sábado, 16 de janeiro de 2010

Vento, areia e palavras no deserto


VENTO E OSTRAS, SEM OS NOMES DO PROPRIETÁRIO

Eu não posso entender, como não quero acompanhar o devir dos direitos autorais.
Como me recuso a se deixar levar nesta correnteza.
Quando quase já não tenho mais nada de matéria para perder.

De alguma maneira não entendo como há 10 anos da entrada do terceiro milênio, depois de 2000 anos (já!) da morte de Cristo, e há muito mais antes Dele, ainda existem fronteiras entre as pessoas.
Queremos nos diferenciar do animal irracional ou da matéria?

A matéria é morta.

Creio que se pode descartar qualquer hipotética questão da sua diferença com a vida, porque sequer sei como pagar caso queira sequer pensar alguma forma de existência na morte.

Quanto ao oposto, a questão de igualdade, vale talvez inúmeros post para este ano.

Vou precisar pagar algumas vilanias, eu sei, para proteger a minha matéria, mas vilanias são tão comuns que, talvez, sobreviverei mais um ano escolhendo entre branco ou preto.

Já o animal irracional, por excelência, é o máximo das questões.
Embora, redescobrir novas questões pode ser tão nocivo para o planeta quanto a extração do petróleo.
E depois toda forma de uso do petróleo como combústivel é em si e fundamentalmente incoerente.
Qualquer animal racional não negaria a vida dos vegetais.

Fico tentado para colocar em segundo plano de minhas preocupações as questões sobre o valor da vida no planeta, e manter capciosamente toda as questões de sobrevivência pessoal no pasto do primeiro plano.
E teria infinitos argumentos de caserna para enjaular minha consciência, sem me sentir um ouro de tolo da vida; sem desejá-lo, também.
Mas se isso é a vida no inferno, acredito que qualquer pessoa poderia suportar, sem precisar de paliativo diários.

Nenhuma sabedoria satisfaz os desejos.
Nenhuma razão os qualificam.
Nenhum bom senso é puro.

E, no meio deste planeta conturbado ainda precisamos discutir direitos autorais?

Esta bagunça não é racional, ou admitimos todos que somos irracionais, e cada um se defende como puder, ou todos somos racionais mesmo e a razão da bagunça obedece à Lógica.
E até os desejos deverão obedecer, deverão respeitar "as leis dos desejos".
A bagunça vai aumentar?
Quem tem certeza disso?

Vou citar dois exemplos antagônicos, onde, na aparência, os desejos são a suposta causa dessa suposta bagunça, e depois, talvez, seja possível portanto uma lógica para tal suspeita.

1- Desejo racional (pela matéria) é querer mais que uma Ferrari, mais que querer herdar a "celebridade" do Enzo Ferrari, mais que querer ser um Ronaldo Fenômeno e comer todas aquelas mulheres suspeitas de seus sonhos midiáticos, mais que ser o primeiro a desbancar o Tio Patinhas do posto número um. Mais que desejar o mais alto grau na hierarquia da floresta (fora Deus, nauseamente óbvio, é óbvio). Detalhe: sem mover uma palha de seu paiol abandonado.
A colocação do nome de Deus não foi por questão de gênero, portanto não foi em vão. Jamais poderia dizer pretos/pretas, putos/putas, gordos/gordas, bandidos/bandidas, viciados/viciadas, donos/donas de casa, e tantos outros gêneros com nomes materializados, então passíveis de degeneração.

2- Desejo irracional(impulso vital) é querer uma bela mulher cantar para voce I Believe na introspecção merecida, querer ser atendido em um show do Zéca Baleiro cantar ao lado da Marisa Monte e da Adriana Calcanhoto One More Cup Of Coffee, inspirados, querer conhecer a vida para chegar antes para evitar a dor de quem ama, evitar o desastre de qualquer estranho/estranha, evitar a tempo a resposta errada. Querer ficar satisfeito e respeitado sendo qualquer animal em uma floresta sem hierarquias nem gêneros nem valores abstratos. Valores abstratos subentendidos sem "lastro ouro"; tipo a metáfora do dólar fabricado nos fundos do prédio do banco central dos Estados Unidos, etc.

Em queda livre precisamos respeitar a natureza da matéria, suas leis de acordo com cada diferença substancial, que por si, também, tem suas próprias leis.
Dois pesos, duas medidas?
Sua cruz é mais pesada, Senhor Joseph Bill Ratinszer?
Tanto ouro para sustentá-la?
Resolveria a fome do mundo?

