sábado, 23 de janeiro de 2010

Roteiro de imagens e riscos

Este apreensível objeto do prazer

Esta é uma obra de ficção,
qualquer indentificação com a realidade será mera coincidência
e tão somente uma média em respeito à audiência
(clima de terror sutilmente trash, tipo caixão rasoavelmente perfumado)
(close ela está pasmada, com máscara de oxigênio, olhando para a audiência)
OS CRÉDITOS GERAIS
(Ele está "real", em close, explicando, para a câmera)
Vejam, todos voces, a melhor maneira de fumar a pedra
(tela escura e flash)
1ª (cena relação sexual audio voz do ator em off, frases pausadas, ela nua está por cima na cama ele de roupas)
Voce, e nós, em nó
estamos afundando
e não há socorro
enquanto não há paz
e ficamos nessa guerra
eu voce contra tudo
de tudo contra nós
na sorte de migalhas
e azar de não ser
nem viver qualquer coisa
qualquer pessoa ou buraco
2ª(ela está por baixo)
Precisamos partir daqui
deste lugar nenhum ou
suicídio muito demorado
3ª(sentado no tanquinho, ela com as mãos no chão, dando de gravata no pescoço dele)
O inferno não são os outros
estes vão todos para o céu
4ª(Ela com a nuca no fogão, segurando na pia e na geladeira, os pés na mesa.)
Meu nosso céu são os outros
5ª(atrás da porta do guarda roupa.)
Nossos meus outros.
6ª(ela por baixo na cama)
Eus seus.
7ª(ela por cima na cama close demorado nela)
Voce.
INTERVALO PARA OS COMERCIAIS
(som e imagem total do (close do aparelho) o coração parado)
(Sobre a cama, empastados de suor)
Acorda!!!!!!!!!
Não quero esperar! Quero comer agora!
O que está fazendo?
Tirando a roupa.
Agora, depois que comeu?
Nossa, já comi? Vamos sair?
Cê tá loco? Voce já está pelado?
Voce também, assim... (cãmera gira rápida sobre o apartamento em ruina)
Vamos aonde?
Sei lá, morrer diferente.
Sério? Então, vem cá.
Uhm, espera, quem é voce?
Quero comer também.
Ow, pera, tô pelado.
E daí, também tô.
Uhm, que diferente?
Tô, tô, tô, tô, tô, tô.
Dô, dô, dô, dô, dô.
Kkkkkkkkkkkkkkk
Quê foi?
Kkkkkkkkkkkkkkk
Porra, o que foi, caralho?
Gozei, porra, voce é foda.
Eu só foda? Também gozei.
Quebra pau do caralho!!!
Buceta de merda, buceta da porra!!!
O que vamos fazer???
Tomar banho, vestir a roupa.
Não íamos sair pelados?
Não, nem fudendo, voce é louca?
Eu sou louca, eu sou doida, sou tudo.
Eu falo faço tudo, eu, né?
Vai se fuder, não me enche o saco.
Vai, levanta, vai primeiro.
Vou nada, quero mais.
O quê, comer de novo?
Outra paulada, bater em alguém.
Sei, numa criminóloga, de calcinha.
Patrilcinha, gostosina, felinina.
Legal, tenho até saudade.
Só eu vou comer, tô avisando.
Nem fudendo, uma princesa, huhm?!
Eu dou um tiro na sua cara. (o dedo!)
Na minha cara, firmeza, então vaza daqui.
A casa é minha também, sai voce.
Ok, então saio eu.
Aonde voce quer que eu atiro, então?
Atira no cérebro, porra!
Puta que pariu, vai pegar na cara tambem.
Atira na nuca, caralho!
Chega disso, ninguém come ninguém e vai lá, vai, amor.
É tarde. Passou um helicóptero.
Deixa o passáro, vai lá.
Trampá amanhã.
Veste minha calcinha, então.
Num tô de brincadeira, eu sou macho, falô.
O que vamos fazer, morrer dormindo?
Né?!
Voce não quer uma mina limpinha, cheirosinha, estudantezudinha, sorrisinho na prechéca?
Rss... por quê, voce tá suja?
Eu tô, eu estou, eu sou suja, aonde eu sou suja, amor?
Cala a boca, por favor, deixa meu pinto descansar, ele merece também.(close o pinto meio mole)
Vai ligar aquela porra?(close o computador)
Se continuar, vou eu atirar em voce.
Vai me matar, uiii, quê meda.
Puta que pariu, o morro tá ruim, num tá vendo.
O meu morro, olha lá como fala.
O que sabe de lei, vadia.
Puta que pariu, não me chame de vadia, cadê minha arma.
Fica na sua porque a minha tá na mira.(close o pinto duro)
Vai, então, mata, mata logo.(close a buceta)
Olha que eu mato mesmo.
Voce mata uma porra.
Mato.
Mato? Mato eu fumo(close o baseado). Mata?
Mato.(meio inseguro)
Então acerta aqui, vai, vai logo.
No coração? Nem fudendo.
Coração num fode, isso aqui fode, vê.(close a mão segurando a buceta)
Isso eu mato.
Duvido que voce mata a minha buceta.
