quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

Balanço geral de 2009


SEMPRE É BOM E ÚTIL LEMBRAR
Aconteceu em 1984, um grito "não identificado"
"No segundo minuto o Ódio chegou ao frenesi.
Os presentes pulavam nas cadeiras e berravam a pleno pulmões, esforçando-se para abafar a voz alucinante que saia da tela.
A mulherzinha do cabelo de areia ficara toda rosa, e abria e fechava a boca como um peixe jogado à terra.
Até o rosto másculo de O'Brien estava corado.
Estava sentado muito teso na sua cadeira, o peito largo se alteando e agitando como se resistisse ao embate duma vaga.
A morena atrás de Wiston pusera-se a berrar "Porco! Porco! Porco!
De repente, apanhou um dicionário de Novilíngua e atirou-o na tela.
O livro atingiu o nariz de Goldstein e ricocheteou; a voz continuou, inexorável.
Num momento de lucidez, Winston percebeu que ele também estava gritando com os outros e batendo os calcanhares violentamente contra a travessa da cadeira.
O horrível dos Dois Minutos de Ódio era que, embora ninguém fosse obrigado a participar, era impossível deixar de se reunir aos outros.
Em trinta segundos deixava de ser preciso fingir.
Parecia percorrer todo o grupo, como uma corrente elétrica, um horrível êxtase de medo e vindita, um desejo de matar, de torturar, de amassar rostos com um malho, transformando o indivíduo, contra a sua vontade, num lunático a uivar e fazer caretas."

O DEVIR (da metáfora mais grosseira à realidade mais sensível)

Em todos os tempos, todas as sociedades precisam de guerra, contra os próprios membros e contra quem vier de fora.
Nada mudou, e nossa esperança é que seja AINDA.

Guerras coletivas e individuais para manter o(a) próprio(a):
Por favor, pensem.

Sua resposta, ao devir, em seus três tempos - antes, durante e depois do seu nome -, não para mim, nem para outra pessoa, apenas para voce, a princípio, é o que importa.
E atenção: não deve permanecer única e sem 'argumentos', para não impedir as reações aleatórias; a essência da Natureza, como fundamento da Liberdade, enfim.

Último dia de 2009.
Quem tem substancia para fazer o balanço geral, percebe que já pode começar.

Diferente das empresas, ou qualquer coletividade organizada, o balanço individual, de cada ano, não se restringe apenas às substâncias materiais.
A palavra substância nos remete diretamente à química. E esta indiretamente se envolve em tudo, desde uma revolução social até a um peido no elevador.

Química facilmente pode ser entendida como metáfora de absoluto, quando exposta como responsável por nossa personalidade.
(Não é fácil fazer feliz certa mulher com sua própria sabedoria!!! Bizarro, a Natureza pictórica de Bosh, disse-me no momento oportuno)

A felicidade não depende do que se come; muito menos de etiquetas para fins de desigualdade social.

Por exemplo, a química está imbricada nas escolhas pessoais, quando alguém apenas consegue se realizar plenamente com determinada atividade.
O cientista, que tem a química como motor de sua sabedoria, pode tranquilamente, indiferente aos fatos, intervir no próprio livre arbítrio(sic) inerente à vida.

Evidente que esta ativação não é um fato novo.
A antiga química possui já alguns processos de ativação dos quais os mais comuns consistiam em aquecer as substâncias.
Mas pensava-se que isso não era mais do que um simples processo para por em ação virtualidades substanciais bem definidas.
Os balanços caloríficos foram tardios e durante muito tempo grosseiros.
Não constituíam na realidade um sinal suficiente para designar a atividade de reações.
Quando começou a conhecer-se o papel das substancias catalíticas, devia ter-se previsto a necessidade de uma revisão completa da filosofia química.
Mas não se passou da enumeração dos fatos, sem insistir no caráter essencialmente indireto e progressivo das relações catalíticas.

O estudo das fases intermediarias impôs-se no entanto a pouco e pouco; as reações aparentemente mais simples receberam um pluralismo que está ainda muito longe de estar sistematizado.
Mas, como veremos adiante mais claramente sob outra forma, a reação deve passar a ser representada como um trajeto, como um série de diversos estados substanciais, como um filme de substâncias.
E aqui surge um vasto domínio de investigações que exigem uma orientação de espírito inteiramente nova.

A substância química, que o realista tanto gostava de considerar como exemplo de uma matéria estável e bem definida, só interessa verdadeiramente ao químico se ele a fazer reagir com outra matéria.
Ora, se se fazem reagir substâncias e se pretende extrair da experiência o máximo de instrução, não é a reação que se deve considerar?
Por detrás do ser desenha-se imediatamente um devir.

Oportunamente, nesta fase de festas para uns e descanso para outros, e para ainda outros, que aproveitam para unir ambas atividades, retifico meu convite para todos nos reagrupar ao devir em 2010.

Então, veja e leia bem, que espírito de grupo muito raro, penso eu, luta para nascer.
Científico e bem humorado, até em seu ódio pelos limites da realidade.
Aqui, surpreendo-me, muitas vezes, com palavras (nomes) cujo significado se coloca quase como um obstáculo para uma boa digestão cultural.
Contra tudo, da mesma maneira também, acostumei-me à metabolização de certas palavras difíceis, e especialmente aquelas que colocam ismos no final.
Infelizmente o meio apenas permite a existência de experiências e esperanças, jamais será um produto final.
Este, necessariamente, sempre será outro meio.
Como diz um estúpido: Ela, a vida, só sorri, só sorri.
E vai explicar para um estúpido que a vida também tem outros gestos, faces infinitas.
Mas um único olhar, total!

A fisiologia não explica nem metade do mau cheiro, assim como a floricultura do bom perfume.
Explicação só é interessante depois do conhecimento.

Esta exclamação parte do presente - ontem o Vinícius foi genial - diretamente para a pertinência deste post.
Assim como certo dia disse para o Luciano: Quebrem seus espelhos.

Bastaria um mínimo esforço de pensar para inverter a formula clássica: O mundo é a imagem e semelhança de Deus, subentendida, quando dita ao homem na terceira pessoa do indicativo.

Os dogmas das religiões, seja qual for o objetivo dos "mentores", são extremamente necessários, porém não afirmam jamais o ser como indivíduo livre.

(O americano* até inventou sensores que detectam muito além de odores, calores e efeitos alérgicos; digam que não enriqueceu...)
Ah, essa liberdade tão questionada mesmo quando repleta das instruções culturais sem limite.

Os lógicos sempre vão agir como os gatos ensinando 99 fórmulas prontas para o cão sobreviver.
Metáfora grosseira, claro, mas acredito que vamos encontrar sempre uma sensibilidade maior para interagir com o mundo; claro, em constante construçâo.

Supõem-se na base da construção comportamentos imprevisíveis.
Não se sabe nada, por exemplo, sobre o átomo, que não é considerado a não ser como sujeito do verbo ricochetear na teoria cinética dos gases.
(chiii, lá vem escatologia aonde não existe)
Não se sabe nada sobre o tempo em que se efetua o fenômeno do choque; como seria previsível o fenômeno elementar quando não é "visível", isto é, suscetível duma descrição precisa. (rss, fiquem à vontade)

A teoria cinética dos gases parte portanto dum fenômeno elementar indefinível, indeterminável.
Certamente indeterminável não é sinonimo de indeterminado.
Mas depois que um espírito científico fez a prova de que um fenômeno é indeterminável, ele se impõe um dever (devir) de método de tê-lo por indeterminado.
Ele aprende o indeterminismo do indeterminado.

Ora, empregar um método de determinação a propósito dum fenômeno é supor que esse fenômeno está sob a dependência de outros fenômenos que o determinam.
De maneira paralela, se se supõe a indeterminação dum fenômeno, supõe-se igualmente sua independência.
A enorme pluralidade que representam os fenômenos de choque entre moléculas dum gás se revela portanto como espécie de fenômeno geral pulverizado onde os fenômenos elementares são estritamente independentes uns aos outros.

O homo faber prejudica o homo aleator; o realismo prejudica a especulação.
Para dizer a verdade, esta transcendência é talvez mais verbal que real.
Há lugar para um positivismo do provável, para dizer a verdade, bastante difícil de situar entre o positivismo da experiência e o positivismo da razão.
Sem dúvida é muito impreciso o problema que reúne duas massas vagas e confusas, mas não é irreal.

Os fenômenos tomados em sua indeterminação elementar podem portanto ser compostas pela probabilidade e desse modo assumir figuras de conjunto.
É sobre essas figuras de conjunto que atua a causalidade.

Mãos à obra, sem luvas, conhecer, experimentar, e degustar para depois, então com humildade, julgar o destino e os nomes das substâncias elementares de todos.
E jamais lavar as mãos de Pilatos e, também, as próprias.

