domingo, 1 de novembro de 2009

Nas fontes de verdade e de mentiras



A HISTÓRIA DO JOIO FOMENTA SUA ANGÚSTIA

"De fato, qualquer explicação da realidade que não seja capaz de fundar significativa e racionalmente um ethos permanecerá insuficiente. Ora, a teoria da evolução, lá onde se arroga o status de philosophia universalis, procura fundar de novo evolucionisticamente também o ethos. Mas esse ethos evolucionista, que reencontra inevitavelmente o seu conceito-chave no modelo da seleção, portanto na luta pela sobrevivência, na vitória do mais forte, na adaptação bem-sucedida, tem a oferecer algo muito pouco consolador. Mesmo quando procura melhorá-lo de vários modos, continua sendo, em definitivo, um ethos impiedoso. A tentativa de instilar o racional em algo que é irracional em si fracassa aí de modo evidente. Para uma ética da paz universal, do amor efetivo ao próximo, da necessária superação do particular, de que temos necessidade, tudo isso tem pouca serventia. Nessa crise da humanidade, a tentativa de dar novamente um sentido racional à idéia do cristianismo como religião verdadeira deve, por assim dizer, apoiar-se em igual medida na ortopráxis e na ortodoxia. Seu conteúdo, hoje, tal como no passado, deve consistir essencialmente no fato de que o amor e a razão, como dois verdadeiros pilares do real, confluem mutuamente: a verdadeira razão é o amor, e o amor é a verdadeira razão. Em sua unidade, eles constituem o verdadeiro fundamento e o objetivo de todo o real."
Amor e razão, os dois pilares do real por Joseph Ratzinger .
Na ocasião, cardeal Ratzinger.
Hoje Papa Bento XVI.
Extraído da Palestra Verdades do cristianismo?, proferida pelo cardeal Joseph Ratzinger, no dia 27 de novembro 1999, na Universidade da Sorbone em Paris, publicada em italiano pela revista Il Regno-Documenti, vol. XLV (2000), n. 854, pp. 190-195.Criação e evolução, segundo o professor Ratzinger: o cristianismo é o verdadeiro iluminismo

A HISTÓRIA DO TRIGO ALIMENTA SUA CORAGEM

Sabemos o que é criastianismo, mas sabemos o que é amor?
Experimentamos o que é amor, mas experimentamos 'as palavras de Cristo'?
Por que evitar o evolucionismo ao reduzi-lo ao irracional da seleção natural pela força?
Por que atestar o iluminismo ao enfatizar o racional da seleção artificial por valores abstratos?
O couro de uma ou várias chinchilas possuem valores reais?
O sacrifício de animais servem como prova de amor quando presentes?
Os dentes de elefantes podem se transformar em Arte e Riqueza?
Existe sabedoria e bondade na seleção por quociente de inteligência?
Para não ser caçado feito um cão, nomeadamente danado que escapou da corrente de dono displicente, mudarei o curso do post.
O animal selvagem(irracional!) elimina suas crias anormais(fracas), num gesto para livrá-lo do sofrimento que certamente encontrará na competição pela sobrevivência. Algum tempo depois, separado ou não da família, ele se aproveita dos mais novos para manter a sobrevivência da espécie.
O homem aprende que biologicamente o incesto não é recomendado, porque não é também recomendado eliminar os anormais(fracos).
Tudo se parece muito simples na teoria, à luz da razão, quando não alcança os meios para atestar uma razão da natureza, tomando-a somente como O Fraco, na vida.
Como se houvesse duas lógicas apenas, para única razão de sobrivivência; o forte versus o fraco.
Repito: duas lógicas apenas. O forte vencer o fraco, e o fraco ser derrotado pelo forte.
O Deus mais forte vence o Deus mais fraco, rss.
Conforme nos afeiçoamos pela razão, pelo verdadeiro conceito de razão, percebemos que se tivesse que ser única, esta seria a da natureza.
Mas ser humano não é abandonar e sim transcender a própria natureza.
E não existe melhor conceito de transcendência, que seja mais difícil de mascarar, é a Arte e a Sabedoria. Destas, estupidamente, pensam que se baseiam somente na técnica pessoal e jamais no conceito de razão da natureza(irracional), ou que seja impossível ensiná-las. Isto prova quanto os "poderosos" não são estúpidos, porque historicamente, elas são as primeiras na ordem de repressão (confira a diferença entre erotismo e pornografia!).
Voce, leitor, pode encontrar um bom exemplo desta "dialética" do racional e do irracional, em filmes do Ingmar Bergman, principalmente em O Rosto(1958), Persona(1964) e A Hora do Lobo(1968). Claro que toda a cinegrafia dele é instigante. Encontrei duas frases bem pertinentes e atuais, para quem não basta o nome, que se preocupa realmente com Educação e Religião, as bases lógicas do Iluminismo:

