terça-feira, 7 de julho de 2009

Depois de invadir os (doces?) bárbaros


A maioria dos cariocas deixaram de ser à favor da pena de morte. Tal postura política, rejeitada depois das comemorações das bodas de ouro, foi rejuvenecida pela maioria dos moradores do Rio de janeiro, mas que não são cariocas. Estes 66% da população que moram logo abaixo do Cristo Redentor, a maioria ainda não contam com a simpatia da maioria dos restantes, são apenas brasileiros.

Apesar de um grupo ser o dobro em número, a pena de morte, executada pela maioria de tal maioria, não pode ser novamente lei.

Na única vez que estive no Rio de janeiro, fui encontrar uma cantora, em copacabana, cuja voz é inconfundível e seus olhos é da cor do papel de parede da área de trabalho do deus cristão. Podia ter aceitado como perdida viagem; o empresário mandou um office boy dar o recado que ela estava indisposta. Ela não é carioca, mas também podia ser qualquer uma; toda mulher é livre. Resolvi aproveitar o final de semana para me distriair, conhecer a vitrina da cidade maravilhosa, os fundos, os 'chefes' das escolas de samba que, depois da invasão daqueles(vide título) na cabeça dos 'seus' diretores, tornaram-se, sem cara, com pose, à imagem e semelhança do falecido painho baiano. Nesta única vez, estava de bermuda cáqui, camiseta pólo branca com bolso, nele um masso de cigarros com a guela de fora sem necessidade, óculos escuro sobre a testa, não pude
disfarçar que sou algo paulistano, encontrei uma turma (Ah, se fosse a Ulma Thurman) que me recebeu de braços ao contrário da estátua que simboliza a cidade. Um cara me estendeu a mão para cumprimentar, só depois que soube que já li inúmeros livros interessantes que ainda não leu. E eu não quereria jamais tomar o braço, o corpo todo; estava estampado na minha face que eu não podia demorar, que não sabia voltar para o hotel, que eu não pegaria um taxi no cú da madrugada. Os cariocas sabem que paulista é neurastênico, mas jamais bobos ou frugais; como se estas duas qualidades fossem possíveis imitar.

Daquela turma, eu só me enganei com o cara que me estendeu a mão, e até perceber meu engano, já havia passado da meia noite.

Então me levantei da cadeira, lentamente, já havia bebido tantas caipirinhas quanto é possível se enganar com as ofertas anunciadas na TV. Sem perder o mínimo de diálogos que conquistara, esperei alguns segundos, aproveitei a distração geral para comigo, virei-me para sair dali, quando, olha só, o cara que me estendeu a mão na entrada, estendeu-me o pé na saída, eu tropecei, cai, mas rapidamente me levantei, bati a poeira, neurastênico, jamais bobo ou frugal, chutei enfim o saco do cara; ele que vivia reclamando que eu chutava seu saco a todo momento.

As reclamações intermitentes geram energia, que criam campos magnéticos, "mas nem sempre é bom ser esperto"(Racionais MC). E Atenção: os imãs são úteis como instrumento de movimento; agarra e solta ou como consumo de energia elétrica ou para evitar atrito ou potencializador sonoro ou etc.

Obviamente não era o caso no cara, mas reconheço, a contra gosto, porque parado, que também são úteis os imãs como porta clipes.

E porque, finalmente, chutei seu saco, não obstante poderia deixar de mentir em sua reclamação, e reclamar é saudável, em casos verdadeiros, ao se sentir, isolado ou acompanhado, prejudicado, eu guardo somente uma lembrança agradável, da sua resposta quando eu lhe perguntei:

- Voce é a favor ou contra a pena de morte?

Citando alguém que, pelas suas palavras, não faço a mínima idéia do que seja, respondeu:

- Nem à favor nem contra, mas muito pelo contrário.


