terça-feira, 8 de junho de 2010

Aos que se chegarem depois diante de Deus


Da confusão que não existia
no papel, para sua eterna desgraça
Caim fez a imortalidade de Abel

"O terceiro e mais surpreendente dos casos, que influenciaria diretamente a carreira do Dr. Schröder (o que ele só descobriria posteriormente), dizia respeito a um rumor, à boca pequena, de que Gustav Schröder era o favorito para receber o Prêmio Nobel de Fisiologia, graças a suas pesquisas na área cardiovascular.
Wilhelm Schröder era mais velho e razoavelmente conhecido por seus pares, mas a notícia de que um rapazola, recém-saído da Universidade, estivesse sendo cogitado para o mais importante prêmio na área médica, foi demais para o primogênito.
Na medida em que o dia do anúncio do prêmio se aproximava, os boatos se tornavam mais freqüentes e consistentes — o nome de Gustav Schröder se fortalecia. Organizaram uma festa para comemorar a indicação.
No diário de Wilhelm, na entrada escrita poucas horas antes da festa, ele escreveu:

"É inacreditável! Há uma década que dou meu sangue por meu trabalho e, com muito custo, consegui um pouco de renome. Mas meu irmão, sabe-se lá por que cargas d’água, por um simples trabalho acadêmico, está sendo considerado como um gênio da medicina.
Todos se achegam e me dão tapinhas no ombro, congratulando-me por ser irmão dum futuro ganhador do Nobel. Tenho nojo deste povo ignorante."

Naquela noite, brindaram à saúde de Gustav parentes e amigos, a premiação era tomada como certa, todos estavam inebriados.
No fim do jantar, após todos terem se recolhido, Wilhelm e Gustav sentaram-se no quintal para fumar.

“Eu perguntei a Gustav o que ele pensava de mim”, conta-nos Willhelm Schröder em seu diário, “e ele me respondeu que eu era seu irmão mais velho”.
— Digo profissionalmente, Gustav. O que você pensa de mim como médico?
— Você é ótimo, Wilhelm... — Gustav refletiu — Tem um potencial que poderia ser melhor explorado, talvez precise de um pouco mais de ousadia, mas tem tudo para ser reconhecido no futuro.
Numa única sentença, Gustav disse três palavras proibidas no vocabulário de Wilhelm — potencial, ousadia e futuro. O irmão mais novo dizia ao mais velho que, em menos tempo, havia obtido mais do que o outro jamais conseguiria.
Wilhelm retirou do casaco o revólver, gesto que ele havia ensaiado uma vintena de vezes durante o jantar e o apontou para Gustav:
— Quem você acha que é para falar deste jeito comigo?
— Você me perguntou o que eu pensava sobre você, meu irmão, apenas respondi com sinceridade.
— Mas você é um rapazinho muito do arrogante mesmo! Quando minhas pesquisas já estavam circulando pelas mãos dos mais importantes médicos da Europa, você era ainda um meninote de calças curtas, tomado por acnes, se masturbando após ver Greta Garbo no cinema. E vem me falar de potencial!
Wilhelm Schröder confessou que não tinha intenção de apertar o gatilho, no entanto, a poderosa rivalidade inconsciente foi fator determinante (esta uma das características da Síndrome de Caim).
Wilhelm disparou três vezes contra o irmão." (miriades.blogspot.com)

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