segunda-feira, 31 de maio de 2010

O Brasil e sua idade filosófica

Ou é ou não é!!!

Idiotas,
deviam também recusar duas vezes o Obama
Vamos enfrente,
seus bunda moles,
porque Alice não quer casar mais

Carreira solo na internet
quebrei a boca na cantoria das salas
quebrei a cara, ou sujei, no orgute,
e que doce ironia aqui
misturei nomes e mentes, não havia corpo, parecia apenas
tudo menos o que sou
e agora...

Já tentaram inseticidas, nacionais e importados
enfrentei até um neto de samurai, tinha talvez 1,5 ano
convoquei verdadeiros santos da arte
ancestrais de ancestrais da filosofia
nada, Sartre até virou de costas, graças a Deus
apesar de nóias piores do que Kafka e Kierk
apareceu um com uma nanobomba nuclear, e garantia
tem a capacidade de fissão de um único átomo
logo eu que defenderia a fusão de todos os núcleos
ora, fiquei hiper amedrontado, do jeito que aprendi
nas salas de aula antes dos wakemens

E, claro, que destilei poesias minhas e de todo mundo
e nunca gostei tanto de fermentação, na conversa
principalmente virtual, cria uma impressão artificial
tudo menos o que sou
e agora, tomara, mais ainda
no álbum de amigos e sugeridos

Repeti inimputável mente alucinada
no teste de levar uma oferenda
intuição de faca muito usada
intuição de porca muito gorda
nada, nem isso ainda, só brincadeira
menos que voz na varanda
menos que esperança acossando minha nuca
menos que se lambuzar com muito prazer

Choroso, pergunto-me
lamentavelmente igual a todos professores
no breu da unica terapia possível
para a falta da vontade de potência nacional
que país será este aos 17 anos?

domingo, 30 de maio de 2010

Responsabilidade não pode faltar

Rosto de porcelana
se somar algum espírito
nunca passará dos 17
pode acreditar!

Eu não posso, nem quero,
deixar que me abandone
Não posso, nem quero,
deixar que me abandone
Não posso, nem quero,
deixar que me abandone não

São novamente quatro horas,
eu ouço lixo no futuro
No presente que tritura,
as sirenes que se atrasam
Pra salvar atropelados que morreram,
que fugiam
Que nasciam,
que perderam,
que viveram tão depressa,
Tão depressa,
tão depressa

Responsabilidade: só uma questão de liberdade

Tenho 17 anos quando necessários
porque mais, continuo responsável
e menos, então estou preparada
Não é pelo vício da pedra, por preferir a pedra à folha.
É que a cabra é expulsa do verde, trancada do lado de fora.
A cabra é trancada por dentro.
Condenada à caatinga seca.
Liberta, no vasto sem nada, proibida, na verdura estreita.
Leva no pescoço uma canga que a impede de furar as cercas.
Leva os muros do próprio cárcere: prisioneira e carcereira.
Liberdade de fome e sede da ambulante prisioneira.
Não é que ela busque o difícil: é que a sabem capaz de pedra.

sábado, 29 de maio de 2010

Que país é este, que duvida de si mesmo?

Eu tenho 17 anos
Nasci com 17 anos
Terei sempre 17 anos
E vai hesitando que sou irresponsável, vai
perdendo o seu trem da História