A buceta mato toda hora.(close a mão no movimento típico de maconha)
Voce é viado.
Sou? Voce tem um pinto aí, disfarçado.
Voce não viu, quer ver?
O fantástico do diálogo, seja qual for o nível cultural é a irrevogável sensação de viver.(close falando com a cãmera)
Neste instante a polícia invade o morro, olha, que legal daqui da janela, e eu não estou lá.(idem)
Desta vez só teremos contagem dos outros, não vai haver comemoração na visinhança..(idem)
E haja remédios contra as invasões bárbaras de nossa monotonia..(idem)
Reparou que voce está falando bem melhor, isso lembra o finado Cazuza.
O filho do Joaquim da venda, pode crer, tô devendo um bujão pra ele.
Vou sapear esta história.
Nem.
Por quê?
A polícia exagera nas balas perdidas.
É verdade, os manos ainda não mandaram uma por aqui, hoje.
Voce não tem medo?
Sei lá, voce me ensinou cada coisa doida.
Eu? Eu te ensinei? Só faltava, um viadinho, melhor seria a chapeuzinho vermelho me lavar pro mau caminho.
Quer dizer que eu então te levei para a cama, para a biqueira, para a morte, e depois mais uma, mais, então foi eu que te matei?
Juro, cara, tem horas que tenho vontade de dar um tiro em voce, e se não fosse os homens na janela...
Demorô, vadia. Tenta.
Nem, minhas filhas precisam de mim.
Ainda bem que são suas filhas.
Por quê?
Se fosse minhas, matava as três.
Voce só fala em matar, matar, matar.... Falaí, bandidão!
Ok, quer falar de Shakespeare?
Esse cara canta?
Oô!
Eu canto também, quer ver?
Nua?
Quer uma fantasia?
Outra?
Vou pra casa da minha mãe.
Tô brincando, que música voce cantaria se estivesse falando sério?
Brochei.
Nem. Não mandei.
Espera. Não entendi. Pára de coçar essa porra mole aí, e diga, e ouve, quem mandava em mim já morreu.
Infelizmente.
Infelizmente, por que?, agora voce vai dizer, que se foda a polícia, vou atirar assim mesmo em voce.
Quer ouvir a verdade?
Pode ser verdade, mentira, o caralho que for, se num falar, e se falar, também, foda-se, vai morrer.
Posso me vestir?
Fala!!!
Também também também.
Bang.(tela escura e flash)
Bang.(tela escura e flash)
INTERVALO PARA OS COMERCIAIS
(tela escura e audio)
Olha lá, tá todo mundo procurando.
Acho que eles pensaram que foi flash.
Claro, tanto barulho de tiros.
Foi a televisão.
Tá desligada.(close televisão ligando segue a cena na janela de um apartamento à noite)
Voce viu naquele jornal os malucos planejavam derrubar o Cristo Redentor.
Acho que voce os conhece.
Vai se fuder, eu só uso essas porras(close o baseado na mão), essas roupas miseráveis e sempre falei assim, mas estudei pra caralho, voce sabe.
Tem outro apartamento, veja, o casal tirou várias fotos também.
Qual? Qual?
Aquele lá piscando as luzes.
Ih!!! a mulher vai se jogar da janela.
Porra... o apartamento dela é mais alto do que o nosso, ela vai morrer. Grita, fala com ela.
O que eu digo?
Qualquer coisa, sei lá, pergunta quem ela acabou de matar.
Ei! Ow! Aqui! Isso! Sou eu, aqui, é, quem voce matou???
Ela não entendeu, mulher realmente burra.
Tá dizendo que matou a família toda! Uia!
Pergunta por que, pergunta por que, o que eles fizeram.
Calma. Ei!!! Quem está fazendo mal para voce???
O que ela disse, fala. Ela parece homem.
Disse que quer morrer, mas não quer morrer sozinha, por último.
Tô falando... é muita novela, esse país tá foda.
Tá fodendo o quê, agora?
Nada. Chama ela pra vir aqui.
Pra quê?
Sei lá, talvez a salvação está em nossas mãos. Gentileza, talvez.
Sei.
Chiii, por quê essa cara, fecha então essa janela.
Agora num fecho, ih!, porra, a mulher vai se jogar, agora ela consegue.
Voce já disse isso. Diz que ele vai se jogar para eu ouvir direito.
Voce não é normal. Já tinha visto isso antes, mas agora vejo tudo, voce é anormal.(meio aborrecida)
Anormal, eu? E a mulher?
Está bebendo leite.
Vadia.
Quem, eu?
É, não se mexe, isso, assim.
Por tras não, eu já disse, voce nunca me ouve.
É uma gentileza.
Uhmmm. Está bem. Mas vai devagar, mas, por favor, até o fim, masss, caaalma, ufa, entrou tudo, bom, uhm, agora vamos ver a mulher pular da janela.
Vamos. Percebeu?
Porra, dói pra caralho.O quê?
Meu estilo zen de trepar.
Kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk ai filho da puta.
Do que está rindo?
Esse é um estilo zem nem agora nem na China.
Confúcio já dizia: De dentro o silêncio, quando muito...
Pode parar.
Agora que está gostoso.
Não! Isso não, desta vez estou gostando. Fazia tempo que eu não dava assim.
E se eu fizer assim assim assim assim.
Ai ai ai ai, puta que pariu, pula daí logo mulher.
É, pula, sua puta vadia assassina assassina assassina, pula vaquinha.
Eu? Aiii, credo, não exagera, por favor, não não não, pára, por favor, pula santa santa santa, pula logo, pula gritando seu nome, pula minha santa.
Ela vai pular, claro claro claro, ela, ela é, ela é uma santa, santinha, santa além, senta aqui, isso, santa, pula, pula, ai, isso, pula porra.
Mas a desgraça tá bebendo wisk, veja lá, que vadia, ela está gostando, então acelera, vai, isso isso isso.
Péra.(sujestão de trilha sonora para estes momentos de paz Cannonball The Breeders)
Péra o quê???????
O diretor falou que é hora dos comerciais.
INTERVALO PARA OS COMERCIAIS
(Cenas velozes, voz do ator em off)
A polícia invade o apartamento, não acham as armas, vêem a mulher suicida e todos se arrastam para o outro apartamento.
A suicida é mal interpretada e se joga, se enrosca na grade do apartamente de baixo, todos correm, o dono deste apartamento é um voyer, tem uma câmera cinematográfica, uma grua e equipe de filmagem, vejam que engraçado, todos são presos e vão todos para a delegacia, o delegado fica irritadinho, mastiga o bigode obssessivamente com a nudez do casal, a bêbada suicida, os soldados por trás e o gordo e todas as fotos de crianças sorrindo.
Última parte é assim, o juiz julga todo mundo junto, não condena ninguém, todos voltam para sua vida normal. Vai ser outro final feliz.
(créditos na tela lentamente segue a cena)
Voce não acha que ficou faltando algo nesta história.
Acho, aonde a suicida escondeu os corpos?
E quantos eram? E as armas???
Como vou saber?
(tela escura e flash)
Eu vi voces dois conversando, ela pegou no seu pinto como se fosse regar o jardim.
Não exagera. Eu vi o delegado quase tendo convulsões na úncia vez que voce ficou de costas para a cãmera.
Mentira! Eu nunca fico de costas para a câmera. Toda bunda é feia.
(tela escura e flash).
Eu gostei, lembra, lá na janela? Rss... mas a vadia não pulou mesmo, veja, que coisa absurda.
Aquela hora eu não estava de costas para a câmera. Por que essa cara?
Estou pensando.
Nem pense. Nem pensar, o programa acabou.
Desse jeito é melhor virar viado, cacete.(close da nuca dele câmera segue nela rebolando quase sutilmente)
(tela escura e flash)
(segue cena na cama assistindo televisão cenário debaixo de um viaduto madrugada)
Ninguém vai prestar atenção no jornal, claro, ninguém vai duvidar que queimar ônibus é um crime contra si mesmo, ninguém é bobo, mesmo que seja em festa televisiva de pessoas de bem, que protestam contra os seriados das enchentes a cada 10 minutos de chuva, formando barricadas, impedindo o livre fluxo da realidade, do nascimento desorganizado da população sem as mínimas condições políticas... blá blá blá... Voce viu o prefeito de São Paulo comprou acho que tres carros anfíbios, em breve vamos ou seremos, vamos ou seremos?, os maiores exportadores...
O que é um carro anfíbio, além de se dar bem na água quanto no chão duro?
Sei lá se ele se dá bem, uma fantasia sexual ou qualquer tiração da população. Só sei que os bombeiros, quase todos de verdade, nem querem falar no assunto, só se obrigarem.
É, pois é, ninguém presta atenção mesmo, tudo é sociologias, filosofias e políticas de holofotes.
Mas isso não está acontecendo, esta parte da realidade é ficção, voce ainda lembra do Haiti? Veja, a gente tá passando ao vivo.(cenario de quarto comum)
É mesmo, como pode? E veja como eu estou feia, tô parecendo uma bunda.
(tela escura e flash)
Quando muito doenças características da preguiça, voce conhece, animal não humano em vias de extinção como aconteceu na antiguidade com aqueles répteis enormes.
Voce não acredita, eu sei, espere o próximo episódio "A preguiça esperta."

