domingo, 31 de maio de 2009

Para falar das flores



"O belo é o começo do terrível que todavia podemos suportar." Rilke


Lembrando a imagem do martelo, tão cara ao meu amigo, apesar de que ainda, virtual, Luciano, volto novamente ao meu amor eterno pela filosofia, revelando outro filosofo, Eugênio Trías. É óbvio que o meu processo de marteladas não é tão simples, assim como bater na cabeça de um prego, porque se assim fosse a metáfora não seria de bom senso, seria apenas um trivial senso comum. A diferença reside não tão somente em pregar "uma coisa" em um determinado lugar ou propósito, mas quase no processo inverso: despregar "as coisas". E talvez isso seja o motivo da escolha, se acaso o amor admitisse minha intermediação, da filosofia para tal empresa, porque preciso levar em consideração, deixando de lado a metafora, que pessoas não são coisas, que elas sim precisam fazer suas escolhas do lugar e propósitos para viverem suas próprias vidas, sem as quais jamais se sentiriam realizadas, livres e felizes. Portanto, e finalmente encerrando esta enfadonha justificação, jamais pretendi ou pretendo conquistar pessoas ou territórios atravez de qualquer espécie de violência; mesmo que seja ela a mais requintada persuasão.

Uma inesquecível menina, há muito tempo, de Biriguí, SP, com apenas 13 anos, disse certa madruga insone, em uma sala de bate papo on line!!!: "Eu me confundo, não sei se voce é filósofo ou poeta". Fiquei espantado, logo tive medo, logo me afastei, porque todas as divindades, como suas testemunhas, vão, feito uma "vertente", alimentar as fogueiras. Inseri esta recordação apenas para ilustrar um exemplo dramático das escolhas, o livre arbítrio; critério moral universal.

Retornando ao objetivo intrínseco deste post, apresentar outro valioso filósofo:

"Através do gozoso sentimento do sublime o infinito se faz finito, a idéia se faz carne, o dualismo entre razão e sensibilidade, moralidade e instinto, número e fenômeno findam superados em uma síntese unitária. O homem "toca" aquilo que o sobre passa e espanta (o incomensurável), o divino se faz presente e patente, através do sujeito humano, da natureza; fazendo com que o destino do homem na terra resulte numa situação privilegiada, vez que manifesto.

Porém essa viagem, através da selva obscura, não está livre de perigos e inquietudes. E o caráter tenebroso dessa divindade oculta, somente manifestada através daquilo que nos arrebata por instantes do cárcere de nossa limitação, fará perguntar a poetas e pensadores sobre a identidade desta divindade da qual tão só percebemos sensivelmente alguns véus. Divindade atormentada e em luta e contradição consigo mesma, como a conceberam Hegel, Schopenhauer e o jovem Nietzsche, ainda que dentro de distintos pontos de vista. Será Deus ou será Satã quem através dessa viagem iniciática que a poesia e a arte realizam se revela?"

Logo após a fuga necessária para não ser queimado vivo, a moral se sobrepondo ao prazer, refleti sobre as palavras daquela menina: O sublime pode estar em tudo, desde que haja luz, consequentemente, sempre vai haver sua sombra: o sinistro, o estranho e o, de antemão, imoral.

Agradeçimento total ao texto de Maria Fernada Diniz, Psicanalista. Espaço Moebius, Bahia. Trabalho apresentado na XVIII Jornada do CPB, em 14 de outubro de 2006


Um comentário:

Luciano Fraga disse...

Caro Devir,tudo está implícito, de forma cristalina ou cristalizada e sua força consiste na capacidade de movimentação de cada um ("despregar"), indo de encontro, num verdadeira busca.Assim seus textos , poesias e comentários jamais fogem de um contexto filósofico, evocando valores, por vezes adormecidos por baixo dos tapetes e que fariam dançar qualquer carne no braseiro das fogueiras da moral, mesmo as carnes de segunda.Grato pelas dicas, grande abraço.