sábado, 7 de novembro de 2009

A falsa gentileza

Olhe-se neste espelho e venda sua própria pele

Surfo precisando de socorro, é verdade, ou de perdão,
conforme o caminho,
a laicidade, ou a crista da onda,
vai em direção ao espelho,
e eu sei que atrás está o rochedo.
Não importa qual a origem do nada,
a relatividade do minério, o barro,
é o único continente que vou encontrar.

A única chance de sobreviver, do pó ao pó,
me agarrar em tão impiedosa encosta.
O limbo e as faces calcificadas darão boas vindas.

Renascer já virou rotina, ou ignoro o passado,
considero-o uma mala,
e o abandono em qualquer estação,
ou o protejo em atitudes contemplativas de qualquer beato.

Peço perdão àqueles que se encaixam nas minhas críticas,
e socorro aos que experimentam minhas reflexões.
E a gentileza de sempre aos neutros.

4 comentários:

Luciano Fraga disse...

Caro amigo Devir, para quem não conhece a sua escrita, consideraria uma oração autobiográfica,uma confissão."os pensamentos que dirigem o mundo caminham com os pés de pomba".Mas sei que em seu espaço não existe pregação, não exige dízimos ou fé,tampouco empurra alguém para o abismo.Como diria Sr F. N.:"e assim conto minha vida para mim mesmo" Forte abraço,mais uma dose...

Devir disse...

Sim, os pés de pomba infestam nossas calçadas, parques e calhas.
Tem um conto interessante do Rubem Fonseca, onde o ricasso paga o tipo malandro carioca, da nata e não da maldade, para ensinar uma receita para que possa também chutar os pombos: placebo.

E, preocupante, corro o risco desta tal pregação, porque boa parte da minha vida, estive no inferno e bravamente tentei questionar seu dogma, mas como, claro, missão impossível, voltei, volto sempre, e não posso cair em tentação de apagar o caminho, para outros bravos, com demagogias ou gentileza de rei, ditador ou deus.
Realmente, cercear a liberdade alheia não me vale nada.
E a fé, se isto não for pessoal, então o mundo acabou e eu nem vi.

Em essência, contar a vida para si mesmo é a maneira "lipo", onde a gordura só faz pesar.

Claro, que estou afim
a noite nunca tem fim

Grande abraço, Luciano

pianistaboxeador21 disse...

Como o luciano já citou nietzche, tb me lembrei dele. E do capítulo no qual zaratustra encontra o anão e expõe as idéias do eterno retorno. O tempo, taí um assunto que dá pano paras mangas. Lembrei tb do blade runner, no momento em que deckard é salvo pelo androíde e este diz a seguinte frase, uma das mais belas já pronunciadas na telona: "Todos estes momentos se perderão pelo tempo como lágrimas na chuva. TEMPO DE MORRER" BONITO demais da conta, e tua escrita me fez lembrar essas coisas.
abraço

Devir disse...

Pianista, a cena do Blade Runner realmente é letal, ou inócua, sem meio termo, e impossível experimentá-la sem sentimento.
E me remete, pessoalmente, à capa e às poesia do livro Poesia, de T.S.Eliot, no Brasil, tradução de Ivan Junqueira.

Tempo de morrer, esta idéia tem o gosto de Deus, porque é um paradoxo; é o mesmo tempo de renascer.
Entendê-la de outra forma é vil.

All those...
moments will be lost...
like tears...
in the rain

Outra frase, dentre tantas, que considero o melhor do filme está quando o Roy procura o criador para desabafar suas angústias, e ouve:
“A luz que brilha o dobro arde a metade do tempo, e você ardeu com muito brilho, Roy”

Vamos mensurando. Abraço