sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

Na casa de Deus

Era uma vez no humano

O ar sempre esteve aqui e
seu significado antes de mim
está fora da minha questão de vida

"O universo significou bem antes de termos começado a saber o que ele significava...
O homem dispõe desde sua origem de uma integralidade de significante que muito o embaraça
quando se trata de atribuir um significado, dado como tal sem ser,
no entanto, conhecido.
Há sempre uma inadequação entre os dois." (Lévi-Strauss)

O ar é a casa que contém todas as casas e
cada casa não pode ficar toda vasia
nem toda completa sem ar para mim

Na casa tudo pode ser arte e
a arte sempre esteve no ar
para repassar em todas as casas

A arte se relaciona a mim e
a minha questão é fazer do ruído a voz
para fazer da palavra o verbo

A arte só acontece no ar e
a voz do verbo estrutura a casa
para minha questão nem vasia nem completa

A casa se torna mais importante que o ar e
a castração da sexualidade e pensamento
na medida entre o que resulta e seu começo

A castração só acontece na superfície e
define a profundidade física e a tola metafísica
assim impede toda sublimação bem sucedida

A sexualidade é princípio e fim ao pensamento e
sua castração cria uma fissura no corpo impensado
por onde frustrações substituem os prazeres na vida

A frustração se realiza por desmoronamento e
o pensamento se identifica com a impotência
diante da fissura que lentamente se alastra

A impotência reforça a simulação de potência e
o não realizável se confunde com utopia
quando esta é um simples sinal do inefável

A utopia é tão somente um perfume poético e
pode salvar qualquer acasalamento simulado
quando o fim do encantamento é previsto

O casamento toma o lugar da casa e
se engana que não precisa de ar
até mesmo quando intocado objeto de prazer

O prazer se revela aleatoriamente a cada instante e
não combina com o corpo nem com a metafísica
para forjar do nada a sensação de felicidade

O nada longe de ser o não ser é recíproco e
sua pertinência muito próxima da sabedoria
embora seja inexpugnável ao livre arbítrio

A sabedoria é antiga, uma ferramenta de liberdade e
única capaz de segregar as regras do ar
mas possibilita inverter os lugares do visível e do invisível.

2 comentários:

Mariana Abi Asli disse...

Nada ocupa o mesmo lugar, nem mesmo o ar, cada prece de segundo o AR se espalha nos pulmões.
Seres são apenas seres, são indivíduos(INDIVÍDUO=INDIVIDUAL), indivíduos gostam de brincar,
mesmo que adormecidos a brincadeira preferida é brincadeira com o ar, Ares podem ser modificados ou petrificados
dependendo de quem os joga, depois de um certo tempo, não se acha mais graça, logo então substitui-se pelo passatempo,
passatempo de colecionar objetos, pessoas...
alguém disse uma vez que colecionar pode ser uma luta contra o esquecimento da morte,
mas disso também ninguém sabe.
às vezes brisas e ventanias longamente tentam despertar o corpo adormecido e talvez pelo costume de respirar fluidicamente
acaba se esquecendo...se esquece de ser INDIVÍDUO...
Mas o bom dessa história é saber que a Arte e o Ar é inerente aos indivíduos, por onde andar, carregarão estas duas sementes invisíveis e inaudíveis aos olhos e ouvidos de quem veem e de quem escuta.


Beijos doces
(será que amanhã o ar será bom? quero ir a sampa sentir arte, rs)

Devir disse...

Rss, que criatura abominável é o ser mulher, que já tem tudo pronto, desde sempre, mas acontece no último instante de ser ainda mais abominável: ser arte. Pobre ser homem diante de 'pedrador' tão virtuoso. É por isso que o saudoso Cazuza, tão feminino quanto doce embalado, cantou seu blue antiviral. Salve essa piedade por tudo que voce (talvez) não seja, Mariana, e que (talvez) jamais vai tomar O Pior Dos Venenos (Rubem Fonseca).
Eu estava quase pronto, ainda de cueca, ainda esfregando a toalha na cabeça, quando liguei assim como um zumbi o computador - porra esta imagem de zumbi é deliciosamente contraditória quando sentimentos superam as ocorrências dos desejos - então voce, com este humor arrancado do sangue verde do 8º passageiro, banha-me a ponto de...
Trocar tudo por um berço esplêndido, embora ninguém a balançar, e dormir feliz até amanhã.
Vou sonhar com dimensões utopicas, onde sementes conseguem germinar.

Beijos