domingo, 10 de janeiro de 2010

O Brasil dos recursos estratégicos

Nova safra de mutantes

Chover no molhado seria muito interessante
Se a cada chuva
As lágrimas revelassem novas cores

A mesma chuva a toda vez
Causa essa tentação
De voar para longe daqui

Para um lado o outro
Seja a lama dos anjos quebrados
Ou a indiferença nas asas da Panair


O GAROTO MARAVILHA
(para meu irmão, pequena criatura)

"Sou o melhor.
Não existe problema, por mais complexo, que eu não resolva.
Posso cobrar, por hora de trabalho, mais do que qualquer outro especialista.
Logo que me formei, em menos de um ano fiquei conhecido como o Garoto Maravilha.
Ainda hoje, já levemente grisalho, tem gente que me chama de Garoto Maravilha, mas eu não gosto.
Uma vez cheguei ao escritório de uma cliente e quando ela me viu, perguntou, visivelmente divertida, "É o senhor, o Garoto Maravilha?"
Era uma mulher linda, não foi fácil, tive que usar todos os meus recursos."

Voce olha a menina do outro lado da sala, é linda, é o segundo dia da escova progressiva, das sobrancelhas e limpeza de pele. Ela olha para algum ponto em sua perna esquerda, levanta-a e passa as pontas dos dedos sobre uma minúscula tatuagem de anjo. Voce olha suas pernas e aumenta o sentido de seu desejo. Ela percebe, sorri e disfarça segurança. Voce olha seus lábios tremerem, suas narinas se abrirem e fecharem lentamente, os olhos se perderem num ponto além daquele instante. Ela se olha no espelho.
.
"Já teve quem me apelidasse de gênio.
Eu podia ser um Einstein, se deixasse de pensar no que penso e tivesse tempo para ficar coçando o saco lucubrando sobre a relatividade das coisas, ou um Newton, se gostasse de meditar deitado debaixo de uma macieira.
Mas ainda bem que esse apelido não pegou, ia causar ainda mais inveja aos meus colegas.
Entre os renomados especialistas da minha área, mais da metade só conhece o arros-com-feijão, o que dá para enganar a maioria dos clientes, palermas que tem dificuldades para programar até mesmo o telefone celular ou um microondas.
Sei que estou sendo amargo, mas estou puto comigo mesmo e desabafo para cima dos pobres de espírito, que deviam receber minha compaixão."

Voce toca os cabelos da menina, não foram escovados antes de estar diante da TV. Ela se parece paralisada feito uma imagem de luz. Voce oferece sua mão para ela apoiar sua nuca. Ela pega em seu pulso para dizer que não é um ambiente apropriado. Voce não resiste à sua força e a beija. Ela olha e não tem ninguém nem nada para saber quem é. Voce a come e se vai para ela jamais esquecer quem é.

"Estou doente, mas antes de falar de minha doença por causa dela deixo de atender muitos clientes que me procuram.
É por isso que estou sofrendo, porque tive a revelação de que estava doente quando quis trocar meu carro velho por um novo e não tinha dinheiro, mas continuei a ser uma pessoa doente, como esses caras que não conseguem deixar de fumar ou beber.
"Se voce trabalhar mais, poderia estar nadando em dinheiro", disse Cylene, a minha secretária.
Mas eu não tenho tempo para trabalhar e isso está me deixando infeliz."

Voce vive nas sombras das pessoas porque não consegue deixar de pensar nela. Ela está procurando qualquer ponto onde alcança luz. Voce deixa de responder para todos por quê estar sempre assim. Ela aparece no caminho para somente ficar olhando. Voce volta a procura-la para dizer que precisa dela. Ela sorri e não diz nada. Voce se cala para tudo no canto mais ousado de qualquer quatro paredes. Ela pede que escreva seu nome a giz. Voce usa seu sangue.

