quinta-feira, 30 de julho de 2009

Pronto para decolar



O mar pode arrebentar na sua praia
na sua pequena costa
na areia
onde agarro-me para não voar
junto ao vento
de sua paixão

Trecho do meu livro em andamento.
Meu pai saiu do seu quarto direto até a cozinha, trancou a porta - a porta da sala era proibida de abrir -, demorou um pouco, apareceu com uma folha de espada de são Jorge e bateu em todos aleatoriamente. Fui o único que não pulou a janela. Fiquei no mesmo lugar do sofá, apanhei muito, sem gritar nem chorar. Meu pai parou de bater e ficou olhando pra mim, estava cansado, mas foi discutir com a minha mãe. Ela veio, triste, e me abraçou. Quando minha mãe voltou aos seus afazeres, ali sozinho vi meu pai sair com uma pequena mala, percebi outra vez naquele dia que eu não estava entendendo nada que vinha acontecendo à minha volta, lembrei que meu presente de empréstimo do ano passado havia sumido da minha cabeça, a consciência, algo a tinha levada embora, ou mais uma vez a escondido, senti uma tristeza jamais prevista por mim, tão grande que não pude resistir, tampei os olhos com as mãos e chorei, chorei muito. Ainda lembro que minha mãe me colocou na cama, acho que quis beijar-me a testa, mas apenas passou a mão em minha cabeça. A tristeza pareceu dor, aumentou muito depois de perceber que minha mãe não me beijou, foi como se a tristeza viesse de dentro de uma ferida na alma. Talvez na fronteira entre estar dormindo ou acordado, pude repensar, então encontrar algo de positivo naquele dia. Talvez estes tipos de coisas que existem só no pensamento nem sequer existam de verdade; consciência, tristeza, dor, ferida da alma...
Gostávamos, antes de dormir, menos o Lito, de ficar conversando com a luz apagada, teve um dia que combinamos de ir nadar em um rio muito longe, fora da cidade e então íamos acordar bem cedo. Era a minha primeira vez que me afastaria para bem longe do lugar em que vivia, então poderia comprovar que existe mais mundo além de até onde meus olhos podiam ver. Claro que já naquela idade desconfiava que outros ou o meu mundo se distanciava também atravez dos meus pensamentos. E não é surpresa, eu não consegui dormir, fiquei imaginando uma série de acontecimentos e paisagens e pessoas diferentes e animais selvagens e perigos reais...
Eu estava pronto, brincando com o Veludo, quando ouvi meus irmãos acordarem. Minha mãe me chamou para tomar café com pãozinho. Lembro que, neste dia, ela fritou ovos e descascou duas laranjas para cada um, inclusive para mim. Ela fez lanches para nós levarmos, havia comprado salsichas; então voltou e melhor a minha admiração por ela.
A primeira experiência de andar muito! Repeti tal exclamação tantas vezes quanto me repeliram por isto. Eu dizia muito mais além, como devemos perceber cada variação de verde, cada perfume que existe naquela floresta, quantos seres se escondem aos nossos olhos que podemos imaginar. Esta parte a mulecada não ouvia ou fingia ou não davam importância ou porque estavam agarrados ao objetivo. A consciência passou a pesar, foi um presente, decididamente não foi um empréstimo, não podia esquecer, não podia descartá-la, não podia escondê-la como se fosse a minha mochila, enfim não podia pedir para que outro a carregasse. Percebi que realmente só podia ser um presente, na minha idade não tinha dinheiro, não podia pedir para meus pais ou ao meus irmãos mais velhos, ninguém confiaria um empréstimo à uma criança, não havia furtado de nenhum lugar, e apesar de não ver quem me presenteou com tão penosa carga; naquele ponto do caminho, estávamos a um kilômetro e meio da vila, escutei o Sílas dizer e apontar o lugar, lascando um tronco de ipê amarelo. Queria depois, até hoje, recordar somente a árvore.
Quando vi aquele pequeno rio de águas corredeiras, várias pedras para se atravessar com extremo cuidado, a consciência reapareceu. Um alegria repentina me fez gritar, acho que quis gritar tão forte que atravessasse aquela floresta e chegasse aos ouvidos de todas as pessoas, como fiquei feliz e muito arrependido de ter pensado em me desfazer da consciência. Não sei se consegui, não importava mais porque imediatamente

