uma época acabada.
Nós é que estamos já acabados na ordem moral e no conformismo atual.
Pelo menos Sartre nos permite uma vaga espera dos momentos futuros, de retomadas nas quais o pensamento se reformará e refará suas totalidades, como potência ao mesmo tempo coletiva e privada.
É por isso que Sartre continua sendo nosso mestre.
E cada vez, a essência e o exemplo entravam em relações complexas que davam um estilo novo à filosofia.
O garçom do café, a moça apaixonada, o homem feio e, principalmente, meu amigo-Pierre-que-nunca-estava-presente, formavam verdadeiros romances na obra filosófica e percutiam as essências ao ritmo de seus exemplos existenciais.
Por toda parte brilhava uma sintaxe violenta, feita de rachaduras e de estiramentos, lembrando as duas obsessões sartreanas : os lagos de não-ser, as viscosidades da matéria.
A recusa do prêmio Nobel é uma boa notícia.
Finalmente, alguém que não tenta explicar que é um delicioso paradoxo para um escritor, para um pensador privado, aceitar honras e representações públicas.
Muitos espertinhos já tentam levar Sartre à contradição :
demonstram-lhe sentimentos de despeito, vindo o prêmio tarde demais ;
objetam dizendo que, de qualquer maneira, ele representa algo ;
recordam-lhe que, de todo modo, seu sucesso foi e permanece sendo burguês ;
deixam entender que sua recusa não é nem sensata nem adulta ;
mostram-lhe o exemplo daqueles que aceitaram-recusando, dando pelo menos o dinheiro à caridade.
objetam dizendo que, de qualquer maneira, ele representa algo ;
recordam-lhe que, de todo modo, seu sucesso foi e permanece sendo burguês ;
deixam entender que sua recusa não é nem sensata nem adulta ;
mostram-lhe o exemplo daqueles que aceitaram-recusando, dando pelo menos o dinheiro à caridade.
Melhor seria não provocar muito, Sartre é um polemista perigoso…
Não há gênio sem paródia de si mesmo.
Mas qual é a melhor paródia?
Tornar-se um velho adaptado, uma autoridade espiritual coquete?
Ou então querer ser o abobado da Liberação?
Ver-se acadêmico ou sonhar em ser combatente venezuelano ?
Quem não vê a diferença de qualidade, a diferença de gênio, a diferença vital entre essas duas escolhas ou essas duas paródias?
Ao que Sartre é fiel?
Sempre ao amigo Pierre-que-nunca-está-presente.
É o destino desse autor trazer ar puro quando ele fala, mesmo que seja difícil respirar esse ar puro, o ar das ausências.
Ö
Atenção: Agradeço a quem buscar as fontes