quarta-feira, 30 de junho de 2010

Das vezes que eu preciso me cuidar

oh, criança que me dá trabalho

Voce sabe que eu jamais morreria de saudade
mas, do jeito que "a coisa vida" anda
estou pra morrer, ou, com sorte, perder o chão
então, meu amor, esqueça o bill
e me apareça outro pouco de tempo, vem, Dny

ps., faz tempo que meus inimigos
já não são mais as drogas;
agora são piores

terça-feira, 29 de junho de 2010

Etiológica e tal divina inveja humana

O menino beija a mais corajosa
e fica com as duas, se beijar a outra
também, perde as duas; elas*
são todas iguais

Não ser covarde é a pior desgraça do mundo, justamente porque a coragem se confunde com o tolo, porque quando em épocas de paz, se lhe der livre arbítrio, ou mesmo a menor atenção, o destemido prefere fazer o papel de bobo da corte a ficar resignado de boca aberta esperando a morte chegar, e, também, em épocas de guerra, repito, se lhe der livre arbítrio, prefere ficar para cuidar das famílias abandonadas. No primeiro caso, sofrerá toda sorte de gozação e consequente culpa por crimes que jamais cometeu e muitas vezes quem os cometeu, tinha justamente tal objetivo. No segundo caso, jamais poderá dormir tranquilo, porque estará sempre sob a ameaça de linchamento por deficientes físicos ou mentais, embora nem todos(as) covardes.
Na vida real, ou, rss, na vida fora do ambiente virtual, eu me comporto da mesma maneira e ganho a mesma fama de "ganancioso".
Talvez este seja o único motivo de eu não ter ninguém comigo realmente sem qualquer motivo bem aparente.
Um ganancioso jamais se satisfaz, tudo sempre se torna tão pouco.
Todo avanço da civilização se deu por causa de pessoas gananciosas.
Se chegarmos a povoar outras galáxias e encontrarmos outros planetas iguais a Terra, coitados dos alienígenas, pessoas exatamente como eu não vão pensar muito.
Não somos muitos, mas obviamente somos muitos perigosos.
Assim retomo a imagem de meu comportamento, agora exclusivamente aqui, no blog, reparem como estou bem acompanhado; quero toda "riqueza" da vida só para mim.
E toda essa riqueza está tão guardada que não possui a mínima possibilidade de partilha; só de pensar em dividir um cisquinho eu já me armo até os dentes.
E na vida real, rss, sou assim também, amarro minha riqueza com correntes, tranco-a a sete chaves.
Minha riqueza não é para ninguém; não dou, não empresto e não vendo por lero lero nenhum.
Não é que eu seja inseguro, imaturo, invejoso, covarde, etc., mas tão somente porque sou ganancioso.
Ganância é a minha realidade, e o resto - a minha vida, a minha mãe, o meu amor, meu conhecimento - é pura diversão, ficção banal, só poesia, que podem ser sacrificadas.

Raízes da ficção

"Nesta vida única e limitada que temos, a cada instante nos vemos obrigados a escolher um único caminho entre infinitos que se apresentam.
Eleger essa possibilidade é abandonar as outras ao nada.
Essa possibilidade que nem sequer sabemos até aonde vai nos levar, pois nossa visão do futuro é precária e sentimos o mesmo desassossego que o navegante que precisa passar entre escolhos perigosíssimos em meio à névoa e a escuridão.
Temos certeza apenas que mais adiante está a inevitável morte, o que precisamente torna mais angustiante nossa escolha, pois faz dela algo único e inevitável.
Escolha, portanto, que parece inventada pelo demônio para nos atormentar, pórtico, como presumimos, de uma quase certa frustração, o caminho da desilusão e do fracasso. E, para maior escárnio, por causa de nossa própria vontade.
Na ficção, ensaiamos outros caminhos, lançando ao mundo personagens que parecem de carne e osso, mas que pertencem somente ao universo dos fantasmas. Entes que realizam por nós, e, de algum modo, em nós, destinos que a vida única nos vedou.
O romance, concreto mas irreal, é a forma que o homem inventou para escapar desse encurralamento.
Forma tão precária como o sonho, mas, ao menos, mais voluntariosa."
(Ernesto Sabato, O escritor e seus fantasmas, Companhia Das Letras)

segunda-feira, 28 de junho de 2010

Nem filósofo, nem escritor; tão somente sangrando

Diversas vezes, apenas a imagem do esforço
basta para suscitar algo que não justifica
toda forma de eternidade

