sexta-feira, 2 de abril de 2010

mimetismo e pensamento - a grandeza de uma tragédia


É impossível não observar a luta generalizada entre o predador e a presa em qualquer circunstância da natureza viva. E sempre o mesmo foco, a perpetuação, pelo menos do patrimônio genético intransferível. Não eram os Deuses astronautas, mas este achado é completamente científico. E só estamos aqui, ou então nossa mente virtual só quer entender, como, por quê e para quê estamos aqui não tão somente criatura.
A perpetuação física é impossível! Escuto House, o típico inglês que colonizaria os americanos perdendo a paciência com elocubrações sexuais.
Em um post, talvez, a um ano atrás, coloquei-me numa situação ficcional onde o House, de folga, acampara às margens do Grand Canyon... O tema questionava o pano de fundo sexual, e ele não acreditava que Deus estava certo. E o doce continuou sendo só mais um sonho. Imagine, rodeado de mulheres e a vida fazendo uma festa.
Se realmente somos antes dos nomes ratos, por que não revemos a tragédia, por que só eu vejo que podemos vencê-la? Ser humano é a comédia?
Do outro lado do mecanismo de procriação - minha juventude e o grande prazer em viver, the dark side of the moon in the bag - encontramos a complexa mecânica para defender a sobrevivência, em última instância individual. Como se antecipar à tragédia, como defender meus direitos de viver, como proceder aos duelos frequentes?
Obviamente é inócuo pensar tais questões limitada a situações de vida ou morte literalmente. Tolos limites apontam debilidade na defesa do maior patrimônio. A força nem sempre é transferida de um nicho a outro de relacionamentos. Pisa no coração quem não é capaz de pisar no pescoço, corta-se o pulso mas jamais a própria língua ou um olho funcional, corta-se todo o suprimento da vida para eliminar um problema territorial, etc, são exemplos dos engodos ou sobrevivência oriunda de tal mecanismo.
E toda sorte de estratégias constroi este espectro de pirâmide virtu/socio/bio/lógica. Escute a primeira assistente do House dizendo que o homem precisa ser mais interagente, menos replicante. Escute elas, é muito bom e não doi nada, e passa, oh, passa rapidinho, escute, a biologia já era. Não somos ratos, ye@h!
Perdoem-me tanto a brincadeira quanto a intimidade, o papo estava ficando chato.

10 comentários:

Unknown disse...

Eis a tragédia:
Somos essencialmente animais com um pouco mais de massa cinzenta.
Irônico o esforço gasto na negação (diferenciação) dessa essência quando ela é a base pra tudo o que nos cerca.
Be natural, Devir!

Beijos caligrafados.

Devir disse...

Entendi, ambos os lados da questão, e não adianta mesmo esmurrar pontas de faca, quando se queria, na verdade, é tomar as mãos para mostrtar novos caminhos e contar outras histórias.
Não é possível, mesmo, conservar os alimentos e se alimentar dos talheres e pratos e companhias e depois jogar no lixo a sobra.
E neste banquete ou miséria, os únicos sentimentos que nos lembra a vida, são a clemência e seu ressentimento; enquanto a morte é a soma dos desejos canalizados para qualquer esgoto a céu aberto.

Amo voce quando não sabe esperar e não recusa, e se faz cada vez melhor.

Devir disse...

...o sentido da vida.

Mas confesso, ando precisando de alternativas, rss.

"Bing - Bing - Bing
São inúmeras portas dispostas em ordem aleatória,
na primeira tentativa voce encontra uma cabra e precisa escolher entre a sobrevivência ou a liberdade; na segunda voce encontra um patinete e não tem escolha; na terceira voce encontra o sentido da vida e o sentido da vida lhe pede alternativas ao invez de escolha.
A questão é: (complete voce, Isis)

Devir disse...

(Preciso guardar em local bem visível este comentário que fiz para um post no blog Pink Pank, de Marcia Tiburi, e não estou conseguindo enviar.)

Creio que 30% do cinema trata deste tema, e ainda fico com Sinais, onde a "salvação" se fez cega, tanto no mal quanto no bem. Gosto de filme que me faz pensar, menos em Freud e mais Jung.
Saramago/Meirelles não oferecem salvação/solução, tão somente a sorte é motivo de esperança.
As primeiras guerras - perdoáveis, pois para escancarar a cara(sic) do mal, "mal de verdade, sorrateiro, clandestino, silencioso e ardiloso", é preciso o bem "bater de frente" - são os pontos principais da sua questão; por que elas se repetem?
Não existe mais outra guerra, a primeira se manteve sorrateira, silenciosa e ardilosa.
"Se por evolução científica e progresso intelectual queremos significar a liberação do homem da crença superstíciosa em forças do mal, demônios e fadas, e no destino cego - em suma, a emancipação do medo - então a denúncia daquilo que atualmente se chama razão é o maior serviço que a razão pode prestar." Horkheimer

A Paixão de Cristo, na importa qual ponto de vista cinematográfico, é imbatível, com relação ao tema, é "Como se o que aconteceu ali, naquele período de guerra iminente (a primeira guerra mundial), fosse algo que vivemos ainda hoje. Para mim soou atual, ainda que marcado por uma escuridão que muitos julgam não ser mais a nossa."

Forte abraço

Mariana Abi Asli disse...

