segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Sobre espelhos partidos

"É compreensível que alguns lastimem o vazio atual e busquem, na ordem das ideias, um pouco de monarquia. Mas aqueles que, pelo menos uma vez na própria vida, provaram um tom novo, uma nova maneira de olhar, um outro modo de fazer, aqueles, creio, nunca sentirão a necessidade de se lamentar porque o mundo é um erro, a história está farta de inexistências; é tempo para que os outros fiquem calados, permitindo assim que não se ouça mais o som da reprovação por parte deles..." (Michel Foucault )

Nas escolas de rua
Então todas as questões estão passadas, terminadas todas as questões possíveis, porque tudo já está "em seu lugar" e a vida a limpo não nos expõem mais a pesadelos de terrores, ou luxurias, ou ambas, mais comuns, portanto, volto à ficção, meu lar - o lugar sagrado onde a mentira não contagia - o céu ou o inferno, conforme minha cara de bode.

Apesar de não concordar com esta nova era uma vez... porque "sempre resta um pouco" da questão: ser ou não ser.

Desterrado, a forma mais fácil de cair eternamente para o fim deste momento, resolvi aguardar relaxado e gozando, até o "juízo final", rss.

Vou fazer uma ficção, ainda na forma antiga, quando a reflexão, a mesma que se exigia para solucionar questões, sobre química e física; a face expiatória que mais usei, "porque a gente é assim" e não se pode perguntar, porque não há jamais resposta plena.

Espero que este "novo" conhecimento se mantenha atento à nova ordem mundial, um pouco da minha, um pouco da sua, um pouco de todas e, até mesmo um pouco daquela cantada por Caetano Veloso; algumas coisas fora de ordem porque também sou do mundo.

Há muito tempo atrás, quando ainda estava em meu estado gasoso, vivia ao sabor da temperatura.
Eu não tinha outra alternativa, podia somente obedecê-la, aumentar ou diminuir, e o movimento só acontecia devido a variação da sensibilidade de cada pessoa.
Ao chegar em estados mais avançados de vida, consequentemente de permanência e acumulo de experiências repetidas, a partir do momento quando já se podia avistar o "sempre suposto!" fim, quando a sensação de inutilidade, esta a mais inútil, dava suas graças, passei a brincar, portanto, de reagir diferente da natureza.
Neguei as leis de "ação e reação", de "causa e efeito", de "dando que se recebe", de "gentileza gera gentileza", da " toda barbárie se finda na civilização", de "tudo que sobe, desce", do "nada se cria, tudo se transforma", etc., apenas para contrariar a lei maior de movimento e repouso, a Inércia.
Lembro que este nome horrível era tomado, como o nome Deus; essa energia irrecusável que nos mantém vivos.
E, devo confessar, era um prazer imenso, quando todos se movimentavam, eu ficava parado, e vicie versa.

Levei esta brincadeira até meu último suspiro, e minha morte foi quase como gozar durante um beijo de amor, ou um olhar de amor, ou um gesto de amor, de dentro de mim para dentro de outra pessoa, foi quase como um piscar de olhos, e tão logo reapareci, aconteci-me em estado sólido.
Em meu estado sólido reencontrei muitos amigos, mas não pude reiniciar completamente a mesma amizade.
Muitos deles reclamavam porque se sentiam prejudicados, pois haviam reacontecidos em estado líquidos e se odiavam quando se derramavam por aí.
Estes, em seus estado líquidos, tentando se conter a todo custo, imputavam a culpa de seus íntimos transtornos a todos em estado sólido, e só os perdoavam se caso pudessem usar a solidez para suas contenções.
Eu imediatamente percebi que aquela "coisa" não ia ser nem diversão nem evolução, muito menos ambas, então resolvi permanecer calmo ao lado de meus semelhantes sólidos.

Por um bom tempo tudo ia bem, até percebi e aprendi as variações que o próprio clima sofre na relação com as pessoas, as variações que estas variações fazem sofrer as pessoas de qualquer estado.
Aprendi os primeiros passos daquilo que eternamente iríamos chamar de Arte, e igualmente a Ciência, e ambas, em equilíbrio, tornavam-me muito feliz.
Arte e Ciência, apesar de precárias, fez-me enxergar que, entre meus semelhantes sólidos, também haviam muitos descontentes da vida, que se queixavam porque intimamente prefeririam poder se derramar pelo mundo.
Nos estados de muita inspiração, via uma legião de descontentes, tanto sólidos quanto líquidos, e, para piorar, engrossavam esta corrente os que ainda permaneciam em estado gasoso, estes, quase todos, porque ansiavam, além do suportável, sua reencarnação.
Só mesmo "por acaso" passei a maior parte de minha vida, em estado sólido, preocupado em colocar panos frios sobre os, meus semelhantes e dessemelhantes, descontentes da vida.