§


A RECUSA DOS CARNICEIROS

"Quem duvida que tendo o Brasil três milhões de gente livre, incluídos ambos os sexos e todas as idades, este número não chegue para arrostar dois milhões de escravos, todos ou quase todos capazes de pegarem em armas? Quem, senão o terror da morte, fará conter essa gente imoral nos seus limites?
Francisco de Paula e Souza e Melo, em discurso na Cãmara dos Deputados, sessão de 15 de Setembro de 1830."
Ano de 1830, Rio de Janeiro, na Câmara dos Deputados, o senhor Antonio Pereira Rebouças, em seu discurso, lembra do que aconteceu.
Quando quiseram novamente usar um açougueiro para fazer o serviço do carrasco, os açougues fecharam e os carniceiros se recusaram a desempenhar "sua" tarefa; expressa na Lei AI5/1968. Alguns foram fuzilados no paredão de fora do quartel da Barra. Péssima idéia, a população demorou, mas depois começou a se revoltar.
Podem faltar carrascos, mas nunca faltarão expectadores.
"O Sr. Rebouças sabia disso, mas não vai comentar tais circunstâncias." Tal repercussão se ouvia nos bares do Leblon, e ecoa até os dias de hoje.
Na França comprava-se (ou compra-se) um condenado à morte em uma cidade para que ele fosse executado numa outra, que por falta de criminosos ficara um tempo muito longo sem oferecer ao povo um espetáculo dessa natureza.
A pena de morte, pela função educativa que lhe atribuem seus defensores, deve ser levada à efeito em local amplo que facilite a observação do maior número de pessoas. Todos os cidadãos devem ter a opurtunidade de poder ver, ao mesmo tempo, o trabalho do carrasco.
Infelizmente a maioria tem que se contentar com o relato de um amigo, parente ou vizinho que teve a sorte de estar presente.
Ao infeliz que não pôde assistir à execução resta ouvir, invejoso e inferiorizado, a descrição de como o condenado chorou como um poltrão e pediu misericórdia;
ou então como, opostamente, manteve sua alma negra e seu coração perverso sob controle;
e como ele, o venturoso espectador, vomitou ao ver a aparatosa cena
e passou a noite em claro relembrando seu emocionante horror.
As mulheres, está comprovado, ficam ainda mais excitadas com o hediondo espetáculo.
Um réprobo estrebuchando pendurado pelo pescoço é algo que tem que ser visto pelo menos uma vez na vida.
Isso faz pensar num "terrível pátio de Versalhes, onde se fazia", segundo Michelet, "na noite da caça, a distribuição de restos de carne aos cães famintos.
Pátio pequeno, bem pequeno, que devia parecer um abismo de sangue, um poço de carniça.
Um balcão interior permitia às belas damas olhar à vontade e aspirar seu perfume".
Atualmente os professores e professoras se divertem com a história de nosso país, enquanto, provavelmente, estudam a sério a história dos outros.
No ano de 1830, o senhor Rebouças queria votar contra a pena de morte na discussão do projeto de código criminal, na Câmara dos Deputados.
Todos sabem que se for feito um plebiscito para decidir se a pena de morte deve ou não ser abolida, a pena de morte será vitoriosa.
O senhor Rebouças dizia, "a pena de morte é contra o Poder Divino e igualmentre contra a Constituição.
É desnecessária, é ineficaz, é nosciva e depravadora a toda prova e não deve manchar o nosso Código Criminal".
É sabido que a maioria dos parlamentares, magistrados, clérigos, altos funcionários não dão muita importância aos problemas da administração da justiça em nosso país.
Neste mesmo ano, o senhor Ferreira França rejeita um projeto à favor da pena de morte, total, geral e irrestrita.
E aos brados retumbantes: "... vejo nele uma hidra de crimes e culpados, muitos cúmplices, muitos aderentes.
Senhores! As penas devem ser reduzidas ao menor número possível.
Todo legislador que a cada falta impõe uma pena, que só quer achar criminosos, não é certamente digno do nome de homem;
é um tigre digno de só legislar para os animais ferozes".
(64 contos de, Rubem Fonseca. Editora Companhia Das Letras)
§
E aos verdadeiros:
O Seu Amor
Doces Barbaros
Composição: Gilberto Gil
O seu amor
Ame-o e deixe-o
Livre para amar
Livre para amar
Livre para amar
O seu amor
Ame-o e deixe-o
Ir aonde quiser
Ir aonde quiser
Ir aonde quiser
O seu amor
Ame-o e deixe-o
brincar
Ame-o e deixe-o
correr
Ame-o e deixe-o
cansar
Ame-o e deixe-o
dormir em paz
O seu amor
Ame-o e deixe-o
Ser o que ele é
Ser o que ele é
Ser o que ele é.

