quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Da suavidade espontânea


Da grosseria espontânea
Mantendo a minha curta e tensa grosseria
de escrever errado e pouco por linhas certas
pisando em ovos depois do fio da naválha
evoluindo, rss, deixo aqui para pensar e agir
uma das obras prima de Chico Buarque.

A Flor da Terra
O que será que será
Que andam suspirando pelas alcovas
Que andam sussurrando em versos e trovas
Que andam combinando no breu das tocas
Que anda nas cabeças, anda nas bocas
Que andam acendendo velas nos becos
Que estão falando alto pelos botecos
Que gritam nos mercados, que com certeza
Está na natureza, será que será
O que não tem certeza nem nunca terá
O que não tem conserto nem nunca terá
O que não tem tamanho
O que será que será
Que vive nas idéias desses amantes
Que cantam os poetas mais delirantes
Que juram os profetas embriagados
Que está na romaria dos mutilados
Que está na fantasia dos infelizes
Que está no dia-a-dia das meretrizes
No plano dos bandidos, dos desvalidos
Em todos os sentidos, será que será
O que não tem decência nem nunca terá
O que não tem censura nem nunca terá
O que não faz sentido
O que será que será
Que todos os avisos não vão evitar
Porque todos os risos vão desafiar
Porque todos os sinos irão repicar
Porque todos os hinos irão consagrar
E todos os meninos vão desembestar
E todos os destinos irão se encontrar
E o mesmo Padre Eterno que nunca foi lá
Olhando aquele inferno, vai abençoar
O que não tem governo nem nunca terá
O que não tem vergonha nem nunca terá
O que não tem juízo

