domingo, 14 de fevereiro de 2010

Minhas sombras


O mais desfavorável de cair
é não ter sequer uma mão
para tocar sem motivo
e um filme se passa
antes dos olhos
tantos motivos
para nunca ter adiado essa queda

Cenas da infância, da juventude
quando batia no peito
em sinal de poder
dizendo aos quatro ventos
a perfeição não existe
ou ao final das festas
o mundo é meu, menina

Sempre gostava de afirmar o óbvio
e bradar de repente
dentro de um elevador, no ônibus
quando sentava no fundo da sala de aula
e subia ao topo de montanhas
de facão colher bananinhas ouro
derrubava aos pés da turma
meia dúzia de cachos e bradava
a terra é redonda
dá para ver lá de cima

Pegava o cacho mais servido
encostava na porta da barraca
descansava a cabeça
não falava, sorria
todos achavam muito estranho

Olhava nos olhos de uma garota
ela entrava em pânico
a distância a enganava
não sabia se estava muito longe
ou dentro, e se aproximava
eu não permitia muita conversa
em um minuto entrava na barraca
e a convidava, vem
Não me importava com os outros
sexo não é para sentir inveja
e ela nunca havia pensado assim
sem amor, sem sequer amizade
apenas questão de respeito por si

E quantas eram namoradas de amigos
na forma mais cultural impossível
rotulavam: rolou algo sublime
para esquecer como os sonhos
saíamos da barraca
voltava o tempo normal
todo o tempo da infância/juventude
quando a vida não precisa ser feita
quando a vida acontece
principalmente porque estamos com os outros

E estamos sem alteridade louca
sem o medo do dinheiro acabar
se lixando para tiranias da verdade
e ficamos excitados sem controle
e nos pegamos por detrás de vasos de orquídea
de cortinas, entre um andar e outro
e pulamos muros imensos
só escadinha de mãos...

Só, precisava esquecer a solidão
lembrei de voces

4 comentários:

Mariana Abi Asli disse...

Encontrei um amor que pensava que era para sempre (aos menos na minha imaginação era)fazíamos amor com plenitude, sem verborragias aflitas,
de tão encantada o convidei para morar comigo na minha humilde cabana de palha...
alguns dias foram se passando e um tom nostálgico começou a tomar conta de mim, a sensação de adrenalina e cinestésica meu corpo não sentia mais, só a inércia tomava conta agora,
O gosto do beijo já não tinha sabor de uva, sua pele cheirava ocre, seus olhos não passava de vistas turvas, sinuosas...
Percebi que o conto de fadas acabou...aliás eles nunca existiu , só na minha mente,
o que encontrava agora na minha frete era um homem que peidava, urinava quando tinha vontade, arrotava os degectos do almoço...
descobri que amor ideal não existe e que talvez ele nunca existiu, só sombras ficam...

bjs
Mari

Devir disse...

Perfeito, porem nada elegante, dizer em qualquer tempo o que se viu, quando se perdeu um encatamento. Isto estava (ou está?) no processo, e ainda prevejo que fara seu trabalho completo; sua soberba é o ideal, todos concordamos unanimimente.
A religião aponta como pecado, mas isso é alienação inócua. Não se preocupe, voce é jovem, apenas está mal influenciada, ao final vai ter também, como tanto deseja, um valor para sua vida.

Mariana Abi Asli disse...

a idéia era mostrar que enquanto nós seres humanos amarmos platonicamente, amaremos somente as sombras e não o corpo como "inteiridão" o amor romântico destroi a ludicidade, pouco tem haver com influência ou não... aqueles que amam assim se tornam infelizes, pois um dia a máscara da ilusão se perde, deixando aqueles que a usam perdidos...
Não procuro uma essência ou sentido, pois sei que tenho vários, sou como uma dança, e o amor é uma dança que só basta deixar ser guiada pelo rítmo pouco importanto se ele é lento, ou rápido demais, o importante é a sincronia...e uma sincronia assim hedonista, epicurista, existencial, sem platonismos...
apenas sendo feliz

bjkitas
Mari

Devir disse...

Uhmmm, que simbólico isso, quando se tem "desmedida exata" da vida e a compostura de amar para se ser amado ou não, incondicionalmente.
Criou-se, portanto, o lugar onde até o amor é questionado?
É uma saborosa surpresa!
A rara esperança ativa, quando os corpos ao perder seu esplendor, conseguem manter o encantamento.
E esta noite, acredite ou não, romântico ou não, sou vítima e fonte de tão fascinante música:

Preciso não dormir
Até se consumar
O tempo
Da gente
Preciso conduzir
Um tempo de te amar
Te amando devagar
E urgentemente
Pretendo descobrir
No último momento
Um tempo que refaz o que desfez
Que recolhe todo o sentimento
E guarda no corpo uma outra vez

Prometo te querer
Até o amor cair
Doente
Doente
Prefiro então partir
A tempo de poder
A gente se desvencilhar da gente
Depois de te perder
Te encontro, com certeza
Talvez num tempo da delicadeza
Onde não diremos nada
Nada aconteceu
Apenas seguirei, como encantado
Ao lado teu

Mariana, é isso, seja livre!!!