domingo, 2 de maio de 2010

Belas cores de família


Ontem encontrei duas pessoas especiais, uma dos primeiros tempos da juventude e a outra dos últimos dez anos. Elas juntas forçaram-me a questionar por que sempre fui, apesar de querer negar com as mais estratégicas racionalizações, como pano de fundo, azul quase preto, infeliz.
Fez-me lembrar de inúmeras situações onde bastava dizer sim ou não, e, na verdade, acho que sempre disse, mas troquei as respostas.
A primeira é a minha idade e a segunda tem metade. Então, por mais que eu fuja de padrões, ou encaixotamentos em juízos coletivos, tipo assim pesos e medidas para significados perenes, como exemplo, estou me esforçando para não ser por demais pessoal e tornar este texto o mais próximo de algum gênero, devido a suposição da infinita diversidade de leitores, e então não ser também muito coloquial; tipo assim respeitar os valores e medidas quando se dirigir a um coletivo indeterminado.
Estou tentando explicar algo ou uma pequena parte de tudo que não se precisa explicar, que existiria e porque existe diferença entre uma mulher depois dos vinte anos e outra com mais de quarenta anos. Uma tremenda bobagem, eu sei, todos sabem, e todos infelizmente arrastam, querendo ou não, a sensação de que não se pode ficar com as duas. E elas também, talvez a parte mais importante para mim, muito antes de mim até, que deveriam ser consultadas antes, antes até mesmo da criação destas questões aparentemente sem nexo nenhum, que elas com toda certeza serão as primeiras a se ofender. Isso tudo está no limite do absurdo, porque posso de repente ser categorizado como pervertido por qualquer ventureiro da moral e dos bons costumes. Na febre de cada ser humano a verdadeira cara do nosso tempo, que ainda e sempre descrimina qualquer forma de poligamia, seja ela "dentro de padrão oficial" ou "criativa".
A estupidez então seria essa culpa, e, confesso, não sei por quê, nem se realmente existe alguma culpa. Isso é lastimável que exista.
Mas, então, talvez o maior saco é eu me perguntar constantemente, após elas partirem, e literalmente deixarem meu coração partido ao meio, em partes talvez iguais até demais - não riam, porque eu também, neste instante, quero rir também - e realmente há essa simetria exagerada em tudo, menos em suas idades - nem sou besta a ponto de procurar saber se existe uma piração tipo: se a idade de uma é numericamente a metade da outra, não quero ser candidato a nenhuma camisa de força (vide cinema) -, é eu me perguntar repetidamente por quê sou infeliz, por quê sempre fui realmente infeliz, por quê neste instante quero saber tal coisa.
E não sei responder! E não estou vasio, estou cheio até demais de respostas. Qual escolher, não entre elas, mas qual resposta tornaria todas as cores menos intensas.
Não é a primeira vez, claro, e, especialmente, na última, tomei a ideia mais idiota da vida, só por aventura, prometi-me nunca mais procurar o amor antes dos prazeres em geral que uma mulher poderia proporcionar; vivia muito uma certa e maldita honestidade infeliz. A vida se tornou realmente uma barganha, infinitas perdas e ganhos como únicas alternativas de um jogo muitas vezes perverso.
Ganhava e logo perdia, casas, carros, fama e orgias fabulosas. Tentei manter o jogo, porém sem apostas. Logo aquela desonesta felicidade foi se definhando, se tornando então, lentamente a cada recusa para jogar comigo, uma desonesta infelicidade.
Hoje, creio, seja, portanto, um ótimo dia para voltar a ser honesto incondicionalmente, radicalmente, pelo menos, no amor.
Azul, mesmo que, como nesse momento, quase preto.

11 comentários:

Mariana Abi Asli disse...

ter respostas para suas questões significa que vc está se limitando..ou não?
rsrs

"Todas as ciências falam do medo: o homem ao tornar-se consciente, ascende à condição de animal que conhece, como nenhum outro, sua inviabilidade biológica. Seja no ambiente externo onde se move sob a ameaça da lógica implacável do mundo, seja no espaço interno onde habita sua ruína (a consciência dessa lógica implacável), não há como não perceber a condenação ao fracasso fisiológico final."


Será que não seja esta a nossa fulga aos aforismos do mundinho humano??
bjs

Mariana Abi Asli disse...

ultimamente tenho sido escrava do trabalho e do tempo...quase não tenho aparecido por aqui, e nem no meu blog...rs

bjkitas
doces

Devir disse...