"Meu coração está aos pulos!
Quantas vezes minha esperança será posta à prova?
Por quantas provas terá ela que passar? Tudo isso que está aí no ar, malas, cuecas que voam entupidas de dinheiro,
do meu, do nosso dinheiro que reservamos duramente para educar os meninos mais pobres que nós,
para cuidar gratuitamente da saúde deles e dos seus pais, esse dinheiro viaja na bagagem da impunidade
e eu não posso mais.
Quantas vezes, meu amigo, meu rapaz, minha confiança vai ser posta à prova?
Quantas vezes minha esperança vai esperar no cais?
É certo que tempos difíceis existem para aperfeiçoar o aprendiz, mas não é certo que a mentira dos maus brasileiros
venha quebrar no nosso nariz.
Meu coração está no escuro, a luz é simples, regada ao conselho simples de meu pai, minha mãe, minha avó
e os justos que os precederam: "Não roubarás", "Devolva o lápis do coleguinha", "Esse apontador não é seu, minha filha".
Ao invés disso, tanta coisa nojenta e torpe tenho tido que escutar.
Até habeas corpus preventivo, coisa da qual nunca tinha visto falar e sobre a qual minha pobre lógica ainda insiste:
esse é o tipo de benefício que só ao culpado interessará.
Pois bem, se mexeram comigo, com a velha e fiel fé do meu povo sofrido, então agora eu vou sacanear:
mais honesta ainda vou ficar.
Só de sacanagem!
Dirão: "Deixa de ser boba, desde Cabral que aqui todo mundo rouba" e vou dizer:
"Não importa, será esse o meu carnaval, vou confiar mais e outra vez.
Eu, meu irmão, meu filho e meus amigos, vamos pagar limpo a quem a gente deve e receber limpo do nosso freguês.
Com o tempo a gente consegue ser livre, ético e o escambau."
Dirão: "É inútil, todo o mundo aqui é corrupto, desde o primeiro homem que veio de Portugal".
Eu direi: Não admito, minha esperança é imortal.
Eu repito, ouviram? Imortal!
Sei que não dá para mudar o começo mas, se a gente quiser, vai dar para mudar o final!"

Ps. Mandem fotos e sugestões (textículos), que publico os mais virtuosos

domingo, 23 de maio de 2010

Voto Vencido

"Primeiro idealizo, só depois vou buscar"

Leiam, é muito importante, nestes tempos, quando as catástrofes deixam dúvidas e, seja mundial ou pessoal, já não nos pegam de surpresa, o que está para acontecer em casa e o que está, por exemplo, para acontecer ao Brasil, pode levá-lo para o fim de todos os sentidos de viver, então é melhor, de tudo, às vezes, mais ou menos conhecimento. A velha questão do livre arbítrio enfim pode dar sentido ao conceito de democracia, para voce e para o Brasil.
Antes dos nomes pode estar a verdade do devir, mas o devir dos nomes é riquíssimo em expressões sublimes, tanto quanto em devastadores de uma possível vida sustentável para todos.

E atenção carinhosa para este texto, de Affonso Romano.

"Se pudesse fazer alguns alertas ou deixar algumas sinalizações na estrada, eu diria aos jovens,cuidado com algumas palavras como interatividade, transgressão, relativismo ,anti-arte, etc.

Por exemplo:

1. a interatividade é formidável, possibilita intercâmbios, mas há o risco do discurso vazio, troca apenas de ruídos, um blá-blá-blá que bloqueia os fones da consciência;

2. a ideologia dominante abomina hierarquias. Mas hierarquias podem ser perversas ou construtivas. Não existe sistema sem leis, normais, regras. A pregação da quebra de normas, é simplesmente outra norma;

3.cuidado com o pensamento relativista. As coisas não se equivalem.O carbono tem certas propriedades que não são a do fósforo, todo ser humano tem algo pessoal . A voracidade metonímica tenta nos convencer que os sujeitos são objetos que podem ser trocados uns pelos outros;

4. alimentada pelas vanguardas há cem anos, nossa cultura apaixonou-se pela transgressão. Já não se trata de transgredir algo, mas de transgredir a transgressão. Isto é um paradoxo. Já se transgrediu tanto, que se poderia fazer um "museu da transgressão"- a transgressão já foi codificada. Antes, erroneamente se dizia: "não transgrida", hoje perversamente se diz- "transgrida"; desde modo quem obedece a ordem de transgredir não está transgredindo, mas obedecendo ordens;

5.nos globalizaram. Foi ótimo por um lado. Por outro lado, desnorteador. Ganhamos em aproximação com o "outro", o longínquo ficou próximo. Mas o "outro" virou um invasor de nosso espaço econômico, social e subjetivo. Indivíduos e culturas estão se sentindo, de certo modo, desenraizados, uma universalidade aérea, vazia;