"Humilhar e ser humilhado são para mim os dois sentimentos que constituem uma componente ativa de todo o nosso sistema social. É um dos sentimentos que marcaram a minha infância: a humilhação. Ser humilhado fisicamente, em palavras ou em uma determinada situação. Eu me pergunto se as crianças não experimentam a todo instante e de forma intensa este sentimento de humilhação nos contatos com os adultos e com outras crianças. Todo o nosso sistema de educação é em realidade uma humilhação e quando eu era criança isto era ainda mais evidente que hoje. O pranto da humilhação e o sentimento de ser humilhado causaram muitos problemas em minha vida. Esta forma de angústia volta a me assaltar, por exemplo, quando leio uma crítica, seja ela boa ou má. Uma crítica pode ser extremamente dura sem com isto ser humilhante. Mas alguns elogios podem, tanto quanto críticas negativas, me parecer humilhantes. O que eu sei melhor é onde e como os artistas sofrem humilhação. Penso, por exemplo, que a burocracia que nos cerca é fundada em grande parte sobre um sistema de humilhações, o que cria um dos mais terríveis e perigosos venenos. Creio firmemente que a pessoa humilhada se pergunta constantemente como ela poderá humilhar uma outra pessoa, como ela poderá devolver a bala. E esmagar o adversário. E paralisá-lo. E eliminar nele a idéia de qualquer reação".
"Olho para mim mesmo como uma espécie de feiticeiro, uma vez que o cinema é baseado numa ilusão do olho humano. Cheguei à conclusão de que se vejo um filme com a duração de uma hora fico sentado diante de 27 minutos de completa escuridão – os pedacinhos pretos que separam os fotogramas do filme. Quando exibo um filme sou culpado de fraude. Uso um aparelho construído para se aproveitar de uma certa fraqueza humana, um aparelho com o qual posso sacudir a platéia de uma maneira altamente emocional – fazê-la rir, gritar de medo, sorrir, acreditar em histórias de fadas, tornar-se indignada, sentir-se chocada, encantada, profundamente tocada, ou, talvez, bocejar de tédio. Em qualquer dos casos eu sou um impostor ou, se a platéia está desejosa de ser guiada, um feiticeiro. Apresento truques de feitiçarias com aparelhos tão caros e maravilhosos que qualquer artista do passado daria tudo no mundo para possuí-los".

Obs.: Espero que uma dica minha seja interessante, sobre cinema:
http://www.escrevercinema.com/index.htm

8 comentários:

Luciano Fraga disse...

Caro amigo Devir, a net através da Claro tem-me deixado irritado, fico impossibilitado de postar em seu blog e dos amigos, voltarei, forte abraço, vai desculpando.

Devir disse...

Não há nada pra desculpar, Luciano.

Aproveitando o assunto, faz-me um favor, levante por aí, (se) com voce e com(!) suas amigas, se há algo ou algum motivo para que eu peça desculpas, ou me retrate, por algo que 'realmente' cometi que resultou em um mal (em si). E, se estou lhe pedindo tal tarefa indigesta, é porque respeito a boa educação, mas entre amigos existe amplitude além do costume.
Não é ironia, apenas estou com a sensação que há uma certa comemoração no suposto fim 'daqui' entre eu e elas.
Creio que, pelo menos sempre agi assim, quando se desfaz uma interlocução, assim como quando se interdita, sempre existe um motivo patente.

Uma frase que gosto muito de repetir em situações semelhantes, quando se torna a retatação pertinente: O Bem é tão quanto ou mais cruel do que o Mal.

Manter ambos sentidos bem deliberados, e jamais um ou outro ignorado, penso eu, é uma questão de coragem, no mínimo.

Grande abraço

pianistaboxeador21 disse...

Um post muito pertinente nestes tempos de novo ateísmo. Nunca tinha lido nada do Papa, e gostei do texto.Tenho relido Nietzche ultimamente e tiro muita coisa de proveitoso. A idéia de aceitar o fim e de que a vida é mesmo uma merda, mas que, mesmo sendo uma merda,ela deve ser vivida plenamente porque somos fortes e guerreiros e não vai adiantar nada ficarmos nos lamentando.
se por um lado essas ideias me ajudam a encarar o cotidiano, por outro, elas me prejudicam enquanto ser social, porque neste sentido, em sociedade, só os fortes sobreviveriam, tudo isso aí, essa força que emana de nietzche e de wagner é bela e é poderosa, mas tb é muito perigosa e aí, nessas horas, eu prefiro a oração de São Francisco. Um dos mais belos poemas sobre o amor fraterno.
Obrigado pelas dicas de filmes.
Abraço

Devir disse...