Com todo meu respeito aos notáveis e honestos dentre a indústria cultural:
Base do texto: A filosofia do Não. Gaston Bachelard
Os Pensadores - Abril Cultural editora - 1978
Tradução: Joaquim José Moura Ramos.
E, reafirmando o meu indubitábel respeito, acrescento:
"O pesquisador, ao olhar seu objeto de estudo, especialmente quando este faz parte do universo social, como é o caso da educação, pode incorrer no perigo de se deixar levar pelo que lhe é visível, dando a este um estatuto de verdade que ele não tem.
Para Bachelard, "diante do mistério do real, a alma não pode, por decreto, tornar-se ingênua. É impossível anular, de um só golpe, todos os conhecimentos habituais. Diante do real, aquilo que cremos saber com clareza ofusca o que deveríamos saber".
A realidade nada responde por si mesma.
Somente o faz através de questões levantadas teoricamente.
Estas observações ganham razão de ser quando nos deparamos muitas vezes com pesquisas da área educacional que se resumem ao relato narrativo de uma determinada situação, geralmente denominado "estudo de caso", sem que este tenha qualquer relação com uma questão geral, teórica.
Estas pesquisas, geralmente, constituem-se de um apanhado teórico somado mecanicamente à descrição de uma situação e, por fim, uma consideração final que tenta sintetizar o estudo. Tal método, segundo pensamos, é falho e não consegue revelar o que se pode chamar das "múltiplas relações" inerentes à realidade, contentando-se em descrever tal situação que, por isso, perde muito do seu valor acadêmico, nada acrescentando ao conhecimento acumulado.

O segundo obstáculo epistemológico, o senso comum, semelhante ao primeiro, relaciona-se especificamente com a dificuldade com a qual se depara o cientista social em separar o seu conhecimento comum, suas opiniões, seus preconceitos, as avaliações relacionadas à sua posição social e econômica, etc., do conhecimento teórico, científico, que deve estar comprometido com a busca da verdade, baseada em leis gerais, em conceitos e não em preconceitos.
Muitas pesquisas travestem-se de científicas para legitimarem determinados preconceitos, dando a eles credibilidade.
A utilização consciente de um método de pesquisa, como a "construção do objeto científico", leva o cientista a chegar mais próximo possível da verdade do seu objeto, sem com isso entender o esgotamento do seu estudo, dada a característica dialética da sociedade e do conhecimento.
A realidade social, e a educacional mais especificamente, é objeto de avaliação por todos aqueles que vivem na sociedade, o que torna a tarefa do cientista social ainda mais difícil, pois deve construir seu conhecimento apesar e contra o senso comum; apesar e contra a realidade.

Referências bibliográficas
BACHELARD, Gaston. Conhecimento comum e conhecimento científico. In: Tempo Brasileiro São Paulo, n. 28, p. 47-56, jan-mar 1972.
______. O racionalismo aplicado. Rio de Janeiro: Zahar, 1977.
______. Os Pensadores. São Paulo: Nova Cultural, 1988.
______. A formação do espírito científico: contribuição para uma psicanálise do conhecimento. Rio de Janeiro: Contraponto, 1996.
______. O novo espírito científico. Lisboa: Edições 70, 1996a.
Livros sobre Gaston Bachelard:
O Racionalismo da Ciência Contemporânea - uma análise da epistemologia de Gaston Bachelard, Marly Bulcão, editora UEL, 1999.
Bachelard, pedagogia da razão, pedagogia da imaginação, Elyana Barbosa e Marly Bulcão, Editora Vozes, 2004.
Bachelard, razão e imaginação, Marly Bulcão (Organizadora), Núcleo Interdisciplinar de Estudos e Pesquisas em Filosofia/Universidade Estadual de Feira de Santana - BA, 2005."
Wikepedia

segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

Paciência, devir, pazciência pessoal



Nostalgia deste ano

"o que é roda?"
e recebendo como resposta
"uma coisa circular que os carros usam para andar"
retruca perguntando
"o que é carro?"
e ouvindo que é
"uma máquina que anda a gasolina"
pergunta
"e gasolina, o que é?"
e assim por diante
de conceito a conceito
até esgotar a pa(z)ciência do interlocutor
por em prática
o processo de semiose ilimitada
ou processo infinito
de formação de significação
um signo leva a outro
um conceito a outro
sem fim previsível

O que é indústria cultural?"

Os primeiros passos
são assim
devir

primeiros passos
editora brasiliense
Teixeira Coelho
1980

"Utopia?
Efeitos desprezíveis
diante da indústria cultural?
Nem tanto."

E lá se vão os tempos...

Se o problema é do Outro
então seu inferno me convém
Se o problema é meu
meu Inferno não lhe convém

À mulher, claro, mas assim
sempre duas, também
jamais separadas
no meu desejo louco

A imortalidade da carne, rss, antes
e depois, da voz, do olhar, do gesto
da expressão mais sincera
amor incondicional

Ódio - Luxúria

Durante muito tempo construí uma história em cima de um castelo destruído
E pra fugir dessa realidade dura eu já encontrei mais de mil motivos
Agora essas palavras de pessoas santas parecem música nos meus ouvidos
Já que ficou quase insuportável ouvir a voz dos meus olhos aflitos
De tanto chorar depois que a festa acabar
Se eu não me matar, talvez eu peça ajuda para voltar
Do lugar da onde despenquei feito um anjo que morreu de raiva
Na queda eu me despedacei mas eu já me permito mudar
Olhei ao meu redor para reconstruir meu castelo caído
Pra viver de bons momentos sem ter que ter os olhos escondidos
Já fiz até um testamento que não tem nada, nada, nada escrito
Já que a minha maior herança é a que eu vou levar comigo
Pra evoluir, depois que o terror passar
Se eu não suportar talvez eu peça ajuda pra voltar
Do lugar da onde despenquei feito um anjo que morreu de raiva
Na queda eu me despedacei mas eu já me permito mudar
Esse meu ódio é...
Meu ódio é...
O veneno que eu tomo querendo que o outro morra...

Comida - Marisa Monte

bebida é água.
comida é pasto.
você tem sede de que?
você tem fome de que?
a gente não quer só comida
a gente quer comida, diversão e arte.
a gente não quer só comida,
a gente quer saída para qualquer parte.
a gente não quer só comida,
a gente quer bebida, diversão, balé.
a gente não quer só comida,
a gente quer a vida como a vida quer.
bebida é água.
comida é pasto.
você tem sede de que?
você tem fome de que?
a gente não quer só comer,
a gente quer comer
e quer fazer amor.
a gente não quer só comer,
a gente quer prazer pra aliviar a dor.
a gente não quer só dinheiro,
a gente quer dinheiro e felicidade.
a gente não quer só dinheiro,
a gente quer inteiro e não pela metade.
bebida é água.
comida é pasto.
você tem sede de que?
você tem fome de que?

sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

Ao ser antes dos nomes

Redescobrir
Como se fora brincadeira de roda, memória
Jogo do trabalho na dança das mãos macias
O suor dos corpos na canção da vida, história
O suor da vida no calor de irmãos, magia

Como um animal que sabe da floresta memória
Redescobrir o sal que está na própria pele macia
Redescobrir o doce no lamber das línguas, macias
Redescobrir o gosto e o sabor da festa, magia

Vai o bicho homem fruto da semente, memória
Renascer da própria força, própria luz e fé, memória
Entender que tudo é nosso, sempre esteve em nós, história
Somos a semente, ato, mente e voz, magia

Não tenha medo, meu menino bobo, memória
Tudo principia na própria pessoa, beleza
Vai como a criança que não teme o tempo, mistério
Amor se fazer é tão prazer que é como se fosse dor, magia

Como se fora brincadeira de roda, memória
Jogo do trabalho na dança das mãos macias
O suor dos corpos na canção da vida, história
O suor da vida no calor de irmãos, magia
(Elis Regina/Gonzaguinha)