Lembro que quase enlouqueci para saber porque todo mundo ria de mim, insultava-me e, quando podiam, agrediam-me.
Então, depois da espantosa marca de prazer, que fiquei 3 dias jejuando, 3 dias dormindo e acordei como se tivesse esquecido o problema da minha existência, depois que passei o 7º dia contemplando a beleza das pessoas, incondicionalmente a qualquer parâmetros, eu, pela segunda vez, morri.

E novamente reaconteci, porem de uma forma diferente da matéria e suas formas fundamentais de produzir energias e vicie versa, e estas a de criar a maneira mais ilimitada de viver, que infelizmente as pessoas só usam 3,856 % de suas possibilidades.
É como se eu não tivesse mais um corpo, porque em meu íntimo sei que estou em constante movimento - eu que odiava a Inercia, lembram? - , em constante relação com todos e tudo, e que a imagem que faço de mim, depende tanto e tanto de um ponto de referência totalizante, que não importa o quanto eu possa mudar minhas imagens, as imagens de ocasião não serão nada além de um mero detalhe, ou o todo e tudo somente um detalhe.
A vida pesa, a chapa esquenta; paradoxismos, anacronismo e agnosticismo diariamente.
Como se aquela deusa Inercia, estivesse usando botox e colocado medidos seios de silicone para me atrair/distrair/trair.

Estou tentando muito não engrossar o cordão, a corrente, a legião, a majoritaridade dos descontentes da vida; ah, se pelo menos eu tivesse aproveitado este incomensurável tempo, de vida vividos!, para aprender como dissimular o descontentamento com uma própria vida idealizada.
Infelizmente, para mim, nunca foi fácil aprender o que não havia liberdade e necessidade essência/fundamental.

Bom, juro, não há muito o que fazer; é como dizem os descontentes, ninguém tem estrela na testa.

Vou continuar, quem sabe este é meu brega/destino, fustigar os descontentes.
Este post não é mais uma forma "culta/curta" de se lastimar; não é mais necessário algum esforço de reprovação.

"Soldadinho de chumbo

Ele não conseguia parar de olhar
aquela maravilhosa criatura.
Queria ao menos tentar conhecê-la,
para ficarem amigos."

10 comentários:

Luciano Fraga disse...
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Devir disse...

De repente, que bobagem, pensei
isto aqui, fora as horas comuns
se tornou, pista
um ano e meio mês
e não decola

é mesmo como voce só diz aqui
inclusive voce

Tão perto da degola
não sei por que
percebi, morrer
não vai ter graça
para mim

Bobagem, muita bobagem
é somente gentileza

Fui, cara, representante
beba uma por mim
bem por último
e se possível, só

Luciano Fraga disse...

Caro amigo Devir,para não falar só de flôres, quis falar apenas de indignação...Sou um ser alijado, mas ainda acredito,ninguém prega para o deserto, abraço.

Anônimo disse...

Devir! Se o sol sair, se a temperatura subir, se o calor aumentar... os sólidos vão se juntar aos líquidos, o que na verdade parece contradição, mas no fundo tudo é líquido!

Devir disse...

luciano, seja feliz

Devir disse...

Roberta, tem certeza?

Anônimo disse...

Ah, Devir, pensar sobre gente não é ciência exata. Faço observações, crio meus postulados a partir da minha experiência e dos corações à volta. Vivo, experiencio, ouço, indago... E, mesmo que signifique pouco o que digo, acredito que todos, no fundo, busquem amor. De formas diversas, às vezes indiretas e/ou até contraditória. Mas, acredito.

Devir disse...

Ok, mas preciso não ouvir ou ler qualquer palavra sua que o sentido vai ao contrário.
Entenda-me, traição não fere raso.

Anônimo disse...

Nem, ler, nem ouvir... Me lembrou um trecho do filme Ratatoille: "Essa de ler e cozinhar. Isso não está certo. E, você me envolve nisso."

Vou ter que desenhar?

Devir disse...

Pronto!
Esqueci de frisar que não há excessão.
Que merda.