quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

Balanço final de 2009 - Ressentimentos, preguiças e covardias dissimuladas

Carlos Drummond de Andrade

ESPECULAÇÕES
EM TORNO DA PALAVRA HOMEM

Mas que coisa é homem,
que há sob o nome:
uma geografia?

um ser metafísico?
uma fábula sem
signo que a desmonte?

Como pode o homem
sentir-se a si mesmo
quando o mundo some?

Como vai o homem
junto de outro homem
sem perder o nome?

(...)
Drummond - Antologia Poética
Livraria José Olympio - 1983


Por um orgasmo bem pensado
À Dnyelle, muita foda para esquecer.

Ao som de White Rabit, com a Patti Smith, a versão mais gostosa,
porque é quase um canto de guerra para fora,
começo a escrever sobre uma de minhas esperanças mais frustrantes:
A mulher feliz, bonita e sábia, na extensão absoluta dos termos,
tão rara e inexoralmelnte impossível para a eternidade de um homem infeliz, feio e ignorante.

E a frustração, claro, provém de que os três estados serem eternamente aceitos como naturais, quando tais são transformações no embate com o mundo.
É a grande contradição, que leva a crer que ninguém possui liberdade de escolha
e não contém sequer traços de naturalidade.

Aonde então está a dialética, qual é o ponto onde o natural do ser humano pode se destacar,
para se discutir a desnaturalização?
O que temos, então, e ainda, de natural do ser humano?

Quando tive a ideia da criação deste blog, sabia que levariam mais de 7 dias
para adquirir uma "identidade", ou até mais de 7 ou 70 anos, talvez.
Há as naturezas mais indóceis que gracejam mais de 7 séculos.
A graça é protegida pela sociedade dos animais; eu respeito
as leis que se dirigem à proteção do outro.

Daí um pouco já se pode saber sobre a natureza humana, doçura e graça,
que obviamente não são sinônimos.
Daí também muito se pode surpreender quando observamos um cão, antes doce e engraçado,
depois indócio e desgraçado;
desnaturalização?
Como?

Daí portanto verificamos duas hipóteses: a natureza evolui ou regride,
ou, em oposição, desaparece em partes ou totalmente?

Dizem que a dialética é muito inócua, que mulher não goza, que não faz outro ser humano,
que não altera os fatos, que os fatos comportam e impõem sua própria,
minimizando-a à mais estúpida questão de gosto, etc.
Dizem também que gosto não se discuti.
Não é jamais razoável perguntar por quê se gosta.

O não-pensar conquista até o "impensável", se é que existe algo naturalmente impensável.

Temos portanto mais um sinal de naturalidade humana: a dialética.
Porque é difícil conceber qualquer pensamento sem uma suposta dialética.
Encontrar uma questão em tudo a todo momento, em outras palavras é perceber a dialética,
usá-la e enxergar também o seu oposto, a dialética do outro.

"O ponto de vista cria o objeto" (Saussure).
"Os fatos não falam" (Poincaré).
"Imortalidade científica dos fatos" (Bachelard).
"Imaculada concepção" (Nietzsche).

No detalhe podemos verificar, talvez, a substância mais categórica da natureza humana:
a questão da existência.

Dizem que aquelas clássicas perguntas,
O que sou? De onde eu vim? Para onde eu vou?,
morreu junto a Deus e se enterrou na mesma cova.
E a dialética do impensável, novamente aponta o dedo para o oposto da dialética.

O impensável sequer pode sonhar com a normatização da realidade.
Freud tentou interpretar os sonhos; dizia: um depositário das entrelinhas dos fatos.
É quando os psicologismos se aproximam perigosamente da poesia,
já que vem causando tantos estragos às seculares ciência e religião.

Assim podemos encontrar mais indícios de naturalidade humana: ciência, arte e(?) religião.
Que é este texto? Continua à partir de onde? Aonde vai chegar?

O ser humano, também denominado pelo nome Homem,
nomeia-se no Fato,
também denominado pelo nome Tempo.

