sábado, 8 de agosto de 2009

Old loves Die Hard


Aonde está a minha ilha virgem?

Vejo sinais mínimos nas gaivotas corajosas

que vivem como pombas em praia tomada pelos humanos.


Aonde está o meu continente sustentável?

Recebo notícias raras dos recônditos de universidades

que descobrem novas energias nas bostas das bactérias.


Aonde está o meu prazer inviolável?

Alcanço sua sutileza terminal nas imagens e letras

estupradas pelo cinismo como gesto tão natural.


Aonde está a minha dor existêncial?

Ainda a recordo entre espasmos artificiais

para pagar qualquer tipo de visibilidade ao outro.


Aonde está a minha razão?

Imagino ainda gemendo após apedrejada na praça

para lavar a alma do povo de seus sonhos de luxúria.
§
INTERTEXTOS

ZAYANDE (“The one who gives life”)
Lloyd Schwartz with Rogério Zola Santiago

In Iran there’s a river
that comes down from the mountains
with no desire whatsoever
to throw itself into the sea.

It prefers to go to go to go
nowhere
without explaining
its motives for moving.

It races past us
on its travels,
its departure part
of its own brief arrivals.

Like a rushing train,
that makes a home
of each station it passes:
it moves on; it remains.
Transitive verb of being:
to be
is both the being
and the what’s-going-to-be.
Lovers families children flowers
all will testify:
the river stays in their lives
never intending to stay.

Where it came
from, it knows,
and knows where it
wants to go.

Though it starts high among the snow-caps,
its ocean is the desert,
and what’s waiting for it
are whitecaps of sand,
shoals of hard rock
and bitter earth-apples
covered with the grit
of a bitter underground sea.
To fulfill its destiny,
this river,
saint-like,
has taken its name
from its harshest surroundings—
stripping itself
of the anxieties
other rivers have
as they daydream
of joining the sea,
—giving up everything
to be fried
in the desert’s pure flame.

When others find its path strange,
and go rattling on
about the marvels of the sea,
the river will whisper
to its fishes: Listen—
the desert is my other half.
Who wants be
just another river
dribbling into the sea?
What a dull way for a river
to achieve glory.
The ocean, I know,
would take me in. But my fate
is this:
to live within my own limits;
and to make the desert come alive.
It’s written into my name.

RIO ZAYANDE, O QUE DÁ VIDA
Há no Irã um rio
que descendo das montanhas
não tem desejo algum
de lançar-se no mar.

Prefere ir ir ir
a lugar nenhum
se é que assim se pode
definir seu passar.

É que ao passar
faz do passar
seu passageiro
chegar.

É como um trem que passa
mas em cada estação que chega
chega para ficar.

Assim ele passa
e está sempre lá.
Assim transitivo
ele é
- e ele está.

Amantes
famílias
crianças
flores
podem testemunhar
que esse rio passante
ficou em suas vidas
sem pretender ficar.

Ele sabe
de onde veio
e aonde vai chegar.

Desceu das neves
mas o deserto
é seu mar
esperam-no
ondas de areia
cardumes de pedras
frutos de terra dentro
do agreste mar.

E para que o encontro
com seu destino
seja exemplar
esse rio
como um santo
vem se adaptando
à circunstante aspereza
vem se despindo
das ânsias
de outros rios
que devaneiam com o mar
vem abrindo mão de tudo
para no fogo do deserto
se purificar.

Quando estranham seu trajeto
e lhe contam
das maravilhas do mar
com seus peixes considera:
-Não sabem que o deserto
é meu complementar
não quero ser apenas
um rio a mais
se diluindo no mar
essa é forma banal
de um rio se gloriar.
O mar, eu sei
me aceitaria
mas minha sina
em meu nome inscrita
é essa:
ir vivendo em minhas margens
e o deserto
fecundar.

http://www.affonsoromano.com.br/blog/index.php

21 comentários:

Luciano Fraga disse...