"Hoje fui almoçar com o Kurt Lang, dono da Links.
Eu detestava até tomar um cafezinho com um colega de profissão, mas comi a mulher do Kurt e me senti moralmente obrigado a aceitar o convite dele.
Ninguém convida voce para almoçar sem querer lhe pedir alguma coisa.
Kurt queria que eu solucionasse um problema que nem eles nem os bagrinhos do seu escritório conseguiam resolver.
Kurt tem um monte de funcionários, dezenas de clientes, acho que a ressonância do seu nome alemão impressiona os trouxas, mas do alemão ele só tem o nome, não sabe escrever sauer-kraut, nem come."

Voce se mutila. Ela desaparece. Voce quer esquecê-la. Ela lhe chupa durante as horas enfadonhas. Voce quer morrer. Ela quer casar. Voce morre. Ela casa.

"Deixei o cara me vampirizar, eu me sentia em débito com ele pelo motivo já exposto.
Mas o Kurt merece o que ganha, trabalha como um condenado da manhã à noite, ludibriando os trouxas.
E que mal que faz em enganar aqueles que querem ser iludidos?
Não é isso que fazem os médicos, os advogados, os cozinheiros, as putas, os padres, os eletricistas, os treinadores de cachorro, os macumbeiros, os consultores financeiros, os pintores de parede?
Eu não podia ficar blablablando essa lista o dia inteiro.
Não gosto de enganar os parvos, mas meu problema é que estou doente.
E isto está me deixando infeliz."

Voce quebra todos os espelhos. Ela entra no seu olhar. Voce procura um hospital. Ela lambe seus olhos e sara.

"Depois do almoço, Kurt me deu uma carona no Mercedes novo dele.
Entrei no meu escritório disposto a dizer à minha secretária que ia atender a todos os clientes que telefonassem e que o nosso relacionamento ia mudar."

Voce quer pensar. Ela corre sobre seu corpo. Voce se irrita. Ela se excita. Voce bate. Ela agarra seu pau para se salvar do mundo. Voce quer desistir. Ela grita de gozo.

""Foi tudo bem no almoço, querido?"
"Não quero mais que me chame assim. De agora em diante quero ter com voce uma relação formal."
"Não estou entendendo."
"Acabar com as intimidades."
"O que foi que eu fiz?"
"Voce não fez nada. Eu estou doente."
"Mas nós sempre usamos camisinha."
"Não é uma doença contagiosa. Ou talvez seja, não sei."
"Já foi a um médico, meu amor?"
"Ainda não. Mas eu vou. Não quero que voce me chame de meu amor."
"Eu sei que não sou o seu amor, que voce tem outras, mas não me incomodo."
"Cylene, sinto muito, mas voce não pode mais trabalhar comigo."
"Voce vai me mandar embora?"
"Estou com meu coração doendo, mas tenho que fazer isso."
"Não me manda embora, por favor."
"Vou arranjar um emprego melhor para voce."
"Não quero outro emprego, quero trabalhar aqui."
"Sinto muito."
"Voce precisa de mim."
"Eu estou doente. Não preciso de ninguém."
"Mas eu preciso de voce, não me mande embora."
"Vá para sua sala, por favor, odeio ver mulher chorando."

Voce tampa os ouvidos com as mãos. Ela não pára. Voce arranca seus cabelos. Ela morde seus mamilos. Voce queima, incendeia a casa, explode o planeta. Ela reaparece e sopra em seu ouvido a paz. Voce chora. Ela faz café depois de ir na padaria. Voce se sente morto. Ela beija até irritar.

"Cylene saiu correndo.
"Voce vai se arrepender."
Elas sempre dizem isso, ou coisa piores."

Voce se irrita. Ela desaparece. Voce agradece a Deus. Ela reaparece. Voce endurece. Ela dá uma festa.