Assinarei o fechamento do balanço de 2009 sem dizer o que é
(para mim) o oposto da dialética.
Chega de "pedras e flores"
bem ou mal interpretadas.

E para 2010, uma boa dialética: Por que fingir
que se é feliz
é tão possível,
e doçura/amargura e graça/desgraça
não?

Quem responder,
"é o que se é",
vive no oposto
impensável da dialética.

6 comentários:

Luciano Fraga disse...

Caro amigo Devir,poxa! seu post chegou num momento especial. Como a palavra, ou mesmo uma palavra excerce poder, fantástico.Quando passamos certos períodos meio tomados pela estagnação e falta de poder, desgosto.FIRMEZA! Grato amigo, forte abraço.

Devir disse...

Com cerveja, Luciano

Estava dizendo, aqui em casa, agorinha, com minha cunhada, impostando a voz, como a disciplina do teatro, para um certo irmão que antes me fazia confusão com voce, rss, eu dizia:
Quantas belas artes fazem e fizeram com todos os tipos de guerra. E o assunto era sobre o filme Bastardos Inglórios.

Use de sua natureza para, rss, desestagnar e adquirir poder. E o desgosto, rss, penso eu, se deve porque estamos condicionados a procurar falsos culpados para fatos que fogem à ordem, antes mesmo de saber porque tais fatos
ocorrem. Culpamos, inconscientes, 2 vezes a humanidade, embora pareça ser 2 alternativas; de um lado o Povo, do outro, então, a Natureza.
Enquanto culpados são aqueles que escolhemos para nos governar.
Ainda assim, Santa Democracia!!!

Mas, não poderia esquecer, como dissimulação procuramos quase sempre o bode expiatório da moda.
Com tanta chuva, as pedras rolaram nervosas, nesta virada de ano; quem sabe por disputa de audiência.
Quando penso em vítimas circustaciais, dá-me uma vontade de ser normal e culpar a raça toda, para não provocar antipatias e citar nomes.

Eles e elas virão ao seu tempo.

Grande abraço.

Anônimo disse...

Primeiro o meu apreço ao poema Drummond, sábias palavras!! Não menos sábias as restantes, como um "murro no estomago" daqueles que nos fazem acordar para a realidade nem sempre tão idílica como a gostariamos...

Deixo os meus votos de um ano cheio de momentos poéticos!

Beijo na alma*
(obrigada pela partilha)

Devir disse...

Apreço aqui tambem não tem preços, mas não está embalado, feito seus opositores, que qualquer simbologia desta sensibilidade maior ao humano é tornada impossível.
Adoro o seu espaço, Mel. Sinto-me tão leve lá que quase sempre deixo para a última visita do dia.
Não podemos endurecer a ponto de esquecer o objetivo original.

"Porque o amor e o ódio
se irmanam nas fogueiras das paixões... nos sonhos vividos de conviver... os corações cortam lenha e depois... no resistente perfume de alguma coisa..."
que "Sempre resta um pouco"

Muito agradecido pela sua visita, Mel, toda alma neste 2010 anos dc.

Zana Sampaio disse...

Bravo, Devir... pra você tb um inspirado 2010! És um poeta entusiástico!
abraço forte!

PS: estou sem acessar... mas assim que retornar, voltarei por aqui. com mais tempo... e todo o interesse. beijo grande

Devir disse...

Que bom! Realmente muito me entusiasma, voce sempre terá esta recepção, minha querida, Zana.

Porisso, e porque, parece que este tempo tudo leva ao viver um dia de cada vez... Mas quando percebemos que também vivemos dias, semanas, meses, anos, décadas, e se possível séculos e milênios, nos sentimos assim tão vivos, tão fortemente vivos que desejamos até, rss, um pouco mais que a própria vida, e constatamos que mais, somente a vida compartilhada.

A minha a sua, a sua a minha, até o limite, e depois... mais, mais, até a vida de todos, indiferente à interesses escusos de raça, credo, gênero ou força do vil metal.

Um forte abraço para um grande
beijo, e assim seja nosso 2010.