4 comentários:

Luciano Fraga disse...

ro amigo Devir,sinceramente e simplesmente:que leitura prazerosa! senti-me naquele dia, lá no Rio de Janeiro tomando um chopp e batendo papo com o amigo(missão cumprida da sua escrita), mas jamais lhe passaria a rasteira, fique certo disso,detesto derrubar pessoas e não sou nada a favor da pena de morte, "deixa o amor ser..."Aquele abraço.

Devir disse...

Realmente, não sei se é Brasil ou o mundo que está estagnado...
Para todo nome e significado, para simular não-estagnação basta tomar o sentido, tanto faz para o bem ou para o mal, para frente ou para trás, do outro. Jamais houve missão, assim tão pontual, na minha escrita. Há na sua? Por favor, se esta pergunta requerer muito esforço, responda qualquer uma menos pessoal.
Eu gosto muito quando a ficção é levada a sério e mereça algo mais do que somente elogios. Lá, não descrevi uma rasteira, longe de mim tal juizo rasteiro, o personagem somente estendeu a perna, o outro não viu, como é bem usual dizer, dançou.
Justamente por tais equivocos, eu disse que voce está tão semelhante ao meu irmão, fora da ficção. Mas, devo e pago dobrado para Deus, se eu estiver errado para consigo e para com ele.
E que seja o inferno minha próxima passagem, se acaso não seja por amor que me mantenho firme, diante de tão inócuos combates; com voce, com meu irmão e com todo mundo.
Sobre o divã, Luciano, foi uma aula de elogio para a galera. Quem não possui um 'rosário' de fantasmas para exorcizá-lo? Nem o Papa nos manequins das glórias, nem Freud na bacia das almas.

Aquele abraço.

Luciano Fraga disse...

Devir amigo,como é bom o caminho do diálogo que pode ou não levar ao entendimento,aliás não sabemos onde nos levam os caminhos,mas tenho convicção que seja pelo primeiro, temos algo em comum em nossas ações, colocar o amor como personagem maior,por outro lado também entendi perfeitamente tratar-se de ficção assim como a minha próvavel não rasteira, acho que caminhamos na mesma direção da exorcização e se for lá no inferno, o que há de se fazer se não cumprirmos a pena(podemos rejeitá-la?), mas entre nós tudo sadio e amistosamente crescente, grande abraço e responderei sempre presente!

Devir disse...

Admito, e entendi como se entende o mapa das estrelas o marinheiro de inúmeras viagens, este presente se não for de grego, é de coisa ainda menos provável. Pensando bem, quase que todos tem razões de sobra para pensarem que eu não mereça tal presente; mais barato que de graça. Não faço a mínima justiça, rss.
E a quem se caga do inferno, por que ainda não se levantou da mesa e correu para o cólo dos vícios triviais, mediatizadores do céu?
Voce é poeta, sabe que as palavras não são o vício, são tão somente as maledetas substâncias; composição de farinha real com quase nada de artifícios, tão semelhantes à cocaína de beiramar.
Assim, fico tambem muito feliz, que estamos tão somente beirando o amor; mas, por favor, não fique tonto e caia; eu não sei nadar.
Entendimento, nunca acreditei que exista entre seres naturais.
E, amistoso sempre, claro, basta perceber que só prometo sempre o Aquele Abraço.