Sobre a questão "por quê sou infeliz, por quê sempre fui realmente infeliz, por quê neste instante quero saber tal coisa?" da infelicidade na experiência no total existencial sim, claro, e porque qualquer resposta que tenta definitivar todas as questões vai se encerrar aos pés de outra ainda mais cruel; ao final de todo esforço talvez a clemência.
Qual seria o sentimento carrasco de um carrasco?
O amor à esposa do finado?
Arrependimento sem perdão diante da mãe?
Quê amor e arrependimento merece a mais soberba clemência?
Não seríamos vitimas e carrasco ao vermos o que somos e compararmos aos sonhos passados e recentes?

Maravilhosa a sua colocação do que somos também inexoravelmemte biológico!
Ser sapiente de seu final!
Homo sapiens?
"Os membros dessa espécie têm um cérebro altamente desenvolvido, com inúmeras capacidades como o raciocínio abstrato, a linguagem, a introspecção e a resolução de problemas. Esta capacidade mental, associada a um corpo ereto possibilitaram o uso dos braços para manipular objetos, fator que permitiu aos humanos a criação e a utilização de ferramentas para alterar o ambiente a sua volta mais do que qualquer outra espécie de ser vivo."
Eu acho que não parou aí!

Eu me pergunto, e não sei se tenho "valor" para pagar uma resposta, não é a mais ousada contenção das utopias, desde sempre ou do domínio da tecnologia, a crença de que seremos, humanidade, engolidos pela máquina?
Não será naturalmente nosso próximo passo na evolução das espécies?
"Como?"
Um beijo pela resposta: minério é natureza e talvez ainda não possuem vida.
"Como assim?"
Uhmmm, demorô!

Adoro quando o espaço fica pequeno!

Unknown disse...

Rsss, interessante.
A verdadeira unidade humana, para mim, consiste em uma junção entre o animal que somos e a racionalidade que podemos ter.
Não creio realmente que seja infeliz azul escuro, quase preto ou cinza chumbo, que seja; a felicidade, assim como as nossas diversas cores, tem seus momentos, Devir. Por isso, acredito no seu azul puro de satisfação enquanto escreve os posts, o seu verde intenso de concentração enquanto joga xadrez, e até imagino o “degradê” confuso de corres quentes quando encontra suas ninfas, rs.
E por favor, pare de tentar explicar a natureza dessa atração e de buscar padrões entre elas, ou terei que coloca-lo em uma camisa de força, rs.
Aproveite esses momentos, apenas, que não são azul escuro, quase preto. E lembre-se: Às vezes a “razão” não é bem vinda.

“A felicidade é um problema individual. Aqui, nenhum conselho é válido. Cada um deve procurar, por si, tornar-se feliz.” Freud

Beijos cor de laranja

Devir disse...

Puta que nos pariu, que banho adorável, simples e natural quanto qualquer cachoeira ou praia, o doce e o sal que tempera até impossíveis felicidade da hora!!!
Se eu não te quisesse, queria já e agora e nos prováveis futuros ao fim do arco íris.
O top do enrigecimento que precisamos para aproveitar o melhor do dia a dia embate para preservar a possível desacreditada descriminada suposta unidade humana.
Unidade esta, para nosso eterno despreparo, sob forma do paradoxo da individualidade&sociedade.
Há quem, olheiras serenas, marrom rosadas, diante de tudo que desistimos, sorri, porque não perdeu a consciência.
Toca um instrumento, escreve e pinta novas canções: Não se pode fazer tudo a todo tempo; a infância acabou, velhão!

Camisa de força reforçada, por favor, se só se for agora, rss.

Du caralho!

§

Há uma estrela remota
para brilhar daqui a alguns dias
talvez vou rolar estradas de Ms e Mt ao lado de um devir sobrinho da Mama. Ele tem uma terrinha quase na fronteira, descobriu um c. nos ossos, sofrendo mutações ao mineral com a maior cabeça, enfim, tem 58 anos e nunca tinha visto o azul mais lindo fora da caverna.

Luciano Fraga disse...

Caro amigo Devir, no dia que encontrarmos a(s) resposta(s), significa a hora, a chegada da morte e aí sorriremos e talvez consigamos enxergar a simplicidade das coisas e fenômenos e bobos, dentro do processo de compreensão, não teremos tempo de contar isso para ninguém, apenas assistiremos o filme de nossas vidas...Mas este texto diz respeito e muito a mim." Eu ficar louco,eu ficar bem assim, eu ficar oco, sem ninguém dentro de mim..." Forte abraço.

Devir disse...