"Telefonei para o Kurt.
"Kurt, voce falou no almoço que estava procurando uma secretária. Eu tenho a pessoa perfeita para voce. Entende mais do nosso negócio que qualquer dos bagrinhos que voce tem aí. É a minha própria secretária."
"A sua secretária? E voce quer se livrar dela por quê?"
"Não posso pagar o que ela quer."
"Garoto, voce é o maior e está com dificuldades? Está abusando da substância? Foi o que ferrou o Manfredo, ele ficou um caco, totalmente na merda."
"Não é nada disso. Eu estou doente. Não consigo trabalhar."
"O que voce tem? Câncer?"
"Não é câncer."

Voce conversa. Ela dissimula. Voce quer dançar e a convida. Ela aceita e diz que é o homem mais canalha do mundo, para suas amigas babarem. Voce adora a música. Ela não sabe. Voce desaparece na luz. Ela enfia a língua no ouvido. Voce se irrita. Ela beija. Voce pára. Ela trás uma bebida.

"É stress? Eu sei o que é isso."
"É stress dos piores, estou muito mal", confirmei, para o Kurt deixar de fazer perguntas.
Senti que ele ficava feliz por saber que eu estava fodido.
O mundo é assim.
"Como é, quer contratar a Cylene ou não? Sei de mais gente que se interessaria."
"E quanto ela quer?"
Multipliquei o salário que eu pagava a ela por três.
"A Cylene vale muito mais", acrescentei."

Voce não se embriaga. Ela decola.

"Quando é que ela pode começar? Preciso imediatamente.
A gente só vê a importância de uma boa secretária quando ela nos deixa.
A desgraçada casou e o marido é um daqueles trogloditas que não querem que a mulher trabalhe fora."

Voce enfia com raiva. Ela enfia o dedo na garganta. Voce liga o computador. Ela apaga. Voce se humilha para estranhas e beija os pés de vadias famosas e sábias estúpidas. Ela sonha nas asas da Panair. Voce quer o Brasil. Ela lhe dá uma ilha. Voce enxerga tudo. Ela se entrega a sacrifícios na fogueira. Voce pensa em salvá-la. Ela grita de gozo.

"Na segunda feira a Cylene se apresenta a voce.
Estou lhe fazendo um favor.
Vai ficar me devendo."

Voce é a vida dela. Ela é a sua vida. Voce sonha. Ela é uma gata. Voce é um urso preguiçoso. Ela é mulher. Voce é homem. Ela morde. Voce chora. Ela é uma abelha.

"Já anotei, Garoto."
Lembrei que tinha deixado um furo.
"Kurt, na carteira profissional dela está um salário menor. Eu pago a diferença por fora."
"Aqui nós não fazemos esse tipo de coisa, é lesivo à previdência social e, além de ilegal, desculpe dizer, fere a boa ética", disse Kurt, satisfeito por poder me dar essa porrada.
Será que ele sabia que andei comendo a mulher dele?"

Ela trás o mel. Voce se mela. Ela enche a bola. Voce fura. Ela é justa. Voce assusta.

"Foi duro convencer Cylene.
A infeliz gostava de mim, as mulheres são seres estranhos, adoram patifes que são bondosos e engraçados, uma coisa que eu era, além de muito doente.
O que a convenceu foi eu dizer que deixando de ser minha secretária o problema desapareceria e a gente ia poder continuar se vendo, o que eu não pretendia fazer mais.
Também influiu o alto salário que ela ia ganhar com o Kurt, mais a indenização que lhe paguei.
Dinheiro é dinheiro, só quem não gosta de dinheiro sou eu.
Faz parte da doença."

Ela é voce. Voce é ela. Voce não conversa com ninguém. Ela fala pelos cutuvelos. Ela lixa a unha sobre voce. Voce ronca. Ela lê revistas. Voce compra. Ela é. Voce não.

"Olha, voce deve chamar o cara de doutor Kurt, ouviu?
Ele gosta de ser chamado de doutor.
É um bestalhão, mas é um bom sujeito, é só caprichar da mímica, doutor Kurt pra cá, doutor Kurt pra lá, e fazer o seu trabalho como voce sabe fazer.
Não se esqueça do que eu falei a ele sobre a carteira profissional, o pagamento por fora."