Outro dia de Natal se finda, pessoalmente, para cada ser humano, que teve contato com esta História, significa um momento especial para afirmar o grande poder da reflexão. Desta maneira, creio, posso falar por todos; lembrando, pelo menos para todos que sentiram a mensagem na História de Jesus Cristo.
Meu coração se acelera em meu tórax, irradia para a plenitude do meu corpo, e talvez se expande para outros corpos, outras pessoas, talvez aleatoriamente, feito o som dos ventos, para todos os ouvidos em todos os sentidos.
Estou ansioso, porque quero falar diretamente, como sempre faço, para uma única pessoa, revelada a todos ou não; a revelação aqui, como conceito para a capacidade sublime de existir para outra pessoa. Em cada uma existe a conexão imponderável com todos; lembrando o som do vento, do mar, do trovão, etc.
Quero falar com o nosso atual presidente do Brasil, Luis Inácio da Silva; inexoravelmente o próximo presidente está na conversa.
Daqui, deste anonimato, tomado pelo espírito do dia, tento entender sua cruz, meu velho, Lula. Certa vez, estive muito próximo, éramos uma multidão, lotávamos a Vila Euclides, e voce, de camiseta vermelha, forte, vigoroso, passou tão perto que pude também ver seus olhos, ver para onde olhava, para este futuro que é agora.
Podia enumerar à exaustão, vítimas de tragédias que se multiplicam a cada ano, é sempre tão visível, até parece que ficar falando das tragédias diárias é uma forma de ópio para o povo. O mesmo acontece, em contraponto, com a simulação diária de prazeres egoístas; tanto o requinte do consumismo quanto de criminalidades.
Voce até me diria que é o preço da Democracia. Seria uma boa resposta de um presidente, tanto de um país quanto de uma comunidade de bairro.
Queria saber, ousando a falar por todos, se o poder desse troço, a média de opiniões resumida em ideologia mais razoável, então, todos sabemos, pervertida na quase totalidade pela ideia de um capitalismo selvagem, o Brasil não é excesso, é tão perverso a ponto de se tornar irrecusável; é tão irresponsável a ponto de cometer atrocidades para se defender e manter o país nesta eterno paradoxo, o horror da maioria dos brasileiros em estado de sorte ou azar, roubados ainda pela quase totalidade da classe política, e a alegria gratuita da ilusão de poder do mais forte sobre o mais fraco tomando como parâmetros o consumo e propriedade?
Queria saber, claro, jamais através de canetadas, o que se pode fazer, em seu cargo, para mudar o rumo desta situação historicamente impregnada na imagem do país?
Acredito que voce jamais responderia a estas perguntas com a mesma resposta, acima descrita, "é o preço da Democracia".
Não repetiria a resposta, porque seria o mesmo que dizer: "Não me pergunte o que o país pode fazer por voce, e sim o que voce pode fazer pelo país".
A resposta mais eloquente que já se viu em política. E nós, brasileiros, já estamos de saco cheio de tanta eloquência dos poderosos e falsos amigos.
Como se poderia fazer dar tal resposta à dona Maria, com águas podres até o joelho, no bairro Pantanal, na zona leste de São Paulo? E, também, a tantas outras Marias, Josés, etc., todos igualmente brasileiras e brasileiros? Não quero jamais aludir a um conflito de classes, problema exclusivo da ordem econômica, mas precisamente ao papel do estado nas ordens, econômicas, jurídicas e morais do nosso país. E, já aprendemos o bastante que reivindicações coletivas paralelas, são férteis apenas às pequenas mudanças. Esta é a minha grande lembrança daquele dia que o vi pessoalmente.
Finalmente, Lula, sabendo que a zombaria da média será geral, acusar-me-ão de tentar travesti-lo de papai noel; voce sabe, sempre tem crianças que brincam com fogo no paiol, e que sempre é tarde de culpar o Pai.
Espero que este texto chegue até voce, e voce, no mais alto valor social, faça uma menção sobre este contato, de um anônimo brasileiro ousando falar por todos.
Muitas, vastas, Brasil à fora, considerações, e meu forte abraço. Feliz Natal em todos os dias e prósperos anos melhores.

quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

Meus pêsames, Jesus


Então é Natal, momento de compaixão, de proporcionar esperança, filosoficamente, para meu celular, fixo e computador.
Dizer-lhes que, porque nunca foi sempre assim, há de ser melhor, então também lhes desejar um Próspero ano novo.
Graças ao Pai de Cristo, e claro, em respeito à liberdade alheia de ser com tudo e feliz, ao Filho também, aqueles aparelhinhos e este grande aparelho, que não sabem exatamente com liberdade filosofar. Porque talvez filosofia contém um pouco mais que tudo de que precisamos para passar nosso tempo de Vida.
Por isso que acham tal caminho, ou Sentido, como querem os puristas axiólogos, um saco menor (mais pequeno) que o de Papai Noel. Novamente com todo respeito às letras maiúsculas.
Mas o tema é Natal, não posso decepcionar a Vaca sagrada, que pressupõe o iorgute, então, hoje, sem nicotina, álcool, nitro, thc e cocaínicos. Vou jejuar do "diabo", abraçar-me à cruz e, momento de compaixão!, inventar uma esperança, dizer que não tardo morrer pregado em seus braços estáticos.
Será que Deus é omnisciente (and on) mesmo?
Lembro um dedo de prosa com Jung, quando dizia que o espírito só existe na filosofia. Se eu fosse outro, desconfiava, é óbvio. Fiquei na minha, porém sem, com isso, julgá-lo sumariamente e assim perder meu tempo planejando a morte de possíveis inocentes. E ele fazia expressões sutís na face bandeirando sua preocupação.
Jung dizia que o espírito é um nome de um conceito expressivo, tão que não admite outro para o
Ops., ...significado de
Perdão, isso não vai acontecer mais, ..., desculpem-me, é que eu não quero dizer (não adianta) o que o Jung disse.
De certo que, se eu o conhecesse bem, diria e talvez até não seria MONSTRUOSO; tão chato, "um saco!" como dizem elas, somente elas, com catíguria.
Por Jesus, filho de Maria COM José, chega de brincadeira, o tempo urge para escapar de certas cruzes 'bem intencionadas' .
Meu presente para todos:
Cordel Do Fogo Encantado, mais óbvio pertinente, neste Tempo, talvez impossível. E, espero, que seja justo para uma nova (re)volta ao Brasil. E são tantos... que já estão oniscientes desta necessidade pela liberdade.
Feliz Natal para todos.


Stanley - Lirinha
Na madrugada de vento seco
No clarão da grande lua prateada
No recôncavo do sol
Na montanha mais longe do mar
Numa serra talhada espinho fechado coivara caieira vereda
Distancia da rua
Mato cerca pedra fogo faca lenha
Cerca bote bala bote bala bote senha
Tabuleiro tabuleiro em pó
Na pedra dos gaviões
Uma mulher deitada
O nome é Maria
A dor conduzindo o filho terceiro
Nas garras do mundo sem guia
Vai nascer outro homem
Ouviram
Vai nascer outro homem
Outro homem

O seu nome é Stanley
Mais um filho da pedra dos gaviões
Da montanha
Do recôncavo do sol
E eu aqui vou cantar

Sua morte sua vida
Seu retrato sem cor
Seu recado sem voz
Morte e vida Stanley
Morte e vida Stanley
Morte e vida Stanley
Morte e vida

Outro homem
O seu nome é Stanley
Mais um filho da pedra dos gaviões
Mais um homem pra trabalhar
Na cidade sem sol
E eu aqui vou cantar
Sua morte sua vida
Seu retrato sem cor
Seu recado sem voz


Jesus no Xadrez


No tempo em que as estradas/Eram poucas no sertão/Tangerinos e boiadas/Cruzavam a região

Entre volante e cangaço/Quando a lei/Era a do braço/Do jagunço pau-mandado/Do coroné invasô

Dava-se no interiô/Esse caso inusitado


Quando o Palmeira das Antas/Pertencia ao capitão/Justino Bento da Cruz/Nunca faltô diversão

Vaquejada, canturia/Procissão e romaria/sexta-feira da paxão

Na quinta-feira maió/Dona Maria das Dores/No salão paroquial/Reuniu os moradores

Depois de uma preleção/Ao lado do capitão/Escalava a seleção/De atrizes e atores

Todo ano era um Jesus/Um Caifaz e um Pilatos

Só não mudavam a cruz/O verdugo e os maltratos

O Cristo daquele ano/Foi o Quincas Beija-flor/Caifaz foi Cipriano/Pilatos foi Nicanô
Duas cordas paralelas/Separavam a multidão/Pra que pudesse entre elas/Caminhar a procissão
Quincas conduzindo a cruz/Foi num foi adivirtia/O Cinturião perverso/Que com força lhe batia

Era pra bater maneiro/Bastião num intidia/Divido um grande pifão/Que tomou naquele dia

D'um vinho que o capelão/Guardava na sacristia

Cristo dizia:- Ô rapais, vê se bate divagar/Já to todo incalombado/Assim num vô agüentar

Tá cá gota pra duer/Ou tu pára de bater/Ou a gente vai brigar

Jogo já essa cruis fora/Tô ficando aperriado/Vô morrê antes da hora/De ficar crucificado

O pior é que o malvado/Fingia que num ouvia/E além de bater com força/Ainda se divirtia

Espiava pra Jesus/Fazia pôco e dizia:

- Que Cristo frôxo é você?!/Que chora na procissão

Jesus, pelo que se sabe/Num era mole assim não

Eu to batendo com pena/Tu vai vê o que é bom/Na subida da ladeira/Da venda de Fenelom

O côro vai ser dobrado/Até chegar no mercado/A cuíca muda o tom

Naquele momento ouviu-se/Um grito na multidão/Era Quincas/Que com raiva/Sacudiu a cruz no chão/E partiu feito um maluco/Pra cima de Bastião

Se travaram no tabefe/Pontapé e cabeçada

Madalena levou queda/Pilatos levou pancada

Deram um cacete em Caifaz/Que até hoje num faz/Nem sente gosto de nada

Dismancharam a procissão/O cacete foi pesado

São Tumé levou um tranco/Que ficou desacordado

Acertaram um cocorote/Na careca de Timote/Que inté hoje é aluado

Inté mesmo /São José/Que num é de confusão/Na ânsia de defender/Seu filho de criação

Aproveitou a garapa/Pra dar um monte de tapa/Na cara do bom ladrão

A briga só terminou/Quando o dotô delegado/Interviu e separô/Cada santo pro seu lado

Desde que o mundo se fez/Foi essa a primêra vez

Que Jesus foi pro xadrês/Mas num foi crucificado

segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

No espírito da paz do Natal

Corpo frágil para guerrear pela paz

Ouvindo Echoes, Pink Floyd, eu,
dinossauro,
eterna criança,
fruta que não se soube amadurecer,
dessexualizado,
ainda acredito em Papai Noel.


Mas ainda encanto uma mulher que se abre pelo simples prazer de viver.
Em nove dias, com um intervalo apenas de desenove horas, estive embebido de seu perfume.
A voz da multidão, dentro, pergunta: não teria sido entorpecido do veneno mais letal?
Permaneço nos 'talveres' para manter a paz, ao nada adianta atirar contra a multidão.
Na verdade, estou mesmo é de ressaca, ou já sofrendo as agruras de qualquer abstinência.


Ela me repetiu até à exaustão que mulher não é vício.
Depois deixou-se estar, como se isso fosse uma linguagem; assim como roer as unhas assistindo uma partida de futebol.

Eu dizia sempre: não se preocupe, voce é meu cigarro.
Ela se fechava, era noite em mim, então aproveitava para entrar aqui.
As drogas fazem mal à saúde.
E já fazem duas horas que ela voltou para seu próprio mundo.
Tentei chorar, quem sabe, um pouco, para deixar de ser tão dinossauro.


Agora são onze da manhã, reguei o jardim e os vasos.
Recolhi todo o lixo e ajuntei as tralhas na cozinha.
Varri a casa e lavei os cinzeiros.
Havia até camisinhas usadas debaixo da cama.
Busquei o sofá que dormimos noite passada sobre o sereno anunciador desta recalcitrante despedida.
Estou tentando, com voces, deixar de ser tão eterna criança.


Não é possível perscrutar a história de um vegetal.
Apenas sabemos sua finalidade, e inexoravelmente devemos ficar satisfeitos.
Cada espécie tem sua finalidade, e ponto.
Cabe aos artistas enriquecer (ou destruir, para ser bem pagos) a imaginação da multidão.
E na imaginação dela, sem os artistas maU! pagos, todo fruto é somente mais outra fruta.
Tento, ninguém acredita, fatalidade?, amadurecer para ser consumido feito uma fruta.


Não há mais meio termo entre nacionalismo e globalização, assim pensam os teóricos da vida simples.
E a sexualidade humana precisa de uma significação, quando não para si, então para os outros.
Ninguém quer se parecer um animal irracional.
Assim, o conjunto de suas regiões erógenas se identifica, quando não a voce, a qualquer outra coisa ou pessoa.
Por exemplo, meu pau, meu cu, meu tórax, minha cabeça, minhas pernas, pés, braços e mãos, quando sob excitação sexual não podem se sentir uma teoria Aqui no Brasil, agora Neste tempo, consequência mútua?, porque a multidão brasileira acredita que teoria não é necessária, que o sexo faz parte do reino animal, etc.
Nem em teoria ou na prática existe meio termo para explicar como estou tentando ser sexualizado.


Há quatro dias do Natal, até gostaria de não acreditar jamais neste ícone globalizado.
Mas, para mais uma vez, em teoria, encontrá-lo(a) sem a falta de sequer uma parte, de seu corpo, para que o espelho, já que sexualidade globalizada ainda carece desta abstração, não fique embassado em tabus ou depreciativos imagéticos, a partir de agora, na minha solitude "sem significação"(a voz), estou no espírito de esperar papai noel; embora minha preferência seja mamãe, ou filha, ou tia, ou cunhada, ou amiga, ou estranha, ou famosa, ou anônima, inteligente ou burra, bonita ou feia, etc.

sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

Os traços dos abraços

"Não vai me dá o prazer de viver?"

Existe um tesão, e uma quebra de tesão, simultaneamente, contidos, tanto em sua região quanto em seu universo.
Em todos os lances da vida, importando toda "pouca coisa" de sua classe social.

Da sua visão, muitas vezes romântica em desmando; quando indiferente a tudo e a todos, teima em ouvir Villa Lobos. E este, tem, realmente o tema do herói e o traidor brasileiro. É o mesmo que perguntar por quê (pra quê) Ele não fêz mais? Para quem sabe...

Aria Cantilena, sempre me pede silêncio. O silêncio que não devemos chorar.

Esta é minha região.

Cantaloube de Malaret, Merie Joseph, meu universo também cego a partir sempre por meus visinhos mais queridos e igualmentes traídos.
Acho que nem mais podemos conversar e inserir uma apreciação à nossa America Latina.
Acho que realmente já não mais nos faz parte.

Lembro da minha sensação, antes de ler pela primeira vêz Jorge Luis Borges.

Antes um pouco, alguns meses ou pouco mais de um ano, quando Ernesto Sabato me mostrou um duto de fuga (intuição de prisioneiros), mais precisamente uma luz no fim do túneo, ou um pássaro ferido que ainda pudesse voar.
Minhas mémorias também me traem.

Na época eu não gostava do discurso de Pablo Neruda.
Percorria labirintos mais escuros, sempre. Enxergava a literatura como irupção em busca do espaço total.

Quando li Tema do Traidor e do Heroi, sobrevoei o mundo e me detive, amarrado os punhos aos pés, enroscado em uma árvore pútrida, embebido pela bruma impossível à vista de castelos.
Eterna noite, ou eterno dia observando, à distãncia também impossível, o movimento de entra e sai do mundo.

Sho the Platonic Year
Whirls out new righ and wrong,
Whirls in the old instead;
All mem are dancers and their tread
Goes to the barbarous clangour of a gong.

Meu queixo tremia, meus dentes se perdiam.
Aprendi a ouvir Claude Debussy, seus Diálogos.

Incerta noite interminável, sonhei minha semente, ou minha casa natal, extremamente distante de mim.
E completamente estranha para os encatamentos das borboletas da região onde porventura dormia, e imune as pragas que restaram daquela burguesia que ali viveram.

Eu era um vegetal, verde, uma folha suspensa e solitária na floresta.
Observando o fluxo de mercadores se formando, reis surpreendidos nus, rainhas descabeladas e princesas se entregando a tantos príncipes por acaso.

O Brasil e a América Latina não existiam.
Eu não existia, e não me lembro se acordei.

Aqui, hoje, à frente do monitor, com a mesma sensação, ainda amarrado os pés e mãos, enroscado nesta árvore fúnebre, ainda nesta bruma espessa, à vista de castelos, temo somente pelo instante, quando o drácula dos livros enfadonhos, sob mim parar para refletir e olhar para cima e me ver, derrotado sem mesmo saber como ou quando, nem sequer porquê, e resolver matar sua fome.

E, por "sorte", voltando ao tema do primeiro parágrafo, escuto o Trenzinho Caipira em meu coração.
Sequer o Diabo resiste a tanta doçura, é minha esperança, que se traia.
E me deixe pelo menos alguém vivo! para amar.
Para morrer, que seja, em meus braços, e com sua morte, matar-me.

Mortes bem vindas, quem sabe, ao som de Astor Piazzola, lendo o Tema, ainda teimando feito herói. Que seja...

Sob o notório influxo de Chesterton
(narrador e exornador de elegantes mistérios)
e do conselheiro áulico Leibniz
(que inventou a harmonia preestabelicida),
imaginei este argumento, que escreverei talvez e que de algum modo me justifica,
nas tardes inúteis.

Faltam pormenores, retificações, ajustes;
há zonas de história que não foram relveladas ainda;
hoje, 3 de janeiro de 1944, assim vislumbro.