Amigo Devir, onde estou agora? Onde encontra-se a minha voz? O que tenho feito para ajudar na mudança? No conforto de casa rolando gêlo, jogando cartas,discursando e pregando em meus desertos, adormecido no comodismo quando ainda não me sinto ofendido ou atacado, somos feitos de retóricas e "papos furados", nos anestesiamos e dormimos sobre colchões macios de nossos fracassos.Para variar, excelente."ainda somos os mesmos e vivemos como nossos pais".Assim,feliz dias dos pais, sem os tradicionais presentinhos.

Devir disse...

De greguinhos(as) e talvez, oh
gregas incorrigíveis!!! Mas...
Como diz toda "retóricas e papos furados", 'preecisa ser assim'.
Amém, sinal da cruz, é nóis, rss

Recebo tais perguntas como grande
presente, Luciano Fraga

Presentes trocados, "nos anestesiamos..."
Tentarei co-responder

"Onde estou agora?"
Na teoria:
Em última redução razoável, em si!
Na prática:
Em inexorável multidão, interna e externa, 'céu e inferno' espelhados
e confusos, onde raso ou profundo se invertem a todo instante, onde medo e ansiedade se revesam feito vestes coloridas e opacas, quando o nú se reserva ao banco de réu confesso de crime inexistente e difinitivamente a vida foi, é e será um julgamento sumário.
Mas para que o papo não se fure em ambos furtos da verdade, juntemos a teoria à prática, voce está, neste instante, onde até eu posso alcançar com certeza, aqui, incondicionalmente está aqui, com toda a sua bagagem, corpo e espírito, junto a mim.

"Onde a sua voz?"
Perfazendo com maestria, sem escolha, a defesa de um equilíbrio, quando enfim apareceu, também sem escolha particular, uma voz a representar o indivídual contra o social.

"O que faz a sua ajuda?"
Aparentemente mantém com firmeza o equilíbrio, o foco principal do conflito, não deixando que nenhuma das 3 partes do devir se sobressaia ao prejuizo das outras.

Meu grande amigo, Luciano, de todos os nomes, aquele que o fenõmeno da vida mais se aproximou da perfeição, foi a HISTÓRIA.
Da História só sabemos o passado, mas é óbvio que já tem o presente e o futuro. Atenção: chover no molhado é uma necessidade vital!

Ataques e ofensas jamais deixarão de existir enquanto não se abolir o sujeito da linguagem, rss!!!
(Se voce tiver o telefone da Adriana karnal, ligue imediatamente, antes que ela leia tal afirmação, porque pode causar espasmos sonoros)

Finalmente, quero que receba com todo o meu carinho este prtesente, um grande abraço e Feliz Dia!!!

Marcia Barbieri disse...

É sempre um prazer visitar seu espaço,são palavras que fazem a diferença...desculpe a ausência,às vezes, me perco na futilidade das coisas...mas suas reflexões me colocam novamente no eixo das coisas singulares.

beijos ternos

Devir disse...

Marcia

Não queria jamais pensar que idades ou seja lá o que nomeiam
sejam divisores de águas na vida.
O tanto que inventam para afastar as pessoas uma das outras é caso que talvez, rss, prove a existência do diabo. E perdoe-me a sinceridade, mesmo com tanta prova ao contrário, não acredito nele.

Para agradecer tão singelo sentimento que tenho por voce, ofereço-lhe a Ária, cantilena, de Villa lobos, nesse domingo.

Tento imaginar um acontecimento:
Nós, só com o que ficar, depois de descartarmos toda particularidade inerente ao fator social, nos olhando profundamente e ouvindo, depois daquela ária, Summertime, de Charlie Parker e Chet Baker.
O que mais faríamos, seria de extrema resposabilidade, não acha?

Por favor, não me convença que tenho imaginação fértil D+, rss.

Que a ternura sagrada seja sempre,
minha querida, Marcia Barbiere.

Luciano Fraga disse...

Devir amigo, a linguagem tem coisas estupendas e tem seus vícios também, que às vezes cheiram mal, assim é tudo e somos todos, geniais,imbecis, angelicais, com muita veemência na origem por sinal.Agora segue um abraço.