Muito pelo contrário, caro, repare: "E não sei responder! E não estou vasio, estou cheio até demais de respostas".
Bom, talvez voce me fala do oco da morte, mas não acredito nisso também, acredito que os grandes homens da História, não confunda com grandes nomes, terão um após a vida, como reverência divina, muito mais espaço e tempo.
E, claro, acho que já não me é sábio esperar alguma pergunta/continuidade correta, então, faço-as eu mesmo: Como poderia haver espaço/tempo objetivo em Deus? Qual seria verdadeiramente uma prática da eternidade? Qual é a "mais valia" da teoria de um ser só, embora onipresente?
Deus, de qualquer pessoa, com seus inúmeros nomes e valores pós determinado, pode ser tudo, nunca um idiota literalmente falando.
Mas quem leu O Idiota, de Dostoievski, sabe que, metaforicamente, Deus pode ser tudo, e bem óbvio, rss, inclusive o ser e o nada.
E temos tantos deuses encaixotados depois da "morte" de Deus!
Tempo besta esse, cruel embora saudoso de quando pensávamos que chegará o dia em que "não teremos tempo de contar isso para ninguém, apenas assistiremos o filme de nossas vidas..."
Ah, também queria ser masoquista!

Luciano Fraga disse...

Meucaro amigo Devir,quando refiro-me ao vazio, quero dizer que é um espaço onde tudo cabe, inclusive todas as perguntas, todas as respostas.Por outro lado tenho plena convicção que você não queria...Você é verdadeiro e não esforça-se para isso, forte abraço.

A Voz da Pedra te aguarda.Ontem recebemos autorização do cartunista Ricardo Ferraz para publicarmos qualquer de seus trabalhos, foi muito bom, você o conhece?

Devir disse...

"Que mundo é esse em que vivemos... onde é mais fácil quebrar o núcleo de um átomo do que um preconceito".

Luciano, qual é o contrário de foda, se não a impermanência, a impotência e indiferença?
Tenta fazer aquelas pessoas que vivem da imagem (vasia à própria vontade) enxergarem que, o contrário também daquelas situações é possível sem ser Deus, tenta algumas vezes, somente por estatística, e sentirá na pele, a dor de qualquer "excluído" da convivência sustentável.
Ou, então, em uma sintonia bem mais fina, voce perceberá a quase impossibilidade de tal, pois, fazer vista grossa eternamente é, a bem dizer, uma auto exclusão.

Sobre o Ferraz, sem palavras, deixo que todo o tempo do mundo reverencie sua pessoa, muito bem vinda ao devir e a nossa voz.

HUMANO
Do pó ao barro
do barro à pedra
Deus escultor, a dor
o prazer de ser
fazer e desfazer
e refazer melhor
o mundo a criatura

Pontual a sua observação, sutilmente vasia também, onde completa o oco que ficou propositalmente na minha resposta ao seu comentário.

"A beleza salvará o mundo."
Dostoivski, 1868
Acrescento:
sem nenhuma redução de vidas!

Anônimo disse...

Gostei muito deste texto!!

É com pena que nem sempre a vida e os afazeres me permitem dedicar mais tempo na net, a espaços como este... tão merecedores...! Parabéns!

E obrigada por todos os comentários no melmequer, sempre certeiros, capazes de captar toda a essência da mensagem (mesmo a mais subliminar:P)

Deixo o meu sorriso :)

Devir disse...

Mel, voce me deixou muito feliz com este comentário.
E muito mais ainda por esta afirmação para mim, ao que mais estimo em meus aprendizados:
"sempre certeiros, capazes de captar toda a essência da mensagem (mesmo a mais subliminar".

Ao que entendo como essência, tudo aquilo que, por inseparável da existência, formam a base sólida para qualquer reprentação de nossos pensamentos.
Um exemplo, claro, porque vale pelo menos por esta alegria:

Cancele 4 sentidos,
use apenas o tato,
então encontra algo
(um coelho) e examina
quantas apreciações pode fazer
um sentido, daquele ser.

Se morto, óbvio, aparentemente limitada, e se vivo, óbvio também, a vida não tem limites para apreciação.

A (1ª) essência 'Coelho'; o nome
é relativo tanto quanto cor,
som,
olfato
e sabor.

Então, rss a moral do exemplo, toda razão eficiente
apreciada naquele coelho (algo), com apenas um sentido,
será a essência daquele ser.

Então, acrescente um a um
os outros sentidos, claro, examinando e ampliando a essência do coelho.

Com o tempo percebe-se infinitas combinações de infinitas informações dos sentidos.

Rss, tocando-me
que o papo é muito chato,
quero só rss
dizer uma coisinha:
Onde preservamos tanta informação?
Como ocorre, ou quando,
combinações cujo nome filosófico
é dialética?
E as informações que temos de
uma dimensão, de um lugar/tempo, antes dos nomes?

Porque é óbvio que existem, e, da mesma forma, absoluta.

Sacanagem, né?!
Mas não é sem querer.

Mais seguro
na neblina não perder
o próprio caminho.

Doce aprendizado