4 comentários:

Mariana Abi Asli disse...

a Linguagem surge e com ela seus efeitos colaterais...
o bom é quando sabemos usá-los, mas nem sempre usamos ao bem comum, acho que é disso que gosto, da desordem, do mal gosto, do olho torto...
bjs doces
Mari
(grata pela sua visita em meu recanto)

Anônimo disse...

Surpreendente!!

Você melhor doq ninguém sabe usar as palavras, para bom proveito ao escrever e de quem lê, obrigada!! É um prazer receber as suas visitas e ler palavra a palavra o seu espaço!

Bjs encantados*

Devir disse...

Eu sei que às vezes confundo a garota olhando na janela, de uma casa, de um carro, no metrô, com as garotas dos meus sonhos; elas quase sempre não tem nomes, nunca sei de onde vieram, para onde vão e por que estão alí naquelas aventuras e desventuras em série.
Eu nunca faço nada para chegar ou para atraí-las, elas apenas aparecem e se revelam as melhores companhias que eu poderia ter naqueles momentos tão diferentes da realidade que vivo. Nos sonhos, a minha vida é previsão constante, porque o enredo é como se todos já soubessem e eu, alí, não sou portador de nenhum mistério ou capacidade extraordinária, e as garotas vem e vão sem motivos que me envolvem sem nenhuma culpa.
Geralmente quando acordo, faço questão de recordar cada detalhe, e sinto muita esperança na vida, no mundo e nas pessoas que se relacionam comigo. Então surge um conflito, porque a vida real é muito ao contrário dos sonhos. Eu me dou às pessoas e as recebo sem qualquer pré condição. Isto talvez se repete desde que nasci, ou desde que o percebi. Não sei porque jamais pude me livrar deste sofrimento, inclusive desisti há muito tempo de combatê-lo e até aprendi a usá-lo como esteio, para entender como se formam os pré requisitos das convivências.
Porém outro sofrimento surge a cada vez que tento colocar em prática ou repassar tais conhecimentos oriundos do conflito.
Por mais que eu saiba, e todos sabem, que dialética é essencialmente conflito de idéias, não consigo conviver com as pessoas de forma sequer aproximada como acontece nos meus sonhos.
Talvez isto tudo não seja nenhuma novidade, que talvez aconteça com todas aspessoas, mas, pelo fato de nunca ter dito antes, já me fez um grande bem, nesta noite solitária.

Mariana, voce é imensa em sabedoria e desejos, por mim, voce já está correndo comigo.
Forte beijo e firme abraço.

Mel, tudo que diz neste comment, e mais, voce merece também. As suas palavras, apesar de usá-las com mais economia, rss, e as fotos também, marcam-me como tatuagem; a maletinha de ternura é quase a imagem das garotas dos meus sonhos.
O encantamento é recíproco.

Mariana Abi Asli disse...

quando eramos pequeninos, acreditarvamos nos sonhos e fantasias como reais...quando crianças a ludicidade é o nosso mundo, as idéias, a imaginação nos toma conta, somos espontâneos e talvez muito mais realista, concretista na nossa fantasia, pois ela é uma realidade real,que denominam não termos medo, medo da vida, do futuro, não sabemos aonde ir, mas vamos...daí por culpa de alguém (pq a necessidade de sempre achar um culpado?)alguém nos disperta dizendo assim: cresce! a vida não é feita de sonhos, ela é dura, crua, fria...Nos tornamos adultos esquecidos pelo tempo, e com ele somos tomados por angústias, desequilíbrios, confusões, insegurança...não sabemos mais dialogar com o outro, pois "eu tenho medo" adicionado com o ego dilacerante de ter e possessão de matérias inanimadas, daí eu me questiono, onde de fato está a ilusão e realidade das coisas? nossas mentes foram tão bitoladas ao ponto de criarmos crenças inferiores ao nosso corpo?!
e esquecemos que um dia tivemos a capacidade de sonhar como as crianças (e não como os adultos)...
E hoje em dia(ou desde o séc V)por intermédio da nossa história de conhecimento platônico acabamos internamente criando sonhos...amores ideais...ideologias...etc...
Não criemos ideais, pois eles não existem e nunca existiu, não há verdades absolutas, sejamos apenas humano demasiado humano...
sejamos crianças, descubrimos o desconhecido...porque não amar aquela moça, aquele moço, sem esperar nada dele(pois temos medo ao apego)...sejamos tomados pelo impulso de sofrermos
pois sofrimento é bom, alimenta a alma, é resposta do corpo dizendo que ele pulsa, que está vivo...

Maldito cara que falou que o sofrimento é ruim...
beijos grandes e doces
Mari