A ação transcorre num país oprimido e tenaz:
Polônia, Irlanda, a república de Veneza, algum Estado sul-americano ou balcânico...

Ou melhor,
transcorreu,
pois embora o narrador seja contemporâneo,
a história por ele referida ocorreu ao mediar ou ao começar o século XIX.

Digamos (para comodidade narrativa) Irlanda;
digamos !824.
O narrador chama-se Ryan;
é bisneto do jovem, do heróico, do belo, do assassinado Fergus Kilpatrick,
cujo sepulcro foi misteriosamente violado,
cujo nome ilustra os versos de Browning e de Hugo,
cuja estátua preside um morro cinzento
entre lodaçais vermelhos.

Kilpatrick foi um conspirador,
um secreto e glorioso capitão dos conspiradores;
à semelhança de Moisés que,
da terra de Moab, avistou e não pôde pisar a terra prometida.

Kilpatrick pereceu na véspera da rebelião vitoriosa
que havia premeditado e sonhado.

Aproxima-se a data do primeiro centenário de sua morte;
as circunstâncias do crime são enigmáticas;
Ryan, dedicado à redação de uma biografiado do herói,
descobre que o enigma ultrapassa o puramente policial.

Kilpatrick foi assassinado num teatro;
a polícia britânica não descobriu nunca o autor da morte;
os historiadores declaram que esse fracasso
não deslustra o seu bom crédito,
já que, talvez, o tenha mandado matar a própria polícia.

Outras facetas do enigma inquietam Ryan.

São de caráter cíclico: parecem repetir e combinar
fatos de remotas regiões,
de longevas idades.

Assim, ninguém ignora
que os esbirros que examinaram o cadáver do herói
acharam uma carta fechada
que lhe avisava o risco de comparecer ao teatro, nessa noite;
também, Júlio Cèsar, ao encaminhar-se ao lugar
onde o aguardava os punhais de seus amigos,
recebeu um memorial que não chegou a ler,
no qual ia mencionada a traição,
com o nome dos traidores.

Lembro muito mais, eu sei, devo estar omito por motivos óbvios.
Jorgem Luis Borges, não porque já é um falecido, é-me de grande importância ao devir depois dos nomes.
Inatacável, inapelável e inexpugnável.
Tão símile de qualquer pessoa, seu nome é que menos confere seu próprio conhecimento.

Lembra-me, novamente, aquele que me aprentou tão infaestrutural abraço, Ernesto Sabato,
com suas posteriores interrogações para desafiar
quem só fia e fica na alegria da Literatura, ou, diria eu,
no devir dos nomes, apenas.

A inexperiência pode unir-se à miopia e à mediocridade,
que não necessariamente excluem o ressentimento,
mas ao contrário, às vezes são suas causas:
com grandes dificuldades, um homem é capas de intuir a profundidade,
a beleza ou a magnitude
de algo que não é capaz de sentir,
sequer um germe, em seu prórpio espírito.

Um homem que, além de tudo, seus visinhos podem ver e apalpar,
um indivíduo que come do mesmo modo que o resto dos mortais,
que adoece, que é um pouco ridículo
e que deve ganhar a vida como um pobre-diabo?

E como, por acréscimo, o que nega
parece sempre mais talentoso do que aquele que admira,
quantos não cairão na tentação de dizer NÃO
com pedagógica ironia,
dando de passagem ao seu rancor
o aspecto honorável de um imparcial juizo axiológico?

quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

Eu não sei falar de meus problemas



Viva para a Vida!

Este texto é um trecho do livro Malone Morre, de Samuel Beckett, tradução do saudoso Paulo Leminsk, da editora Brasiliense, 1986. Este livro me serviu muito para aprender a escrever palavras e idéias que eu jamais iria aprender nas escolas. Ainda é possível lembrar como o estudo sobre metáfora e sua diferença para a metonímia, sob a metodologia da Ditadura, transformava-me dia a dia em "porco, ovelha, galinha, rato, mosquito, lesma, larva, etc", seres somente úteis (para quê?) e incapazes de transcender ao chiqueiro do Estado Nação, da época, mas que, ainda infelizmente, sob tal Democracia, continua a mesma porcaria. Nem tanto pela Educação Oficial, voltada a formar cidadãos "práticos" para servir, mas muito pela corrupção de berço colonialista/exploratória, que se prolonga indefinidamente. Não se trata de incitar ódio aos estrangeiros, não há mais tempo para isso. Não se trata sequer de incitar ódio pura e simplesmente. Se trata, urgentemente, de não repetir os mesmos erros, de acabar com a desonestidade do forte contra o fraco, e assumir postura Humana, em todos os momentos, seja em público, seja na intimidade. Milhões são gastos com média, desde o político/jurídico até a beleza/pessoal, enquanto isso a fome aumenta na Sociedade e a violência, como consequência, impera na Família. O dinheiro se concentra ainda com a minoria, e a quem dela pertence, sob o álibi de que lutou por seus privilégios, quando são roubados ou assassinados, rapidamente culpam a falta de humanidade. Perfeitos idiotas, como seriam quaisquer ursinhos panda, diante de predadores famintos, argumentando por sua beleza e preciosidade(?).

Os grandes dias de Luis caíam em Dezembro e Janeiro, e de Fevereiro em diante ele esperava com ansiedade a volta dessa temporada, cujo evento principal é sem dúvidas a celebração do nascimento do Salvador, em um estábulo, sempre se perguntando se ia durar até lá.
Então ele saia trazendo debaixo do braço, na caixa, as facas longamente afiadas na véspera à beira do fogo e, no bolso, enrolado em papel, o avental destinado a proteger durante o trabalho sua roupa de usar aos domingos e dias de festas.
E ao pensar que ele, Luisão, estava a caminho desta distante granja onde era esperado, e que apesar de sua avançada idade ainda precisavam dele, que podia o que os jovens não podiam, então seu velho coração palpitava dentro da gaiola.
Dessas expedições, ele voltava tarde da noite, bêbado e esgotado pela longa caminhada e pela emoção.
E durante dias, ele só falava do porco que tinha mandado, eu diria para o outro mundo se não soubesse que os porcos só tem esse mundo aqui, conversa que matava sua família de tédio.
Mas ninguém se atrevia a dizer nada, pois todos o temiam.
Sim, na idade quando a maior parte das pessoas se encolhe e se retrai, como pedindo desculpas por ainda estar nesse mundo, Luisão era temido e estava numa posição em que podia fazer o que bem entendesse.
E até sua jovem esposa já tinha desistido de domar o seu temperamento, usando sua buceta, o grande trunfo das jovens esposas.
Ela sabia o que ele faria se ela se recusasse a abrir sua buceta a ele.
Ele, inclusive, exigia que ela lhe facilitasse a tarefa, através de recursos que muitas vezes lhe pareciam exorbitantes.
E ao menor sinal de rebelião de sua parte, ele ia até o banheiro buscar alguma coisa boa para bater nela até que voltasse a pensar de maneira razoável.
Isso cá entre nós.
E para voltar aos porcos, Luisão continuava a se ocupar dos seus, à noite, à luz da candeia, daquele que ele tinha acabado de matar, até o dia quando o chamavam para matar um outro.
Então sua conversa girava completamente sobre este último porco, tão diferente dos outros sob todos os aspectos, tão diferente, no entanto, o mesmo.
Todos os porcos são iguais, quando a gente os conhece bem, se debatendo, gemendo e se extinguindo mais ou menos da mesma maneira, uma maneira que é só deles e que não se deve confundir com o modo de morrer de uma ovelha ou de um cabrito, por exemplo.
Desde o fim de Novembro, sua família esperava com impaciência pela hora de espalhar esterco e plantar feijão.
A fazendola dos Luis ficava numa depressão, inundada no inverno, frita no verão.
Chegava-se até ela passando por uns campos muito bonitos.
Mas esses campos não pertenciam aos Luis, mas a outros fazendeiros que viviam longe do lugar.
Na estação certa, junquilhos e narcísos floresciam por alí com uma exuberância extraordinária.
Era para esse lugar que Luisão conduzia as cabras, sorrateiramente, ao cair da tarde.
Estranho dizer mas Luisão não tinha, para criar porcos, o mesmo talento que tinha para matá-los.
Era raro que um porco seu passasse dos sessenta quilos.
Trancado no chiqueiro desde a chegada, no mes de Abril, o porco lá ficava até o dia da sua morte, um pouco antes do natal.
Pois Luisão teimava em temer, para seus porcos, embora cada ano o desmentisse, os efeitos emagrecedores do exercício.
Por eles, temia também a luz do dia e o ar livre.
Por fim, era um porco fraco, cego e magro que ele deitava de costas, as patas amarradas, e matava, indignado mas sem pressa, berrando a plenos pulmões que se tratava de um ingrato.
Ele não podia ou não queria compreender que a culpa não era do porco, mas dele mesmo, que não o tinha tratado direito.
E ele persistia no erro.
Mundo morto, sem água, sem ar.
É isso, lembre.
Aqui e ali, no leito de uma cratera, a sombra de um líquen murcho.
É noite de trezentas horas.
Mais querida das luzes, pálida, chuvosa, a menos vaidosa das claridades.
É isso, balbucie.
Quanto será que durou, cinco, dez minutos?
Sim, não mais, não muito mais.
Mas meu pedacinho de céu ainda brilha.
Antigamente, eu contava, contava até trezentos, quatrocentos, e com outras coisas mais, as pancadas de chuva, os sinos, a babel canora dos pardais ao amanhecer, eu contava, ou por nada, por contar, depois, eu dividia tudo por sessenta.
Isso fazia o tempo passar, eu era tempo, eu devorava o mundo.
Não mais, atualmente.
A gente muda.
É só continuar vivendo.

