sexta-feira, 6 de março de 2009

Partículas Elementares

Venho desde o final de 2008 escrevendo um livro/roteiro. Nunca sabemos quando começar um livro e, muito menos, ao começar, se vai haver um fim. Vou deixar aqui no blog duas partículas de clima. Essa palavra 'partícula', na física moderna, toma quase o sentido como a estou usando agora. São duas situações de gênero, voces vão perceber. A primeira é obstinadamente masculina. A segunda é seguramente feminina.
Tambem pode servir como a velha forma de propaganda dos amantes desesperados, jogar a garrafa ao mar, não esperar apenas, mas viver tratando da ferida do abandono.


Primeira
Cezar aparece por detrás do carro e surpreende Túlio, perdeu durão, não disse que preferia eu matar o Clodoaldo, não disse?
Túlio, retira a faca do peito do Clodoaldo devagar, olha na cara do Cezar e pergunta, por que ainda não atirou, parceiro?
Jogue a faca no chão e me entregue sua arma.
E você, vai continuar armado?
Sem acordos, vou mostrar quanto ganha um sujeito ser um durão de merda como você, Túlio.
Cezar chuta a faca longe, solta o pente da 9 de Túlio e a joga do lado, você não está se cagando, Durão?
O que você espera ganhar, se me matar, Cezar?
Com certeza, muito mais do que você ganharia se me matasse.
Vejo que você não sabe nada da guerra, e não sabe nada sobre guerra.
Porra, cara, que conversa é essa, agora?
Lembro quando fizemos a primeira operação juntos, naquele galpão na Castelo Branco, você estava, como vou dizer, na língua do pessoal lá da favela de onde você apareceu nessa porra de vida, você estava do lado dos Alemão.
Cezar dá dois passos para trás e aponta para a cabeça de Túlio, continua, parece que terei um enorme prazer de ouvir a última história de um escritor decadente, ou então um digno epitáfio de um delegado que sonhou um dia ser escritor.
Não sou mais delegado.
Então por que aceitou também esta missão suicida do Alexandre?
Você sabia?
Sei tanto quanto você, Túlio.
Suicida só porque voce se coloca até no cólo dele e todo menino sonha matar o pai.
É o mal das suas verdades que cria estas rugas na cara, seu durão de merda, e eu jamais mataria meu pai.
Já o matou?
Voce não tem medo de morrer, Túlio?
Verdade contagiante, voce não tem medo?
Sempre tive e tambem me preocupa porque ainda não atirei nos seus miolos, talvez porque fiquei sabendo e acreditei que voce é o pai da criança.
E quer que morra por ela, pelas mãos de quem ainda nem veio ao mundo?
Porra (Cezar tira levemente o dedo do gatilho).

Segunda

V. acende um cigarro.
Mirian pergunta, você sabe quem está junto com o Alexandre?
V. olha para sua arma dentro da bolsa e pergunta, acho que depois do que você fez comigo hoje, salvou minha vida, não preciso perguntar se devo confiar em você, mas preciso saber, cheguei ontem em São Paulo, de cara encontrei um comentário no ar, sabe como são fofoqueiros os policiais lá no departamento, que você está grávida e o Túlio é o pai, é verdade?
Mirian pega uma pequena arma e aponta para a cara da V., essa conversinha de novela me fez lembrar quem é você, o que "os policiais" dizem dando murros sobre o balcão da cantina, quando você não está, mas você, presente, todos ao seu entorno se sentem como se estivessem no cinema, o tipo de cinema que jamais será mostrado na televisão, tudo girando entre putaria, corrupção e muita droga, todo esse inferno misturado, a parte podre da sociedade ocupando todos os lugares de mando deste país que sonha, sonha, ainda se tornar um imenso ou insignificante estados unidos, enquanto ninguém mais pode confiar em ninguém.
E é a primeira vez que eu encontro com esta Mirian, tão centrada na política dos bons costumes, aquela que também escuto comentários tão picantes quanto chupar um coroinha depois da missa.
Você é nojenta, V.
Mas isso aconteceu mesmo, não é, na missa de 10 anos da morte do Desembargador?
Parece que você se ri por dentro, feito uma vadia, porque se fosse você teria trepado com os três netos do morto.
Ah você também percebeu como são lindos.
Será que precisamos encarnar este papel eternamente?
Que papel?
Tolas.
Quem?
Desculpa, você é loira.
Ah entendi, você faz o papel da morena frustrada.
Quem, eu, frustrada?
Foi você quem falou em novela, certo, e não é loira.
Não, também não sou uma nordestina que lava o cabelo com soda para alisar, tingir com oxigenada e virar atração turística.
Além de tudo é preconceituosa.
Você tem certeza que todos estes homens que você trepa, sentem amor por você?
Sexo não tem nada a ver com amor, Juíza.
Nunca entendi por que os homens sentem tanto fascínio por mulheres que tornam as coisas fáceis, não requer qualquer investimento, apenas um olhar sexual, uma estrela na testa dizendo ‘estou disponível’, então a competição se torna só uma questão do conforto, ou rapidez para encontrar qualquer situação sem riscos.
Eu acredito em você, Mirian, não precisa nem me contar sua dificuldade, talvez na infância sentiu tanto tesão por seu pai...
Eu não conheci meu pai e fui criada em um convento.
Perdão, deixei-me levar por esta conversa boba de mulheres desamparadas.
Também não estou desamparada!
Claro que não, pode guardar esta arminha ridícula.
Não confio em você, Mirian joga a arma de V. para fora do carro.
Caramba!!!
Desculpe.
Mas eu não a mataria, e quer saber por quê?
Não acredito em mais nada neste trabalho, a tempos que venho tentando saltar fora, a policia federal estava ótima 6 anos atrás, já até comprei um apartamento no Sul.
Voce gostou do barbudo e vai trabalhar com carteira assinada?
Acho que não sou eu a preconceituosa.
Mirian, tudo bem, estamos aqui trocando figurinhas, mas aqueles dois parecem que se entenderam.
Óbvio, o amor já venceu e repito, não estou desamparada.
Uhm, com essa pistolinha?
Não, com a que você sonha.

**********************************************************************

Voce prefere que eu conte o final, aquela sicuta da excitação com final enunciado, para conseguir um comentário?

Nenhum comentário: