domingo, 24 de maio de 2009

Enquanto rezo, voce assopra minha ferida



"Antes dos filósofos perderem a crença em entidades sobrenaturais devido ao longo processo de secularização que levou ao modo de se viver no ocidente sempre a crer em ciência e tecnologia, o dito demônio era considerado a causa da dispersão na leitura, da insatisfação no convívio dentro do mosteiro, do rancor, do torpor, da vontade de morrer, das fantasias de catástrofe, da preguiça, da indolência, e também da culpa por viver no mesmo lugar sem capacidade de agir e ajudar os outros, ao mesmo tempo que responsável por uma crítica geral a tudo a todos que o cercavam em sua experiência monacal. Era o misto de maldade com desespero, de amor com ódio, de autocrítica com crítica dos outros que caracterizava o quadro melancólico que tanto fazia com que o monge se sentisse um inútil, quanto fazia com que ele se tornasse um escritor, um artista envolvido em ilustrar os livros, um filósofo em busca das verdades próximas ou distantes."

Há momentos que o excesso de ambiguidade forma lapa em qualquer praia ou, por que não?, em todos os continentes e nos oceanos. E se festejam, reclamam e se reclamam, se rendem a Macunaíma e se fingem esquecer o Zé, tanto o Ninguem quanto o Do Caixão.

Impávido pavío, nem dois palitos de demora para um julgamento. Enterra-se amor, afoga-se amizade e sucumbi-se identidade. Pávido parvo.

Sem técnica ou divindade, os modelos se agrupam em vitrines.

Por favor, sejam rídiculos sentimentais, salvem as baleias dialéticas incorrigíveis, as crianças abandonadas ao único prazer de jogar pedras e o pouco do planeta restante na internet.

Salve, salve, Brasil, ó mátria amada, não é uma puta que me pariu.

O último grande cínico da História, Jean Jacques Rousseau (1712-1778), teve quase igual destino de Joana D'Arc.

Não é curioso, sentidos semelhantes, métodos opostos, caminhos paralelos e (quase) o mesmo trágico final.

E ambos foram acusados de atacarem os ingleses! (quem não assistiu O Caminhos dos Ingleses?)

Mas, não está nos registros, com certeza, ela tambem era muito cínica.

Enfim, quem é mais cínico, aquele que fere ou aquele que assopra ou aquele que reza?

8 comentários:

Paula Freitas disse...

seus comentários são maravilhosamente bem escritos e estonteantes. gostas de saramago?

Paula Freitas disse...

mais cínico é o que presta atenção, percebe compreende e prevê. e um dedo sadio não move pra estabelecer mudança.

Paula Freitas disse...

custe o que custar. assisti hoje. será que interação social do indivíduo com o mundo no qual está inserido se fecha e se encerra, também, num preço? já que agora só o que há é o abandono intelectual de nossos pequenos fetos de gente em frente a cada vez mais enormes telas 'lsd' de tevê? eu sei lá mais o que se pode saber se é que eu não pago mais até pra isso. outro dia, quando a lilian wite fibe ainda apresentava o roda viva, e eu gostava mais, em particular, um filósofo marxista lá disse que a atual crise financeira nasceu como uma crise dos direitos intelectuais. eu não vou deixar que roubem o cérebro do meu filho, se um dia eu o tiver. abraços e boa noite.

Devir disse...

Paula, sua forma de chegar continua tão estonteante quanto um simples oi, virtual, mas que pude ouvir e ainda ecoa neste quarto sempre desarrumado.

Em post anterior fiz menção a este Deus dedo que aponta, talvez apenas como resposta para quem, pelo menos, perguntar 'o que podemos fazer?'

O cinismo já foi, tempos passados, nada pejorativo. Quando significava somente não se atolar tambem na rotina entorpecida do mundo, por exemplo, nos grandes supermercados, concentrações de lojas, shows, futebol, etc., para que houvesse alguem, o cínico, pelo menos, cuidando da situação, atento ao sentido, ao caminho daquela massa de pessoas.
Aqueles se colocavam em atitude cínica por prazer, talvez algo semelhante ou a própria inveja das pessoas, passou a pejorar como um preço à pagar. E o que é um pejorativo, em conceito, senão uma forma de roubar uma atitude, enfim o cérebro de alguem! Se uma atitude, até mesmo uma idéia, fere o pudor de outra, basta perguntar: porque tal pudor se interpoz àquela tal situação? Não importa a razão ou elegância do pudorado, em conceito, na essência, interrompeu-se um diálogo, apagou~se uma luz e se desfez uma visibilidade.

Sobre mantermos comunicação virtual instântanea tenho algumas reservas, depois de estudar bem em experiências, não creio ser um boa idéia, porque dificilmente poderemos criar uma amizade verdadeira. O meio on line só é útil e agradável quando já existe tal amizade. Não gosto de dever ao Outro e nem a mim mesmo.

Eu já tenho um filho, está na foto, sou capaz de matar ou morrer para que não roubem seu cérebro.

Quando conhecemos alguem interessante, desejos querem acelerar um processo comum, a busca de felicidade plena, quase sempre atropelando os critérios das circunstâncias, que são cada qual únicas.

Aprecio tudo isso.

Beijo

Paula Freitas disse...

ah, então, eu uso a internet pra estabelecer contatos literários que algum dia por acaso das circunstâncias eu possa vir a conhecer. ou não. e se não, pelo menos já fiz a minha parte e expus minhas ideias, tentando ouvir as dos outros e/ou agregá-las às minhas ou agregar algo ao pensamento de alguém. namastês.

Devir disse...

Exatamente, namaste, hoje e amanhã, e quem dera fossêmos pacientes para não temer o Tempo.
A cezar o que é de cezar!
O corpo faz o que a cabeça não pode, gestos, movimentos e temperatura, a prova mais cabal dos sentimentos, e especialmente dos desejos.
Se pertinente, a cabeça pode relaxar e, sustentar o corpo, evitando um declínio do interesse; se este for além do "obscuro objeto do desejo".

bat_thrash disse...

Os opostos não são realidades diferentes, mas aspectos diferentes de uma mesma realidade.

A cisão está, não na realidade, mas em nosso intelecto que a capta.

Portanto, só ao transcender a oposição, estaremos, finalmente, entrando em contato com a realidade tal qual ela é.

As diferenças são ilusões. Tudo é Uno e faz parte do mesmo Universo.

Devir disse...

"São dois prá lá
dois prá cá" no mesmo lugar.
Sem qualquer messianismo típico do
Grande Irmão.

Grande beijo, Bat