quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

Balanço geral de 2009


SEMPRE É BOM E ÚTIL LEMBRAR
Aconteceu em 1984, um grito "não identificado"
"No segundo minuto o Ódio chegou ao frenesi.
Os presentes pulavam nas cadeiras e berravam a pleno pulmões, esforçando-se para abafar a voz alucinante que saia da tela.
A mulherzinha do cabelo de areia ficara toda rosa, e abria e fechava a boca como um peixe jogado à terra.
Até o rosto másculo de O'Brien estava corado.
Estava sentado muito teso na sua cadeira, o peito largo se alteando e agitando como se resistisse ao embate duma vaga.
A morena atrás de Wiston pusera-se a berrar "Porco! Porco! Porco!
De repente, apanhou um dicionário de Novilíngua e atirou-o na tela.
O livro atingiu o nariz de Goldstein e ricocheteou; a voz continuou, inexorável.
Num momento de lucidez, Winston percebeu que ele também estava gritando com os outros e batendo os calcanhares violentamente contra a travessa da cadeira.
O horrível dos Dois Minutos de Ódio era que, embora ninguém fosse obrigado a participar, era impossível deixar de se reunir aos outros.
Em trinta segundos deixava de ser preciso fingir.
Parecia percorrer todo o grupo, como uma corrente elétrica, um horrível êxtase de medo e vindita, um desejo de matar, de torturar, de amassar rostos com um malho, transformando o indivíduo, contra a sua vontade, num lunático a uivar e fazer caretas."

O DEVIR (da metáfora mais grosseira à realidade mais sensível)

Em todos os tempos, todas as sociedades precisam de guerra, contra os próprios membros e contra quem vier de fora.
Nada mudou, e nossa esperança é que seja AINDA.

Guerras coletivas e individuais para manter o(a) próprio(a):
Por favor, pensem.

Sua resposta, ao devir, em seus três tempos - antes, durante e depois do seu nome -, não para mim, nem para outra pessoa, apenas para voce, a princípio, é o que importa.
E atenção: não deve permanecer única e sem 'argumentos', para não impedir as reações aleatórias; a essência da Natureza, como fundamento da Liberdade, enfim.

Último dia de 2009.
Quem tem substancia para fazer o balanço geral, percebe que já pode começar.

Diferente das empresas, ou qualquer coletividade organizada, o balanço individual, de cada ano, não se restringe apenas às substâncias materiais.
A palavra substância nos remete diretamente à química. E esta indiretamente se envolve em tudo, desde uma revolução social até a um peido no elevador.

Química facilmente pode ser entendida como metáfora de absoluto, quando exposta como responsável por nossa personalidade.
(Não é fácil fazer feliz certa mulher com sua própria sabedoria!!! Bizarro, a Natureza pictórica de Bosh, disse-me no momento oportuno)

A felicidade não depende do que se come; muito menos de etiquetas para fins de desigualdade social.

Por exemplo, a química está imbricada nas escolhas pessoais, quando alguém apenas consegue se realizar plenamente com determinada atividade.
O cientista, que tem a química como motor de sua sabedoria, pode tranquilamente, indiferente aos fatos, intervir no próprio livre arbítrio(sic) inerente à vida.

Evidente que esta ativação não é um fato novo.
A antiga química possui já alguns processos de ativação dos quais os mais comuns consistiam em aquecer as substâncias.
Mas pensava-se que isso não era mais do que um simples processo para por em ação virtualidades substanciais bem definidas.
Os balanços caloríficos foram tardios e durante muito tempo grosseiros.
Não constituíam na realidade um sinal suficiente para designar a atividade de reações.
Quando começou a conhecer-se o papel das substancias catalíticas, devia ter-se previsto a necessidade de uma revisão completa da filosofia química.
Mas não se passou da enumeração dos fatos, sem insistir no caráter essencialmente indireto e progressivo das relações catalíticas.

O estudo das fases intermediarias impôs-se no entanto a pouco e pouco; as reações aparentemente mais simples receberam um pluralismo que está ainda muito longe de estar sistematizado.
Mas, como veremos adiante mais claramente sob outra forma, a reação deve passar a ser representada como um trajeto, como um série de diversos estados substanciais, como um filme de substâncias.
E aqui surge um vasto domínio de investigações que exigem uma orientação de espírito inteiramente nova.

A substância química, que o realista tanto gostava de considerar como exemplo de uma matéria estável e bem definida, só interessa verdadeiramente ao químico se ele a fazer reagir com outra matéria.
Ora, se se fazem reagir substâncias e se pretende extrair da experiência o máximo de instrução, não é a reação que se deve considerar?
Por detrás do ser desenha-se imediatamente um devir.

Oportunamente, nesta fase de festas para uns e descanso para outros, e para ainda outros, que aproveitam para unir ambas atividades, retifico meu convite para todos nos reagrupar ao devir em 2010.