PUREZA, ETERNIDADE E RAZÃO

"Somos imperfeitos, nosso corpo é frágil, a carne é mortal e corruptível. Mas, por isso mesmo, aspiramos a algo que não tenha essa desgraçada precariedade: a algum gênero de beleza que seja perfeita, a um conhecimento que valha para sempre e para todos, a princípios éticos que seja absolutos.
Ao erguer-se sobre as duas patas traseiras, este estranho animal abandona para sempre a felicidade zoológica e inaugura a infelicidade metafísica que resulta de sua dualidade: fome desmedida de eternidade e um corpo miserável e mortal.
Então começa as perguntas: existe algo eterno além deste mundo transitório e em perpétua mudança?
E se existe, como podemos alcançá-lo, mediante qual intermediário, graças a que fórmula mágica?
No ocidente, os gregos já se colocavam esse problema e encontraram a solução nas matemáticas. Claro: até as poderosas pirâmides faraônicas, erguidas com o sangue e as lágrimas de milhares de escravos, são apenas pálidos simulacros da eternidade, destruídas finalmente pelos furacões e as areias do deserto; mas a etérea pirâmide matemática que é seu modelo permanece imune aos poderes destrutivos do tempo. E se esta paisagem que temos diante de nossos olhares se apresenta com cores mutáveis, conforme a hora e o lugar de onde a contemplamos; se tudo o que entra por nosso sentidos é mutável e sujeito à discussão, está tingido por nossos estados de ânimos e deformado por nossas paixões, é relativo e radicalmente subjetivo; ao contrário, este teorema que demonstramos vale para todos, aqui na Grécia ou lá na Pérsia, faça-se sua demonstração em nossa língua ou qualquer outro idioma real ou inventado, estejamos possuídos pelo furor ou sejamos indiferentes a essa verdade ou a qualquer verdade.
Desde Pitágoras, os gregos observaram esse fato extraordinário, assombroso tão logo se pense um pouco, e concluíram naturalmente que a matemática indicava a rota secreta que, através da selva escura de nossas sensações, tendo por guia apenas a razão, com a única ajuda do pensamento puro, nos conduzia ao universo eterno da verdadeira realidade, a partir deste mundo confuso que suscitava o ceticismo de Heráclito.
Assim surgiu no povo helênico o prestígio do pensamento como instrumento do conhecimento e este divino prestígio perduraria no Ocidente ao longo de quase mil e quinhentos anos de guerras, invasões, derrocadas e devastações.
Até que filósofos que parecem fazer literatura e escritores que parecem filosofar o negaram."
(Ernesto Sabato, O escritor e seus fantasmas, Companhia das Letras)


Existo, e este termo está ficando cada vez mais "caro"

Existe muita diferença
entre o peito estufado
coração no bolso
com o peito aberto
coração na mão
continuar seguindo
e sangrando

Existe verdadeiras dores
diferenças dessa vida
para continuar escrevendo
apesar da língua suja
grave e embargada
pelo dito não dito

Existe e sabemos
existe eternamente
precisa existir qualquer coisa
e quando somos qualquer dessas coisas
queremos mais, ou menos
ou deixamos tudo como está
ou, claro, eu, já estou pensando
na próxima "derrota";
a nestes dias foi "só"
a morte de minha mãe

