sábado, 17 de outubro de 2009

Democracia segura nas mãos


"Quem aposta em azarão é sempre suspeito".
Frase e foto colhida na internet.
Confluências na 4ª pessoa

Eu sempre fui assim, meu ex-amor impossível,
nunca consegui abandonar e
esquecer ex-amores impossíveis
no passado, presente e futuro.

E também nunca acreditei em realidades múltiplas,
do tipo que antecipamos seu conhecimento
a partir dos nomes.

Jamais aprendi a ser a terceira pessoa no indicativo
e também tenho restrições em ser segunda pessoa.

E também sempre sinto náuseas existenciais,
quando a realidade se limita ou (!) se distribui
somente nas três primeiras pessoas.

Já não me incomoda mais a divisão do tempo,
na primeira pessoa estou sempre desolado.

Na segunda, experimento muito prazer de viver,
há um vasto campo de prazer,
mas sempre a dor me causa confusão,
esta, há muito tempo aprendi,
se origina tão somente em experiência.

Nunca soube o melhor a fazer
para anular a dor,
se minhas iniciativas
se esbarram na primeira pessoa das pessoas,
embora muitas vezes também na minha,
que sempre foi deste jeito desolado,
como se tivesse nascido mais ou menos 500 anos
antes ou depois; inclusive,
até poderia obter vantagem,
poderia
- meio antigo meio vidente -
catalogar e sistematizar
confluências de sentidos opostos
e não divergentes, ou ao contrário,
sentidos de vir a nascer
e sentidos de vir a morrer,
eu teria um manancial de experiências,
apesar de necessário e virtualmente insólito,
de mais ou menos 1000 anos de vida.

Conhecemos muitos gurus da atualidade
com estes catálogos, livros, arquivos, nomes...

Jorge Luis Borges possuía um de 10000 anos.

Na terceira pessoa, nas poucas vezes
que posso viver, por livre escolha,
para fins de conhecimento,
discordo de tudo.

Lembro do quanto me lancei ao princípio
para encontrar a causa primeira do erro de tudo.

E do quanto estudei furiosamente
para encontrar o efeito último.

Eu posso encontrar outra forma de viver,
uma forma errada que se coadune ao erro geral
e aceitar esta terceira pessoa absolutamente;
quero apenas um motivo.

Fiz inúmeras experiências,
mas tanto as fracassadas quanto as bem sucedidas,
só foram possíveis se eu criasse uma quarta pessoa,
e sempre improvável,
para bem da paz, por exemplo.

É muito tédio se inspirar no inefável
mas não poder vivê-lo em realidade.

O amor,
a amizade,
a alegria,
o conhecimento,
a paz,
a solidariedade,
a coragem,
a verdade,
por exemplos, quão sublimes
se tornam na quarta pessoa!

Eu sempre fui assim, meu ex-amor impossível.
Dividido no imediato.
"Uma parte de mim, é mundo
outra, fundo sem fundo"
Eu enxergo nas expressões dos outros
as indagações primeiras, como
cercas, muros e dores,
vou citar apenas um exemplo, todas as pessoas
querem saber aonde tenho os pés,
qual é o nome de onde tenho os pés,
e se eu responder,
e atualmente este tipo de pergunta
não é para querer saber
- nada além do limite da primeira pessoa -
no limite mínimo do "chão",
ou no limite máximo do "aqui",
apenas o que interessa para (!) mim,
preciso torcer
para que o diálogo não cambie para o desterro,
para a desolação,
do passatempo ou violência gratuita,
porque raramente se torna útil
para além dos nomes.

São os momentos quando agradeço até a loucura,
em algum universo dentro da primeira pessoa
ouço o requiem de Mozart
e ouso não saber nada.

Acredito que comecei existir
à partir do momento quando passei a olhar para fora
e ver, em seu sentido mais amplo,
que se ampliaria cada vez mais a cada instante;
ver e saber e querer ver e saber cada vez mais.

Para todas as direções,
exceto para as pessoas,
jamais cheguei a um fim inexorável.