Então, veja e leia bem, que espírito de grupo muito raro, penso eu, luta para nascer.
Científico e bem humorado, até em seu ódio pelos limites da realidade.
Aqui, surpreendo-me, muitas vezes, com palavras (nomes) cujo significado se coloca quase como um obstáculo para uma boa digestão cultural.
Contra tudo, da mesma maneira também, acostumei-me à metabolização de certas palavras difíceis, e especialmente aquelas que colocam ismos no final.
Infelizmente o meio apenas permite a existência de experiências e esperanças, jamais será um produto final.
Este, necessariamente, sempre será outro meio.
Como diz um estúpido: Ela, a vida, só sorri, só sorri.
E vai explicar para um estúpido que a vida também tem outros gestos, faces infinitas.
Mas um único olhar, total!

A fisiologia não explica nem metade do mau cheiro, assim como a floricultura do bom perfume.
Explicação só é interessante depois do conhecimento.

Esta exclamação parte do presente - ontem o Vinícius foi genial - diretamente para a pertinência deste post.
Assim como certo dia disse para o Luciano: Quebrem seus espelhos.

Bastaria um mínimo esforço de pensar para inverter a formula clássica: O mundo é a imagem e semelhança de Deus, subentendida, quando dita ao homem na terceira pessoa do indicativo.

Os dogmas das religiões, seja qual for o objetivo dos "mentores", são extremamente necessários, porém não afirmam jamais o ser como indivíduo livre.

(O americano* até inventou sensores que detectam muito além de odores, calores e efeitos alérgicos; digam que não enriqueceu...)
Ah, essa liberdade tão questionada mesmo quando repleta das instruções culturais sem limite.

Os lógicos sempre vão agir como os gatos ensinando 99 fórmulas prontas para o cão sobreviver.
Metáfora grosseira, claro, mas acredito que vamos encontrar sempre uma sensibilidade maior para interagir com o mundo; claro, em constante construçâo.

Supõem-se na base da construção comportamentos imprevisíveis.
Não se sabe nada, por exemplo, sobre o átomo, que não é considerado a não ser como sujeito do verbo ricochetear na teoria cinética dos gases.
(chiii, lá vem escatologia aonde não existe)
Não se sabe nada sobre o tempo em que se efetua o fenômeno do choque; como seria previsível o fenômeno elementar quando não é "visível", isto é, suscetível duma descrição precisa. (rss, fiquem à vontade)

A teoria cinética dos gases parte portanto dum fenômeno elementar indefinível, indeterminável.
Certamente indeterminável não é sinonimo de indeterminado.
Mas depois que um espírito científico fez a prova de que um fenômeno é indeterminável, ele se impõe um dever (devir) de método de tê-lo por indeterminado.
Ele aprende o indeterminismo do indeterminado.

Ora, empregar um método de determinação a propósito dum fenômeno é supor que esse fenômeno está sob a dependência de outros fenômenos que o determinam.
De maneira paralela, se se supõe a indeterminação dum fenômeno, supõe-se igualmente sua independência.
A enorme pluralidade que representam os fenômenos de choque entre moléculas dum gás se revela portanto como espécie de fenômeno geral pulverizado onde os fenômenos elementares são estritamente independentes uns aos outros.

O homo faber prejudica o homo aleator; o realismo prejudica a especulação.
Para dizer a verdade, esta transcendência é talvez mais verbal que real.
Há lugar para um positivismo do provável, para dizer a verdade, bastante difícil de situar entre o positivismo da experiência e o positivismo da razão.
Sem dúvida é muito impreciso o problema que reúne duas massas vagas e confusas, mas não é irreal.

Os fenômenos tomados em sua indeterminação elementar podem portanto ser compostas pela probabilidade e desse modo assumir figuras de conjunto.
É sobre essas figuras de conjunto que atua a causalidade.

Mãos à obra, sem luvas, conhecer, experimentar, e degustar para depois, então com humildade, julgar o destino e os nomes das substâncias elementares de todos.
E jamais lavar as mãos de Pilatos e, também, as próprias.

