segunda-feira, 26 de abril de 2010

Arrasta-me, por favor


Eu estou com medo
creio que nunca senti isso
talvez porque nunca tive a capacidade
do espanto e hoje me espantei
quando vi a cara do anjo expulso do paraíso


Sempre enfrentei situações extremas
somente aquelas imprevistas
com a mesma tranquilidade de quem após o próprio
erro reconhecido, se desculpa e paga qualquer preço
para nunca mais repetir


Eu estou com medo
descobri enfim o que mais me perturbava desde que nasci
o "erro" de ter nascido
e todos que eu procuro conviver se calam para confirmar
que o erro é "meu" e devo pagar com a própria vida


E a cada investida da cobrança, se não pago
alguém que amo ou que preciso como a mim mesmo
é ameaçado grosseira às vezes sutilmente talvez até meu fim
e só se livram da dívida capciosa
se reforçarem o objetivo original (vingança?)


Então por onde vivo, por onde ando
uma legião de desafetos se formam e me apedrejam
e não há esconderijo eficiente ou alienação suficiente
minha morte não deve ser metafórica
porque minha vida não pode ser literal


Hoje eu tive medo pela primeira vez
mensagens de um anjo muito irritado, muito impaciente
invadiu meu lar, está muito perto, quase dentro
quase pronto porque também invadiu minha mãe
e por ela, o único amor que conheci, desisto de viver


Infelizmente, apenas porque não sei
apesar do não saber ideal
se minha mãe sobreviverá pelo menos um olhar
um único suspiro depois de meu último
porque tais anjos furiosos só param se morrer

literalmente em seu próprio inferno de inveja e covardia!!!

5 comentários:

Anita Mendes disse...

"minha morte não deve ser metafórica
porque minha vida não pode ser literal"
mais existensial impossivel!
um poema muito forte! e as vezes me pergunto tmb pq tenho que pagar pelo erro de ter nascido? creio que a grande culpa seria a de nao poder sentir-la.
se nao tivessemos essa culpa na consiencia do que verdadeiramente da vida poderiamos nos queixar?
beijos.. saudadinhas!!!!

Luciano Fraga disse...

Caro amigo Devir, catarse,gosto essencialmente de poemas assim, caóticos e que atingem nosso âmago e nossos amargos mais profundos.Desconfio de anjos, afinal qual o seu nexo e seu sexo...Jamais deixe o seu último suspiro doer..."Medo anda por fora, medo anda por dentro do teu coração, eu tenho medo de que chegue a hora...", forte abraço.

Devir disse...

Anita

Fazer do verso substância
da substância energia
da energia a mudança...

0utra vida
sem culpa
mesmo que seja
a morte, mas

Que medo!

Como confiar
em tão perversa
presente oculta?

Ela que jamais quer
e leva, então
por favor, sem queixas
arrasta-me se puder

Beijos em saldasdonas

Devir disse...

Luciano

A catarse é isso
uma piração
inspiração
sensação
de derradeiro
latejo

Devir disse...

TODOS ODEIAM O CRIS

E a cena se repetiu, mas
não fui tão "celeste", entendem?
Preciso enganar minha consciência e
morrer "sem querer", entendem?
Não posso contar com ninguém antes da idade da pedra, irmãos, meu filho e amigos, não posso também morrer para agradá-los, entendem?
Vejo um grande pedaço de osso da coxa de um mamute, descobri o que melhor posso fazer com esta substância "morta", tipo assim aos mortos o que já foi vivo, entendem?
Então, com esta arma na mão, fico torcendo para aparecer um inimigo de verdade, e eu morrer lutando para salvar o grupo, entendem?
Mas só ficar torcendo não me agrada, assim também como torturar sutilmente para alguém morrer lentamente, entendem?
Preciso morrer de um golpe, mas minha consciência não permite que eu mesmo me mate, entendem?