6.a natureza está cobrando dívidas. Gerações anteriores assinaram cheques em branco sobre o futuro, as riquezas pareciam inesgotáveis. A "mãe natureza" não cobrava nada. Não era verdade: vulcões, tsunamis, secas, degelos e fome nos espreitam. Pela primeira vez todas as populações da terra são responsáveis por tudo. Confirmou-se o principio zenbudista de que o ruflar de asas de uma borboleta no oriente ocasiona um turbulência no ocidente.

7. A sociedade atual é uma sociedade "matrix". Exuberante. Mistura o falso e o verdadeiro, o real e o virtual. Cultiva o "fake" e o "cover". Pior: toma o lixo por luxo, centraliza contraditoriamente a periferia. Com isto, narciso vive num jogo confuso diante do próprio espelho.

8.Retrato mais sintomático dos nossos paradoxos é a arte de nosso tempo: a produção de enigmas vazios, produtos que se gabam de não significarem nada, como se o faminto imaginário humano pudesse se alimentar do vazio e se contentasse com a esterilidade criativa.

Ser jovem nunca foi fácil. E desde que nos anos 60 instituiu--se o "poder jovem" a coisa tornou-se mais complexa. Estar no poder é coisa de muita responsabilidade. Rimbaud dizia: "não se é sério aos dezessete anos". Será?

Cabe a vocês demonstrar se ele tinha ou não razão."

http://www.affonsoromano.com.br/blog/


quinta-feira, 20 de maio de 2010

Admirável mundo sensual


Imagine um extra terrestre que precisa estudar todo o planeta Terra, traçar um perfil completo, separados e associados(!!!) do que é concreto (matéria) e do que é virtual (espírito), em um prazo extremamente curto para os padrões razoáveis de tempo, este comparável aos dos seres humanos, e que perguntasse a voce, tomando-o(a) como representante da espécie humana:
- Voces gostam de ficção? Voces se espelham em novelas? Voces preferem antes a sensualidade do que a reflexão? Voces acreditam que conhecimento só tem consistência se conter um método pré determinado? Voces não abrem mão do gosto (nenhum método!) de tratar a espiritualidade como arroubo emocionais? Voces preferem não saber de onde, como, quando e por quê surgem a inspiração? Suas preferências partem de um livre arbítrio?
Obviamente voce, caso não tenha sequer alguns minutos para "perder tempo para pensar em algo sem objetivos materiais", vai tratar o extra terrestre com indiferença, ou, se representar perigo (força acima da sua) ou náusea (força muito abaixo da sua) vai trata-lo como caso de polícia ou saúde pública; ora seja, não vai responder as perguntas.
Então eu, humano, demasiadamente humano, jamais preparado antecipadamente para qualquer coisa, pergunto-lhe:
Não tenho nenhuma chance de comunicação sem qualquer fórmula "espontânea" de sensualidade? Ou - claro, nada se completa sem naturalmente o oposto - com minha própria maneira de ser "pensado"?
Acredito que não é necessário explicar, para voce leitor(a), o por quê deste texto, mas, então, para não piorar a minha, rss, situação*, deixo-o(a) com as palavras de um verdadeiro mestre:

"Penso, de minha parte, que não há princípio de que pudéssemos deduzir matematicamente a solução dos grandes problemas.
É verdade que não vejo também um fato decisivo que resolva a questão, como acontece na física ou na química.
Apenas, nas diversas regiões da experiência, creio perceber diferentes grupos de fatos dos quais cada um, sem fornecer-nos o conhecimento desejado, nos mostra uma direção para encontrá-lo.
Ora, já é alguma coisa uma direção.
É muito mais ter muitas, pois estas direções devem convergir para um mesmo ponto, e este ponto é justamente o que buscamos.
Em suma, possuímos desde já um certo número de linhas de fatos, que não vão tão longe quanto seria desejável, mas que podemos prolongar hipoteticamente.
Desejaria seguir algumas dessas linhas.
Cada uma, tomada separadamente, nos conduzirá a uma conclusão simplesmente provável; mas todas juntas, pela sua convergência, nos colocarão em presença de uma tal acumulação de probabilidades que nos sentiremos, espero, no caminho da certeza.
Dela nos aproximaremos, aliás, indefinidamente, pelo esforço comum de boas vontades associadas."**