Voce não quer mais transar. Ela dá de ombros. Voce arruma seu espaço. Ela passa um pano nua. Voce perde manias. Ela tinge os pentelhos. Voce tem enxaqueca.

"Entreguei a Cylene uma carta de recomendação, onde só faltava dizer que ela era uma segunda madame Curie.
Cylene ia dar certo no segundo emprego, ela era mesmo do primeiro time."

Voce se masturba. Ela vai ao dentista. Voce cozinha a sua comida. Ela faz amigos. Voce se mata. Ela escreve um livro para ganhar dinheiro. Voce é eterno. Ela ri.

"No dia seguinte fui ao médico, um psiquiatra amigo meu.
Ele ouviu a minha história.
"Essa doença está acabando comigo, está me arruinando", eu disse.
"Não conheço remédio para isso", ele disse.
"Aliás, nenhum laboratório está interessado em fazer um remédio desses.
Não ia vender."
"Já tomei tudo que é tranquilizante.
Aqueles que alertam na bula que um dos efeitos colaterais é diminuir a libido."
"Isso é coisa de departamento jurídico dos laboratórios.
É para o caso de algum espertinho impotente, instruido por um advogado safado, acionar o laboratório.
O advogado do laboratório, causídico do mesmo naipe, alega no tribunal que a bula alertava para esse possível efeito, ou seja, o pilantra tomou o remédio sabendo disso.
A gente precisa ter advogados para se defender de advogados.
Agora a coisa é assim.
Voce conhece aquela piada do advogado que foi para o céu?"
Quer dizer que minha doença não tem remédio?"
"Pelo que me lembro, voce já era assim no ginásio.
E voce está arruinando por quê?
Voce disse que não dá dinheiro para as mulheres, que elas não custam nada."

Ela ri e faz pipocas para assistir Felline porque afirma que nunca vai entender. Voce não explica. Ela troca e coloca Suxa de Araque. Voce se mata. Ela se inflama.

"Eu não posso chegar para uma mulher e dizer sem mais nem menos, vamos para a cama.
Elas vão sempre, mas é preciso táticas, estratégias, uma mão-de-obra danada.
Fico sem tempo para fazer o meu trabalho.
E se não trabalho, não ganho dinheiro."

Voce ri e troca o dvd. Ela xinga e atira pipocas. Voce quer champanhe. Ela arranca peça por peça, desmonta a máquina, derrete a pele, joga os olhos em voce.

"Não dá para conciliar?
Equilibrar as coisas?"
"Como?
Eu quero foder todas as mulheres que encontro."
"O mundo está cheio de mulheres feias."
"Mas eu não as vejo, elas não aparecem para mim, as feias."
"E voce acredita que é politicamente incorreto querer comer todas as mulheres?"
"Eu li que isso é doença.
Não existe uma doença chamada satiríase?"

Voce tira os sapatos. Ela desgruda suas roupas, livros e fotos de expressões ímpares na internet. Voce abre os braços. Ela pula. Voce é íngrime. Ela não sabe voar.

"Toda excitação sexual tem alguma coisa de mórbido.
No mundo de hoje os homens estão cada vez com menos tesão, tem que tomar pílulas para isso, e os que sentem tesão são considerados doentes.
Essa é mais uma invenção das feministas americanas.
Certamente voce andou lendo bobagens num desses livros produzidos na terra do Tio Sam.
Viva a sua vida, mas não se esqueça de que hipocrisia e o sofisma são padrões socioculturais aceitos nos dias de hoje."
"Devo então fingir que sou o que não sou?"
"Eu não disse isso."
"O que foi que voce disse?"
"Por enquanto, nada.
Foi uma frase de efeito."

Voce demora pular. Ela escala e pergunta se ainda ama. Voce empurra. Ela volta e quer saber a verdade. Voce empurra. Ela insiste. Voce se irrita.

