sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

Os traços dos abraços

"Não vai me dá o prazer de viver?"

Existe um tesão, e uma quebra de tesão, simultaneamente, contidos, tanto em sua região quanto em seu universo.
Em todos os lances da vida, importando toda "pouca coisa" de sua classe social.

Da sua visão, muitas vezes romântica em desmando; quando indiferente a tudo e a todos, teima em ouvir Villa Lobos. E este, tem, realmente o tema do herói e o traidor brasileiro. É o mesmo que perguntar por quê (pra quê) Ele não fêz mais? Para quem sabe...

Aria Cantilena, sempre me pede silêncio. O silêncio que não devemos chorar.

Esta é minha região.

Cantaloube de Malaret, Merie Joseph, meu universo também cego a partir sempre por meus visinhos mais queridos e igualmentes traídos.
Acho que nem mais podemos conversar e inserir uma apreciação à nossa America Latina.
Acho que realmente já não mais nos faz parte.

Lembro da minha sensação, antes de ler pela primeira vêz Jorge Luis Borges.

Antes um pouco, alguns meses ou pouco mais de um ano, quando Ernesto Sabato me mostrou um duto de fuga (intuição de prisioneiros), mais precisamente uma luz no fim do túneo, ou um pássaro ferido que ainda pudesse voar.
Minhas mémorias também me traem.

Na época eu não gostava do discurso de Pablo Neruda.
Percorria labirintos mais escuros, sempre. Enxergava a literatura como irupção em busca do espaço total.

Quando li Tema do Traidor e do Heroi, sobrevoei o mundo e me detive, amarrado os punhos aos pés, enroscado em uma árvore pútrida, embebido pela bruma impossível à vista de castelos.
Eterna noite, ou eterno dia observando, à distãncia também impossível, o movimento de entra e sai do mundo.

Sho the Platonic Year
Whirls out new righ and wrong,
Whirls in the old instead;
All mem are dancers and their tread
Goes to the barbarous clangour of a gong.

Meu queixo tremia, meus dentes se perdiam.
Aprendi a ouvir Claude Debussy, seus Diálogos.

Incerta noite interminável, sonhei minha semente, ou minha casa natal, extremamente distante de mim.
E completamente estranha para os encatamentos das borboletas da região onde porventura dormia, e imune as pragas que restaram daquela burguesia que ali viveram.

Eu era um vegetal, verde, uma folha suspensa e solitária na floresta.
Observando o fluxo de mercadores se formando, reis surpreendidos nus, rainhas descabeladas e princesas se entregando a tantos príncipes por acaso.

O Brasil e a América Latina não existiam.
Eu não existia, e não me lembro se acordei.

Aqui, hoje, à frente do monitor, com a mesma sensação, ainda amarrado os pés e mãos, enroscado nesta árvore fúnebre, ainda nesta bruma espessa, à vista de castelos, temo somente pelo instante, quando o drácula dos livros enfadonhos, sob mim parar para refletir e olhar para cima e me ver, derrotado sem mesmo saber como ou quando, nem sequer porquê, e resolver matar sua fome.

E, por "sorte", voltando ao tema do primeiro parágrafo, escuto o Trenzinho Caipira em meu coração.
Sequer o Diabo resiste a tanta doçura, é minha esperança, que se traia.
E me deixe pelo menos alguém vivo! para amar.
Para morrer, que seja, em meus braços, e com sua morte, matar-me.

Mortes bem vindas, quem sabe, ao som de Astor Piazzola, lendo o Tema, ainda teimando feito herói. Que seja...

Sob o notório influxo de Chesterton
(narrador e exornador de elegantes mistérios)
e do conselheiro áulico Leibniz
(que inventou a harmonia preestabelicida),
imaginei este argumento, que escreverei talvez e que de algum modo me justifica,
nas tardes inúteis.

Faltam pormenores, retificações, ajustes;
há zonas de história que não foram relveladas ainda;
hoje, 3 de janeiro de 1944, assim vislumbro.