Já viu uma zebra sendo devorada por leões? Um cão com a cabeça corroída por bicheira? Que tal um ser humano em fase terminal? Há argumento maior contra a vida do que o sofrimento biológico, a dor que palpita nas carnes, nervos e vísceras? Crianças nascidas sem planejamento, sem condições materiais, psicológicas e afetivas de desenvolvimento, isto é, bebês defecados, que amor além do estúpido justifica não abortá-los? Um animal outro qualquer trucidado por um atropelamento e que sobreviverá com o ônus de terríveis sequelas, por que mantê-lo vivo?

O "sagrado" não deve ser a vida, mas uma vida que não seja alvo da crueldade. E crueldade não é exclusividade do comportamento humano. Crueldade encontramos em toda parte da natureza. Defender a vida com sofrimento baseado numa espécie de valor intrínseco à própria vida não é um ato compassivo, é fraseologia mítica e religiosa, em última instância, não é um ato humano. Defender a vida priorizando-a como manifestação biológica "divina" é fechar os olhos para outro fator central: o sofrimento e a crueldade intrínseca à vida. Aliás, há frase mais estúpida do que "Crescei e multiplicai-vos"?

Em suma, o dionisíaco Sim à vida tal como ela é implica administração ou ausência total de compaixão. A propósito, não seria a compaixão a maior de todas as crueldades naturais?

Luciano Fraga disse...

Caro amigo Devir,consciência parece-me que é a oportunidade de ver as descobertas da atenção.Reconhecer a intranquilidade, identificar-se com ela, requer atenção.Este é o processo de nos relacionarmos com situações individuais e diversas, mas existe intranquilidade, paixão e agressividade e elas não precisam ser louvadas nem condenadas, são oscilações da mente.As vezes a liberdade é imaginada como a habilidade para alcançar desejos, mas estes muitas vezes surgem da ignorância e psicologicamente nos escravizam.Qual caminho trilhar para a libertação, para a verdadeira liberdade? Esse endereço seria um mito? Forte abraço.

Devir disse...

No primeiro parágrafo voce estampou a face mais cruel da vida, que se mantém graças a si mesma, apesar do inexorável. Chegamos assim ao gênese de todas as questões: o que é Vida, antes mesmo do que o que é a realidade?
Se abandonamos tal princípio, toda questão resultante não se tornará um engodo, porem deixará sempre a sensação de falta, de vasio existêncial; ou se não encaramos a questão matriz de todas as questões, a diferença entre o humano e todas as outras espécies vivcas cai por terra; em suma, a morte simbólica, não tão cruel quanto a literal, mas única causadora de sofrimento para quem morre, e variavelmente de felicidade para quem sobrevive.
Muito embora simbologias da morte jamais são assumidas porque também seriam preciso assumir as simbologias de quem mata.
Voltando ao princípio, vida é absoluta, infinita e eterna, e sei que a resposta parece a mesma da mesma, ou na melhor das hipóteses, mais da mesma. Mas basta uma colocação semelhante, que toda a preguiça para combater, ou ignorância para enxergar, ou conivência para se manter o mal, estampe na testa de cada um; a morte então faz parte da vida?
Rss, realmente, pensar é abraçar o sofrimento e, contingentemente, amar a morte; se a literal é impensável do ponto de vista amoroso, a simbólica é rasoável.
Quem se sente e se sente bem sendo tão somente, em saúde e calma, rasoável?
Tente, mesmo que seja por brincadeira, pensar um mundo onde não existe nada por acaso!

O segundo parágrafo é um corretivo em anexo prevendo a respostas que eu daria e dei. Porem seria correto o corretivo se (por acaso?) eu não deixasse subentendido a correlação de liberdade incondicional entre o ser humano e a vida. Explicando: se a vida é tudo completo, sua escolha não depende dela.
Ontologia do desespero? Bingo!
A idéia é essa, não saber esperar e não desistir, e não rir feito réplica de Dionísio, e manter ainda a ingenuidade de quem não sabe porque veio.

Compaixão, muito embora confundida com gentileza, gera felicidade; jamais geraria pedidos de clemência. A compaixão é inegociável, completamente o oposto de comamizade, rss.

Devir disse...

Esse endereço fica muito além do Jardim da Satisfação dos Meros Desejos, rss, parece título de filme do Buñuel. (Voce assitiu Esse Obscuro Objeto do Desejo, tantas vezes para entender como para si, ao contrário do trivial, o desejo sempre parece mais obscuro do que para o Outro?) Mas, igual como acontece na realidade, não se entra com desejos de fora!
Toda nudez será castigada? Claro, quando ela é de brinquedo.

Devir disse...

Realmente, o cinza ao cinza, cinza fica. Cores e tons, uma utopia ou delicadeza no trato com a natureza?

Beijo de yorgute

Devir disse...

A nudez de brinquedo é a perfeita imagem de Caaronte fora de seu barco, vivendo uma vida "livre", no porto de cá e de acolá, bebendo, fumando, trepando e muitas vezes chorando a ausência de sentido com mímicas ou frases camufladas ao corpo como se fosse a própria pele.

Luciano Fraga, atenção!, voce se divide em 2, uma parte que também perdeu a crença nos valores míticos expressados nos ritos, vide minhas críticas aos óculos escuro em velórios e, na outra parte, como quem ainda aposta tudo nos mitos mas não faz o mínimo que mereça um profundo trabalho de luto.

Desde os primeiros posts e comments que percebi sua verossimilhança com Caaronte, e isto não foi confusão!, e de cara condenei a obrigatoriedade da exígua moeda para que não ficasse vagando pela imortalidade afora.

Infelizmente estou feliz, porque eu! não deveria estar, um abraço.