E então de repente ficou tão desnecessário, muito mais do que antes, escrever versos ou em versos, seja qualquer coisa, ou coisa nenhuma, de qualquer jeito, ou de jeito nenhum, ficou ainda mais sem qualquer importância existir, viver ou morrer, já que isso, ser ou nada, tornou-se quase o mesmo inexequível orgasmo da existência.
Ela amava o Gonzagão, amava o filho, e toda vez que perguntávamos qual era a música mais bonita do mundo, ela respondia Asa Branca, e a música mais bonita da vida, ela respondia 'aquela do filho do Luis Gonzaga, aquele que dizia que tava sangrando..." Ela adorava também a Elis, e via seu sofrimento, mas nunca soube explicar, e nós insistíamos, mãe qual é o sofrimento dela?, e respondia que como podia saber?, nunca tive estudos, se voces não sabem... Nós insistíamos, tenta explicar, ela tentava, dizia que a Elis sofre assim como voces, e nós calávamos, porque tudo sempre se tornava tão "sem sentido".
Ela amava o Rolando Boldrin, a pujança da Inezita Barroso, a coragem e safadeza da Dercy Gonsalves, sempre foi apaixonada pelos Irmãos Coragem, não entendia como podíamos gostar da Saramandaia, e ria com o jeito tão esperto do José Wilquer, a Regina Duarte e a Glória Menezes eram o maior exemplo de mulheres bonitas.
Jamais esqueceu os filmes do Mazaropi, bastava poder contar alguns que já ficava alegre e, nunca sabíamos porque, sempre, acabava lembrando do Lampião, que certa vez passou lá no lugar onde crescia, quando ainda criança, morreu de medo, e depois perdeu o medo assim que teve um mínimo de noção política.
Lembro que alguns dias antes de começar perder a lucidez, disse-me que precisaríamos, eu e ela, arranjar um tempinho para contar sua vida.
Lembro, nestes mais ou menos trinta sessenta dias, muita coisa, muitos projetos e sonhos.
Queria enfim ter um carrinho próprio para poder visitar os sobrinhos em Jundiaí, o irmão em Marília, a Vilma e a Beth, aqui mesmo na capital, na hora que desse na telha, que podia rever o mar, pela segunda vez, e ir até o supermecado a qualquer hora, não acreditava que tinha supermecado aberto de madrugada.
Eu sou difícil para chorar, mas preciso parar de lembrar escrevendo, essa coisa é muito real e essa realidade está cada vez mais foda.

sábado, 26 de junho de 2010

Deus esquartejado não serve de alimento

"Há dois modos de pensar:
aquele que concebe a existência
das coisas fora do espírito
- as idéias -
e aquele que não representa
nada fora de si mesmo
- as imagens enquanto afecções
de nosso corpo na relação com outros"
(Marilena Chauí, sobre Espinosa, no livro
Da realidade sem mistérios
ao mistério do mundo)

Pode parecer muito estranho, quando se encontra pessoas que lêem muito, se comportando como se nunca houvesse lido porra nenhuma.
O maior indicativo desta surpreendente contradição é o tempo atual, onde o maior, ou talvez o único problema que a ciência está realmente impotente para solucionar é a superpopulação do planeta. E, exatamente onde aquele estranhamento se torna tão semelhante a qualquer paradoxo original, jamais a ciência, enquanto já categoria do conhecimento, também não é capaz de se ver livre da leitura, do registro, do fundamento da história, enfim, do livro.
Qual é a causa desta impotência atual? O que causa esta simulação de ocultar um embasamento histórico no dia a dia coloquial?
Entendam como queiram, mas estas questões são essenciais para salvar o planeta.
Quem quiser compartilhar, sem repetir mais das mesmas atitudes paliativas e ou capciosas, tanto ecológicas quantos filoantropossociológicas, sejam benvindos.
Não é uma conversa de bar, claro, mas o clima pode ser o mesmo.

Vamos pedir piedade, Senhor
Piedade, para essa gente
Careta e covarde


Era uma vez um anjo

E o menino nasceu, e logo queria mais
E ele então crescia, e mais queria
E se tornou jovem, e queria ver envolta
E se fez adulto e quis ensinar

E amar, e sonhar, e assim queria mais viver
E portanto conseguiu morrer, mas não bastava
E quer ser lembrado, e assim querendo os outros
E não satisfeito, quer ainda o impossível

E o menino está esquecido, e ainda quer mais
E quererá sempre, que atirem a última pedra
E amará outras vezes mais o fim das invejas
E sonhará que Lhe devolvam cada pedaço

terça-feira, 22 de junho de 2010

A mão de Deus

“ou a humanidade renuncia à violência
da lei de talião,
ou a pretendida práxis política radical
renova o terror do passado”. Adorno

