quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Das novas mesmas roupas



Após assistir ao episódio de Tudo que é sólido... na Cultura, liguei o computador e me senti jovem para escrever.
Hoje o seriado nos ensinou o eixo central do pensamento de Mário de Andrade.

Só mesmo de "brincadeira", acordar todo dia para ser Preto Puto Pobre.
Na linguagem da juventude, filho da puta, não importa o tamanho.
Não li Macunaíma, preferi A História Natural do Céu, de Kant.

Quero finalizar meu pensamento sobre a saudade, que tinha o objetivo de ser pensamento universal, mas se transformou em presunção. Derreteu no ar, quase antes de ser pronunciada, a palavra nem se tornou silêncio, nem linguagem alguma, para ouvidos moucos.

Antes fosse poucos; ainda não sei.

Matar a saudade, o passado
foi a linguagem espúria do recalque

Matar a coragem, o presente
é a linguagem superflua da ansiedade

Matar o reconhecimento, o futuro
será a linguagem detergente da solidão

Não é preciso ter diploma ou sabedoria psicológica, não é preciso sequer ter nome, para escapar da alienação da rotina.

Mais do mesmo

No rádio: give me a reason to love you

O que vai na bolsa de uma mulher
quando sabe que pelo menos ali
deve lembrar sua liberdade? O que
vai no bolso de um homem quando
sabe que pelo menos ali deve ter
o lastro ouro de sua coragem?

Aonde, ou em quê e em quem encontrar sabedoria?