Na situação hipotética de que estamos todos caindo, seja para cima, para baixo, para os lados ou parados, sem excessão, para a infalível Morte, então por que existem leis para garantir as propriedades de qualquer espécie?

Há de vir respostas, pois já demora a libertação dos ventos e abertura das ostras da vida, porque a ninguém pertencem as pérolas, o planeta sustentável e os caos naturais.

Direitos autorais = propriedade intelectual ou informação patrimonial?
Dialéticas de guerra, estou fora.

E não há melhor maneira de, no mínimo, perscrutar as respostas do que desejar, claro, e se manter firme, lúcido.

Aonde está a verdade?
Seja para o que for, aonde se oculta, em si ou para outro, ou ainda, para outrem?
A escolha se baseia na razão ou no desejo, outro moto perpetuo como causa e efeito?
O mesmo do mesmo caminho dos ingleses?
Seria Jamal Malik egoista, guerreiro, quando deseja ser um milionário?
Por que não aceitar que o outro seja também super e voe com suas próprias asas?
Qual é a lógica cristã/capitalista de exterminar os besouros, pretos, cascudos que voam apesar de suas asas insignificantes?

A sabedoria dos sete samurais

Por que o sábio estaria sozinho no mundo?
E mesmo: como poderia estar?
Ninguém se torna sábio sozinho, nem no estado natural...

O exemplo de uma prova das Olimpíadas: há necessariamente vários concorrentes!
Além disso, o tiro com arco também pode significar atirar em inimigos: a sabedoria nem sempre é não-violenta, a violência nem sempre é louca...

Vejo uma bela ilustração disso em Os Sete Samurais de Kurosawa.
Voces conhecem a história: uma aldeia de camponeses pobres é oprimida por uns bandoleiros.
Incapazes de se defenderem, esses camponeses recrutam um samurai, encarregando-o de recrutar outros...

Chega um velho samurai, cheio de sabedoria e de glória.
"Uma aldeia de camponeses pobres é oprimida por uns bandoleiros, precisamos ajudá-los", diz o recrutador.
O outro aceita.
O recrutador acrescenta: "Sabe, eles são paupérrimos, seremos muito mal pagos..."
O outro nem sequer se dá ao trabalho de responder.
O recrutador prossegue: "Há outra coisa: somos poucos numerosos, os bandoleiros são muitos, vamos certamente morrer na refrega..."
O outro não responde, mas sorri.

Sorri!
Esse sorriso é o sorriso da sabedoria.

Nosso velho samurai não trava combates com a esperança de ganhar dinheiro, nem mesmo com a esperança de sobriviver.
Não, ele faz porque quer!
E longe de ficar sozinho, vai arriscar sua vida com outros, e talvez acabe morrendo mesmo, não me lembro mais [rss], para defender um punhado de camponeses pobres, sem nenhuma esperança de recompensa, nem financeira nem outra.
Ele não combate com a esperança disto ou daquilo, nem portanto com medo disto ou daquilo: ele faz o que quer, é completo no instante, perfeito no instante, diria Spinoza, e é por isso que combate tão bem, sem angústia, sem medo, e por isso com muito mais eficácia!

Um comentário:

Devir disse...

Com licença leitores e comentadores, preciso usar este espaço, visitei a pouco um blog de alguém que admiro muito. Tanto que sinto-me desconfortável em relatar algo assim tão pessoal, aqui, em público.
Eu tive vontade de chorar, e não chorei.

Às vezes...
Eu também sou covarde.
Eu também não dou o melhor de mim.
Eu também me ensimesmo diante das orações.
Eu também me encontro em fundos de poços.
Eu também satirizo as normas do bom senso.
Eu tambem odeio quando devia amar.
Eu também uso e abuso do que eu sei.
Eu também desafio o que eu não sei.
Eu tambem choro porque amo.
Eu tambem não choro porque amo.
Eu também me acovardo diante de quem amo quando não posso odiar.
Eu também sou capaz de odiar.
Eu também tento esquecer quem me faz odiar quando amo.
Eu também finjo esquecer.
Eu também ignoro.
Eu também esqueço.
Eu também peço perdão.
Eu também não acredito no perdão.
Eu também sou retalhos de outros.
Eu também me retalho.

Valeu.