De como a mais valia se tornou apenas mais prazer

Fred F não é um robô, mas trabalhando sempre parece assim. Ele não trabalha só, faz arte, então tem como objetivo o mundo e sabe que, nesse momento, não é o seu próprio mundo. O mundo de Fred F há muito tempo se perdeu, e agora só pode ouvir algumas notícias dele quando perde tempo divagando por galerias de arte, quando enfrenta aborrecimentos e mínimas doses de encanto durante saraus cada vez mais barulhentos, e quando vai ao cinema por acaso, sem escolher os filmes ou apenas para dormir, mesmo que jamais consiga, ou então, isso ele tenta esconder de todo mundo, quando, nos restaurantes onde almoça e janta, pede ás vezes um pouquinho de orégano para fumar. Sua vida portanto se tornou dividida entre estes dois mundos, o objetivo e o relapso. Entre prêmios por produção e condenações sem crimes cometidos.
Fred F envelhece por minuto e agradece a cada segundo por não sofrer dores físicas. Nunca se cansa porque jamais sente seus movimentos. Tanto em seu mundo quanto no mundo que também pertence aos outros. Nunca mais soube se é qualquer coisa ou se está em qualquer lugar, não sabe se realmente sente mais qualquer sensação além daquelas que nunca pode evitar.
Na última vez que recebeu notícias do que ainda pode lembrar o que é ou foi o seu mundo, Fred F encontrou algo que se diz lembrança ao tropeçar em uma mão e, por gentileza, ao tentar se desculpar, assustou-se; era uma mão abandonada, sem ninguém, atravessada no caminho, ainda quente. Ele a tocou e os seus minúsculos pelos se arrepiaram.
Fred F, paralisado, sem saber se de terror ou prazer, porque há muito tempo nem mais sabia de tais existências, e também sem saber se de dentro ou de fora daquele momento, escutou uma voz dizer: "tome cuidado com a mão de Deus".
Ele correu, correu muito rápido, assustado, chamando a atenção daquelas pessoas sentadas, ou deitadas, ou andando à deriva pelas ruas, visivelmente alucinadas por ingerirem produtos que dão o nome de droga, estava atrasado para tomar o último ônibus, se perdeu, passou várias vezes pelos mesmos alucinados, por vielas e bocas sujas, até que avistou seu ônibus partindo, entrou na frente, o motorista foi gentil, parou e abriu a porta. Mas Fred F não subiu a escada do ônibus, lembrou da mão de Deus e se arrependeu. Ele sempre foi muito religioso.
Fred F voltou tão rápido quanto pôde, evitando a todo custo fazer o que dizem o que é pensar, e, assim que percebeu a mão de Deus no mesmo lugar atravessada no caminho, teve a melhor notícia de todos os tempos do seu mundo. Imediatamente retirou o lenço que ganhara de seu pai e, tomando a mão de Deus ao colo, começou a limpá-la e beijá-la e apertá-la com muita força e carinho e tão forte foi sua recuperada capacidade de sentir que uma torrente de lágrimas cristalinas escorreu por sua face.
O mundo de Fred F o adormeceu abraçado à mão de Deus. O sol já raiando, o movimento frenético da cidade aumentando, a mesma voz de antes o acordou: "Devolva-me a mão." De repente sentiu um forte cutucão nas costas, era o mundo que também pertence aos outros, paus em riste e uma voz que jamais viria de dentro dele: "Levanta daí, lixo humano, se não quiser morrer."



domingo, 20 de junho de 2010

Nenhum preço é transparente

A vida é uma doença
sexualmente transmissível,
que tem cem por cento de taxa de mortalidade
(R. D. Laing)

Talvez se eu aproveitasse minha experiência de vida para escrever contos de fadas originais, não me faltasse, nestes dias atormentados pelo por do sol da vida de minha mãe, um liquidificador para preparar melhor sua dieta alimentar.
Tão logo, meus amigos e parentes, vão questionar e encontrar razões lógicas para o fato do liquidificador estar quebrado.
Com toda certeza nenhum deles quererão saber por que de fato o liquidificador está quebrado, e se eu lhes perguntar, por exemplo: Querem saber...? Com toda certeza, matematicamente é óbvio, nenhum deles vão sequer disfarçar que não ouviram a pergunta.
E, muita atenção nesse detalhe, se eu comprar um liquidificador novo, todos vão me chamar de marajá, de bacana, ou inquirirão: Vejo que está sobrando?
A vida é mesmo um teatro. Felizmente a peça possui inúmeras variantes, o suficiente para qualquer pessoa não morrer de tédio.
Enquanto isso, o verdadeiro problema da minha vida, com ou sem criatividade genial, não é tão somente a falta do liquidificador, e muito menos o por do sol da vida minha mãe. Mas não sei se devo escrever aqui, ou se devo escrever codificado em poesia, conto, crônica, etc, enfim, expressar-me em qualquer gênero, e tampouco sei se quero ser escritor, pensador, artista, ou qualquer coisa especialmente identificável, porque na experiência todo ser não passa mesmo de uma quimera, principalmente nos tempos de hoje, é difícil acreditar que alguém consiga superar o monstro imaginário que somos.
Fadas e elfos, no mundo imaginado, e pessoas inexoravelmente comuns na experiência mais particular. Talvez possa haver ainda um terceiro campo de atuação inerente ao ser, um lugar muito íntimo, tão pessoal e solitário, que mesmo transparecendo sutilmente em pequenos desequilíbrios afetivos, jamais poderemos, por natureza, ter certeza que exista. Sequer sabemos se este canto recluso de cada si mesmo é natural ou simplesmente mais uma neurose, ou facetas multimercadológicas.