"Deus lhe pague"

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

O Ser é o começo, Nada é o fim



A capacidade de ser o Outro

Voce acredita em Papai do Céu, acredita em Papai Noel, acredita em Papai Nobel, acredita em papai e mamãe?
Quem é voce? Pensa, sem pressa, e responda. Sem receio, o seu falar não é à toa.
Se voce não falar, vai ficar sem o olhar, e depois vai perdendo tudo, até ficar pensando "coisas" que realmente não é o pensar.
Nessa altura do meu escrever, voce deve estar pensando que o texto vai acabar em sermão, e as "coisas" estão atrapalhando sua cabeça.
E isso é uma "coisa".
Representações do pensamento.

Na filosofia tratamos tais "coisas" como o "Nada", em oposição ao Ser como Objeto do Pensamento.
O objeto está em cada forma do pensar. Por exemplo, o lápis, a cor, a matéria, o texto e o sentido Seu em relação ao mundo, e vicie versa.
O mundo é o maior objeto do pensamento Seu/Meu. E o que voce faz com o Seu objeto?
Voce já deu forma a ele? Voce já tomou posse do mundo?
Isso é filosofia, perguntar para todos, para nosso objeto Mundo, o que precisamos saber para torná-lo Um Mundo Melhor.

Quando nos empenhamos, quando nos unimos para um propósito tão certo quanto é o Futuro, nos transformamos em Mundo.
Este é uma nova forma de se tornar um Objeto de seu Pensamento.
Lembram quando talvez nem sequer pensávamos? O que éramos? Tudo o que somos, tudo o que sou, tudo o que voce É agora.
Voce sabe o que voce É agora? Como Saber sem Poder estar de fora para se contemplar, sem tomar-se como uma Representação?

Claro que todos nós experimentamos, vez ou outra, involuntariamente, ser um objeto em relação ao mundo.
Como se o mundo fosse tão amplo - inventamos a palavra Infinito para nos causar medo - que reunisse todas as "coisas" do pensamento.
Aterrorizante, não?
Pensando voce pode falar, olhar, etc.! E perde o medo!! E ganha a capacidade de ser atuante em Um Mundo Melhor.
Perdemos o medo de nos transformarmos em Mundo.
Qual é a razão do medo? Ou, desse medo, de transformar-se em objeto do mundo?
Por que todo objeto é manipulável pelos Outros?
Pensem no que acontece quando os Outros estão manipulando.
Pensem o que significa manipulação.
Eu lhes garanto que vão perder o medo.

Na poesia tratamos dessa relação eu/voce/mundo com mais liberdade, podemos encarnar o objeto do pensamento "existência" sem qualquer medo.
Voce pode ser tanto o mundo, quanto eu ou voce, sem perder a capacidade de pensar, e perder o medo de fazer o Mundo melhor.
Falta dizer sobre o que são as "coisas que atrapalham o pensamento", eu sei tanto quanto voce.
E falta muito a dizer, claro também, mas vamos continuar pensando juntos, voce faz parte de Um Mundo melhor.

Na próxima edição, discutiremos a liberdade de ser um Objeto Mundo, e a "prisão" das Representações dos Objetos do pensamento.
Se o texto atrapalhou tanto quanto "O Nada", releia quantas vezes precisar, sem medo, seja voce para entender tanto quanto sou eu para escrever.
E sem medo, também, com o seu "Ver", caso o próximo texto tiver uma forma diferente do meu "Escrever".

Réplicas para A VOZ DA PEDRA
ou para meu blog http://devir-antesdosnomes.blogspot.com/

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

Só o medo é real

"Os cristãos eram acusados de superstição
e de ódio ao género humano.
Se fossem cidadãos romanos eram decapitados;
se não, podiam ser atirados às feras
ou enviados para trabalhar nas minas."
(Wikipédia)

Ao nada, meus restos do que se esquece

Tem horas que o farol indica a direção do rochedo
mostra que não há porto no continente, e rodo, bobo
a ermo ou a esmo, muitas vezes, até o fim, até quando
há combustível, vento e paciência, então, depois
da pergunta que não devemos fazer seja para alguém
se há alguém participando, seja para si:
"Para quê?"

Então coloco novamente moonshiner, cat power e
a lua não é como o farol, não tem ninguém, é nada
é tudo, é tudo o que posso olhar e chorar, e sorrir
depois de mais uma morte e não saber jamais
a última: que não vai doer como esta falta de voce

Que foi a poucos minutos, que não se sabe a volta
que enfim se reduziu à esperança, felicidade sonsa
de uma notícia jamais pensada, jamais aguardada
no só deste amor, agora, não alcançado, utópico
que não é possível escapar e assim não é possível
algo melhor que o assim seja, amém, enfim ao eu

Eu que desejo tanto ser um mito, ser uma certeza
ser um babaca carregado pelo destino para o mundo
para o mais falso absoluto, a mais rasa essência
a mais teatral face ora alegre ora triste, alegórica
ou real, a mais estúpida e incompreensível liberdade

Adorada e inexpremível liberdade quando se perde
tudo, toda a ilusão, arte ou ciência, e seguimos só
sem qualquer razão, sem qualquer pergunta, apenas
com respostas então para ninguém, sequer para si

Então me deito, derrotado, morto enfim, sonho e
sonhando, uma hipótese de calor, de alguém, de voce
eu o vapor grátis lentamente se explode no rochedo
e meus restos realizarão "uma sagrada ceia sem traição"

Há tanto tempo que te amo



Sonhar com a civilização é normal

- Voce quer assistir a um filme?
- Sim, um filme que seja exatamente o que voce gosta, Devir.
- Uhm, então precisamos conversar.
- Já estamos conversando.
- Claro, de repente, não é normal, eu estava esquecendo.
- Já sei, voce vai querer saber que tipo de filme eu gosto.
- Muito inteligente.
- Eu me esforço.
- Que bom.
- Que tipo de filme voce gosta?
- Sabe porque preferimos um filme mais do que de outro?
- Ah, sei lá, não sou tão inteligente como voce, Devir.
- Obrigado, mas não sou tão inteligente quanto voce pensa.
- É sim, voce sabe fazer perguntas que ninguém sabe responder.
- Rss, mas as pessoas podem não querer responder, e nem sempre é porque não sabem a resposta.
- Por que pessoas podem não querer responder suas perguntas?
- Está vendo, então voce também é inteligente.
- Eu estou só me esforçando.
- Que bom.
- Qual filme voce gostaria que eu assista, agora?
- Um filme que voce vai odiar, ou dormir.
- E se eu amar?
- Voce vai me surpreender.
- Jura? Por que?
- Porque vai demonstrar que voce participou do filme e não odiou?
- Eu nunca odeio. Todo mundo sabe que nunca devemos odiar, que as pessoas odeiam porque são infelizes, não importa o motivo, o ódio gera ódio.
- É verdade, mas será que sempre foi, sempre é e será sempre assim?
- Devir, eu não sou tão inteligente quanto voce, já disse. Por que voce usou três vezes a palavra sempre, sempre é sempre, não há plural.
- Voce também acaba de usar três vezes a palavra sempre.
- É mesmo.
- Voce sabe a diferença da minha três vezes sempre para a sua três vezes sempre?
- Não, e se voce não me disser, nunca mais falo com voce.
- Pode mentir?
- Nunca.
- Então é verdade que voce, se eu não lhe contar, nunca mais vai falar comigo?
- Não gosto dessa conversa. Diz qual é o filme que voce mais gosta, e vamos assistir agora. Voce não gosta de filme de amor?
- O que seria mais fácil responder; o que é o amor, ou o que é um filme de amor?
- Ah, Devir, odeio quando voce faz assim.
- Quando faço perguntas que voce não sabe responder?
- É.
- Estou achando que voce não quer responder, porque está cansada de tantas perguntas, e acha que se assistirmos logo o filme voce poderá descansar.
- Sim e não, pode ser, pode não ser, vamos assistir ao filme. Coloca aí, não me conte nem o título. Aonde voce vivia, antes, enquanto eu vivia?
- Voce não é uma mera pessoa, sabia?
- Procuro me esforçar, e falando nisso, quer que eu faça pipoca?
- Legal, suco ou café?
- Ah, isto é uma pegadinha, claro, ambos, mas é voce quem vai fazer.
- Uhm, percebeu, voce sabe a diferença entre ódio e amor.
- Ah, é mesmo, lembrei, voce me enrolou e não disse qual é a diferença entre os para sempre. Diz agora, não me enrola mais, se não disser agora... rss, vou embora.
- Vai mesmo?
- Vou. Nossa sorte é que não usamos roupas nestes dias, e eu não estou acostumada sem tais preocupações. Sequer lembrei da maquiagem. Olha meu cabelo.
- Está bem, agora vou acreditar em voce, não vou apostar nisso, as mulheres fazem misérias com suas máscaras.
- Se eu for embora voce vai ficar na miséria?
- Se eu apostar e perder, com certeza.
- Não é voce que não se importa com a miséria? Não é voce que só se importa em apostar na vida? E, então, está me parecendo que está em contradição, Devir.
- Vou fazer só o café.
- Ok, nem filme, nem pipoca, muito menos suco, mas... antes do café, de ir embora, vem cá.
"Diga quando vai voltar
Diga ao menos se voce sabe
Porque do tempo que passa
Se resgata pouco
E do tempo perdido
Não se resgata nada"

