sábado, 8 de maio de 2010

Paramigas(os) gigantes

"A alegria e o amor são as duas grandes asas para os grandes feitos."
(Johan Wolfgang Von Goethe)

Há um gigante no jardim mãe, ele dorme!
Olha pai! Parece sonhar.
Com que será que sonham os gigantes?
O menino pensou sem falar.
Passou o dia de olho na janela e a cidade nem parecia notar
aquela presença gigantesca ali.
Mãe, ele deve sentir frio quando o sereno chega, será?!
Num sei meu filho, tenho coisa melhor pra pensar!
Mas tem um gigante no quintal.
Isso passa meu filho, isso passa.
Faz de conta que ele não está.
(Luciano Pontes)

Eu ouvia, ainda muito criança, na casa dos nove anos, quando acontecia uma pausa de tanto brincar, novela de rádio, que vinha da casa da visinha, uma negra suja que se ria à toa. Eu subia no muro, virava de cabeça para baixo, nunca caía.
Certo dia, meu pai chegou com a televisão. Na rua a multidão quebrava os antigos, com raiva da morte, para depois voltar para casa e envelhecer envolta da luz.
Alguém mais chato sempre havia, para perguntar:
- Voce ouviu o que ele, ela disse, quem disse o quê?
E ninguém o ouvia. De dentro da lagoa, emergiu um imenso dragão, aquele que todos temiam, e gritou labaredas na casa.
- Chega de novela de rádio!!!
A partir de então, a família, em cinzas vivia. Um dia, acordei muito cedo, liguei a televisão, abaixei o volume, passei o dia. Dormi e contei muitos carneirinhos.
No outro dia, cedo acordei novamente e, na ponta dos pés, abri silenciosamente a porta do quarto, apontei o dedinho em direção ao botão de liga e desliga, de repente, a manhã ainda sem chegar, a luz ainda apagada, de dentro do escuro escuto uma risada.
Não era uma risada, era um carneirinho, estava com fome, com saudade de casa, sentido falta da mãe, do pai e dos irmãozãos e irmaozinhos.
Liguei a televisão e dormi com o carneirinho no colo. A família acordou e havia um gramado no teto, um bebedouro na forma de lustre e na janela um monte de dragões sonolentos. Primeiro ficaram assustados, meus irmãos não podiam chorar, meu pai foi trabalhar e minha mãe disse psiu com o dedo desligou a televisão, a família a casa voltou ao normal.
Mas alguém mais chato sempre havia, para perguntar:
- E os dragões, quem vai acordar?
E ninguém ouvia. Da janela uma língua flamejante lambeu meus irmãos, cresceram barbas, perderam os cabelos e nunca mais sonharam.
Meu irmão mais velho me deu um computador, milhões de dragõezinhos infestaram minha cama, armários e paredes. Meu cérebro ficou parecendo um ovo.
Era a minha vida, a vida que eu gosto, de novo. Na rua escuto:
- Morte aos dragões, baratas e formigas. Salve os dragões, baratas e formigas.
A polícia no meio, nas mãos todas as marcas de inseticidas e réguas.
Então, nem de um lado, nem do outro, nem no meio, sigo assim, apreciando a vida para que, da família, pelo menos minha mãe, não morra dentro de mim.


Ouvem-se os "bravo", os "bis"...
ao longe...
de leve...
parecem ecos,
sussurros suspensos num universo difuso.
O palco é invadido por aplausos enquanto nele ainda perdura uma solidão compassiva (...)
(Vera Cunha)

4 comentários:

Luciano Fraga disse...

Caro amigo Devir,parece devaneio, mas é o encaminhamento da destruição da pureza, da ingenuidade,o nascimento dos monstros, da angústia e de uma ironia amarga no peito do homem moderno(?)que ainda ofertam cranios dos degolados ao deus sol,que o amor por aqueles que devotamos amor mantenha-se aquecido, forte abraço e na mamãe também.

Devir disse...

DIASPORA
Exato, uma libertação!
Êxodo, única estratégia que resta!
Êxtase, a esperança prática!

Salvem o devaneio,
quando tão somente a adoração
não faz sentido!

Paramigo, Luciano, em Bachelard aprendi que o devaneio, em toda a natureza, é o grande interlúdio, entre guerras pela sobrevivência.

E é uma vergonha, o ser humano, usar sua "originalidade" ou sua potencialidade
para temer a "Deus" e viver eternemente a simulação da paz.

Rss, neste período de re-volta da família para casa materna,
re-vivo fatos históricos, e aprendo sempre mais um pouco
as razões desonestas
das exclusões culturais
das criminações morais
e das igualdades impostas.

Um feliz dia de quem mais se aproxima do conceito de sustentabilidade, A Mãe
Um forte abraço aos filhos de mamãe!!!

Adriana Godoy disse...

Mais um texto digno de aplausos. É isso, Devir, mãe tem essas coisas mesmo. E elas nunca morrem dentro da gente. A minha mãe está com 85 anos e como é bom poder ainda compartilhar com ela seus seus anjos e alguns demoniozinhos. Beijo.. Muito incrível seu texto.

Devir disse...

Nooossa, que baque delícia
aaahh, deixa prá lá

Vou acender meu roliude azul
e espero não ser processado
sequer vaiado
politicamente incorreto

voce é foda
por que não desde sempre?

Nem preciso reler
lembro do frêmito do Lobo
e do doce Ginsberg
do comentário
no apagão da festa
roubando um puta beijo
daquela, alí
a música muito mole, sei lá
acho que passava da meia noite
lobisome lírico louco noturno claro
roubei um beijo
hoodmente falando...

Disseram-me
foi no plural, via email
que faço como jacaré
no meio da feira
sem ninguém
e só falo
para não só ficar
de boca aberta

Acho que falaram do amor, rss

Vou alí ver Silvio Santos
junto com minha mãe
enquanto isso
quebra tudo,