* Situação de quem conversa com miragens; salvo raríssimas excessões, espero.
** A quem interessar, posso também publicar as fontes.

terça-feira, 18 de maio de 2010

Campanhas para conviver

O que está acontecendo comigo?
Porque não me assumo logo?

Ou, pelo menos, telefono, para ouvir sua voz?

"Que há com nós?
O que que há com nós dois amor?
Me responda depois..."

Eu chorei quando vi aquele comercial, sequer liguei quando vi a janela aberta, agora que voce me perguntou, tenho vontade de chorar novamente, e tenho vergonha de responder.
Sinto um frio na barriga que antes não senti. Antes senti apenas a minha tristeza, e foram muito poucas lágrimas diante do sublime: era uma excelente campanha, já comprei seis aparelhos desta operadora.
Mas eu nunca me deixo influenciar por campanhas publicitárias.
O primeiro celular não foi devido aquela campanha, sempre lembrada, do primeiro sutiã.
Eu precisava e, na hora, escolhi tão somente pelo nome. A sonoridade ao pronunciar. Sem reservas de sentido anteriores.
Prefiro jamais fazer críticas a quem não espera críticas. A propaganda quer vender, e não se assume nada, nem mesmo mera vendedora, quando deixa bem ilustrada sua devoção também pela arte. Quem já observou o artista explicando o seu próprio processo criativo, na verdade, participava de uma brincadeira que qualquer pessoa faz quando fala de algo que não existe explicação. Essa diversão é muito salutar.
E eu me ponho para conhecer mais esta experiência, que mormente ninguém faria consciente.
Vamos então, no caso de dúvidas, fazer de conta.
Voce chora diante de uma situação sublime, não só como testemhunha ocular de um fato, quando lhe contam, por exemplo, um fato - então o sublime ocultado - que aconteceu minutos antes de chegar? Chora diante do cinema, sem querer discutir se é ou não ficção? Chora diante de uma pessoa completamente virtual, que não tem nem mesmo certeza se é uma pessoa ou uma criatura de Deus, porém cibernética?
Eu choro.
Por que não me assumo logo? Será que sou o único recalcitrante?
E passo a acreditar em campanhas publicitárias.

"Me diz por onde você me prende
por onde foge
E o que pretende de mim"


O que está acontecendo com voce?

sábado, 15 de maio de 2010

Pelas graças de Deus

O bem que te vi

Amanda Gabriela

Waiting on a friend, tão gostoso esse sexo
tão animal e adversário ao que mais preciso
ao que me dá sentido, desde a construção
à desconstrução e logo a construção, assim...


Nesta semana, a vida me olhou de perto, uma
vez mais depois que prometeu me esquecer
que jurou, pernas bem fechadas, eterna dor
para eu jamais morrer sem me arrepender


das coisas que quis e não soube esperar...

Ontem, especialmente, beijou-me a outra face
onde jamais levei porradas de amor ou de maldade
porque sempre a ofereci sem preço algum, onde
sequer a bondade fazia meus critérios de justiça


Ela tem apenas 17 anos... E tem esse jeito especial
nem tanto ao céu nem tanto aos infernos,

seu corpo incomparável,
tem só mais um ano para estar ao meu lado.