sábado, 5 de dezembro de 2009

Do coração das bestas

Bastardos ou inocentes?




Mafalda: "O que tem nesse recado de jornal, Manolito?"
Manolito: "As cotações do mercado de valores"
Mafalda: "De valores morais? Espirituais? Artísticos? Humanos?"
Manolito: " Não, dos que servem para alguma coisa"
(Quino, Toda Mafalda, editora Martins Fontes, 1991)

Aconteceu em 1984, um grito "não identificado"
"No segundo minuto o Ódio chegou ao frenesi.
Os presentes pulavam nas cadeiras e berravam a pleno pulmões, esforçando-se para abafar a voz alucinante que saia da tela.
A mulherzinha do cabelo de areia ficara toda rosa, e abria e fechava a boca como um peixe jogado à terra.
Até o rosto másculo de O'Brien estava corado.
Estava sentado muito teso na sua cadeira, o peito largo se alteando e agitando como se resistisse ao embate duma vaga.
A morena atrás de Wiston pusera-se a berrar "Porco! Porco! Porco!
De repente, apanhou um dicionário de Novilíngua e atirou-o na tela.
O livro atingiu o nariz de Goldstein e ricocheteou; a voz continuou, inexorável.
Num momento de lucidez, Winston percebeu que ele também estava gritando com os outros e batendo os calcanhares violentamente contra a travessa da cadeira.
O horrível dos Dois Minutos de Ódio era que, embora ninguém fosse obrigado a participar, era impossível deixar de se reunir aos outros.
Em trinta segundos deixava de ser preciso fingir.
Parecia percorrer todo o grupo, como uma corrente elétrica, um horrível êxtase de medo e vindita, um desejo de matar, de torturar, de amassar rostos com um malho, transformando o indivíduo, contra a sua vontade, num lunático a uivar e fazer caretas."

Eu não sei nada de filosofia nem de matemática, muito mal sei escrever. Não entendo nada de arte nem de sexo. E pior, não sei nada de amor, também como disciplina, o que faz, sinto, todas aquelas disciplinas estéreis, para gestar pessoas ímpares: os monstrinhos domados, aqueles que darão falsa legitimidade ao sistema, e os monstrinhos indomáveis, aqueles que vomitam na gravata do papai, que darão verdadeira legitimidade ao sistema.

De todas as disciplinas, eu só ressinto não saber nada da disciplina da matemática, esta que é inapelável e radicalmente contra o verdadeiro amor; e ambas são o melhor exemplo daquela oposição amistosa dos primeiros anos de vida das pessoas.
Mas... O bom costume de família, a boa tradição de propriedade e o cagaço, recomendam não falar dos monstrinhos porque são sagrados pela disciplina religiosa.
O conhecimento também é um lugar sagrado, um templo de palha para esconder agulhas sagradas, raras, aquelas que vão coser o trigo, a matemática transcendente e o amor imanente.

E eu, que nada sei, fico o tempo todo no co-senso hipertextual, descobrindo fórmulas obscuras, metáforas rasteiras para tentar explicar a maneira mais fácil de estudar, ensinar e encontrar uma agulha num palheiro.

A palha, ou o joio, são o conjunto de números pares, como pessoas sem diferenças significativas entre si. O trigo, ou a agulha, são os números ímpares.

Jamais vou mentir, enquanto omitir é uma festa e sei controlar o meu entorpecimento, rss.
Podem acreditar, estou de saco cheio de "amar" à força de marteladas televisivas, heróis (ou monstros?) midiáticos, pessoas anônimas ou não.
E em cada canal (só oficial? Não pago para me comprarem)contém seu próprio saco deles.
E a televisão é só um bode expiatório aqui, do sistema, não é uma ou outra pessoa. Justiça, atenção!

E como tenho a mania de querer entender como a pessoa consegue ser feliz, e isso não é possível de fora, preciso entrar em seus corações.
O coração é, não de todos, é claro, talvez o único castelo que ainda restou, onde a tradição, o culto à "verdade do rei da selva" ainda não sofreu sequer um tremor.
Óbvia e sutilmente, portanto, o "coração de leão" é o mais adorado.

O meu alvo e sentido inexpugnável, rss, outro óbvio, porque quase na totalidade das pessoas, monstrinhos ou não, só são felizes enquanto adoradas.
Eis o meu problema, o mamute que preciso caçar quando acordo, se acontecer sequer uma noite de sono.

Eu, antes perdoe-me a intimidade impertinente, nunca consegui espelhar-me a qualquer animal da Terra.
Talvez porque jamais gestei um coração, ou uma interioridade - versões compactas para presumir a Vida - estou em apuros; como invadir um leão sem que me identifique, sem que eu explique e sem que eu me mostre.
Seu espelho, ao contrário do costume e culto, é a entrada mais vigiada, a entrada principal.

Por que será? O invasor, do coração, vai roubar a adoração, do leão, ou sua tristeza? Por que não todos os animais podem ser o "Rei"?

Ah, a força!!! A disciplina!!! O poder!!!

Nada mais óbvio, portanto, que, na imagem de outro leão, serei combatido até a morte; e isso não quero (mas, então, que seja pelo menos por gentileza, e não me confundam com hospedeiro; o ócio e o crime também são disciplinas, porém que se aprende somente na rua; só na rua?, rss, acredito).

E eu posso, como pensam as pessoas, não ter coração, interioridade, sensibilidade, amor, ou seja lá que inferno de apenas nomes!, que usem para legitimar preconceituosidades, rss, se não sou assim tão bobo, também não sou assim tão imbatível.

Seu espelho, seu outro abstrato, jamais, porque, embora não sendo assim feliz, como leão, sua tal felicidade só quero estudar, e se rolar de somar, firmeza, e o resultado for par, paciência, será o nome de nosso amor.

Ou, se for ímpar... sem palavras.

Seria muito deselegante para mim apenas caracterizar a felicidade do leão como esquisofrênica/monstruosa, e todas as variantes deste conceito legalmente suspeito, e partir para outros estudos; assim como faz leoas e inferiores em força.

Eu quero viver seu coração para realmente saber como consegue ser feliz, enquanto seus pares só sobrevivem se absorverem tal imagem de rei da selva.
Quero poder separar o joio do trigo, mesmo que me submeta a procurar uma agulha num palheiro, sem incendiá-lo, é claro.
E se eu simplesmente tomar de um imã, estarei incorrendo ao erro e abuso de uma máquina, assim como exemplo é a televisão, tão facilmente confundida com a realidade do leão.

E, também, perderei definitivamente a simpatia e participação sutil e significativa das pessoas ímpares.

Jamais vou mentir, enquanto omitir é uma festa; sei controlar o meu entorpecimento e não aceito, rss, apenas dois minutos de ódio.

Que a axiologia, com seu sorriso excitante, me perdoe!