quarta-feira, 16 de junho de 2010

Sobrevivendo no presente

Papel na parede do cérebro

Versinhos de asas

Quando sou um menino levado
estou a procura de momentos
que eu posso ficar sozinho

Voar até o perigo dos trilhos
pouso e converso com passarinhos
trago muitas sementes

Enfileiro-as a luz e ferro
apenas para viver contente
minutos antes do trem passar

Minhas teimosias sem idade
não perdem por esperar
nem morrem do meu amor

sexta-feira, 11 de junho de 2010

"Ah se eu pudesse fingir que te amo, Amélia"

Lixo especial: perfuro contaminante!

Minha mãe chegou assim: Filho, filho, liga pro Lino, liga. Nós estávamos na calçada tomando sol, ela sentada na cadeira branca de plástico e eu naquele bloco de granito rosa gerais. Fui logo dizendo, Mãe, nós ainda não viramos pedintes. Ela ficou calada por vinte minutos olhando um ponto no cimento onde via talvez dentro de si o câncer, sua matriz no pulmão, com filiais no fígado e no cérebro, levando essa sua vida e que se acaba como pedinte. Minha mãe repete, liga pra ele, liga.
Eu olho o dia, o país e os brasileiros, talvez não consigo olhar para ela, pego o celular, agenda, passo.
Neste momento entendo, estou fazendo hora extra na vida. Já nasci assim.
Minha mãe me passa o aparelho, meu irmão me pergunta pelo dinheiro da aposentadoria dela como se eu tivesse fumado o dinheiro, o pulmão, o fígado, o cérebro da minha mãe. "Como se não me bastasse fumar quantos rins deste filho da puta." E o filho da puta não vai dar, mas vai morrer por isso, e eu quero ver esse cara secar, tomara que toda família morra e ele não. Ele vai morrer só depois que a família toda se for, e vai ver cada um, vai estar no enterro da ultima, e eu serei o último antes dela, e quero lhe perguntar, ah vou, antes de morrer, só nos segundos finais quero me redimir, nem mais um tempo mais, exatamente como ele, tempo custa dinheiro, vou perguntar: "Cadê a chave?" Só para fudê-lo, até no último instante. Ou perguntarei desde já: "Voce acreditou?"
Eu, olhos para minhas mãos, a pele se soltando dos dedos, as unhas pálidas... Não há nada, não há mais nada, para pensar.
Minha mãe estende o braço, eu a levanto e vamos andar quatrocentos metros, duzentos na ida e mais duzentos na volta.
A televisão adoraria filmar, eu e minha mãe passando pelo portão, outra câmera no fundo, nossas costas e a platéia. Dois dos novos aparelhos de segurança nacional à nossas costas. Olho para trás, nas costas deles vejo meu irmão, sem batina, orando em nome de Deus, socando o ar, sai daqui satanás, sai dessa casa satanás, vai satanás, volta, pro seus quintos dos infernos, causando frisson, na janela do prédio, no primeiro andar, a sobrinha do sacerdote na Índia, ameaçando se matar. A Rita, a professora de Biologia sorri para mim, como se soubesse que isto é mais uma das minhas poesias. Meu irmão mais novo e minha cunhada mais sonsa chegaram a tempo, por coincidência estavam bem humorados e até tentam me cumprimentar, ela com aquele beijinho de pescoço pele de pescoço e ele com aquela mãosinha sem temperatura. Os cachorros se trepando a todo canto, perto da pracinha uma multidão, uma ou duas mãosinhas estendidas para chamar a atenção das câmaras, oi, oi, estou aqui. O caminhão das Casas Bahia que jamais quebrou, achou de quebrar no meio das filmagens, o técnico de manutenção discutindo com o motorista, a grua enroscada no baú. Um play boy ouvindo Lady Ga Ga me incomodando porque eu gosto mesmo é das mulheres de verdade. E que se dane a teoria, essa é a teoria, estou algemado mas estou ganhando muito, não só dinheiro, estou ganhando também fama, pensam que vou sofrer em um presídio de merda. Que babacas, meus irmãos pensam que vou virar mulher, vou servir peão, além de dar o cú, terei que ser mulher ou brocha, eles pensam, todo mundo, exceto os deficientes, pensam.
É a grande primeira reportagem da nova iniciativa do jornalismo brasileiro, a Moniquinha da Globo, somente com ela que eu falo, "Por que voce a escolheu?", digo qualquer asneira mas somente para ela, "Mas, somos do comitê, não somos apenas jornalistas", eu sei e entendo o que esta acontecendo aqui. " E como voce se sente, agora, neste momento, assim tão famoso, rico e rodeado de sucexo, ops, perdão", com certeza está acontecendo uma partida maravilhosa, sabem que meu sobrenome é Santos, então, "E o que voce pensa ao se tornar o homem do ano?" como eu me sinto, bem, vou dizer, bem, "Aquele seu projeto de juntar o núcleo do átomo para criar uma bomba atômica está emperrado, vai ser só um livro, ou é mais um daqueles projetos de mídia, que acabam virando fantasmas, os filhos recolhem os mortos e feridos, nada se traduz em simbologia entre uma e outra geração", qual é o seu nome? "Agora, voce importa?", nosssa, descupa e, rss, está todo mundo penssando que é festa ser mau, "Ai".