Hoje já sei esperar, depois da oferta, a graça de Deus!

segunda-feira, 10 de maio de 2010

O oco de fora

Henry Darger (1892-1972)
A primeira intenção é a que fica

Estranhas manias de Henry Darger

"É da fachada que se baste por si mesma
à medida que lhe é próprio ser suficiente aos olhos.
A estética da fachada que defende o muro branco
é a mesma que sustenta a plastificação dos rostos,
a ostentação dos luxos no "aparecimento geral"
da cultura espetacular, no histérico "dar-se a ver"
que produz efeitos catastróficos em uma sociedade
inconsciente de seus próprios processos."
(Marcia Tiburi)

Toda "questão é bem mais séria do que a sustentação de uma aparência
ou de um padrão do gosto".

PiXar,
assim escrito,
é alcançar a pele
e revelá-la incolor,
ou com tinta de livre cor,
traços de signos sobre a luz,
fartura e fratura sem sobras
sem faturas nem futuras de amor,
é a poesia para nunca mais se fechar
ao leitor, qualquer ziper moral sobre a boca
ou o sexo, é a filosofia nem tanto para anjos nem
para demônios. Mas o X da questão, a pichação para
todas as questões: Como deter o aumento demográfico do planeta
sem o assassinato?

"Ler o que essa treva revela,
Revelar o que essa era oculta.
Sinais de luta, além da tela.
Reler o que, ao se escrever, revela.
E sua pena atenua e libera."
(Rodrigo Garcia Lopes)

Um dicionário miúdo ao lado,
uma zona de livros proibidos ao público veloz,
o infeliz vício ao masso e cinzas e cartuchos vazios,
minha face mais honesta em foto colada ao monitor. E eu,
o que não posso ver senão em reflexo. O pensamento preso
na imaginação e no movente devir sobre sua imagem, visitas.

O voo de osa poderosa
"Tudo depende de nós, se vamos bem ou mal, se trabalhamos mais ganhamos mais.
Eu não sabia nada disso, como se imprime, cola, pinta.
Tudo é uma experiência, vamos aprendendo.
São seis anos de cartoneria, mas ainda vamos aprendendo dia após dia.
O importante é que se faz o que se gosta,
independentemente de patrão,
do massacre que é esse sistema capitalista neoliberal."
(Cucurto)

A burguesia usa perfume, muitos ainda à moda francesa, poucos já usam o banho em praça pública. Três situações ilustram uma única cena, o menino de rua, que valoriza sapatos, observa um par muito elegante, dentro um senhor, jornal, café da manhã, café de máquina e pãozinhos amarelinhos de queijo, pernas cruzadas sob a mesinha minúscula como se fosse brinquedo de época, o menino de fome pede um pãozinho, dentro o senhor olhando o menino pode responder, 1 balançando o dedo em negativa, 2 vestir o chapéu, dar os quatro pãozinhos de resto, levantar sem sorver o último gole, dar uma olhadinha para trás antes de pagar. e 3 comprar mais 100gr no saquinho mais gostoso que pão.

Eu acredito só nas músicas
"Eu aguento até os caretas

E suas verdades perfeitas
O que eu não gosto é do bom gosto
Eu não gosto de bom senso
Eu não gosto dos bons modos
Não gosto"
(Adriana Calcanhoto)

Sem palavras
"eu, no entanto
que não sou sábio de nenhuma espécie
e estou mais que soterrado
convenci-me da existência
de outra espécie de silêncio
mais raro e singelo
chamo-o silêncio sem hematomas
e é isso
ou o berro na cara"
(Luiz Felipe Leprevost)


Jamais aproveitei corretamente minhas aulas do fundamental, a professora de letras, linda, um tesão, substituta, pede para ler Macabéia, da Clarice. Ela me empresta porque faço cara de quem não precisa ler para saber o destino de Macabéias. Ela diz que é fundamental ler para se ter um espelho perfeito. Pego livro e leio até de madrugada. Acordo com a Macabéia no coração. Pergunto, o que faz aí? Ela responde, sei lá, o senhor é maluco?, é um pervertido?, é um cachorro?!!, por que me colocar aqui neste coração horrível? Respondo, ora, coração igual a maioria dos brasileiros, voce não é brasileira?, então, Macabéia tem coração igual ao meu. Ela grita na minha cara, igual ao seu nem morta, vem não, sou muita mulher e não sou granfina, não. Eu procuro compreender, fecho minha jaqueta surrada, e vou prá escola. Macabéia socando meu peito, deixa eu sair daqui, voce vai ver, eu mesma vou lhe por no colo e bater de cinta. Duvido, deixa minha mãe saber.

