Comfortably Numb
Voce me pergunta por onde passamos esses anos, e eu nem mesmo posso responder, talvez jamais soube o que significa o meu tempo. Talvez apenas nos cansamos de nossa isolada satisfação, de nossos sonhos, como se esquecêssemos para sempre quando podíamos estar em grupo e tudo que falamos vai se tornando algo artificial, sem o passado que guardava apenas as melhores recordações. Estou ficando também cada vez mais eu e meu carro, como certo dia a vi cantando na frente do computador...
É verdade, antes não planeávamos nada e era como se todos os dias estavam marcado na agenda, só variava os momentos, víamos a mesma lua toda noite...
Eis porque tenho me preocupado, a vida se tornou a própria questão de vida ou morte, recuse-a e viva, aceite-a e morra, nesta inversão estamos todos, talvez muito gravemente eu e minhas hipocondrias que vem como condicionais a cada impulso de questionamento do Estado. Estamos todos condicionados para a mais brutal solidão que o ser humano só não poderia prever se estivesse entorpecido.
Eu estou entorpecida, voce não? Entorpecida para transformar esta porcaria toda de mentiras politicas em assunto de museu, para quem quiser lembrar.
Rss... preciso beber qualquer coisa. Preciso fumar qualquer coisa. E não preciso comer voce neste instante, algo de muito grave começou a acontecer depois destes momentos, que venho percebendo a dias, reparou quando saí do banheiro, eu estava branco, não havia uma cor sequer em minha face, e o arco íris só aparece nas mudanças mais profundas do tempo, mas que as pessoas só enxergam o fim ou começo da chuva, a volta ou a partida do sol...
A comédia de Dante! Quando começamos a pensar, conscientes dos pensamentos, é como se algo nos forçasse à comédia, e a contra partida seria um horror antecipado ao drama, mas estes nomes da literatura não dizem mais, ou não os ouvimos. Caiu no desdomínio público, rss.
Uia! Endureceu de novo.
(...) A vida não comporta determinadas evoluções em cada vez mais áreas restritas aos especialistas de média. Pensar sobre o que pensamos sobre casamentos, por exemplo.
Nem venha com esta conversa, voce é igual a todo homem. Uma profundidade aparente, depois se tornam aquela piscina de sempre lá de casa. Meu irmãozinho se diverte, ele me chama para brincar, pobrezinho, eu desaprendi a brincar.
Estou morrendo, não vou mais cair na sua. A paz celestial deve existir, o ser humano...
Ser humano.
... não pensaria.
Aiii..., não. Vamos abrir a janela. A mortalidade infantil, a violência juvenil, o estupro adulto e a sacanagem senil, a geleia real me aguardem. Vou fazer um café, Amor.
Não esqueça sua arma, vou capotar até voce voltar.
Voce está louco? Já me viu sem minha arma?
Desarmada, voce, aaahhhnuuuuuunnnnnnncahhh. Uhm, estou com fome.
Não vou fazer nada. Sai comigo, a gente pára para comer e tomar um bom café.
Não. Voce disse que ia fazer um café, bom, salvador e forte. Enquanto isso tomo banho e visto finalmente uma roupa.
É... voce vem assistindo demais o declínio do império americano. Nem trabalha mais, ser polícia nessas terras brasileiras a perder de vista... filho-da-puta, nem mesmo fecha a porta tomando banho, qualquer dia o bandido entra... eu também sinto uma angústia diferente, qualquer coisa intraduzível, talvez estamos perdendo a tão cantada identidade, a quanto tempo não sou cantada, quanto vale um salto na vida, desci mas hoje tenho uma responsabilidade amplamente respeitada, adeus meus anseios de navegar, quis pegar a lancha de papai e chegar até a África, tonta, só lembrei do combustível, tonta tonta tonta, do tanque, que decepção...
ESTÁ FAZENDO O CAFÉ, pelo menos?
Eu faço suco de laranja, faço torradas, reencarno um esverdeado provolone e faço um maldito miserável forte café, faço a mesa, e se a profissão não me ensinasse a ser dura, passaria um pano na pia, na casa inteira. E o pior, que, se eu pensasse feito um homem, eu tiraria a roupa e antes de sair daria uma rapidinha, essa só para marcar território. A vida a dois está uma comédia, dantesca literalmente, a teoria se dissociou da prática de vez, é como se vivêssemos feito flor, feito animal, somos obrigados ou humilhados se pensamos no que todos pensam na vida.
§
O automóvel corre, a lembrança morre
O suor escorre e molha a calçada
Há verdade na rua, há verdade no povo
A mulher toda nua, mais nada de novo
A revolta latente que ninguém vê
E nem sabe se sente, pois é, pra quê?
O imposto, a conta, o bazar barato
O relógio aponta o momento exato
da morte incerta, a gravata enforca
o sapato aperta, o país exporta
E na minha porta, ninguém quer ver
Uma sombra morta, pois é, pra quê?
Que rapaz é esse, que estranho canto
Seu rosto é santo, seu canto é tudo
Saiu do nada, da dor fingida
desceu a estrada, subiu na vida
A menina aflita ele não quer ver
A guitarra excita, pois é, pra quê?
A fome, a doença, o esporte, a gincana
A praia compensa o trabalho, a semana
O chope, o cinema, o amor que atenua
O tiro no peito, o sangue na rua
A fome a doença, não sei mais porque
Que noite, que lua, meu bem, prá quê ?
O patrão sustenta o café, o almoço
O jornal comenta, um rapaz tão moço
O calor aumenta, a família cresce
O cientista inventa uma flor que parece
A razão mais segura pra ninguém saber
De outra flor que tortura, pois é, prá quê?
No fim do mundo há um tesouro
Quem for primeiro carrega o ouro
A vida passa no meu cigarro
Quem tem mais pressa que arranje um carro
Prá andar ligeiro, sem ter porque
Sem ter prá onde, pois é, prá quê?
8 comentários:
Texto maravilhoso q fala sobre homens,mulheres,mundo,cotidiano, violencia e casamentos...e ainda regado a mùsica de Pink Floyd tb minha fonte inspiradora: confortavelmente entorpecida,assim me senti ao ler seu texto...
beijos ternos
Caro amigo Devir, "eu preciso beber alguma coisa rapidamente, pra semana o sinal está fechado pra nós, eu espero você, vai abrir..." A vida tem caminhado numa velocidade tão estonteante, que nem sei se posso mais usar a palavra cotidiano,a vida passa num trago e some na fumaça do tempo,a vida é um gás, mas regado a P.F. ameniza,grande abraço.
Marcia, que ternura
É impossível alguem pensar que meus espasmos/acidentes nucleares
são somente meus retalhos de véu!
Parece que voce, ou sempre enxergou, ou começou a enxergar que também acredito e tenho muita esperança no amor, bondade, verdade e liberdade.
Deixem que me interprete mal!!!
Eu gosto muito dessa ternura, que não se condiciona a amores triviais
Luciano, realmente estamos esbarrando nas urgências mais reais
Tá valendo muito
Em terra de cegos, quem tem um olho é rei. Pois é, prá quê? rsss
Realmente, prá que
quando só a carne
significa?
Provavelmente pra fazer o anestesiante churrasco de final de semana (sem talheres limpos, é claro!)
Nem todos, alguns fazem parte
das melhores memórias do país,
e outra, todas as águas descem
e inevitávelmente lá; é o mar!
E o meu sal brasileiro também!
Aquele que ressalta o sabor e
também conserva alimento
quando deserto de sentido.
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