terça-feira, 8 de junho de 2010

Aos que se chegarem depois diante de Deus


Da confusão que não existia
no papel, para sua eterna desgraça
Caim fez a imortalidade de Abel

"O terceiro e mais surpreendente dos casos, que influenciaria diretamente a carreira do Dr. Schröder (o que ele só descobriria posteriormente), dizia respeito a um rumor, à boca pequena, de que Gustav Schröder era o favorito para receber o Prêmio Nobel de Fisiologia, graças a suas pesquisas na área cardiovascular.
Wilhelm Schröder era mais velho e razoavelmente conhecido por seus pares, mas a notícia de que um rapazola, recém-saído da Universidade, estivesse sendo cogitado para o mais importante prêmio na área médica, foi demais para o primogênito.
Na medida em que o dia do anúncio do prêmio se aproximava, os boatos se tornavam mais freqüentes e consistentes — o nome de Gustav Schröder se fortalecia. Organizaram uma festa para comemorar a indicação.
No diário de Wilhelm, na entrada escrita poucas horas antes da festa, ele escreveu:

"É inacreditável! Há uma década que dou meu sangue por meu trabalho e, com muito custo, consegui um pouco de renome. Mas meu irmão, sabe-se lá por que cargas d’água, por um simples trabalho acadêmico, está sendo considerado como um gênio da medicina.
Todos se achegam e me dão tapinhas no ombro, congratulando-me por ser irmão dum futuro ganhador do Nobel. Tenho nojo deste povo ignorante."

Naquela noite, brindaram à saúde de Gustav parentes e amigos, a premiação era tomada como certa, todos estavam inebriados.
No fim do jantar, após todos terem se recolhido, Wilhelm e Gustav sentaram-se no quintal para fumar.

“Eu perguntei a Gustav o que ele pensava de mim”, conta-nos Willhelm Schröder em seu diário, “e ele me respondeu que eu era seu irmão mais velho”.
— Digo profissionalmente, Gustav. O que você pensa de mim como médico?
— Você é ótimo, Wilhelm... — Gustav refletiu — Tem um potencial que poderia ser melhor explorado, talvez precise de um pouco mais de ousadia, mas tem tudo para ser reconhecido no futuro.
Numa única sentença, Gustav disse três palavras proibidas no vocabulário de Wilhelm — potencial, ousadia e futuro. O irmão mais novo dizia ao mais velho que, em menos tempo, havia obtido mais do que o outro jamais conseguiria.
Wilhelm retirou do casaco o revólver, gesto que ele havia ensaiado uma vintena de vezes durante o jantar e o apontou para Gustav:
— Quem você acha que é para falar deste jeito comigo?
— Você me perguntou o que eu pensava sobre você, meu irmão, apenas respondi com sinceridade.
— Mas você é um rapazinho muito do arrogante mesmo! Quando minhas pesquisas já estavam circulando pelas mãos dos mais importantes médicos da Europa, você era ainda um meninote de calças curtas, tomado por acnes, se masturbando após ver Greta Garbo no cinema. E vem me falar de potencial!
Wilhelm Schröder confessou que não tinha intenção de apertar o gatilho, no entanto, a poderosa rivalidade inconsciente foi fator determinante (esta uma das características da Síndrome de Caim).
Wilhelm disparou três vezes contra o irmão." (miriades.blogspot.com)

sábado, 5 de junho de 2010

Que país é este atrás do espelho?