Da suavidade espontânea
Quando se exerce um trabalho de competência espontânea, não sobra tempo para contar ou fazer poesia, apenas. Não entra nas pesquisas de stress, mas é tão claro que todo mundo ressente deste efeito da eternidade. Aqui na companhia, entre um jato e outro, cada piloto encontra seu bate papo do momento.
O eleito está tentando implantar uma idéia que cansou de ouvir, nem uma única vez prestou a atenção, e que apareceu enfim de repente para ele em uma das manhãs de setembro. Durante seu ritual sagrado, passar branquinho nos dentes e sutil purpurina nos olhos, enquanto recordava seus sonhos de 1001 maneiras de arrecadar impostos. Abriu levemente a porta, gritou a Laurinda, minha negra gorda predileta, não riam, é sério, não faz mal ao coração - ela me contou esta estória.
- O celular, rápido.
- Vai ligar para quem, Meu rei?
- Não é da sua conta, Lauzinha querida.
É óbvio que a gargalhada é geral. Remo faz gestos de preconceito, matando a graça. Carlito vai até a ponta, olha para baixo, 60 metros, volta branco e sorrindo.
- Um executivo, deixei-o no Behine, confessou que nunca mais parte para o rio atravez de Congonhas. Tem um lap barulhento, qualquer hora vou acionar a lei do Raquer.
- Quem é o cara?
- Não uso os nomes.
- Mas usa cueca, certo?
- Quer cheirar?
- Estou de serviço.
A gargalhada geral. Tem dias que não podemos sequer se comprimentar. Final de semana, dobra o turno. Gosto de buscar em casa os passageiros, aterrissar no jardim, normalmente desligo o som por último, sempre Paint in black (Live 1), Rem. Já virei o foco da gozação, todos pensam que sou gay, vai vendo. O Borges pensa que isto é doença, já até me pediu para fazer um teste, o de HIV já fiz e mostrei o resultado negativo; 50% acha que o exame é falso. Ele não sabe explicar portanto que tipo de teste eu deveria fazer. Coisas semelhantes vivem acontecendo o tempo todo. Aprendi a confortar essa gente. Qualquer dia eu conto como é quando insistem em afirmar que sou esquisofrênico, então contam, os cultos, com uma vasta bibliográfia, mas sempre chegam a se perguntar: como saber se também não sou a mesma coisa? Estas pessoas felizes cercadas por arames farpados, virtuais, é claro, mesmo se eu explicar, não vão entender o que seja a potencialidade do devir louco.
- Túlio, voce precisa ter certeza absoluta que voce não é viado.
- Sim, claro, é possível, tudo de alguma forma é possível, mas, Borges, qual é o teste?
- E eu que vou saber?
- Pois é, zé, esta é a razão dos filhos de uma puta verdadeiros.
- O quê?
Mas a vida não é nem menos nem mais para ninguem. Isso é quase um mantra. Dia quatro de setembro, o tempo virando, final de semana prolongado, pagando 70 horas de folgas adiantadas, pensando no dia dos Finados, fui buscar uma família em uma mansão no meio do mato, aterrissei na frente da casa - não desliguei o som - ao lado da piscina lotada de jovens. O proprietário alugou a casa para filmagens de um desfile promocional chic. Uma chuva forte precipitou antes mesmo do céu escurecer por completo, todos correram para dentro da casa, nada e ninguém apareceu, talvez foi um trote em que a companhia caiu. Então um raio atingiu a piscina e a nave. Levaram-me para dentro da casa. Dormi no sofá da sala de televisão. Acordei só de manhã e da casa só havia a proprietária. Chamei o socorro da nave depois de 4 dias.
- Não disse, com voce só acontece coisas de viado, voce, pelo menos, descobriu o que fazia alí, mas recebeu seu castigo? O que voce pretende com esta sorte, Túlio?
- Uhm, acima de tudo, bucetas, bem depois a satisfação do consumidor, e muito depois ainda me vangloriar pelos meus atributos, pelo meu papel dramático... Tudo a sua ordem. Naquele dia, acordei no hospital, voces lembram ainda?
- Claro, todo mundo se lembra, à boca pequena o médico disse que voce tomou todas.
É uma esculhambação geral. As pessoas se entregaram a um prazer meio virtual, meio real. Não existem mais opostos, boca grande versus boca pequena, e quando há, os oponentes a não se brigar, rss, viram a cara, ou se tornam indiferentes, ou traidores, etc.; quase que seria uma suavidade educada, para não dizer imposta.
Meu sobrinho diante da tv, por exemplo, assistindo um programa de auditório, no domingo, um cantor se esforçando à frente, as mulheres dançando ao fundo, de vez em quando algum innocent closer e ele faz um movimento reflexo no sofá, a situação real se transforma em um controle remoto, mantenho a paciência, aguardo a ebulição dos fatos, de repente ele também tem um controle remoto, então salta, saltita, prá lá, prá cá, e se diverte controlando tudo o que quer ver, então foca um quadril espetacular (realmente, até eu senti um comichão na costela direita), então ele fica paralisado, tchannnn, feito desenho animado. Ele só tem 15 anos, merece minha compaixão, então essa piada não valeu, apaga; como dizia o velho sábio, Chacrinha: roda roda roda.
- Deve cascar a banana quando fica sozinho.
- Sempre voce, Remo, para exagerar nos seus requalques e competir para chamar a atenção.
- E, voce, Túlio, é um chato do caralho, eu, qualquer dia, jogo voce daqui de cima. Qualqueé, voce é ou não é maloqueiro?
- Outro exagero. Voce ignora sua real capacidade, é o melhor piloto, almoça com o Datena, só nas loiras, e fica aí dando essa bandeira toda.
- Quê, bandeira? E voce, Túlio, virou o pioto preferido do cara, tirou até a barba.
- Nos velhos tempos, às vezes, até pedia clemência aDeus.
Existem medicamentos de tarja preta, mesmos os mais suaves, e geralmente quem os toma, mistura imaginação com fatos, ficção com realidade, conseguem até duvidar se realmente existem verdades e mentiras. As próprias companhias farmaceuticas alertam e muitas vezes previnem, adicionando na fórmula qualquer substância inibidora ou censora das imagens que se passam no cérebro. Só eu sei, quem, entre nós, faz uso destes remédios. O Marques é um deles, rebaixado do cargo de piloto, opera o radar, somente sobre a área metropolitana, e se eu fosse contar os apuros que passamos com ele, daria para escrever um livro.
- Capitão, por favor, o senhor sabe por que o Marques não veio hoje?
- Sei lá, Túlio, talvez confundiu seu dia de folga. Por que voce se interessa por tudo, e por todo mundo?
- Acho que enfim, Capitão, resolvi acreditar que a vida é breve.
- Por que voce não tem espôsa, namorada, nem nada, eu sei, mesmo sem participar de suas fofócas, que as pessoas aqui dizem e falam e contam coisas de voce, para mim não importa a verdade, acho que todo mundo é capaz de desempenhar seu trabalho, entendo assim, não sou contra nem à favor, tudo é permetido, desde que seja aceito pela sociedade, não ofenda os bons costumes e não ponha em risco a vida de ninguém, voce me entende?
- Com certeza, ninguém merece, ninguém pode ser contra essas coisas que todos são obrigados a participar.
- Mas não é assim que se fala, aceita meu conselho, jamais fale assim, como se fosse derrotado.
- Derrotado?
- Sim, Túlio, porque ninguém é obrigado a nada, e quem chora isso, ou é derrotado ou é viadinho, que se parecem muito, mas não são a mesma coisa, conheço gente muito vitoriosa que não é um derrotado, voce me entende?
- Claro, Capitão. Jamais poderia discordar do senhor.
- Muito bem, piloto, a aeronáutica me ensinou muita coisa, ensinou que a suavidade deve ser espontânea.
Foi ensinando que devemos pilotar uma nave como se fôssemos um passarinho, que o Capitão "ganhou" notoriedade, e esta única companhia de aereotaxi.