Devir disse...

É como acontece nos textos sagrados, especialmente na biblia, que nos é mais próxima, a iluminação percorre tantos caminhos que geralmente os menos dispostos à mudanças de seu estado "natural", sentem muita dificuldade para entender o que está escrito. E sempre também "na origem" o termo sagrado, sofre suas mais estúpidas reduções.

Foi incrível passar por tal experiência, caro amigo.

Pessoas altamente aculturadas repetindo as mesmas ancestrais situações de fracasso da civilização. Já se fazia de 6 a 8 meses, que o tópico principal dos posts e comentários em seus blogs eram exclusivamente alusivos aos meus posts e comentários. Diz-se então com categoria, que era cõmico só para não ser trágico.

Não é preciso nem fazer comparações para se chegar a quem estava produzindo ALGO NOVO; sem o qual, óbvio, não há qualquer mudança histórica. Por exemplo: Este tal Sarney, e tantos outros bem vivos por aí e governando, repetem procedimentos desde os tempos das capitanias hereditárias.
Por que?

Eu sei tal resposta, mas nem vou dizer, chega de estragar prazeres, quando tudo todo dia se parece uma festa; e só para os bem parecidos!

Não consigo acreditar que voces pensavam que eu não percebia o quanto me fazia de idiota; durante todo este tempo! Isso, se for verdade, vai deixá-lo muito em dúvidas de onde provinha o mal cheiro e todos os vícios.

Obrigado por estar aqui ainda, isso prova que nem tudo foi tão decepcionante, e a esquisofrenia é um mal efeito de causa.

Grande e forte abraço.

Cristiane Felipe disse...

Fascinante, só. Os versos que falam e gritam

Devir disse...

Oh que mania

sempre no
último
suspiro
um beijo

Cálido
Calado

e eu
então
vivo
aceito

Ah que mania

não morro
quero mais
muitos
sempre

Anita Mendes disse...

devir,
teu existencialismo nesse texto transborda o limite dos rios e desemborca numa profunda agonia honesta e natural. Impossível não questionar-se. trancendermos em bactérias,cinismos e razões , violamos as regras , mas sempre voltamos a fazer parte do mesmo ciclo: a insatisfação.

porém te pergunto: ser arrebatado pelo povo, sangrar a culpa de um herói e questionar as incógnitas do deserto e o rio te(nos) libertaria?

de Candide,Voltaire( um dos meus livros favoritos):

"'What`s optimism?asked Cacambo.'"
"'It`s the passion for maintaining that all is right when all goes wrong with us",replied Candide, weeping as he looked at the negro. And with tears in his eyes, he persued his way to Surinam."

so that`s it ,my friend: Que tal seguirmos o nosso caminho para Suriname ?
creio que acreditar nas lágrimas da esperança nos move além ... porque nada mais nos serve.

beijos enormes pra ti,
Anita.

Devir disse...

Anita

Por favor, nunca, nenhum de voces, pediram-me para traduzir ou explicar qualquer texto meu. Portanto, sempre fiquei na dúvida se estava ou não sendo entendido.
Também, não cabia a mim saber quais eram os motivos, se acaso não me entendiam, não me perguntarem nada mais.
Mas eu sim digo, sem nenhum problema, que não entendi seu comentário e peço que traduza, pelo menos, o que está em inglês.

Adriana Godoy disse...

Devir, ao contrário do que disse à Anita, já te disse algumas vezes que nem sempre entendo seu texto, mas, do que consigo apreender, gosto. Então, não sei o que acontece, sinto em vc uma certa revolta, um não sei quê. As coisas quase sempre são simples e a gente tem mania de complicar. Viver é complicado, mas o que faz a vida nem tanto. A sua ilha virgem já não é mais, desde que abriu o espaço pra outra gaivotas fazerem o pouso. Esse poema que introduz o post retarta alguma coisa sobre isso. Beijo.
PS: Continuo gostando ...ainda que não entenda tudo. Mas isso faz parte da poesia.