A merda está aí mesmo
tenho certeza que voce concorda comigo, mas
infeliz de quem pensa, que ser bravo e aceitar tal, é só dar um excelente exemplo de grandeza.
Não basta o sublime, a história nos mostra até no teletube. Creio que toda a loucura de Nietzsche também serve, no mínimo, como mais outro exemplo. Ninguém mais além dele, ainda, claro, levantou a maior bandeira do conceito absoluto de igualdade.
Porra, e hoje eu ia assistir ao novo filme do Tarantino, este tambem levanta uma ousada bandeira desta igualdade absoluta, mesmo que nos mostrando o mais pérfido oposto extremo.
A diferença, que sempre foi siamesa da liberdade, virou se torna cada vez mais tão somente uma questão de imagem, rss, assim como se escolhe animais para o abate.

Seja bem vindo, Pianista. Espero que já não haja mais nada nas entrelinhas, porque, acredite, eu me esforcei; assim como disse a grande poeta Marina Colasanti:

"Eu sei, mas não devia

Eu sei que a gente se acostuma.

Mas não devia.

(...)"

Abraço

Luciano Fraga disse...

Caro amigo Devir,saiba de algo,você acaba de receber a visita de uma figura impar,grande escritor-Daniel-Pianista,você gostará.Se existe algo marcante também em minha vida é a humilhação, quando criança passei por fato marcante,tudo para ser obrigado a tomar benção para uma velha tia(beata- católica), foi extremamente doloroso e ficou a dura lição, jamais humilhar alguém, seja lá qual for a circunstância.Temo esta casta humilde e misericordiosa,vestida com a capa da pura devoção."pequenos abortos de beatos e de mentirosos começam a se arrogar as noções de "Deus", de verdade, de luz e de amor.Os Evangelhos constituem o exemplo da corrupção e da mentira.Forte abraço.

PS. Haveremos de saber.

Devir disse...

Sim, ousada observação, Luciano

A mesma capa usa-se na riqueza, destes beatos "não fracassados" temo muito mais, porque assim como aquelas independe da sinceridade de sua fé, estes também se devotam em edificantes altares, não importa a procedência de seus deuses, a missa é a mesma. Vide o tráfico/jogo/guerras!

Em mil anos, será?, haveremos de saber?

O comment do Pianista, outras coisa que já li, e poucas que escrevi, ps sabemos. É-me uma grande surpresa, tanto também
sua refinada escolha entre fé e razão, desfazer a separação corpo e alma, São Francisco de Assis. Veja esta oração:

Ó Mestre, fazei que eu procure mais:
consolar, que ser consolado;
compreender, que ser compreendido;
amar, que ser amado.
Pois é dando que se recebe.
É perdoando que se é perdoado.
E é morrendo que se vive para a vida eterna.

Sua sentença contra o crime dos evangelhos é um pouquinho impiedosa, dentre eles temos exemplos(temos?rss) de erros humanos, obstinados portantos cegos a buscar - "noções de "Deus", de verdade, de luz e de amor" - salvar ou corrigir - "bastardos inglórios" - a vida.

Comfortably Numb, Tool&Pink Floid, com toda esta distância dá tanto prazer quanto em uma roda de samba, cerveja e mulher bonita, porque nem sempre prazer significa humilhação para quem sofre as dores do mundo.

Grande Abraço

Anita Mendes disse...

devir, gostei da interligacao que vc fez entre o amor, cristianismo e cinema. O cruzar da linha e uma mentira ,o ficar do outro lado tambem.estamos sempre nessa luta do procura pela verdade absoluta das coisas, do que elas tem a nos oferecer mais que as mentiras. as perguntas sao intrigatentes porque nao sabem da resposta. ...e eu fico aqui ,no meio disso tudo cruzando quando me da vontade , me agarando no que pode ser ao meu favor: afinal sou humana.(rs)
beijokas e beijokas... saudadinhas eternas de ti.
Anita.

Devir disse...

Muito legal, voce por aqui, Anita

Nesses pra lá e pra cá, vai vivendo como quer, e´só por não parar de um lado ou outro, ou encima do muro, já é grandeza.
E não é fogo cruzado, porque, lembra, minhas balas são de festim.
Acredito que ainda vamos rir muito desse tempo tão confuso, de lado a lado, claro. Quando não há mágoas, o por vir sempre será benvindo.

Aquele grande beijo