Primeira, segunda, terceira, quarta,
e quiçá há de vir mais pessoas,
todas envolvidas neste mesmo erro fundamental
para nos diferenciar da bestialidade:
a razão dos nomes.
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E depois, o que resta de Nós? Democracia líquida e certa vida simulada.
por Marina Colasanti
Eu sei que a gente se acostuma.
Mas não devia.
A gente se acostuma a morar em apartamento de fundos
e a não ter outra vista que não seja as janelas ao redor.
E porque não tem vista, logo se acostuma a não olhar para fora.
E porque não olha para fora logo se acostuma a não abrir de todo as cortinas.
E porque não abre as cortinas logo se acostuma acender mais cedo a luz.
E a medida que se acostuma, esquece o sol, esquece o ar, esquece a amplidão.
A gente se acostuma a acordar de manhã sobressaltado porque está na hora.
A tomar café correndo porque está atrasado.
A ler jornal no ônibus porque não pode perder tempo da viagem.
A comer sanduíche porque não dá pra almoçar.
A sair do trabalho porque já é noite.
A cochilar no ônibus porque está cansado.
A deitar cedo e dormir pesado sem ter vivido o dia.
A gente se acostuma a abrir o jornal e a ler sobre a guerra.
E aceitando a guerra, aceita os mortos e que haja número para os mortos.
E aceitando os números aceita não acreditar nas negociações de paz,
aceita ler todo dia da guerra, dos números, da longa duração.
A gente se acostuma a esperar o dia inteiro e ouvir no telefone:
hoje não posso ir.
A sorrir para as pessoas sem receber um sorriso de volta.
A ser ignorado quando precisava tanto ser visto.
A gente se acostuma a pagar por tudo o que deseja e o de que necessita.
A lutar para ganhar o dinheiro com que pagar.
E a ganhar menos do que precisa.
E a fazer filas para pagar.
E a pagar mais do que as coisas valem.
E a saber que cada vez pagará mais.
E a procurar mais trabalho, para ganhar mais dinheiro, para ter com que pagar nas filas que se cobra.
A gente se acostuma a andar na rua e a ver cartazes.
A abrir as revistas e a ver anúncios.
A ligar a televisão e a ver comerciais.
A ir ao cinema e engolir publicidade.
A ser instigado, conduzido, desnorteado, lançado na infindável catarata dos produtos.
A gente se acostuma à poluição.
As salas fechadas de ar condicionado e cheiro de cigarro.
A luz artificial de ligeiro tremor.
Ao choque que os olhos levam na luz natural.
Às bactérias da água potável.
A contaminação da água do mar.
A lenta morte dos rios.
Se acostuma a não ouvir o passarinho, a não ter galo de madrugada, a temer a hidrofobia dos cães,
a não colher fruta no pé, a não ter sequer uma planta.
A gente se acostuma a coisas demais para não sofrer.
Em doses pequenas, tentando não perceber, vai se afastando uma dor aqui,um ressentimento ali, uma revolta acolá.
Se o cinema está cheio a gente senta na primeira fila e torce um pouco o pescoço.
Se a praia está contaminada a gente só molha os pés e sua no resto do corpo.
Se o trabalho está duro, a gente se consola pensando no fim de semana.
E se no fim de semana não há muito o que fazer a gente vai dormir cedo
e ainda fica satisfeito porque tem sempre sono atrasado.
A gente se acostuma para não se ralar na aspereza, para preservar a pele.
Se acostuma para evitar feridas, sangramentos, para esquivar-se
da faca e da baioneta, para poupar o peito.
A gente se acostuma para poupar a vida que aos poucos se gasta e, que gasta,
de tanto acostumar, se perde de si mesma.

3 comentários:

Luciano Fraga disse...

Caro amigo Devir,chego atrasado, mas não digo que seja feita a vontade da tal da net,bem que poderia ser uma Nete(rs).Voltando ao coment passado,quando afirma 'não ser tão limitado',fico pensando quando entro em livrarias,bibliotecas,quando tenho acesso aos livros de escritores geniais , aí sinto-me o pó do pó, do pó da merda do cosmos, imperceptível,insignificante e como é bom,brota aquele estado de consciência de conhecer o meu limite e o meu lugar,mas continuo buscando(rs), como disse Vandré naqule celébre dia:'gente, a vida não se resume em festivais", mas certamente luto com unhas e dentes para ter um coração maior que o cosmos, isso é um grande passo(considero),agora que este servo do deus do coração percebe com precisão a forma épica que falam do palco, salto quase como um herói, tentando falar a língua de Homero,grande abraço, domingueiro e democrático, mestre.

Devir disse...

Essas coisinhas que a gente ama, ama e ama mesmo, e sai da frente, porque se não a gente atropela, atropela mesmo, e mata e morre e se for preciso mata e morre mesmo, quantas vezes for preciso...

Luciano, nem toca nesse assunto, sempre foi muito dificil comprar livros, e a raiz do meu problema e exatamente esta, perceber o quanto o mundo é vasto, imenso e irrecusável. E justamente isso pega na literatura; ontem li uma frase que me deu a dimensão desta sensação da Palavra, mais ou menos assim: "Deus deu a Palavra ao Homem para ele se comunicar com Ele, para se comunicar com o homem deu outras formas"

Bom de se pensar, século 21, né?!!

E se Deus disse Palavra como nenhum tipo de linguagem natural?

Rss, "é brincadeira??"

Fora da linguagem, vejamos, da minha forma de pensar, deve acontecer naqueles momentos quando uma força maior..., quando saltamos feito Homero, sobre o mundo e a vida para salvar criança, instantes impossíveis antes de ser atropelada, quando antes de apertar gatilho, ou depois o tiro falha, instantes sozinho a 100 metros da praia e ver ou pensar ver um tubarão, etc.

Homero sabia a vida
se construia na derrota
no empate
e na vitória

Esta é a grande face do herói que precisa ficar no espelho.

Nem toda colonização deu em pizza!

Eu não sou tão limitado, rss

Democracia, enfim, demora
mas não canso
nem espero

Grande, Luciano

Devir disse...

"Sócrates concentrava-se em investigar o ser humano e as possibilidades de seu conhecimento.
A inscrição na entrada do Templo de Apolo em Delphos:
Conhece-te a ti mesmo serve como ponto de partida de sua filosofia. Esse é o pressuposto fundamental para alcançar o conhecimento correto: O auto-conhecimento. O interessante que se quer dizer com isso, é que ele não só se interrogava sobre o que nós podemos conhecer, mas, perguntar por aquilo que nós não sabemos conhecer. Este segundo aspecto do questionamento de Sócrates deve ser compreendido, como fundamental para o que fazer da filosofia na atualidade". (Suely Monteiro)

Sócrates teve um fim mais trágico que um animal atropelado nas
infovias "públicas".
Se voce chegou atrasado, não perdeu muito; festinha à toa.