sexta-feira, 26 de junho de 2009

Virtualidade absoluta ou realidade relativa?



"A escritura metódica distrai-me da presente condição dos homens. A certeza de que tudo está escrito nos anula ou nos fantasmagoriza. Conheço distritos em que os jovens se ajoelham diante dos livros e beijam selvagemente as páginas, mas não sabem decifrar uma só letra. As epidemias, as discórdias heréticas, as peregrinações que degeneram inevitavelmente em bandoleirismo, dizimaram a povoação. Acredito ter mencionado os suicídios, mais frequentes a cada ano. Talvez a velhice e o medo enganem-me, mas suspeito que a espécie humana - a única - está por extinguir-se e que a Biblioteca permanecerá: iluminada, solitária, infinita, perfeitamente imóvel, armada de volumes preciosos, inútil, incorruptível, secreta." (A Biblioteca de Babel, Jorge Luis Borges)



Realmente, podemos pirar, ao pensar sobre certas coisas. E nem sequer ousamos pensar exatamente sobre essa piração. Logo viriam tantas interrogações que, logo também estas perguntas infinitas seriam outra piração, antes daquela, e assim estariamos vivendo uma eterna piração, neste movimento de retorno, até chegar em uma origem de tudo, da piração enfim de estarmos aqui, como sujeitos da vida, sem jamais sabermos por quê, para quê e para onde.
Mas porque nada, nem mesmo a piração, deve existir sem dor ou prazer, ou, como é comum também, ambas concomitantemente, podemos pensar tão somente a razão destas sensações em ato de viver. E, ao invez de as pensarmos então separadas, pensaremos no por quê, para quê e para onde, da sensação inexorável do ato de viver, que tanto pode ser dolorosa ou prazerosa.
Para isso, precisaremos de um desvio literário, porque o ato subentende 'em experiência'. Então a convido à partir de agora, sabendo sempre que são inúmeros os convites, dada a sua beleza e (talvez) sua disponibilidade virtual. Vem comigo.


Segure na minha mão, ou pise apenas aonde eu pisar. As flores não são como nós, não podemos pisá-las nem mesmo descalços. Claro que em uma segunda passagem, voce vai poder saber aonde pisar, sem maltratar a vegetação em geral, sem sofrer com espinhos e venenos porque tudo, não só os vegetais, possui mecanismos de defesa. Cuidado tambem com pontas de pedras e pontos escorregadiços, mas acima de tudo, todo caminho está repleto de seres racionais e irracionais, vivos e mortos, que se puderem vão interferir em sua decisão baseada no livre arbítrio. Embora eu sempre duvidei dessa possibilidade racional.
Mas, perdoe-me por interrompê-lo...
Não, não existe jamais interrupção, não esqueça disso, tudo fará parte do caminho.
Eu que adorava ver tudo da minha varanda - estou meio preocupada com esta viagem - onde até podia fechar meus olhos, mas então, agora, como vou enxergar tantos perigos?
Primeiro, voce pode até, ainda, se sentir confortavelmente em sua varanda, então fechar os olhos tranquilamente, tudo neste caminho é relativo e a relatividade de tudo cria os poucos absolutos que estão fora. Eu voce, flores espinhos, pedras quedas, razão emoção, vida morte, são exemplos da relatividade neste caminho.
Então os perigos tambem são relativos?
Exatamente.
Dê um exemplo de absoluto, de algo que não é relativo ao caminho, e aproveitando o momento, o que é o caminho?
Voce me pegou.
Voce não sabe dizer?
É um exemplo.
Puta que o pariu... perdão, não costumo falar palavrões, voce está enrolando, isso é persuasão e toda persuasão tem um propósito, qual é o seu?
Responder a sua pergunta.
Qual pergunta?
Qual é o meu propósito?
Puta que o pariu, puta que o pariu, puta que o pariu.
Todo mundo trata a verdade como relativa, porém ela é absoluta. Os infinitos pontos de vistas sobre Verdade jamais serão a prova de sua relatividade, apenas que todo ponto de vista jamais será absoluto.
Meu amigo me disse que estas são questões primárias, oriundas da infância. Voce concorda?
Tenho vários pontos de vistas, e, se eu tivesse mais tempo, teria uma série infinita de pontos de vistas concordantes e discordantes.
Por quê voce é assim? Assado, rss.
Por quê voce é maravilhosa?
Eu sou maravilhosa? Não, não, faça de conta que não lhe perguntei isso, eu sei que voce vai perguntar: eu sou assim assado?
Voce é maravilhosa por estar aqui.
Aonde? Rss, perdão, já estou fazendo graça, culpa sua, não devia encher a minha bola, e tambem acho que estou gostando, acho que tambem quero ficar assada, rss.
Antes, confesso, eu tinha séria dificuldade de lidar com a relatividade do caminho.
Como assim?
Estava o tempo todo proecupado com os perigos, e demorei muito para sacar que os perigos não são verdade.
Opa, voce acabou de dizer que verdade é absoluta, portanto nunca é plural, e o que acabou de dizer se parece mais com um ponto de vista seu, certo? Como poderei atestar que seu ponto de vista, ou o meu, ou de quem que se expresse, seja ou não verdade?
Para isso que voce está no caminho. Para aprender uma experência universal, antes das triviais, onde voce não pode escolher qual a razão da sensação de viver. Voce pula a primeira etapa fundamental, ou pulou e esqueceu, e nunca aprendeu ou desaprendeu a pensar naquele momento.
Que tal, fazermos uma pausa, vou ensaiar I believe, do Triunvirat, apesar deste meu corpão todo, e cantar para voce em um dia muito especial?

2 comentários:

Luciano Fraga disse...

Caro amigo, que bela relíquia alemã(Trimvirat-adoro som dos caras) fostes buscar para fechar este belo texto inquisidor.Será preciso localizar uma balança de extrema precisão para tentar equilibrar o relativo/absoluto/verdade em seu pratos, embora saiba que esta equidade dura pouquíssimo tempo, pois a fogueira das vaidades humanas sobrepõem-se.Excelente mesmo, grande abraço.

Devir disse...

Seu comment é tão certo que merece o suficiente em palavras: Grande.

Abraço, Mestre