Lud Mill tomava sua cerveja com a mesma cara enfadonha da garrafa sem o rótulo. O líquido não ficaria parado eternamente se ele não o colocasse em movimento. Como deveria então se sentir melhor se não atuasse em nada ao movimento natural da coisa, das coisas, da coisa criada por outra coisa, e essa sim - balança negativamente a cabeça - a coisa primeira de tudo.
- Que coisa, mané? Isso é realmente um caso perdido. Ludimila, senta sua bunda enorme na cadeira.
- Ow, tudo bem? Qual é o produto de hoje da sua soma maluca?
- Que soma, Lud Mill?
Lud Mill agora se via na parede do fundo do bar, aos seus pés a minha coleção de garrafas da última volta ao mundo, outro seriado da WWW. Ludimila sempre passa para 'tentar' incendiar o bar. Neste instante, a intensidade do pensamento extrapola o nível de conhecimento da Solares, então outra vez, pira, sentada desde manhã ao canto, uma bola se joga espontânea da mesa de bilhar, sutil rajada de vento entra pela janela fechada. Reconheço essa sincronia, até advinho, uma brusca freiada de pneus, chuva forte repentina, o rádio desaparece. Aconteceu sequência semelhante, lembro, em Porto de Galinhas.
- Tá dentro do time, Lud Millsssss? Ou só ocupando espaço? Lumila pega meu copo e mata, olha a garrafa vasia, sorri.
- Não temos tempo de transar, a porta vai se abrir, não olhe para trás. Não adianta, voce tambem é o meu caso perdido. O quê vê?
- UUUUalsssss... Sussurrando. De que planeta saiu essa coisa? Voce está armado, Lud? Diz, voce está armado?
- Preste atenção, o Mantra deu sinal para o velho bêbado.
- Pára com isso, Lud, voce e essas manias, não está acontecendo nada.
- Vou cagar. Já volto.
Ludimila é um caso raro de elegância e loucura, diz não para tudo sem ficar de fora. Encosto no balcão para ouvir as palavras do estrangeiro, capa de chuva do século que caçavam bruxas por porte ilegal de cura. Pequena poça de chuva se forma sob suas botas negras.
- Voce é o Mantra?
- Do que se trata?
- Sirva-me um conhaque, do pior.
O copo perfeito, de alumínio, dentro da geladeira. Lud Mill observa Ludimila acender um cigarro no outro, sobre seus caracois vermelhos um enorme bloco de fumaça. Porcel Ana parece uma executiva arquivando espectros, levanta da mesa e pede para fotografar o estrangeiro.
- Só quero aproveitar a luz do lugar, a sua presença contrasta de forma irrecusável, o senhor poderia segurar o copo?
- Sem flash. O estrangeiro saca a espada de neon, grafite.
- Ficou o máximo, pronto, muito obrigado, senhor.
Lud Mill também percebe a montagem do tempo. O rádio volta uma fração de segundo, a chuva pára, o estrangeiro bebe o conhaque e volta para o carro. O rádio volta e permanece, miles davis: freddie freeloader.
- Pecebeu? Lud mill pergunta para o Mantra. Ele aponta para a sua 12 e diz:
- Ela previu desde ontem.
- É, realmente é raro acontecer algo inusitado. O estrangeiro gosta de foto.
- A frescura é geral, Lud Mill. Não existe mais o tempo onde se ouvia o clic clac do relógio, entendeu?
- Mas o tempo não acabou.
- Claro, que não. A sequência certa agora é voce ir embora com a Ludimila, acertei?
- Rss, antes passar no Do.
- O que tem naquele bar?
- Nada real, para mim. Sabia que, talvez, ainda nossa geração poderá ver e sentir a explosão de uma supernova em nossa galaxia?
- O alvo estava estampado na cara do estrangeiro.
- Mas não foi desta vez.
- A Porcel Ana o derreteu.
- Rss, uma apetitosa casca de nóz.
- Leva por minha conta mais uma cerveja e um Marulla para a Ludimila.
- Voce é sádico, Mantra.
Solares grita:
- Mantra, outra caipirinha de maracujá com leite moça, por favor.
Lud Mill não reconhece determinados exasperos de efeito. Ludimila bebe de um gole o Marulla e enche seu copo. Rota no cantinho da boca como preliminar de orgasmo.
- O que aconteceu com o estrangeiro, eclipsou-se, rsssss ? Cagou, Lud?
- Fiquei morrendo de medo. Lembrei dos tempos quando nos proibimos de estourar champanhe de lado.
- Aí veio o Caetano, que lindo, ele estava todo colorido.
- Hoje, vejo-o de cinza azulado, sem essa de caetano.
- Diarréia?
- Eu também fiquei estrangeiro, de repente. Fico intrigado.
- Ficou? E agora, está o quê? Eu ainda não sei quem é voce, Lud Mill?
- Prefere que eu lhe responda, como nos velhos tempos, ou prefere outra bebida?
- Aquela cachacinha mineira, aquela que deixa azul. Imagine tomá-la na praia, de manhã, sem ter dormido, rsssss, sem saber como chegou alí.
- Uma aventura sem as vértebras das horas.
- Voce cismou com este filme.
- Gosto do livro.
- Sei.
- Voce está se cuidando, estudando a matéria volátil dos sonhos?
- Quase. Ontem tive prova. Fiquei aérea na oficina, as naves loucas vinham, tentavam contato, aquele contato melindroso de sempre, não conseguiam, pagavam, pensavam talvez que fazia parte da vida. Horrível. Mas detonei na prova. Passei duas colas.
- Ainda os crimes de infância?
- Só. Veja bem, a prova inteira dizia respeito ao eixo central, com certeza a galera apenas se aproximava.
- Do que voce está falando?
- Da prova, Lud, ow, voce tá viajando?
- Rss, "quase", estou tendo uma prova, meu eixo central está enrijando, rss.

Deixo meu gesto de carinho para o macunaíma nosso de cada dia: Alls Blues, Milles Davis, e vai tocar tudo de bom no walkmen porque o tempo não pára.

12 comentários:

Luciano Fraga disse...

Caro amigo Devir,o mesmo ingrediente, a mesma amarga cachaça, apenas com um rótulo indiferente, "no presente a mente o corpo é diferente",no futuro...Abraço.