Mais ficção
Em terra de cego, que tem um olho só, faz ficção; talvez por isso sofra preconceito falso.
O mundo sempre tem o menor pavio, e a ficção é a melhor forma de retardar a explosão.
De que maneira melhor, poderíamos retardar a conquista do ser que pertence ao Outro?

Não dar toda as chances para o Outro é grosseria!
E, assim, suavemente, sem carecer da transparência de Deus, acredito que voce seja capaz.

Voce voltou e li em seu olhog - onde o sorrisinho ironico é tão somente a cereja sunday - que, na verdade, nunca foi embora.
E melhorou muito muito suas palavras e poemas.

Ficcionalmente é a prova mais cabal que continuo fazendo o bem sem olhar a quem, porque, modestia à parte, quem entra por mim e assim me deixa entrar, sofra o que sofrer, só nos desligamos para melhor.

Beijem-me se mi Poder
Mas, rss, por favor, não confundam órgão sexual com a dona - a pessoa que comporta o órgão, porque é jamais ao contrário.
A modéstia faz parte de minha inexpugnável ficção, um romance caloroso com uma máquina de hemodiálise, que nunca me deu sono ou fraqueza crônica.
Aquele abraço
Finalizando a ampliação 'desmedida' deste espaço, um segredinho da minha sabedoria sui generis, para entender o melhor possível aquela letra e poema sem palavras do Chico:
Perguntem-se por que não há pontos de interrogação?
Quem quiser mostrar-me as resposta a que chegaram, vou achar sublime, e prometo não "esculhambar".

6 comentários:

Anita Mendes disse...

devir, muito bom isso aqui!
venho te agradecer tmb pelo recadinho do meu niver... Amo-te!
Anita

Luciano Fraga disse...

Caro amigo Devir,a última do MST passou dos limites da tolerância,o problema agrário em nosso país é gravissímo, mal conduzido, não podemos aceitar a violência contra os trabalhadores do campo, em contrapartida também não podemos admitir a irracionalidade das lideranças destruindo patrimônios de pesquisa, informações técnicas que poderiam servir para eles próprios,pelo que tenho lido a grana tem rolado solta, a questão é outra, voltaremos a falar com mais profundidade sobre o assunto, abraço.

Devir disse...

Anita, está tudo bem?
Seu aniversário foi uma festa?
Ganhou um presente inusitado?

Rss, nem parece o devir!

Mas eu sei o quanto
o amor é insuperável
nas mudanças para melhor!

Aquele beijo

Devir disse...

Totalmente à favor, passaram de um limite, porém que não é o mesmo da maioria esmagante, de uma forma ou outra conivente, de esperar a reforma agrária, e creio também que todas alarmantes notícias sobre crimes, aqui em nossas cidades, estão em relação direta.

Quando civilização vai ocupar o pais num todo, em todos os brasileiros?

Ou evoluimos dos presentinhos de "espelhinhos para índios" ou
rss o [espantados?] espanto vai ser literal e hospede de cativeiros
cinco estrelas.

Tenho experiência na carne de querer ser civilizado em pátria 'nem tanto'.

Também tento não pensar que pode 'uma mistura' oportuna dos opositores com 'vendidos' à favor
possa estar bem maquiada na tela, talvez haja um interesse 'nervoso' para que o PT não faça o próximo
presidente do país.
São questões...

Quem sabe faz a hora, Mestre
'nervosismo' atrai 'nervosismo'
todo 'mormaço prolongado' gera
chuvas impacientes, tormentas...

Pense se cada setor comercial e produtor pender para um dos lados
da 'questão'...
Assustador mesmo!!!

Nem bolcheviqs nem 'bhushs',
contra tais opostos
prefiro até macunaíma!

rss, poesias horríveis de idolatria teremos nas escolas!!!

"Pendão redundante, salve salve
Brasil..."

Este assunto me revolta, Luciano

Abraço

Devir disse...

Amo-te também

Abraça

Cristiane Felipe disse...

Olha, o negócio por aqui tá bom mesmo!

Obriagada pelas palavras sempre embelezadas.