terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

AMOR PARA ALÉM DE VIRTUAL

Aqui não tem canais, caminho ao longo da Avenida Paulista.
Meu destino também me quer só, e neste dia, a solidão tem parte no pacto, penso no dia em que fui mais feliz.
Passa um avião.
Penso novamente no destino, algo me faz lembrar, algo que jamais se esclareceu, no dia em que foi mais feliz.
No Leblon, sem amarras, barco embriagado ao mar, leão louco, um avião, o dia que voce foi mais feliz, eu me espelhei no seu olhar até sumir.

Antes do dia em que foi mais feliz, percebi as senhas se impondo, ardor, fome, vontade, desejo, o nosso amor que nunca vai parar de rolar, sempre fugindo do fim, seguindo como um rio, e uma pedra que ainda divide o Rio, voce cantando coisas bonitas, que nosso amor nunca vai olhar para trás, desencantar, ser tema de livro.
A vida inteira voce quis um verso simples, "eu gosto dos que tem fome", rimas fáceis, calafrios, chão perdido, perdidas palavras, andar triste pela sala, perdidas horas, morrendo de vontade, secando-me de desejo, e furamos os dedos, fizemos o pacto, num segundo o teu no meu, por um segundo mais feliz.

Eu vagueio pelo mundo prestando atenção em cores, que nem sei o nome, cores de Almodóvar, batons de Frida Kahlo, os nossos gostos de todas as cores, o nosso qualquer modo de fazer valer a pena e a eterna disconfiança no bom senso.
Lembro-me na cinza das horas do "dentro da noite veloz", que derrubei o meu perfume, meu cheiro dentro do livro. Vejo seu coração disparar quando relê minha vida, então sai, caminha ao longo do canal, imaginando longas cartas, pensando que são para ninguem. Porque pela janela do quarto, qualquer janela, pelas telas, o mundo está todo enquadrado, concordo que assim o inverno no Leblon é quase glacial.

Entro no Metrô, estação Paraíso. O 'inferno' em Sampa é quase glacial. Suspiro fundo, queria sentir sua pele outra vez, seus olhos, então a procuro na multidão. Eu ando por aí e meus amigos, cadê, minha alegria, meu cansaço? Meu amor, cadê voce, eu acordei e não vi ninguém ao lado.

No dia em que fui mais feliz, eu vi um avião se espelhar no seu olhar até sumir. No dia em que o Céu reuniu-se a Terra, um instante por nós dois, pouco antes do acidente nos assombrar.

Voce foi um sonho, e continua meu sonho definitivo, no dia que fomos mais feliz, próximo à despedida do milênio, mas, de lá para cá não sei, escrevo romances, contos, poemas, posts, que são cartas para ninguem, e vivo tambem em um deserto sem saudade, sem remoso, só.

Amor, hoje tambem aguento até os modernos e suas verdades perfeitas, e respeito enfim as tiranias, as mentiras e vaidades, mas só aplaudo as rebeldias, sonhos e utopias.

Agora posso hospedar eus infratores e banidos, porque continuam com fome e morrem de vontade, secam de desejo e ardem por voce, Dri.

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Escrevi este texto ao ouvir pela primeira vez a Adriana Calcanhoto, acho que tive um insigth. E tentei remeter mas não alcansei suas mãos. Um acontecimento perdido na tristeza. E agora achado na alegria.

3 comentários:

Anônimo disse...

é um texto muito bonito. claro.

Adriana Riess Karnal disse...

belo texto!

Devir disse...

Uhm, que legal, ambas!
Não tenho qualquer informação pessoal, somente as fotos e por preferência, dado ao sinal que isto representa(exceto em casos de simulacro, cópia da cópia), a gestação de uma grande evolução(?) da História.
Enquanto a mídia(?) papagueia que esta é a era da comunicação, rss.
O que humanos entendemos sobre comunicação?
E como somos chatos se quisermos saber o que acontece, ou quando, e qual pode ser o acontecimento realmente pertinente ao Tempo que vivemos, aqueles passos que serão lembrados, a semente(jamais o
Ovo da Serpente, de Bergman, que está tão temido e chocado, simultaneamente) que serão a única razão de futuras sementes! Escuto um barulho diariamente: "blá blá blá. Que tolice!" Haja paciência.

A casa é sua, Adriana, em foto mais poderosa, e sua, Ca:, em foto que resume minhas inquietações pertinentes a este comentário.
Aqueles abraços.