Anita Mendes disse...

aiaiai! te compliquei, devir?
fui capaz disso?(rs)

"What`s optimism?asked Cacambo.'"
"'It`s the passion for maintaining that all is right when all goes wrong with us",replied Candide, weeping as he looked at the negro. And with tears in his eyes, he persued his way to Surinam."

"o que e optimismo? perguntou Cacambo."
"E a paixao por manter tudo aquilo que e certo quando tudo vai errado conosco" respondeu Candide, choramingando ao olhar o negro.E com lagrimas nos seus olhos ele seguiu seu caminho a Suriname."
espero ter me aclarado agora, querido.
beijos pra ti, Anita.

Anita Mendes disse...

essa parte se refere a essa:

porém te pergunto: ser arrebatado pelo povo, sangrar a culpa de um herói e questionar as incógnitas do deserto e o rio te(nos) libertaria?



"imagino ainda gemendo após apedrejada na praça
para lavar a alma do povo de seus sonhos de luxúria. "
e essa parte a essa"

trancendermos em bactérias,cinismos e razões , violamos as regras , mas sempre voltamos a fazer parte do mesmo ciclo: a insatisfação.

"Recebo notícias raras dos recônditos de universidades
que descobrem novas energias nas bostas das bactérias.

Aonde está o meu prazer inviolável?
Aonde está a minha razão?"

espero ter me aclarado ,devir.
entendeu?
beijos

Devir disse...

Apedrejada, a razão!!!
"Trancendermos em bactérias?"
Aonde voce leu isso, Anita???

Recebo notícias raras dos recônditos de universidades
que descobrem novas energias nas bostas das bactérias.
=sobre novos combustíveis, a partir de cascas de laranja.

Devir disse...

AGod

"A sua ilha virgem já não é mais, desde que abriu o espaço pra outra gaivotas fazerem o pouso."

As gaivotas trazem à praia do continente sinais...

Devir disse...

Anita, confundi o livro
pensei que fosse Candido, de Voltaire.
E assim, meu comment no seu espaço ficou meio sem sentido, ou não?

Devir disse...

Valeu, Antonio. São palavras belas quando não se tem um contexto específico na vida de cada um.
Aparecerei em breve.

Luciano Fraga disse...

Amigo, apesar dos pesares já não vejo muita importância em dizer EU, em qualquer campo, há linhas, territórios, segmentos: velozes, lentos, linguísticos, com densidade própria, este é o caminhar rizomático, continua o abraço amigo.

Devir disse...

Luciano
Creio que cada um precisa encontrar sua forma de ramificar, para evitar a influência, a ponto de impedir o mesmo livre arbítrio dos outros. Não é fácil, claro, envolver-se em inúmeros assuntos e ainda colocar o seu. Calma, quanto mais trabalhado melhor.
Descubra um caminho que possa ser entendido e utilizado por todos ao mesmo tempo.
Lembra quando disse sobre o poema ou qualquer tipo de texto, com endereço certo, com destinatário, porem que este não seja o universal? É quase como voces vinham fazendo, mas que só servia a uma pessoa(eu?).
Claro que a princípio parece uma enorme confusão. Reflita!
E manda ver.

Luciano Fraga disse...

Caroa amigo Devir,não vejo confusões,pelo contrário, a necessidade de mudança é natural, esta é a máquina que nos move, a terra mãe das transformações, sempre.Na minha modesta opinião, tudo, tudo mesmo que roda em nossos blogs( de todos nós que temos uma conexão), são exercícios, práticas de entendimentos, sem perniciosidades ou malícias,assim mais outro abraço mestre.

Devir disse...

O amor
não escolhe entre Céu e Rô Rô
sobre isso, oportunamente
devo dizer
que ainda estamos
ou bem lembramos
Os Doces Bárbaros.

Parece que voce resolveu
atravessar o inferno
dos Poetas!!!

Grande Luciano