quarta-feira, 2 de setembro de 2009

Na realidade não sei desejar


E quando não queríamos mais pensar
que a família não dava certo
é porque dá certo

E quando abandonávamos a alteridade
que não servia para nada
é porque serve para tudo

E quando só suportávamos a verdade
que não convinha ao rosto
é porque convém

E quando nada mais esperávamos do amor
que não trazia felicidade
é porque amamos

E quando morríamos para aturar o outro
que não aparecia nunca
é porque aparecemos
§
Hoje me sabotei pela última vez, amor
porque doeu o motivo dessas fraquezas
descobri que sempre vivia de migálhas...

6 comentários:

Luciano Fraga disse...

Caro amigo Devir, muito bom seu poema, com uma coincidência fantástica:acabei de escrever um poema que fala de "amor que mendiga", próximo do amor que vive de migalhas, estabeleicida ou restabelecida as velhas conexões,negando é que se (re)afirma, abraço.

Anita Mendes disse...

não sabemos desejar , corrijo eu.
na realidade essa antítese de sentimentos e essa insatisfação nos convém.
contentar-se com pouco faz do amor essa dor?
prescisamos disso ou nos fazemos precisar?
beijos pra ti, Anita.
Ps: ótimo poema, amei!

Devir disse...

Luciano, geralmente o mendigo só consegue migalhas ou restos...
No meu caso, não consigo fazer-me
difícil o suficiente para fartura.
Isso acontece em ambos sexos, mas em casos especiais não é preciso.
Especiais quando não há nada que compete para o "destino" do amor.
Não que não haja competição, mas essa se torna desapercebida.
Quando percebemos, insistimos porque talvez somos muito bobos ou porque sabemos que é tão raro, mas quase sempre é disperdício de força
ou mais outro passatempo agradável.
Visão angustiante, sim, mas igual a tudo pertinente e livre de escolhas, inclusive a anestesia.
Quando sabemos mas não importamos com a verdade, existe tal negação.

Abraço.

Devir disse...

Anita, acho que disse o suficiente para o Luciano, e que serve para suas perguntas.

Referente ao meu post, afirmo tal "antítese", porque a tese geral é desejar somente aquilo que, pela "lei dos bons costumes", estaria no meu alcance ou "normal".
Eu pensei em um paralelo maldito entre amar uma pessoa "real!" dentro de ambiente virtual e amar, olha a antítese novamente, uma pessoa "irreal!" no ambiente da indubitável realidade.
Exemplos, claro, no virtual, não se saber definitivamente o que...
E, no real, a velha conhecida e imbecilizante idealização do ser.
Aí então, existe também o outro lado: ser amado(a). Mas quem sabe teremos capacidade para prolongar a conversa até que a morte virtual
de um para outro se faça presente, quando desnecessária.

Meu desejo continua o mesmo...

Enfim, mudou a foto
e esta reforça-me muito, rss
a desrealidade dos meus desejos...
dá uma sensação física saudável...
quero pensar que o olhar é a razão deste "efeitos da ignorância", rss

E só mesmo por ser "ignorante" que posso reencontrar os "mesmos" efeitos em outros "mesmos" olhares!!!

Seria mesmo impossível ou completamente desatroso amar mais
pessoas e também completar o amor?

Tem olhar que abre portas e janelas para a alma ser vista, e no que compete ao sentido de alma, não há conceitos de propriedades, ou nem há conceitos.
Nem pré, nem pós, tampouco.

E parece que desaprendemos a viver num tempo de respeito ao absoluto.

Beijo

Anônimo disse...

Alguns dias abduzida! Estou de volta! Não completamente reintegrada ao mundo virtual, mas enfim, consegui abrir uma janela.

Este post é lindo, pertinente e universal. Somos falíveis e infalíveis ao amor!

E que bom que é assim! Não considero migalhas o que colhemos, do amor! Todo jardim vale a pena!

Hummm... Vicky Cristina Barcelona é a dica! Se puder assista!

Devir disse...

Também fui abdusido!!! Rss