A ação transcorre num país oprimido e tenaz:
Polônia, Irlanda, a república de Veneza, algum Estado sul-americano ou balcânico...

Ou melhor,
transcorreu,
pois embora o narrador seja contemporâneo,
a história por ele referida ocorreu ao mediar ou ao começar o século XIX.

Digamos (para comodidade narrativa) Irlanda;
digamos !824.
O narrador chama-se Ryan;
é bisneto do jovem, do heróico, do belo, do assassinado Fergus Kilpatrick,
cujo sepulcro foi misteriosamente violado,
cujo nome ilustra os versos de Browning e de Hugo,
cuja estátua preside um morro cinzento
entre lodaçais vermelhos.

Kilpatrick foi um conspirador,
um secreto e glorioso capitão dos conspiradores;
à semelhança de Moisés que,
da terra de Moab, avistou e não pôde pisar a terra prometida.

Kilpatrick pereceu na véspera da rebelião vitoriosa
que havia premeditado e sonhado.

Aproxima-se a data do primeiro centenário de sua morte;
as circunstâncias do crime são enigmáticas;
Ryan, dedicado à redação de uma biografiado do herói,
descobre que o enigma ultrapassa o puramente policial.

Kilpatrick foi assassinado num teatro;
a polícia britânica não descobriu nunca o autor da morte;
os historiadores declaram que esse fracasso
não deslustra o seu bom crédito,
já que, talvez, o tenha mandado matar a própria polícia.

Outras facetas do enigma inquietam Ryan.

São de caráter cíclico: parecem repetir e combinar
fatos de remotas regiões,
de longevas idades.

Assim, ninguém ignora
que os esbirros que examinaram o cadáver do herói
acharam uma carta fechada
que lhe avisava o risco de comparecer ao teatro, nessa noite;
também, Júlio Cèsar, ao encaminhar-se ao lugar
onde o aguardava os punhais de seus amigos,
recebeu um memorial que não chegou a ler,
no qual ia mencionada a traição,
com o nome dos traidores.

Lembro muito mais, eu sei, devo estar omito por motivos óbvios.
Jorgem Luis Borges, não porque já é um falecido, é-me de grande importância ao devir depois dos nomes.
Inatacável, inapelável e inexpugnável.
Tão símile de qualquer pessoa, seu nome é que menos confere seu próprio conhecimento.

Lembra-me, novamente, aquele que me aprentou tão infaestrutural abraço, Ernesto Sabato,
com suas posteriores interrogações para desafiar
quem só fia e fica na alegria da Literatura, ou, diria eu,
no devir dos nomes, apenas.

A inexperiência pode unir-se à miopia e à mediocridade,
que não necessariamente excluem o ressentimento,
mas ao contrário, às vezes são suas causas:
com grandes dificuldades, um homem é capas de intuir a profundidade,
a beleza ou a magnitude
de algo que não é capaz de sentir,
sequer um germe, em seu prórpio espírito.

Um homem que, além de tudo, seus visinhos podem ver e apalpar,
um indivíduo que come do mesmo modo que o resto dos mortais,
que adoece, que é um pouco ridículo
e que deve ganhar a vida como um pobre-diabo?

E como, por acréscimo, o que nega
parece sempre mais talentoso do que aquele que admira,
quantos não cairão na tentação de dizer NÃO
com pedagógica ironia,
dando de passagem ao seu rancor
o aspecto honorável de um imparcial juizo axiológico?

7 comentários:

Anita Mendes disse...

"A inexperiência pode unir-se à miopia e à mediocridade,
que não necessariamente excluem o ressentimento,
mas ao contrário, às vezes são suas causas"

devir e um genio! (e so eu sei disso?!)

boas festas meu querido!
ps: espero que tenha sido um bom menino esse ano pra ganhar presente do papai noel(rs).
beijos e mais beijos...
Anita.

Devir disse...

Estou sozinho até dia 3 de Janeiro
que tal boas festas aqui?

Devir disse...