POEMA
"Quantas estradas deve um homem caminhar
antes que chamem-o de homem?
Quantos mares deve um veleiro navegar
antes que ele possa dormir na areia?
Quantas vezes devem voar bolas de canhão
antes que sejam eternamente banidas?
A resposta, meu amigo, esta soprando ao vento
a resposta esta soprando ao vento.
Quantos anos deve uma montanha existir
antes que seja desintegrada pelo mar?
Quantos anos devem algumas pessoas existirem
antes que possam permitir-se a liberdade?
Quantas vezes deve um homem girar sua cabeça
e acreditar que ele apenas não pode ver?
A resposta, meu amigo, esta soprando ao vento
a resposta esta soprando ao vento.
Quantas vezes deve um homem olhar para cima
antes que possa ver o céu?
Quantos anos deve um homem ter
antes que possa ouvir alguém chorar?
Quantas mortes levarão até que ele saiba
Que muitas pessoas morrerão?
A resposta, meu amigo, esta soprando ao vento
a resposta esta soprando ao vento."

7 comentários:

Anita Mendes disse...

devir,
primeiro: esse teu lado nostálgico me faz olhar pra ti de uma maneira diferente. Um homem que protege atrás de muros de defesa ...tentando defender-se da felicidade. o passado é uma mescla de sentimentos que não queremos com gosto de saudade. é estranho e ao mesmo tempo compreendido.tudo que te constroi como tijolo tem cimento que não secou ainda pois está fresco no espírito.
o ipê tinha que ser amarelo. amarelo é positivo como a beleza da cor amarela. o gostinho da inocência nos olhos naife sentem a natureza e correm com ela :como um escape . eles não duvidam do amor incondicional de uma mãe,mas de si mesmo.
muito especial... 100 %autêntico : conheci o verdadeiro super-homem do devir.(rs)

segundo: sugestão 7 arte:
vi que adotou a minha dica (blowing the wind )mas te mando outra:"if there is something" by roxy music

"Shake your hair girl with your ponytail
Takes me right back (when you were young)
Throw your precious gifts into the air
Watch them fall down (when you were young)
Lift up your feet and put them on the ground
You used to walk upon (when you were young)
Lift up your feet and put them on the ground
The hills were higher (when we were young)
Lift up your feet and put them on the ground
The trees were taller (when you were young)
Lift up your feet and put them on the ground
The grass was greener (when you were young)
Lift up your feet and put them on the ground
You used to walk upon (when you were young)"

terceiro: Heroes? trago a pipoca e vc a soda,ok?kkkkkkkkkkkk
beijos enormes pra ti, Anita.

Adriana Godoy disse...

Bem interesante, Devir...depois do comentário de Anita, nada tenho a dizer...beijo.

Adriana Godoy disse...

errata: interessante

Luciano Fraga disse...

Caro amigo Devir, uma passagem emocionante e triste, mesclada com a perspectiva de liberação vinda de uma vontade de grito, primeiros sinais da consciência.Como havia falado antes, você está conseguindo conduzir e transmitir a história com se algo ocorrese com um personagem que não você, embora a gente saiba o contrário, estou gostando do andamento.Adoro o velho Dylan, bela lembrança mestre, forte abraço.

Devir disse...

Solidão a pesar

Sim, já os coloquei no chão
e quem vai comigo
quando disser que nem sei
aonde podemos parar?
E se continuar aonde estou
quem fica comigo
quando disser que não sei
o que se tem para fazer?

Sim, desaprendi o caminho
o natural hipotequei
e sozinho não posso recuperar
até as valiosas lágrimas
escorreram aos pés
secaram nesse chão
onde finco raiz
para a imortalidade

Sim, até posso esquecer...
mas quem será a grande motivação?

Rsss, não sou poeta
nem sutil amante das palavras
Posso armar a maior confusão
sem jamais ocultar significados

Para tudo existe
um bom diálogo e
o que importa aqui
ninguém deve tocar

Tem que ser de panela
e duas latinhas geladas
só para equilibrar

Anita, já estou querendo
mesmo que seja
para jamais cicatrizar

Beijos urânios nos neurônios

Devir disse...

Adriana

Seria grave para mim
se não fosse
só um comentário
esse contato maior
prisioneiro
da discrição
em andamento...

Beijos

Devir disse...

Luciano

Grande comentário, portanto
grande sensação de prazer

Voce é, creio, o ideal
para eu contar algo
que rolou à tarde

A doida que me suporta
veio e se foi, na chuva
a realidade com ciúmes

Tem hora que precisamos
lembrar do mais óbvio
que é ter muita paciência

Sexta cheira aventuras
mas pista molhada e está
batendo forte a platõnica

Fazer o que manda a história
decifrar nossos heroes e
escrever febre de revolução

Hey, topa um vinho seco por aqui?