Devir disse...

Grande Luciano, acho que só voce
só com voce
só por voce e
só tem que ser pra valer...

Coincidência, ontem bebi da boa
da cachaça real
e comi, não mui boa, porém real
uma xana sem sequer pelugem
peladinha

Eu pediria desculpas, numa boa
para qualquer um, para a vida, se
fosse necessário, e se não fosse
inútil, visto que, ensaio geral,
quem se desculpa ou pede ajuda,
paradoxalmente, acaba por morrer.

Eu, que sempre fui O Estúpido do Ninho, quero mudar estes ensaios.

Acredito que não é tão diferente
considerar minhas mentiras, mais
uma das californicações tolas,
ou aquele desejado pastel de feira,
A Q U I !!!!!!!!

Voce veria graça em comer toda a bacia de recheio, desde que não seja vento, do pastel?

Voce vê graça em nascer diferente, viver indiferente e morrer igual?
Eu não!

Todo amargor, estupidez e vilania é resultado de uma poupança de 49 anos,
para pagar este "no presente a mente o corpo é diferente"

"no futuro", conforme o ensaio geral, rss
só adeus pertence

ou não?

Merece um post esta questão, ok

Por que, o indivíduo, se contradiz?

Forte abraço, Caro

Marcia Barbieri disse...

"-Uma aventura sem as vértebras das horas." adorei esse diálogo, seus textos são sempre uma lição,além do raro prazer...

beijos ternos

Devir disse...

Voce me assustou, rss, explico:

"Porque hoje é sábado"

Eu acabara de assistir ao filme Um Dia Especial, na globo, liguei este aparelho, acerto no escuro uma música e deixo tocando o Media, releio bastante, faço algumas pesquisas, respondo emails da semana, olás da semana também no orkut.
Então, quebrei minha rotina dos sábados, escrevi um post... e me senti culpado, rss.
Então abro o blog e pá, voce!

Marcia, acho que não preciso mais explicar, ou aqui não é [o lugar nem o momento.

Mas para não parecer grosseiro, viaje comigo agora, com Milton Nascimento, Um Gosto de Sol.

Ternura sempre, forte abraço

Luciano Fraga disse...

Caro mestre, vir aqui é indispensável, qual a melhor parte afinal, a cahaça? a mulher?O futuro é uma bolha.Abraço.

Devir disse...

Acho que nos fizemos tal pergunta
de outra maneira, rss

Faço minha aquela sua resposta:
Ambas!
Obviamente, poucas vezes apronto e me entorpeço!

Queria esta bolha explodindo
sobre mim!!!

Adriana Godoy disse...

Devir, gostei de vir aqui e ler o que li. Beijo.

Devir disse...

Que bom!
E sinto saudade...

Beijo

tania não desista disse...

oi,devir!...por enquanto...uma admiradora silenciosa(???)!
apenas uma pausa:_sempre, me encanto com sua escrita...tão especial!...seus comentários...incríveis!
bjo
taniamariza

Luciano Fraga disse...

Caro amigo, estou com problemas na nete(um porre, ou uma p...), mas lembrei de você e passei aqui ,hoje é aniversário de nossa amiga Anita, postei algo por lá, na carona, abraço.

Devir disse...

Welcome to machine!!!

As interrogações me dizem muito, ok
e não interpreto mal, Tania

Não desista!!!, agora mais ainda

Beijo

Devir disse...

Valeu, Luciano
Claro que passo lá!!!!!

Minha net também tá foda
acho que "eles" estão entendedendo
mais que nós O Processo, rss

Já disse mais de uma vez:
sou paranóico de carteirinha
oficial/operante

Viu a "invasão" do MST e a "vasão"
das provas do ENEM?
mais parece a "revolução de¨64"
e eu nem rss presto atenção

Já pensou se Nós discutíssemos isso
e de repente aparecesse milhões de
interessados em blogar 'suavemente'?

Grande abraço