domingo, 28 de março de 2010

Saudade 2

Outro email, também, conforme comment do post anterior, pergunta-me como eu consigo falar para ninguém, e a resposta mais lógica é: tão somente para constatar se alguém está sendo traído, ou mesmo "doente", precisando de ajuda.
Mas a lógica só não é uma farsa completa, na natureza preconceituada ilógica, porque o preconceituoso é natural.
O que me remete direto à teologia, disciplina que se ocupa exclusivamente com a "natureza ilógica do ser humano".
Nessa antiga carruagem cabe lembrar sublimamente Eduardo Galeano, que disse: Escreveram num muro, no Uruguay, o supra sumo da teologia: A virgem tem muitos natais, mas nenhuma noite plenamente feliz.
Por que falar para ninguém? Ou filosofar no deserto? Ou, sublimar para conseguir se divorciar da tristeza impertinente?

Porque minha palavra
pesa muito
ou é muito leve
como se fosse os fatos
em tempo limitado
obrigado à imagem

E outra vez, chamo Galeano, com sua palavra, sem a carência de adictos dos nomes:
Os ninguéns: os filhos de ninguém, os donos de nada.
Os ninguéns: os nenhuns, correndo soltos, morrendo a vida, fodidos e mal pagos:
Que não são, embora sejam.
Que não falam idiomas, falam dialetos.
Que não praticam religiões, praticam supertições.
Que não fazem arte, fazem artesanato.
Que não são seres humanos, são recursos humanos.
Que não têm cultura, têm folclore.
Que não têm cara, têm braços.
Que não têm nome, têm número.
Que não aparecem na história universal, aparecem nas páginas policiais da imprensa local.

Os ninguéns, que custam menos do que a bala que os mata.

Para nós, traídos, doentes e lógicos, únicos que ainda se esforçam para realizar o mínimo para sustentar a natureza humana.
Todos nós que ainda perguntamos 'por quê', antes de assumir simulacros de "tristezas" com o intuito de encobrir a covardia "naturalizada" pelos costumes; simulacro da irracionalidade do forte contra o fraco; verdadeiras bestas do apocalipse.

5 comentários:

Mariana Abi Asli disse...

entorpecidos...eis que os alheios são, guardados em sonos profundos...
será que um dia acorda??

Mariana Abi Asli disse...

Você não pode ver alguém se matando sem fazer nada. Se alguém tiver uma faca e quer se matar. Você vai fazer nada para detê-lo. Droga é a mesma coisa. É apenas um processo mais longo...

Devir disse...

Sim, os suicidas, se não são pessoas traídas, são pessoas doentes, e para todos, traídos ou doentes, o mundo ficou pequeno; perdeu-se muito ou na matéria(relações corpo/objeto em geral), ou no espírito (afeto/linguagem[imagem]).

Não existe tal estatística, mas se verificasse profundamente a questão preconceito/exclusão social, caso a caso, a maior percentagem dos assassinos, se não os fossem, teriam as mesmas chances de serem suicidas.
Obviamente, em ambos, a questão moral está cimentada apenas no ato.

É QUASE COMO DIZER QUE TODO SUICIDA É UM ASSASSINO FRUSTRADO, OU DIZER, PARADOXALMENTE, QUE TODO ASSASSINO É UM SUICIDA COVARDE.

Socorrer ou não socorrer a vítima que vai morrer, já que a que vai matar, no ato, nunca espera ajuda?
Depois do ato, como legitimar plenamente como vítima aquele que matou?

Em casos de processos mais longos, tanto nos suicidas quanto nos assassinos, acresce-se muito mais perguntas, mas vou citar somente uma, pertinente ao seu comment, na droga, por exemplo, como identificar o potencial suicida ou assassino?

Respostas, respostas
por que não as existem
seria porque ninguém
acorda com perguntas?

Quer que eu responda??

Mariana Abi Asli disse...

Pessoas comentem crimes hediondos sem consciência daquilo que estão fazendo de fato, sua ação é apenas impulsividade animal que germe do "humano", ou seja já estão sob efeitos de alucinógenos sem antes de tomá-los, cheirá-los, ....
mas o pior não é isso, rs é a alucinação que a midia ocasiona,entorpecendo mais ainda em poder de alavancar a audiência, o ibope é mais importante, o lucro fala mais alto, passando-se por todos os outros... entorpecidos ficam os sentidos, humanos?, será é que já foram algum dia??

Devir disse...

Bingo!!!
Atualmente o crack é o top da demonização do demonio, e, mais uma vez, o ciúmes é a sombra redentora, a demonização de Deus.
As "escolhas" reptilmente são colocadas na doce maçã, no "gênesis" da convivência.
Obviamente uma suposta 3ª escolha é possível, com bons castigos - discutir os nomes das "vacas" às escondidas, apontar o dono da cobra e chutar os amados cachorros - reservados para os "audazes" bem aventurados "com" liberdade.

"Que fáuna, em meu!?!" (Faustão)