Uma estética imaculada

"Em vez do gesto auto-contente, o que a pixação revela é a irrupção de uma lírica anormal.
A Internet com seus blogs (horrendos, bonitos, mais bem feitos ou mais mau-humorados) é o seu análogo perfeito.
A pixação revela o desejo da publicação que manifesta a cidade como uma grande mídia em que a edição se dá como transgressão e reedição onde o pichador é o único a buscar, para além das meras possibilidades de informar ou comunicar, a verdade atual da poesia, aquela que revela a destruição da beleza, o espasmo, a irregularidade, a afronta, que não foi promovida pela pixação, mas que ela dá a ver.
Em sua existência convulsa a pixação é a única lírica que nos resta."
(Marcia Tiburi)

sábado, 8 de maio de 2010

Paramigas(os) gigantes

"A alegria e o amor são as duas grandes asas para os grandes feitos."
(Johan Wolfgang Von Goethe)

Há um gigante no jardim mãe, ele dorme!
Olha pai! Parece sonhar.
Com que será que sonham os gigantes?
O menino pensou sem falar.
Passou o dia de olho na janela e a cidade nem parecia notar
aquela presença gigantesca ali.
Mãe, ele deve sentir frio quando o sereno chega, será?!
Num sei meu filho, tenho coisa melhor pra pensar!
Mas tem um gigante no quintal.
Isso passa meu filho, isso passa.
Faz de conta que ele não está.
(Luciano Pontes)

Eu ouvia, ainda muito criança, na casa dos nove anos, quando acontecia uma pausa de tanto brincar, novela de rádio, que vinha da casa da visinha, uma negra suja que se ria à toa. Eu subia no muro, virava de cabeça para baixo, nunca caía.
Certo dia, meu pai chegou com a televisão. Na rua a multidão quebrava os antigos, com raiva da morte, para depois voltar para casa e envelhecer envolta da luz.
Alguém mais chato sempre havia, para perguntar:
- Voce ouviu o que ele, ela disse, quem disse o quê?
E ninguém o ouvia. De dentro da lagoa, emergiu um imenso dragão, aquele que todos temiam, e gritou labaredas na casa.
- Chega de novela de rádio!!!
A partir de então, a família, em cinzas vivia. Um dia, acordei muito cedo, liguei a televisão, abaixei o volume, passei o dia. Dormi e contei muitos carneirinhos.
No outro dia, cedo acordei novamente e, na ponta dos pés, abri silenciosamente a porta do quarto, apontei o dedinho em direção ao botão de liga e desliga, de repente, a manhã ainda sem chegar, a luz ainda apagada, de dentro do escuro escuto uma risada.
Não era uma risada, era um carneirinho, estava com fome, com saudade de casa, sentido falta da mãe, do pai e dos irmãozãos e irmaozinhos.
Liguei a televisão e dormi com o carneirinho no colo. A família acordou e havia um gramado no teto, um bebedouro na forma de lustre e na janela um monte de dragões sonolentos. Primeiro ficaram assustados, meus irmãos não podiam chorar, meu pai foi trabalhar e minha mãe disse psiu com o dedo desligou a televisão, a família a casa voltou ao normal.
Mas alguém mais chato sempre havia, para perguntar:
- E os dragões, quem vai acordar?
E ninguém ouvia. Da janela uma língua flamejante lambeu meus irmãos, cresceram barbas, perderam os cabelos e nunca mais sonharam.
Meu irmão mais velho me deu um computador, milhões de dragõezinhos infestaram minha cama, armários e paredes. Meu cérebro ficou parecendo um ovo.
Era a minha vida, a vida que eu gosto, de novo. Na rua escuto:
- Morte aos dragões, baratas e formigas. Salve os dragões, baratas e formigas.
A polícia no meio, nas mãos todas as marcas de inseticidas e réguas.
Então, nem de um lado, nem do outro, nem no meio, sigo assim, apreciando a vida para que, da família, pelo menos minha mãe, não morra dentro de mim.