Com todo meu respeito aos notáveis e honestos dentre a indústria cultural:
Base do texto: A filosofia do Não. Gaston Bachelard
Os Pensadores - Abril Cultural editora - 1978
Tradução: Joaquim José Moura Ramos.
E, reafirmando o meu indubitábel respeito, acrescento:
"O pesquisador, ao olhar seu objeto de estudo, especialmente quando este faz parte do universo social, como é o caso da educação, pode incorrer no perigo de se deixar levar pelo que lhe é visível, dando a este um estatuto de verdade que ele não tem.
Para Bachelard, "diante do mistério do real, a alma não pode, por decreto, tornar-se ingênua. É impossível anular, de um só golpe, todos os conhecimentos habituais. Diante do real, aquilo que cremos saber com clareza ofusca o que deveríamos saber".
A realidade nada responde por si mesma.
Somente o faz através de questões levantadas teoricamente.
Estas observações ganham razão de ser quando nos deparamos muitas vezes com pesquisas da área educacional que se resumem ao relato narrativo de uma determinada situação, geralmente denominado "estudo de caso", sem que este tenha qualquer relação com uma questão geral, teórica.
Estas pesquisas, geralmente, constituem-se de um apanhado teórico somado mecanicamente à descrição de uma situação e, por fim, uma consideração final que tenta sintetizar o estudo. Tal método, segundo pensamos, é falho e não consegue revelar o que se pode chamar das "múltiplas relações" inerentes à realidade, contentando-se em descrever tal situação que, por isso, perde muito do seu valor acadêmico, nada acrescentando ao conhecimento acumulado.

O segundo obstáculo epistemológico, o senso comum, semelhante ao primeiro, relaciona-se especificamente com a dificuldade com a qual se depara o cientista social em separar o seu conhecimento comum, suas opiniões, seus preconceitos, as avaliações relacionadas à sua posição social e econômica, etc., do conhecimento teórico, científico, que deve estar comprometido com a busca da verdade, baseada em leis gerais, em conceitos e não em preconceitos.
Muitas pesquisas travestem-se de científicas para legitimarem determinados preconceitos, dando a eles credibilidade.
A utilização consciente de um método de pesquisa, como a "construção do objeto científico", leva o cientista a chegar mais próximo possível da verdade do seu objeto, sem com isso entender o esgotamento do seu estudo, dada a característica dialética da sociedade e do conhecimento.
A realidade social, e a educacional mais especificamente, é objeto de avaliação por todos aqueles que vivem na sociedade, o que torna a tarefa do cientista social ainda mais difícil, pois deve construir seu conhecimento apesar e contra o senso comum; apesar e contra a realidade.

Referências bibliográficas
BACHELARD, Gaston. Conhecimento comum e conhecimento científico. In: Tempo Brasileiro São Paulo, n. 28, p. 47-56, jan-mar 1972.
______. O racionalismo aplicado. Rio de Janeiro: Zahar, 1977.
______. Os Pensadores. São Paulo: Nova Cultural, 1988.
______. A formação do espírito científico: contribuição para uma psicanálise do conhecimento. Rio de Janeiro: Contraponto, 1996.
______. O novo espírito científico. Lisboa: Edições 70, 1996a.
Livros sobre Gaston Bachelard:
O Racionalismo da Ciência Contemporânea - uma análise da epistemologia de Gaston Bachelard, Marly Bulcão, editora UEL, 1999.
Bachelard, pedagogia da razão, pedagogia da imaginação, Elyana Barbosa e Marly Bulcão, Editora Vozes, 2004.
Bachelard, razão e imaginação, Marly Bulcão (Organizadora), Núcleo Interdisciplinar de Estudos e Pesquisas em Filosofia/Universidade Estadual de Feira de Santana - BA, 2005."
Wikepedia

2 comentários:

Luciano Fraga disse...

Caro amigo Devir, como as coisas caminham,você tinha dito sobre a quebra dos espelhos, Vinícius nem sabia disso ou lembrava-se(talvez) e então sai com uma feliz colocação para uma reflexão, um balanço bem maior que o que contém em nossos próprios espelhos, abração.

Devir disse...

Como as coisas caminham... indiferente ao berço esplêndido, perto ou longe do salve salve de tudo e todos, rss, "materialistas espirituais" (feliz colocação, tb).

O Tempo lógico flerta com o devir dos nomes, ama o devir antes dos nomes e se casa com o devir depois dos nomes.

A gente percebe as colocações, que a todo instante todos fazem, percebe também aquelas que a História colhe; essas são alvos constantemente da ansiedade.
E ansiedade não ajuda a entender sequer a música clássica do Lenine.
Garanto que ninguèm sabe, ou se sabe, seja capaz de explicar
"como as coisas caminham".

Se é o mundo que olha para voce - o top do contemporâneo -, voce não passa de um reflexo; seja imundo ou, que ótimo!, o próprio mundo, voce não possui o livre arbítrio.

Isso nos remete ao imediato por contingências naturais. E acredito piamente que Natural é um nome feliz porque inalienável.

Não existe maior ou menor alienação; este é um nome alienado porque voce o entende como quiser.

Quem não acredita em eternidade, quando ouve seu remoto rumor, fica cheio de ansiedade.
Paciência, isto é Natural.
Mas é desnecessário transformá-la em ópio, para si ou para outros.

[Ansiedade] é muito intolerante mesmo pensar nomes e significados que o mundo tão bem encaixou na gente, rss.

Salve a geral.