Deixou sangue
só de um lado da fronteira
parece que foi tourear
aos 17 anos

"O objeto “livro” é um ser, algo permanente, dotado de duração, seja ele um papiro egípcio, uma tabuinha de argila suméria, um pergaminho grego, um codex medieval ou uma brochura renascentista…
Sua permanência foge, de alguma forma, ao eterno devir das coisas, ao caos, ao abismo do Indiferenciado.
Por outro lado, cada frase, cada palavra, cada fonema que ali está registrado é, em suas significações, eterno devir, muda a cada momento, jamais se repete.

Abraão creu na palavra divina de que todas as nações seriam abençoadas em sua posteridade, e continuou a crer nela ainda quando, após ser pai na velhice, lhe foi exigido o sacrifício de seu único filho, Isaac; ora, tal sacrifício, que tirava todo sentido racional à promessa, significou, para Abraão, a fé no absurdo, a certeza de que Deus o estava provando e a disposição de sacrificar, se necessário, Isaac (com a certeza de que este lhe seria restituído); realiza-se, assim, o movimento que parte da resignação infinita (pela qual renuncia a Isaac), em que se adquire a consciência do seu próprio valor eterno, e chega-se, pelo absurdo, à fé, em que se readquire o finito (a retomada de Isaac); tal movimento implica a angústia e o paradoxo pois, se é preciso coragem puramente humana para renunciar a toda a temporalidade a fim de obter a eternidade, é preciso a coragem da fé para, em razão do absurdo, encontrar a alegria na temporalidade finita e transformar, assim, um crime moral em algo santo e agradável."
(http://waldisio.wordpress.com/)

Qual a mãe que aceita a morte de um filho causada por um irmão?
A natureza é óbvia, porque o pai, Deus, está em cena e não tem tempo para ensinar.
O mundo está ficando cada vez mais luz, por um lado, pelo outro, dente por dente olho por olho, continua sendo a régra.
E a linguagem, sem entretempos, é enfim mera ou sublime metáfora.
Não se pode chegar muito perto, derrete as asas da experiência.
O devir surpreende o simulacro, seu castigo, a falta de vontade.
E o prêmio a imortalidade do nome, é óbvio.
Lampião castigava apenas os idiotas, dizia que estes pecam pelo excesso de vontade.
Pequeno erro de método cometeu nosso 'que seria o único herói brasileiro'.
Aquela luz que não apreendemos sem ser radicalmente espontânea.
E sabemos de outros sentidos de herói, principalmente dos insidiosos que aqui chegaram, por último, com outros heróis extraordinários ou extraterrestres.
Há quem acredita que seriam, signos em êxtases, sací perere, ou cebolinhas administradas, cabecinhas ora cheias de escuridão ora cheias de agradáveis nada.
Hoje é dia de gala gay. Os homossexuais são os primeiros de uma miríade de sacrificados.
Também tem quem acredita em papai noel, mas são facções muito dissimuladas, que o mercado de valores morais absorve com prazer, tanto o branco quanto o negro.
As cucas do sítio do picapau amarelo, nas regiões urbanas e todas as suas atrações, por serem feias - os países orientais comem lagartas verdes - se escondem no armário.
Os heterossexuais que se conservam no apeio do boi se expressam, dentre eles e elas, na própria cabeça, com elegância, porém inconscientemente gaiatos; se oferecem em nome da família para redigir uma lista dos irmãos que não devem morrer.
Então, para fechar o círculo do devir de cada instante, não é agradável narrar sequer a própria covardia, e há quem para provar que não é covarde é capaz até de matar sem mesmo saber se é irmão, ou pai, ou mãe, e a lista pode se estender, porque não importa qual seja o nosso gênero sexual, consequentemente gênero moral - risível, não? - pelas graças de seu Deus, escolhido conforme as circunstâncias do "absurdo".