Um contra todos, quem sou eu? Bastardo? Inglório?
- Sou Alemão?
- Não.
- Sou um americano?
- Não.
- Espere um minuto, ele seria..
- Obviamente, ele não nasceu na América.
- Então... Eu visitei a América?
- Sim.
- Essa visita... foi casual?
- Não para você.
- Minha terra natal... poderia ser chamada de exótica?
- Sim.
- Isso pode indicar uma selva ou o Extremo Oriente.
Descartarei meu primeiro instinto e perguntarei, sou da selva?
- Sim.
- Srs., a esta altura poderiam perguntar se é real ou fictício.
Mas como é muito fácil, eu não perguntarei ainda.
Certo, minha terra natal é a selva?
Eu visitei a América, mas não planejei, entretanto, alguém planejou.
Quando fui da selva para a América, eu fui de barco?
- Sim.
- Eu fui contra minha vontade?
- Sim.
- Neste trajeto de barco eu estava acorrentado?
- Sim.
- Quando cheguei na América, fui exibido em correntes?
- Sim.
- Sou a história do negro na América?
- Não.
- Então devo ser"...
(Bastardos Inglórios, Quentin Tarantino)



Brega: romanticusão?
"Com a mesma falta de vergonha na cara eu procurava
alento no
Seu último vestígio, no território, da sua presença
Impregnando tudo tudo que
Eu não posso, nem quero, deixar que me abandone
Não posso, nem quero, deixar que me abandone

Não posso, nem quero, deixar que me abandone não
Com a mesma falta de vergonha na cara eu procurava alento no
Seu último vestígio, no território, da sua presença
Impregnando tudo tudo que
Eu não posso, nem quero, deixar que me abandone
Não posso, nem quero, deixar que me abandone

Não posso, nem quero, deixar que me abandone não
São novamente quatro horas, eu ouço lixo no futuro
No presente que tritura, as sirenes que se atrasam
Pra salvar atropelados que morreram, que fugiam
Que nasciam, que perderam, que viveram tão depressa,
Tão depressa, tão depressa
São novamente quatro horas, eu ouço lixo no futuro
No presente que tritura, as sirenes que se atrasam
Pra salvar atropelados que morreram, que fugiam
Que nasciam, que perderam, que viveram depressa,
depressa demais
A vida é doce, depressa demais.
A vida é doce, depressa demais.
A vida é doce, depressa demais.
E de repente o telefone toca e é você
Do outro lado me ligando, devolvendo minha insônia
Minhas bobagens, pra me lembrar que eu fui a coisa
mais brega
Que pousou na tua sopa.

Me perdoa daquela expressão
pré-fabricada
De tédio, tão canastrona que nunca funcionou nem
funciona
E de repente o telefone toca e é você
Do outro lado me ligando, devolvendo minha insônia
Minhas bobagens, pra me lembrar que eu fui a coisa mais brega
Que pousou na tua sopa.

Me perdoa daquela expressão
pré-fabricada
De tédio, tão canastrona que nunca funcionou nem
funciona me perdoa a vida é doce
me perdoa a vida é doce
Me perdoa, me perdoa, me perdoa

São novamente quatro horas, eu ouço lixo no futuro
No presente que tritura, as sirenes que se atrasam
Pra salvar atropelados que morreram, que fugiam
Que nasciam, que perderam, que viveram tão depressa,
Tão depressa, tão depressa

São novamente quatro horas, eu ouço lixo no futuro
No presente que tritura, as sirenes que se atrasam
Pra salvar atropelados que morreram, que fugiam
Que nasciam, que perderam, que viveram depressa,depressa demais
A vida é doce, depressa demais
A vida é doce, depressa demais..."
(A vida é doce, Lobão)

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Uma odisséia de nosso tempo


Odisséia do nosso tempo, por Marcia Tiburi
sobre o filme Aliem, de Ridley Scott

"É certo que, se buscarmos a perspectiva da outra espécie, se tentarmos pensar do ponto de vista do Alien, ele será tão heróico quanto os personagens humanos que desejam caçá-lo. Acostumados que estamos a pensar do ponto de vista da espécie, negamos o outro. O outro, no entanto, é o que sempre retorna. Dentro da espécie agimos do mesmo modo, negamos o outro tão particular quanto cada um de nós e o egoísmo acaba por revelar-se nossa prática mais atual, ao mesmo tempo que arqui-primitiva. O filme, no entanto, vem abalar esta polarização à medida que o monstro é o que estando fora de nós vem se gestar dentro de nós. É o estranho inquietante sobre o qual falou Freud e que se gera dentro de nossos lares, de nossa nave humana, é o que encontramos no meio do caminho na viagem de retorno à casa que é a grande figura ocidental da subjetividade. Alien é, por isso, a maior obra de nosso tempo tal como o foi a Odisséia na antiguidade.
O filme não moraliza o Alien, não busca qualquer humanização do monstro para forçar empatia. Mesmo assim, certa simpatia pelo monstro que surgiu em nossa cultura deve ter motivos. Talvez ela venha do fato de que os outros 7 personagens, expondo-se em sua fragilidade humana, se tornem inconscientemente antipáticos a uma cultura não quer reconhecer a si mesma. Uma cultura que perdeu toda a relação com a vida como algo a ser preservado para além da procriação e que, no entanto, vem a saber o que ela significa pelo encontro com o monstro que procria tanto quanto nós. É a valorização da vida – e da luta sem limites por ela – o que o monstro faz lembrar. O monstro não é diferente do humano, apenas sua exteriorização, uma espécie de projeção negativa. A imagem mais pura do nosso medo da morte violenta.
O filme, mostra a vida humana em sua fragilidade – o que é o sangue que a simboliza, perto do ácido procriativo do monstro? – , mas, sobretudo, em seus esvaziamento exposto naquela interioridade da qual estamos alienados e que é reencontrada como forma monstruosa. Como algo que virá nos devorar, desaparecerá com nossos corpos e os devolverá hibridizados com o ser que nasce dentro de nosso corpo oco e tão mais frágil quanto mais oco, e dele se serve como um hospedeiro.
Em momento algum os opositores de Alien, todos carentes de interioridade, de angústia e de conflito, e mergulhados tão-somente no medo e em seus próprios interesses, conseguem ser mais interessantes do que o monstro em torno do qual gira todo o enredo. Pelo menos, o monstro ainda nos desperta o desejo de conhecer, de saber, de entender o que se passa para além de nosso umbigo. Sem linguagem, o monstro chama a atenção desmedidamente em relação aos personagens humanos porque é dono de um poder de destruição jamais imaginado, assim como chamou a atenção do sistema por sua “perfeição”. Mas, além disso, Alien, como imagem do futuro é também uma mensagem a ser ouvida, mesmo que, como dizia o slogan de lançamento do filme em 1979, “seu grito não será ouvido no espaço”. Para quem gosta do filme, o monstro como interioridade reencontrada, talvez nos faça perder o sono para sempre."
Veja o texto na íntegra:

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Eu, voce e todos nós


Dedico este post a alguém que jamais me abandonaria


Um filme para alguém sem nome, ainda
ou com nome, que não precisa dizer
e também não precisa dizer
que jamais me abandonaria


Não por gentileza, não por favor, apenas por participação, não somente no blog, na minha vida, não leia antes qualquer crítica.


Porém, eu jamais ignoraria os efeitos nefastos de uma alienação, mesmo que fosse sustentável. Então, colei um trecho da melhor crítica que encontrei, e espero que sequer atrase sua curiosidade.


Não por gentileza, não por favor, apenas por participação, não somente no blog, na minha vida, deixe um comentário.


"Podemos escolher uma cena como a mais exemplar: a do encontro de dois personagens num banco de praça (não convém dizer quais, sob risco da leitura por alguém que ainda não viu o filme).

Nela, se concentram todas as possibilidades de July errar na mão: a junção de linhas narrativas que até então não se cruzavam, o fechamento da trama que se referia à comunicação por internet através de um equívoco de identidade, e um encontro que se presta facilmente a um olhar que deseje ridicularizá-lo.

No entanto, a cineasta resolve a cena como faz em todos os outros casos: da maneira mais compreensiva sobre o quanto ainda há de possibilidades do encontro entre seres humanos, para além de todas as distâncias possíveis (de idade, classe social, gêneros, o que for).

O beijo que fecha esta cena, com a canção em fade in progressivo revela ainda algo mais sobre July: sua falta de vergonha de levar até o fim o seu verdadeiro romantismo.

Seu filme poderia, inclusive, facilmente ser chamado de ingênuo ou exagerado, mas ela não foge desta possibilidade nem por um momento.

Chamar seu filme de "exagerado" equivale a chamar a música de um Nick Drake ou de um Leonard Cohen de "exageradas" na sua entrega: é não perceber o domínio plenamente auto-consciente das teclas que se deseja pressionar, das cordas que se quer tocar.

E July não se exime de tocar nenhuma delas."