Ouvem-se os "bravo", os "bis"...
ao longe...
de leve...
parecem ecos,
sussurros suspensos num universo difuso.
O palco é invadido por aplausos enquanto nele ainda perdura uma solidão compassiva (...)
(Vera Cunha)

quinta-feira, 6 de maio de 2010

Sabedoria a base de pedras e sáurios

Fora ou abandonado pela lei,
quanta complexidade;
um peso possui duas medidas

Alguém que estudou apenas o ensino médio, esqueceu-se totalmente o primário, não teve creche nem pré escola, não consegue saber nada mais além do que vê e do que lê - portanto, com excessão da visão, todo seu alimento comunicativo se dá por rações, mais ou menos equilibradas, todavia exposta aos mal humores do processo de racionalizações para preparo de uma cultura "suficiente" - não consegue viver na experiência, nada que se aproxime aos encantamentos do trabalho de um homem.
Ele, formando em medicina, apaixonado pela neurologia, curioso no campo da pesquisa científica, recebe um convite do maior neurologista do momento, que o coloca à frente de pesquisas inusitadas, especialmente sobre Histerias, no Hospital Salpêtrière.
Época avessa à criatividade, onde muito se cria heróis, esvaziando-os de humanidade e encobrindo sua sexualidade, o maior categórico biológico, este homem rasga todos seus escritos e, zombando por dentro para toda essa comédia dos biógrafos, que não terão sua participação, a preço tão somente das aparências, ainda assim adota o grande método de recuperar uma ideia antes de superá-la.
"A cada vez, diferentes elementos de uma experiência/metáfora/matriz são retomados para pensar a teoria, realizando, como se costuma dizer, uma espécie de movimento de caleidoscópio, que, ao ser girado, dispõe os mesmos elementos numa nova constelação" (Jassanan Amoroso). E, na histeria, este padrão de trabalho é imperativo, porque o paciente toma as formas de linguagem quase sempre a partir do Outro, e sofre porque tantas são as variações circunstanciais relativas às verdades dos símbolos de valor na sociedade, se fechando cada vez mais para ao que se sente seguro, até ao mínimo impossível, e, por outro lado, como forma de socorro aos momentos críticos de auto asfixiação, então o rompimento abrupto de desejos, alterando toda forma de comunicação aos outros.
Este homem observa na profusão de formas de expressão, aquelas sem qualquer objetivo prático, meras concessões ou sacrifícios essenciais.
E aquele ditado que vencemos nossos inimigos com suas próprias armas é hediondamente o crime da insustentabilidade "invisível". Assim pensam tanto os excluídos quanto os exclusores, mas apenas estes são os histéricos.

Perdoem-me os leitores, sem comer a ração, sem formação civil, não consigo deixar de banquetear-me com o amor do próximo, quando este se solta ao vento. Esta "pirataria" se deu porque roubei uma revista da SBPC de 2009, perdida entre tantas Caras Gente Contigo, de um consultório de dentista, que algum paciente anterior esqueceu. Sei que todo delito deve ser punido. Sei também que a lei é cega, surda e muda. Mais ainda, sei que os autores das leis não são os mesmos que as executam e remotamente serão portanto os penalizados.
Sabemos tanto se nos esforçamos, e saberíamos muito mais se comêssemos a ração em fartura e qualidade. Percebam, a confusão e automatismo na primeira parte deste texto, isso seria evitado se acaso eu tivesse comido minha ração direitinho, não cabulasse tantas aulas para azarar as minas, fumar (inicialmente) cigarro e beber (segundo passo) cerveja e caipirinha e ou se auto questionar a existência de Deus. Este, e quase a maioria dos meus textos, confesso, mais inquietam, e muitas vezes atordoam, do que instruem ou se simpatizam com "alguma das causas válidas diante da lei".