Um bom menino, talvez, quase o ano todo, quando alguém exatamente igual a mim, passava por aqui. O resto do ano, confesso, estava cabulando a aula de moral e cívica.
Atrás do muro, tem mais loucos que lá dentro da escola.
Fora, onde o mar nunca é de rosas, a inexperiência é a própria míopia e a mediocridade fica bem pior quando ressentida.
Ninguém tem dúvidas se a vida é bela, não há filmes, teatros, televisões, nem consumos variados.
Uns aos outros, todas as cores são iguais, porque são pálidas, e todo sabor é consequência do momento.
Eu me aventurei, já que nunca precisei estudar para tirar notas altas.
No princípio, meio, e fim a diversão é arriscada, como se fosse um laboratório, não da escola, ou vicie versa, a céu aberto e sem deus, onde, se quiser, e eu sempre quero, pode-se aprender pelo avesso.
Mas a palavra certa seria, aprender ao contrário; tipo assim: na escola se aprende muito para fazer chover, e depois do muro, aprende-se muito para fazer para a chuva.
No mundo, de fora, as marquises são muito concorridas, ninguém sabe alugar, todos fugiram da escola.
E olha que tem advogado, médica, e muitos artistas; profissionais liberais são frequentes, mas os profissionais 'ao contrário de liberais' imperam.
Todos se despem de seus padrões.
Infelizmente o preço é muito alto para se sentir nú, assim, livre de tutélas exorbitantes; graças, realmente, a Deus, respirar não é preciso pagar, sequer como gesto.

Mas, cansei de cabular aula. Lá fora, o lixo é dobrado, soma-se com o que jogam aqui de dentro, e ninguém recolhe. O lixo aqui de dentro, lá fora, não tem utilidade.

Mais de 4 segundos, por favor, voce e forte beijo, querida Anita

Luciano Fraga disse...

Caro amigo Devir,braços e abraços,folgados,, festivos, compassivos, abrasivos, fraternos, dispensáveis, outros abraços...Certo é que com longas braçadas e como seres contingentes(talvez), buscamos entender que as pessoas simpáticas são aquelas que possuem as mentes mais repulsivas e estas figuras, parecem que estão com os dias contados,pois a crença de que não há mal em sermos e buscarmos a felicidade do jeito que somos, sem farsas-estéticas/morais, rola por terra.Gostei do tom de fala que imprimiu.Forte abraço,sem traços de um farsante.

Devir disse...

E rolam as pedras, mestre.

Certa vez, século passado, em Ilha Bela, cansado da turma e ressacado por um maldito cogumelo com pinga, de dias anteriores, resolvi ir contra as correntes: a antipatia dos drogaditos, excluidos voluntariamente em volta das barracas(índios?), e a simpatia dos ditodrogas, incluidos nas máximas dos consumismo, com rss protetores solares.
Subi a montanha, lá em cima encontrei um senhor bem velhinho, semelhante ao menino da foto neste post, abrindo e quebrando pedras de ardósia. Havia um monte maior do que aquelas barracas(nossas) reunidas. Trabalho de 5 dias, 14 toneladas. Perguntei por quanto fazia(a montanha era da marmoraria), ele respondeu X; o equivalente +/- R$60,00, por tonelada.
Era dezembro, a felicidade do velho era contagiante.
Pedi outras ferramentas e ficamos ali a manhã trabalhando e conversando. Ele insistiu para eu conhecer sua família. Conheci, 11 pessoas, esposa, filha, genro, primos e primas, amigos, os filhos estudando, e aproveitei para almoçar uma arraia magnifica.

Eu sei que muito(?) podemos perder livre dos grilhoes das correntes, mas quando ganhamos, jamais esquecemos.

Forte abraço

Devir disse...

Tomando como parâmetros este post e os comentários, em comparação com minhas respostas, digo sem a menor dúvida, 2009 poderia ter sido muito melhor.
Feliz Ano Novo, rss, Luciano e Anita, fotes abraços.

Devir disse...

uhm, errata; pedra no feijão, rss:
"fotes", quer dizer FORTES