sexta-feira, 4 de junho de 2010

Sob o céu meu mundo ferve

Aos 17 anos eu ainda sonhava
ainda sonho e sempre sonharei
a vida está sempre por acordar


Voce é tão linda, e forte, acima de tudo, sim
e é tudo o que me falta, para subir este degrau
chegar tão seguro, feio e fraco em nosso céu


Voce é tão capaz, queria estar em voce
nem que seja quando fulminada por tantos olhos
quando entra na saia e ensina


É preciso ser muito simples e direto
voce poderia me presentear com sua trilogia descoberta, apuro & plenitude
apenas para tentar me manter na contemporaneidade


Palavra maldita miserável porque voce disse e gostei muito
voce é um mito, mas minha porca e parca sabedoria
sem jamais querer imunda a sua, eu sei, perdão


Existem tantas ocasiões e pessoas que devemos amor
cada aluno e aluna que por obra de um condicionamento podre
não consegue derramar uma grande lágrima por ninguém



"Ao sondar assim sua própria profundeza, ela penetra mais no interior da matéria, da vida, da realidade em geral?
Poderíamos contestar isto, se a consciência se tivesse acrescentado à matéria como um acidente; mas cremos ter mostrado que uma tal hipótese, segundo o lado por que tomemos, é absurda ou falsa, contraditória consigo mesma ou contradita os fatos.
Poderíamos contestá-lo ainda, se a consciência humana, embora aparentada a uma consciência mais vasta e mais alta, tivesse sido posta de lado, e se o homem tivesse de se conservar num canto da natureza como um menino de castigo. Mas não!"

quinta-feira, 3 de junho de 2010

O patinho feio é feio porque não é feio ser pato


Tenho 17 anos, quando for responsável, quero ser pato

A quem não vê
E hoje, se finda mais um dia sobre o corpo de Cristo, não sabemos quantos estão por baixo
Olhe nos meus olhos e sinta a música, continue olhando nos meus olhos
Voce está pensando que meu violino é de brincadeira
Voce pensa que eu não sei tocar o instrumento
Continue olhando nos meus olhos
Voce não está ouvindo
Voce não é bobo(a)
Por baixo muita coisa passa
E ninguém vê
Ninguém vê
Continue olhando nos meus olhos
Está todo mundo cego
Voce está cego(a)
Cego(a)
Voce está
E ninguém vê
Ninguém vê
Isso, voce é capaz de me ouvir
É capaz de me entender
Me entender
Eu não estou vendo voce
Não estou vendo voce
Estou vendo voce
Vendo voce
Estou tocando meu violino
Tocando meu violino
Meu violino
Violino
Que pensa que é falso
Pensa que é falso
É falso
Continue olhando nos meus olhos
Olhando nos meus olhos
Nos meu olhos
Meus olhos
Olhos
Assim, mais um pouco, isso
Voce consegue
Voce é tão forte
Voce é valente
Voce é esperto(a)
Esperto(a)
Voce é
É, voce é
Voce é quem
Agora estou vendo
Agora eu posso ver
Sua cara
Minha cara
Voce pode me ver
Seus olhos
Meus olhos
Não é impressionante
Eu aqui
Voce aí
Aí está bom
Está bom
Está
Aqui também
Aqui está tão bom
O que voce é
Voce é ou não é
É ou não é
Não é
Eu sei
Voce pensa que o violino é de brincadeira
Eu sei
Voce Sabe
Continue olhando nos meus olhos
Todos sabem
Sabem
Está na cara
Toco meu violino que voce pensa que não toca
Toca qualquer coisa que penso que não é qualquer coisa
Qualquer coisa é objeto
O violino não é qualquer coisa
Voce não é qualquer coisa
Eu não sou qualquer coisa
Todos não é qualquer coisa
Não é qualquer coisa
É qualquer coisa
Qualquer coisa
Olhe nos meus olhos
Olhos nos olhos não é qualquer coisa
Voce tem medo
Eu tenho medo
Medo não é qualquer coisa
Voce chora
Voce tem vergonha de chorar
Tem vergonha de chorar
Vergonha de chorar
Quer chorar
Chorar
Quer ouvir outra música
Ouvir outra música
Outra música
Música
Então feche os olhos
Continue cego(a) para ouvir outra música
Cego(a) para ouvir outra música
Não consegue
Eu sei