"Atordoado eu permaneço atento, na arquibancada para a qualquer momento ver emergir um monstro da lagoa." (Chico Buarque)

domingo, 2 de maio de 2010

Belas cores de família


Ontem encontrei duas pessoas especiais, uma dos primeiros tempos da juventude e a outra dos últimos dez anos. Elas juntas forçaram-me a questionar por que sempre fui, apesar de querer negar com as mais estratégicas racionalizações, como pano de fundo, azul quase preto, infeliz.
Fez-me lembrar de inúmeras situações onde bastava dizer sim ou não, e, na verdade, acho que sempre disse, mas troquei as respostas.
A primeira é a minha idade e a segunda tem metade. Então, por mais que eu fuja de padrões, ou encaixotamentos em juízos coletivos, tipo assim pesos e medidas para significados perenes, como exemplo, estou me esforçando para não ser por demais pessoal e tornar este texto o mais próximo de algum gênero, devido a suposição da infinita diversidade de leitores, e então não ser também muito coloquial; tipo assim respeitar os valores e medidas quando se dirigir a um coletivo indeterminado.
Estou tentando explicar algo ou uma pequena parte de tudo que não se precisa explicar, que existiria e porque existe diferença entre uma mulher depois dos vinte anos e outra com mais de quarenta anos. Uma tremenda bobagem, eu sei, todos sabem, e todos infelizmente arrastam, querendo ou não, a sensação de que não se pode ficar com as duas. E elas também, talvez a parte mais importante para mim, muito antes de mim até, que deveriam ser consultadas antes, antes até mesmo da criação destas questões aparentemente sem nexo nenhum, que elas com toda certeza serão as primeiras a se ofender. Isso tudo está no limite do absurdo, porque posso de repente ser categorizado como pervertido por qualquer ventureiro da moral e dos bons costumes. Na febre de cada ser humano a verdadeira cara do nosso tempo, que ainda e sempre descrimina qualquer forma de poligamia, seja ela "dentro de padrão oficial" ou "criativa".
A estupidez então seria essa culpa, e, confesso, não sei por quê, nem se realmente existe alguma culpa. Isso é lastimável que exista.
Mas, então, talvez o maior saco é eu me perguntar constantemente, após elas partirem, e literalmente deixarem meu coração partido ao meio, em partes talvez iguais até demais - não riam, porque eu também, neste instante, quero rir também - e realmente há essa simetria exagerada em tudo, menos em suas idades - nem sou besta a ponto de procurar saber se existe uma piração tipo: se a idade de uma é numericamente a metade da outra, não quero ser candidato a nenhuma camisa de força (vide cinema) -, é eu me perguntar repetidamente por quê sou infeliz, por quê sempre fui realmente infeliz, por quê neste instante quero saber tal coisa.
E não sei responder! E não estou vasio, estou cheio até demais de respostas. Qual escolher, não entre elas, mas qual resposta tornaria todas as cores menos intensas.
Não é a primeira vez, claro, e, especialmente, na última, tomei a ideia mais idiota da vida, só por aventura, prometi-me nunca mais procurar o amor antes dos prazeres em geral que uma mulher poderia proporcionar; vivia muito uma certa e maldita honestidade infeliz. A vida se tornou realmente uma barganha, infinitas perdas e ganhos como únicas alternativas de um jogo muitas vezes perverso.
Ganhava e logo perdia, casas, carros, fama e orgias fabulosas. Tentei manter o jogo, porém sem apostas. Logo aquela desonesta felicidade foi se definhando, se tornando então, lentamente a cada recusa para jogar comigo, uma desonesta infelicidade.
Hoje, creio, seja, portanto, um ótimo dia para voltar a ser honesto incondicionalmente, radicalmente, pelo menos, no amor.
Azul, mesmo que, como nesse momento, quase preto.