"Puta merda, eu vim ao psiquiatra errado.
Ou o problema é sermos velhos amigos?"
"Talvez.
Mas o seu caso é complicado.
Não devia ser, e não é, mas voce mesmo o complicou."
"Então não há nada a fazer?
Só me resta ouvir um tango argentino, como o sujeito do pneumotórax do Manuel Bandeira?"
"Bons tempos aqueles, do colégio.
Éramos inocentes, líamos os poetas.
Engraçado, engraçado voce desencavar esse troço."

Voce quase cai. Ela segura. Voce espia pela janela. Ela fecha os olhos. Voce vê. Ela finge. Voce quer morrer junto. Ela implora. Voce morreria. Ela está morrendo. Voce acelera. Ela está morrendo. Voce acelera, desespera e urra. Ela grita que vai morrer. Ela morre. Voce morre. Ela sorri maliciosamente. Voce chora.

"Quer dizer que estou ferrado?"
"Procura um psicanalista.
Às vezes funciona."
"Não vou procurar porra de psicanalista nenhum."
"Ou então o DASA - Departamento de Amor e Sexo Anônimos.
Uma espécie de AA para sátiros e ninfos.
Realizam reuniôes diariamente, em vários locais da cidade.
Às vezes..."
Cortei a frase dele no meio.
"Comigo não funciona.
Detesto confissões privadas e mais ainda as públicas."
Na saída dei o meu cartão para a recepcionista, uma mulher linda.
"Liga para mim, tenho a mais fascinante coleção de asas de borboleta do mundo."
Ela sorriu e botou o cartão no bolso do uniforme branco que vestia.
Estou puto comigo mesmo.
Não sei o que vou fazer.
Vou morrer doente, dirigindo um carro velho."

(Rubem Fonseca - Pequenas Criaturas
Companhia Das Letras)

7 comentários:

Anita Mendes disse...

oi amore! ja estou em sintonia cibernetica novamente...
tmb senti saudades...
"Chover no molhado seria muito interessante
Se a cada chuva
As lágrimas revelassem novas cores
A mesma chuva a toda vez
Causa essa tentação
De voar para longe daqui
Para um lado o outro
Seja a lama dos anjos quebrados
Ou a indiferença nas asas da Panair" Adorei isso aqui! Beijokas, Anita.

Devir disse...

E, claro, ambos, quando não todas as vezes, rss.

É tão entediante se render ao fascínio daqueles que não descem jamais das asas metálicas, quanto fascinante se render às lucubrações entediadas daqueles que esperam voltar a voar com as próprias asas.

Entre a criança que todos nós fomos e o que somos agora, algo se fortalece, algo que só saberemos benigno ou maligno, quando, se, perdendo a fé em paliativos, encorntrarmos a verdadeira cura das asas da imaginação.

O foda é quando acreditamos até morrer que imaginação é bobagem.

Por exemplo, eu lhe contaria todas
sobre voce, se seu comentário me contasse que me viu viajando montado sobre suas asas a 3 mil pés de altura, sobre o Pacífico.

Poeta e pintora, quero mais de poesia e também cores&sombras, ok

Bjim

Luciano Fraga disse...

Caro amigo Devir,o poema, principalmente trouxe-me à memória um filme que reassistir recentememte-SUPEROUTRO de Edgar Navarro, cineasta da Bahia para o mundo, safra de Glauber Rocha.Um filme muito forte politicamente, anarquista, uma porrada na cara dos preconceituosos e conservadores(talvez cada um de nós tenha um pouco disso ainda,afinal tentamos a catarse), mas o filme retrata um louco que busca saídas de todo tipo(mutante) e por fim tenta voar, sem as asas da Panair, ele não fica no "mais do mesmo",muito bom isso aí, abração.

Devir disse...

Mais do mesmo, é ótimo, porque menos ou o mesmo do mesmo é foda.

Devir é um conceito filosófico que qualifica a mudança constante, a perenidade de algo ou alguém. Surgiu primeiro em Heráclito e em seus seguidores; o devir é exemplificado pelas águas de um rio, “que continua o mesmo, a despeito de suas águas continuamente mudarem.” Devir é o desejo de tornar-se. Recebe também a acepção Nietzscheriana do "torna-te quem tu és", usada em um dos seus escritos.Traduz-se de forma mais literal a eterna mudança do ontem ser diferente do hoje,nas palavras de Heráclito:"O mesmo homem não pode atravessar o mesmo rio, porque o homem de ontem não é o mesmo homem, nem o rio de ontem é o mesmo do hoje".

Acho que é isso!!!
E, para não ser o mesmo do mesmo, reparti o devir em três:

1- antes dos nomes; símile do animal irracional, acreditando que o racional é natural do humano, e não adianta o Papa, o "Bill", "Obama", ou seja lá quem mais tanto poder tenha, dizer que não é possível sequer imaginar, tampouco pensar a respeito, tentat contradizer-me, porque o bebê, acredito piamente, ao nascer já possui raciocínio.
Esta fase sem os nomes, e já humano, é e foi fundamental para todos.
Chuvendo no molhado, claro!
E acredito que as Psicologias não tem muito o que fazer depois desta fase, quando sentimentos e desejos se sedimentam plenamente.

O bebê é o nosso verdadeiro mutante, na concepção do nome; porque, exclusivamente no caso dele, é impossível não mudar.

E o "louco" é mais uma concepção errada, que só aconterce no

2-durante o nome: quando este, na maioria das vezes, toma o lugar do ser natural, e as mutações outrora naturais, se transformam em projetos de acordo com outros nomes; por exemplo: projetar uma imagem, um ser de acordo, rss, com um futuro ser que se espera.
Outro exemplo, magnânimo, é acreditar, e cruzar os braços, que o Brasil é o país do futuro.

3- depois dos nomes: o único devir onde o ser natural não se diverte e também não sofre sua mortificação constante=crise existencial.

Agora vou dar uma olhada no que me diz também o google, do filme.

Abraço

Devir disse...

Luciano, não é fácil encontrar material teórico para entender este processo de devir.
Existe muita explicação sobre o conceito de devir, apenas.

Olha que pérola:
http://www.pucsp.br/pos/ped/resumo/r0138.htm

(...)as transformações ocorridas (ou em ocorrência), mediadas de emoções e de sentimentos, relacionam-se com a constituição da Identidade-metamorfose.
No processo de metamorfose, muitas vezes os sentimentos e emoções apareceram contraditórios, revelando a complexidade afetiva. Integrados pela Identidade, sentimentos e emoções estão presentes tanto na repetição de padrões (mesmice) quanto na tentativa de ruptura dos mesmos (metamorfose).
Este é um fenômeno complexo, necessário ao devir humano que leva a pessoa a sair da estagnação, do patamar evolutivo onde se encontra.
Assim, à metamorfose está relacionadas à idéia de evolução conquistada por meio de emoções orientadas, sobretudo, pelo sentimento de Amor e de Coragem, capazes de mobilizar a Identidade a outras formas de ação reveladas nas suas formas-personagens.
A manifestação concreta das personagens permite que a Identidade realize a sua humanidade de maneira mais plena e favorece a compreensão de que o devir humano também é devir consciência e, conseqüentemente, devir evolução.

Vamo que vamo

Cristiana disse...

É fantástica a forma como Rubem Fonseca nos remete para uma realidade tão marcante, que se transforma em dureza e directa, com uma pitada de luxúria, digamos!

Agradeço desde já a espreitadela ao blog! Espero mais partilhas, até breve..

Beijo*

Devir disse...

Cristiana, é um prazer, aqui e lá
quem sabe faz a hora e o lugar

O Rubem, para mim, é o maior
porque é sem comparação...

Volte sempre
"para uma realidade tão marcante, que se transforma em dureza e directa, com uma pitada de luxúria, digamos!"

E pode ter certeza que vou lá no seu blog, deixar minha (rss)
revolução permanente

Forte abraço e grande beijo virtual